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História Two Worlds - Dois Mundos - O Noivado Se Acaba


Escrita por: HuSmith

Capítulo 28 - O Noivado Se Acaba


** Pensamentos da Princesa Isabel**

Joguei o restinho de coca que ainda havia no copo na garganta, o gás desceu queimando um pouco. Olhei em volta e vi Agui conversando com os meninos e Nina - ela sempre fica perto dos garotos - resolvi ir até lá.

Quando cheguei todos deram espaço para que eu entrasse na rodinha, o que estranhei no início, afinal, eu era a intrusa na conversa, mas acabei tomando meu lugar ao lado de Agui. 

- Olha quem tá aqui pessoal - o garoto do fogo, que eu esqueci o nome de novo, disse - a rainha da luz! 

- Rainha da luz? - indaguei - Acho que você tá exagerando - disse um pouco sem graça 

- Não, é verdade - Agui disse olhando para mim com um sorriso singelo - o que você fez foi demais Isabel, realmente incrível 

Abaixei o olhar por alguns segundos, um pouco envergonhada, mas muito feliz com o que ele disse. Eu não esperava toda aquela atenção, na verdade, nunca acreditei que meus poderes fossem grande coisa e não eram mesmo, mas desde que cheguei na OPAM e conheci toda a organização, sinto minha magia mais forte do que nunca. 

Conversamos por mais alguns minutos sobre a show de apresentações até que eu consegui puxar Agui para lado, onde nós podíamos conversar sem que ninguém nos escutasse. 

- O que foi? - ele perguntou - Aconteceu alguma coisa? 

- Não, é só que... você não achou estranho? Quer dizer, a rainha? Aqui no esconderijo? - indaguei com a testa franzida - Se ela contar pra alguém da realeza ou pro conselho, nós estamos perdidos! 

- Calma - Agui disse - ela foi convidada pela Bernice, acredite, se não tivesse sido nem sequer estaria aqui 

- E será que podemos confiar na Bernice? 

- Com certeza - Agui disse com firmeza - sei que não a conhece há muito tempo, mas eu sim. Bernice ama todos aqui como sua família, jamais nos faria algum mal 

Não respondi Agui, apenas confirmei com a cabeça, afinal, o que eu poderia dizer diante de um discurso como aquele? Ele tinha razão, eu não a conhecia há muito, mas o pouco que sabia sobre ela me deixava tranquila.

Bernice tem um jeito durão, parece estar pronta para matar alguém há qualquer momento, mas a verdade é que ela daria a própria vida para ajudar a todos do esconderijo, e Agui me ajudou a enxergar isso. Fico muito confiante de ter alguém como ela no comando. Me inspira a ter mais coragem diante da minha coroação, que será daqui pouco mais de dois anos. Ser rainha de Lighland não será uma tarefa fácil, mas vou dar o meu melhor, disso eu tenho certeza.

** Pensamentos da Malévola ** 

Não adiantava mais ficar tentando, aquela seria outra noite sem dormir, já estava decretado. Me sentei na cama e olhei para o lado, Diaval dormia tranquilamente, sem mover nenhum músculo além daqueles responsáveis por sua respiração, traço da vida como pássaro, acredito. Queria eu poder dormir assim, mas o sono foi embora e foi sem previsão de volta. 

Levantei e caminhei pelo quarto até chegar na janela, que ia do chão ao teto, toda de vidro. Abri a mesma e me pus a observar o céu estrelado, ainda não me acostumei com a beleza do mesmo, a barreira mágica nunca me permitiu vê-lo como é de fato, Mal nunca havia visto desde o dia que nasceu até quando veio para Auradon pela primeira vez e lamento muito não ter estado com ela no momento, tenho certeza que os olhinhos brilharam como quando eu dizia que ia contar uma história para que ela dormisse. 

Respirei fundo, deixando o ar gelado entrar e abracei meus próprios braços, em uma tentativa de manter o calor do corpo no lugar. Foi quando escutei passos sorrateiros atrás de mim, sabia exatamente de quem se tratava, então não me assustei. Diaval me abraçou por trás e beijou meu rosto, me arrancando um sorriso discreto. 

