1. Spirit Fanfics >
  2. Uchiha: Boku no Hero. >
  3. Traidor.

História Uchiha: Boku no Hero. - Traidor.


Escrita por: Canjik

Capítulo 54 - Traidor.




A sala permaneceu em silêncio por alguns segundos após as últimas palavras de Sasuke, até que a porta se abriu e dois heróis bem conhecidos entraram: All Might e Aizawa. O símbolo da paz e o professor de olhar severo estavam ali, não como figuras de autoridade, mas como portadores de uma notícia difícil.


All Might andou até o centro da sala. Já em sua forma magra, ele mantinha ainda aquela postura firme, mas havia tristeza em seu olhar. Aizawa parou ao lado dele, com os braços cruzados e o rosto sério, ainda mais silencioso que o habitual.


— Todos, — começou All Might, a voz um pouco rouca, — precisamos conversar sobre algo importante... sobre Star and Stripe.


Ao ouvir aquele nome, os olhos de muitos se arregalaram. A heroína número um dos Estados Unidos era uma lenda viva, conhecida por seu poder inigualável e coragem inabalável.


— Ela lutou contra Shigaraki, — continuou All Might, com pesar na voz. — Ela sabia dos riscos, sabia que ele estava evoluindo, ficando mais forte... mais perigoso. Mas mesmo assim, ela foi. Sabia que não podia permitir que ele se tornasse completo.


Aizawa completou, de forma seca:


— Star conseguiu atrasar a fusão entre ele e All for One. Interrompeu o processo com uma de suas regras antes de ser morta. O plano era impedir que ele alcançasse sua forma final... e ela conseguiu. Pelo menos, por enquanto.


Um silêncio pesado caiu sobre todos. Midoriya olhava para o chão, a respiração tremendo. Tsuyu fechou os olhos brevemente. Kirishima apertava os punhos.


All Might abaixou a cabeça.


— Ela... ela deu a própria vida. Sabia que era a única que podia fazer isso. Ela confiou que nós iríamos continuar, que protegeríamos o mundo com a chance que ela comprou com o próprio sangue.


Aizawa olhou para todos, sua voz firme:


— Então agora é com a gente. Com todos vocês. A luta continua... e temos menos tempo do que nunca.


As palavras ecoaram como um lembrete brutal da realidade. Um sacrifício havia sido feito — e agora, o peso da guerra recaía sobre os ombros deles.


..

..


No dia seguinte, a U.A. parecia mais viva do que nunca. A chuva tinha cessado, e o sol brilhava forte sobre o campo de treinamento. Cada aluno da 1-A estava concentrado, determinado. Depois de tudo que haviam ouvido sobre Shigaraki, All for One, e o sacrifício de Star, ninguém mais podia se dar ao luxo de ficar para trás.


Kirishima socava colunas de pedra com intensidade, a pele endurecida até trincar. Momo criava armas com mais precisão e velocidade. Bakugou, suando e bufando, disparava explosões atrás de explosões, treinando o controle ao milímetro. Midoriya, com os olhos focados, pulava de plataforma em plataforma com seus chicotes negros. Shouto manipulava fogo e gelo simultaneamente, em uma dança equilibrada de poder.


Sasuke, afastado, observava tudo com atenção. Participava dos treinos, claro, mas seus olhos sempre analisavam, sempre desconfiavam. E havia alguém que lhe chamava a atenção de forma especial: Yuuga Aoyama.


Desde que retornou à escola, Sasuke não viu Yuuga ser... ele mesmo. Nada de poses espalhafatosas. Nada de exageros dramáticos. Nenhum brilho falso nos dentes. Ele não sorria. Apenas treinava — calado, rígido, introspectivo.


Sasuke o observava de longe, estreitando os olhos.


Aoyama lançava feixes a laser com esforço visível. Seus tiros não estavam tão fortes, e ele interrompia os treinos com frequência, sempre olhando em volta como se estivesse se certificando de que ninguém o observava demais.


Algo estava errado.


Sasuke sabia bem o que era carregar segredos — e nos olhos de Yuuga, havia algo muito familiar. Um medo preso, um arrependimento pesado. Ele não era mais o mesmo garoto que um dia disse que brilhava por todos.