- Perdeu o sono de novo? - ele perguntou, se pondo ao meu lado 

Não respondi com palavras, apenas balancei a cabeça positivamente, confirmando. 

- É a Mal? - Diaval indagou. Nossa, ele me conhece tão bem! 

- Sim - respondi - não consigo simplesmente não pensar. Ela ainda é muito nova e a responsabilidade que vai enfrentar é muito grande 

- Mas ela também é muito corajosa e capaz - ele disse - eu acredito nela 

- E eu também - disse - mas tenho medo que as outras pessoas não acreditem 

- Isso é algo que não podemos ajudar, infelizmente, só nos resta acreditar que ela vai conseguir liderar a todos

Não disse nada depois dele, apenas continuei olhando para além da janela, o coração inquieto com perguntas sem respostas e angustias sem soluções. 

- Poderíamos simplesmente tomar a frente e liderar a batalha, mas essa é vez deles Malévola, a vez dela - Diaval completou

Ok, ele é muito bom com as palavras e havia me pego com aquele pequeno discurso. Eu não tinha como descordar, aquela batalha era da Mal e dos membros da OPAM, a minha e de Diaval já foi travada há muito tempo e, infelizmente, nós perdemos, mas acredito que Mal irá vencer, independentemente do lado que ela escolheu, ela estará seguindo seu coração e lutando por seus ideais, isso por si só já alegra, e muito, meu coração. 

Precisava acreditar que ela estava bem e me acalmar um pouco, então puxei Diaval para um selinho que em poucos segundos se tornou um beijo intenso. Depois de alguns minutos nós fomos para cama, pois já não dava para ficar em pé em frente a janela. As vezes paro e agradeço ao destino por ter colocado Diaval na minha vida, só Deus sabe o que seria de mim sem ele por perto. 

** Pensamentos da Mal **

Terminei a conversa com Bernice ciente do que teria que fazer a seguir. Ela ia falar com o pessoal do esconderijo e entrar em contato com os líderes das outras sedes, já eu tinha que falar com o Ben, mas antes tinha que pilotar de volta até o castelo. 

Quando fui levantar da cadeira, minha visão ficou turva e eu quase cai no chão, mas consegui me segurar na mesa. Bernice veio até mim em um pulo e me segurou, ela também perguntou alguma coisa, mas eu não prestei muita atenção, estava mais focada em tentar colocar as coisas de volta no lugar, tudo parecia embaçado, como se eu estivesse em baixo d'água. 

Depois de algumas piscadas e de respirar fundo, a tontura passou e eu já estava enxergando perfeitamente. Bernice ainda estava preocupada, me olhando com a testa franzida e insistindo para que eu sentasse, mas eu disse que não, pois já estava me sentindo bem melhor, então não havia motivo para me sentar.

- Tem certeza que tá bem? - ela perguntou antes de me soltar de fato

- Tenho sim - respondi - foi porque eu levantei rápido, deve ser a ansiedade, só isso - menti 

Bernice encostou as costas na quina da porta e cruzou os braços, me encarando com uma das sobrancelhas levemente arqueada, claramente duvidando de mim. 

- Tem certeza de que não tem nada que eu deva saber? - ela indagou 

Demorei alguns segundos para responder. Que ela devesse saber? Não, não acho que é uma necessidade ela saber que estou gravida do Ben, afinal, eu ainda não havia nem sequer contado a ele, por que contaria pra ela? 

- Absoluta - disse 

Bernice não pareceu cem por cento convencida, mas pelo menos não insistiu mais nisso. Ela me acompanhou até a saída e me desejou boa sorte. Eu subi na moto, dei a partida e me pus a pilotar no escuro prévio do amanhecer.

**

Quando cheguei próximo ao castelo, o céu estava alaranjado, ainda se decidindo se começava logo o dia ou dava mais algum tempo para todos dormirem.

Me aproximei dos enormes portões e usei meu controle para abri-los, depois segui pela pequena estrada, passando pelo jardim até chegar na entrada. Deixei minha moto por ali mesmo - coisa que faz com que a Fada Madrinha vire uma arara, como ela sempre diz: "damas não deveriam sequer ter uma moto, quanto mais deixá-la jogada na entrada" - e finalmente entrei de fato no castelo. 

O guarda que fica em frente a enorme porta estranhou, afinal, não tinha me visto sair de madrugada por estar dormindo, mas não fez perguntas, isso não é algo que caiba a ele, apenas abriu a porta para que eu passasse. 

Do lado de dentro tudo continuava a mesma coisa de quando eu sai, quieto e sem ninguém, era muito cedo até para os empregados. Subi as escadas com cuidado, pois tudo ainda estava um pouco escuro, e segui até o quarto do Ben. 

Entrei devagar, sem fazer barulho e sem bater a porta com força, na esperança de que ele ainda estivesse dormindo da mesma forma que o deixei quando sai. E era como ele estava, deitado entre os travesseiros e preso em um sono tranquilo, o que me fez dar um pequeno sorriso. 

Coloquei as chaves da moto sobre o criado-mudo e subi na cama, me sentando ao lado dele, passando a mão nos fios macios do seu cabelo. Em sua testa ainda havia um curativo do hospital, me fazendo lembrar de tudo o que aconteceu em tão pouco tempo. 

O acidente no subsolo da Auradon Prep me tirou o sono e, por alguns instantes, meu coração. A sensação de poder perder Ben a qualquer momento foi a pior possível e, definitivamente, não quero passar por essa experiência nunca mais. Eu percebi que, são em momentos como esse, que acabamos percebendo a importância das pessoas em nossas vidas e, sinceramente, não sei o que seria da minha sem ele. 

Comigo mexendo em seu cabelo, aos poucos Ben foi acordando, abrindo os olhos de forma preguiçosa. Acorda-ló não era bem a minha intenção, mas na verdade eu nem sabia qual era, desde que deixei o esconderijo estava meio que em "piloto automático", fazendo as coisas mais por impulso do que por decisão. 

- Bom dia - disse em um tom baixo quando ele finalmente acordou 

- Bom dia - Ben respondeu com um sorriso, depois olhou para a janela e franziu a testa, estranhando o horário - por que acordou tão cedo? Tá sem sono? 

- Bem que eu queria que fosse insônia mesmo... - respondi, mais um pensamento alto do que uma resposta 

- O que foi? - Ben perguntou enquanto se sentava na cama - Aconteceu alguma coisa, Mal?

Seu olhar estava preocupado. Ele  tinha um curativo enorme na cabeça e estava preocupado comigo? 

Eu queria contar a ele sobre tudo, sobre a OPAM, o esconderijo, a Uma e a guerra, mas não fazia a menor ideia de como iniciar uma conversa daquele tipo. Então, apenas o beijei. E o beijo, que começou leve, começou a se tornar algo agitado e eu já estava praticamente em cima dele, com minha mão em seu peito. 

- Mal - Ben disse entre os beijos - espera... - ele segurou meus ombros, me fazendo afastar  - você não é assim, quer dizer... aconteceu alguma coisa, não foi? 

Ele tinha percebido, é claro tinha, ele é o Ben, conhece cada centímetro meu e perceberia que algo muito sério está acontecendo. Eu tinha contar, não tinha escapatória, ele é o rei de Auradon e uma peça fundamental nessa história toda. 

- Aconteceu - respondi por fim 

- O que foi? Você tá bem? - ele perguntou preocupado, se sentando melhor na cama para poder me olhar 

- Eu tô ótima - respondi - o problema não é comigo, bem, não tecnicamente, mas eu estou envolvida e... 

- Mal - ele me interrompeu - me conta do início, tá? 

Respirei fundo, tentando organizar todos os acontecimentos na cabeça, tentando achar as as palavras certas.

- Eu não perdi o sono, na verdade, nem cheguei a passar a noite toda aqui - disse, fazendo Ben franzir a testa - o médico disse que você provavelmente dormiria bastante, então eu não fiz nenhum barulho pra te incomodar, deixei que dormisse - expliquei - mas pra mim foi mais difícil, não foi tão simples deitar e pegar no sono, quando eu fechava os olhos era como se tivesse no desabamento de novo e, te ver desacordado sem que eu pudesse fazer nada, não foi a melhor das experiências 

 

- Mas já passou - Ben disse pegando minha mão, um sorriso singelo nos lábios - eu tô bem agora, juro 

 

- Como eu não tava conseguindo dormir, fui até o banheiro e, quando eu voltei, Carlos estava aqui  

 

- O que? O Carlos?! Mas ele está desaparecido - Ben disse intrigado 

 

- Ao que parece não, ele só não quer ser encontrado, pelo menos não agora... 

 

- Como assim não agora? Você tá me deixando confuso 

 

- Então deixa eu terminar - pedi e ele fez positivo com a cabeça, concordando - eu fiquei tão confusa quanto você está agora, até assustada pra falar a verdade. Mas parecia que ele tava precisando de ajuda, eu tentei falar, mas ele não queria conversa, tinha vindo com uma missão e não parecia querer se destoar dela - Ben me escutava com atenção - ele disse que o desabamento da Auradon Prep não foi acidente, talvez tenha sido até intencional 

 

- O que?! Isso é acusação muito séria! 

 

- E não foi só isso, ele disse que foi só o começo, que o que está por vir é bem pior 

 

- Está por vir? Do que isso se trata Mal? 

 

Ben estava ficando cada vez mais confuso, os fatos se embaralhando em sua cabeça, fiquei até com medo de que o fizesse algum mau, devido a pancada que ele tinha levado, mas eu precisa contar tudo e ainda havia muito para ser dito. 

 

- Na hora eu não soube, mas agora eu sei e preciso que me deixe explicar - disse, pedindo calma - o Carlos disse que Uma e Harry estão juntos, que eles planejam uma vingança por tudo que aconteceu, que sequestraram ele e a Audrey - contei

 

- A Audrey?! O que ela tem haver com isso? 

 

- Eu fiz essa mesma pergunta, mas ele apenas disse que eu tinha que agir rápido ou nós dois acabaríamos mortos - nessa momento vi Ben assumir uma postura mais rígida, como se tivesse sido desafiado para uma luta - ele me mandou ir para a escola, mais precisamente para um bosque que fica cerca de um quilômetro dos fundos da Auradon Prep - expliquei - na hora eu não entendi como isso poderia ajudar, mas ele disse que estariam esperando por mim, que eles estariam esperando por mim 

 

Ben franziu a testa novamente, claramente mais confuso do que antes, mas resolveu não se manifestar, permaneceu calado e prestando atenção em mim, incentivando para que eu continuasse logo. 

 

- Ele também disse que tentaria ao máximo nos ajudar, que a magia da Uma é poderosa, mas que a minha magia é mais 

 

- Sua magia? - Ben indagou com uma expressão relutante 

 

- Sim, minha magia - disse em um tom firme, confirmando - eu faço magia e você sabe disso, não é só porque eu vim pra cá que vou mudar quem eu sou, faz parte de mim 

 

- Sei disso - Ben disse - mas é que você não tem mais usado seus poderes, pelo menos não com a mesma frequência de antes e eu só... - ele suspirou - desculpe, não deveria ter te interrompido, pode continuar 

 

- Depois disso ele foi embora - concluí - pela mesma janela que entrou. Eu atrás tentei dormir depois, mas não dava, não dava pra ignorar tudo o que ele tinha falado e também tinha a coisa com os olhos, com as mãos...

 

- Espera - Ben me interrompeu - coisa com os olhos? 

 

- Sim - respondi - ele parecia lutar contra alguma coisa, mas não algo físico, mais como algo interno. Eu não sei... mas senti que o que ele falava era verdade e que eu deveria fazer o que ele mandava 

 

- Então você foi até esse tal bosque? - Ben perguntou 

 

- Sim - respondi com um balançar de cabeça - mas não havia nada além de mato e arbustos lá, por um momento imaginei até que ele tivesse mentido, mas o que eu vi quando andei mais um pouco foi a coisa mais linda que já vi em toda a minha vida, literalmente mágico

 

Ben estava com uma expressão levemente desconfiada, porém completamente atenta ao que eu dizia. 

 

- Eu acabei encontrando uma árvore enorme, com certeza com muitos anos de vida - continuei - mas não era só isso, a árvore se diferenciava das outras, como se estivesse no centro de todas elas, como se fosse uma espécie de rainha 

 

- E fora isso, o que ela tinha de tão especial? - Ben indagou 

 

- Eu pude sentir magia nela 

 

Contei para Ben sobre tudo, sobre o esconderijo, a OPAM, Bernice e a carta de Diaval, contei a ele também sobre Uma, Harry e a guerra iminente. Tudo até que correu bem, as palavras foram saindo e a explicação fluindo, a única coisa que eu não esperava era a reação dele. 

 

- Agora eu preciso da sua ajuda para enfrentar a guerra, Bernice irá convocar todos da organização, mas ela teme que não seja suficiente, então pensei que poderíamos...

 

- Poderíamos?! - Ben me interrompeu levantando da cama, uma expressão indiferente e um tom debochado - Fez promessas em meu nome sem nem sequer me consultar primeiro?! 

 

- Eu achei que não teria problema...

 

- Pois achou errado! - ele me interrompeu novamente - Uma organização como essas é completamente ilegal e criminosa, você como futura rainha deveria ter seguido o que é certo e denunciado! Mas não, vou se juntou a eles, participou das coisas deles, foi cúmplice! 

 

- E o que você queria?! - também aumentei meu tom, não iria aguentar tantas palavras injustas sem fazer nada - Que eu os denunciasse e deixasse o povo morrer?! Por que nem sequer saberiam da guerra?! - indaguei - Queria que eu deixasse que viessem até nós e nos matassem?!

 

- Obviamente que teríamos segurança extra! Além do mais que mandaria o exército conter os habitantes da ilha...

 

- Mas não é só isso! - gritei, o interrompendo - Será que você não intende que a partir do momento que você grita aos quatro ventos que a magia é ilegal, que você também me inclui no pacote?! - indaguei 

 

Ben mudou de expressão, minhas perguntas provocaram um breve conflito interno nele, eu pude perceber. 

 

- Não - ele disse depois de poucos segundos - você é diferente, não é como eles!

 

- E por que não? - perguntei, em um tom mais baixo - Eu também sou adepta de magia Ben, minha mãe é uma das maiores feiticeiras que esse mundo já viu, se não a maior - disse - a magia tá dentro de mim, é parte de quem eu sou e, assim como eles, vou lutar até o fim da minha vida por ela, até porquê, se você tirar a magia de mim Ben, estará me matando 

 

Ben ficou parado, porém não completamente mudo, eu conseguia perceber através de suas expressões faciais que ele estava pensando em muitas coisas, ele tinha sido bombardeado de muitas informações em muito pouco tempo. 

 

Eu meio que entendia o lado dele, a magia fez coisas horríveis não só com sua família, mas também com a de pessoas próximas a ele. Ben foi criado a vida inteira com pessoas lhe dizendo o quanto a magia é errada e que deve ser proibida, mas eu também o conheço, sabia que, apesar de todas as tentativas, não conseguiram mudar quem ele é de verdade.

 

- Lembra quando você me deu isso? - perguntei, andando até ele e mostrando o anel dourado em minha mão 

 

Ben não respondeu de primeira, apenas olhou pra minha mãe e fez positivo com a cabeça de uma forma rápida, só depois disse alguma coisa.

 

- Foi no dia que pedi sua mão, fizeram uma festa em alto mar só pra nós 

 

- E você lembra o que me disse quando me presenteou com aquele vitral? - perguntei me aproximando mais um pouco, uma tentativa de acender as memórias 

 

Ben passou alguns segundos calado, claramente já havia se lembrado de suas palavras e se tocado de em que ponto eu queria chegar. 

 

- Eu disse que queria seus olhos daquela cor intensa porque... porque é quem você era de verdade, é quem você é de verdade 

 

-  Exatamente - disse - você enxergou quem eu era de verdade e isso não fez como que o nosso amor acabasse, pelo contrário, só o deixou ainda mais forte - dei um sorriso leve - você mais do que ninguém sabe o quão mau me fez fingir ser aquilo que, claramente, eu não era. Então por que os outros devem ser obrigados a se esconder? A se tornarem pessoas tristes, amarguradas e cheias de ódio? 

 

Ben pareceu refletir sobre o que eu tinha dito, mas ele logo conseguiu uma forma de rebater.

 

- Mas não é tão fácil assim Mal, os cidadãos, principalmente os habitantes da capital, jamais permitiram algo assim. Eu posso ser o rei, mas não posso simplesmente fazer o que eu quero, se descobrirem que eu não fiz nada com uma organização desse porte, que, pelo contrário, até participei, eles acabam comigo

 

- E quem disse que tomar decisões é uma coisa fácil? - me aproximei ainda mais, ficando bem próxima dele. Ben é mais alto, então tive que olhar um pouco para cima para enxergar seus olhos, ele estava olhando para baixo - As revoluções mais importantes da história não aconteceram da noite para o dia, elas levaram tempo e dedicação e... se você deixar, prometo ficar ao seu lado em todos esses momentos, mas por favor, nos ajude

 

Ben se afastou de mim e foi se sentar próximo a janela, onde tem um pequeno sofá preso a parede. Ele colocou os cotovelos sobre os joelhos e esfregou o rosto com as mãos, respirando fundo. 

 

Eu entendo, é muito pra ele, não é como se ele fosse o rei da turma do colégio, ele é o rei de todos os reinos, está acima de todos e ao mesmo tempo deve explicações para todos. 

 

Mas eu também preciso que ele entenda o meu lado, não tem a menor chance de eu deixar ele ou qualquer um fazer mau aos membros da OPAM, tanto por eu também ser uma adepta, mas também pelo fato de que eles precisam de mim, me acolheram e confiaram em mim, não posso decepciona-los, não agora.

 

- Ben? - o chamei, ainda na esperança de que ele fosse entender e ficar do meu lado 

 

- Eu não posso Mal - ele disse com uma voz firme - não dá 

 

Não conseguia acreditar no que tinha, todas as minhas expectativas, toda minha ansiedade e entusiasmo, foi quebrado naquele momento. 

 

- E se quiser ficar ao meu lado e ser minha rainha, terá que me dizer aonde eles se escondem, terá que denuncia-los e negar qualquer tipo de envolvimento 

 

Foi como uma facada, pior do que uma traição pelas costas, eu me senti exposta, extremamente machucada, não conseguia acreditar no que ele estava fazendo. Onde está o Ben que eu conheço? Aquele que dizia me amar e que me prometeu o mundo? Eu não tinha respostas para aquelas e muitas outras perguntas, mas tinha certeza de uma coisa: jamais iria trair Bernice e os outros, pois seria como trair a mim mesma. 

 

- Pois se é assim - disse em um tom também firme - temo que não poderei mais usar isso 

 

Tirei o anel dourado do meu dedo, o olhei por alguns segundos, todas as promessas passaram bem rápido pela minha cabeça, mas a dor que eu sentia no peito indicava que todas elas já não existiam mais, eu tinha que seguir em frente. 

 

Coloquei o anel sobre a cama e olhei pra ele, que me observava com uma expressão firme - apesar de eu enxergar, bem lá no fundo, um leve indício de surpresa - senti meus olhos se enxerem de lágrimas, mas não chorei, apenas dei meia volta, pegando minhas chaves e saindo do quarto. 

 

Bati a porta com um pouco mais de força do que o necessário, respirei fundo e desci as enormes escadas, tendo claro em minha mente que aquela era a última vez que fazia aquilo. Coloquei o capacete e subi em minha moto, dei a partida e saí do castelo em alta velocidade, sem um destino certo, apenas queria sentir o vento em meu rosto, sentir a adrenalina em minha carne. 

 

E quando já estava há uma distância considerável, as lágrimas vieram, poucas, porém incessantes. 

 

A coroa matou meu pai e muitos outros, não vou permitir que o mesmo com mais  ninguém. Eu ia fazer isso, ia lutar na guerra e defender os adeptos de magia não só de Uma, mas também da coroa, iria fazer isso nem que fosse a última coisa que fizesse.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, não se esqueçam de comentar e favoritar a história. Até a próxima!


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