E Sasuke pretendia descobrir o porquê.


Sasuke terminava de aparar um golpe de treinos de Tokoyami quando ouviu passos leves se aproximando. Ou melhor, não ouviu nada — apenas sentiu a presença. Ele se virou sutilmente, e mesmo sem vê-la, sabia quem era.


— Hakagure — murmurou.


— Você também percebeu, né? — a voz da garota invisível soou baixa, quase como se tivesse receio de falar alto demais.


Sasuke voltou o olhar para o local onde Aoyama treinava. O garoto estava ajoelhado, apoiando uma das mãos no peito, tentando controlar a respiração após mais um disparo mal-sucedido.


— Ele não está bem — respondeu Sasuke, direto. — Tá carregando algo.


— Ele não fala mais comigo — continuou Hagakure. — A gente costumava rir, conversar, ele me mostrava poses... Agora, ele me evita. Evita todos.


Sasuke manteve os olhos fixos em Aoyama.


— Ele não é só alguém triste. Ele tem medo. Medo de ser descoberto.


Hakagure engoliu seco, hesitando antes de perguntar:


— Você acha... que ele pode ser o traidor?


Sasuke ficou em silêncio por alguns segundos, como se analisasse mil variáveis dentro da própria mente. E então respondeu, frio:


— Se for... ele vai me contar. Mais cedo ou mais tarde.


E virou o rosto ligeiramente na direção dela.


— Continue observando, Hakagure. Mas não confronte. Deixe que ele venha até mim.


Mesmo sem vê-la, Sasuke sentiu a leveza da concordância no ar. Hakagure se afastou, e Sasuke voltou a encarar Yuuga Aoyama — como um predador calmo, paciente, prestes a desvendar mais uma verdade escondida.


Yuuga Aoyama caminhava devagar pela floresta próxima à U.A., os galhos estalando sob seus pés enquanto a luz do sol mal atravessava as copas das árvores. Ele mantinha os braços cruzados contra o peito, como se tentasse proteger a si mesmo de algo invisível, algo que o devorava por dentro.


Sua mente estava longe dali.


Flashbacks começaram a invadir sua consciência como lâminas afiadas: ele, pequeno, chorando em uma sala escura. Seus pais ajoelhados, implorando a alguém fora de vista. A voz dele, fria, poderosa, inegável.


"Seu filho pode ser especial. Eu posso dar a ele um Dom."


All for One.


A lembrança do tubo sendo conectado à barriga, a dor cortante, os gritos abafados por uma máscara. E depois... o brilho. O laser que saía do umbigo. Seus olhos arregalados. Ele havia se tornado um garoto com um Dom — finalmente. Mas o preço...


A próxima memória doía ainda mais. Uma carta deixada em segredo. Instruções. Observe. Repasse. Obedeça. O terror de ser descoberto. A culpa consumindo seus dias.


Aoyama caiu de joelhos sobre a grama molhada. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ele não chorou — não tinha mais forças. Apenas ficou ali, com a testa encostada no chão, murmurando baixinho:


— Me desculpem... todos vocês...


Ele queria tanto ser um herói. Mas se sentia um monstro.


E mesmo assim... mesmo depois de tudo... eles ainda o olhavam com bondade.


— Eu não mereço isso...


Mas mesmo dizendo isso, uma parte dentro dele — pequena, quase apagada — ainda desejava redenção.


Aoyama ergueu a cabeça devagar, ainda ajoelhado. Seus olhos encontraram as botas escuras de alguém parado à sua frente. Quando ergueu o olhar por completo, sentiu um arrepio violento percorrer sua espinha: uma lâmina fina e afiada pressionava com firmeza seu pescoço, fria como gelo.


Do outro lado da espada, Sasuke o encarava.


O brilho de Raijin era tão intenso quanto seu olhar. Não havia ódio... mas também não havia piedade. Era como se Sasuke já soubesse. Como se só quisesse confirmar.


— Me conte tudo. Agora — ordenou ele, a voz baixa, firme e carregada de ameaça.


Aoyama congelou. O laser que pulsava em seu umbigo parecia inativo, inofensivo. Ele sabia que não tinha chance contra Sasuke, não naquele estado, não contra aquele olhar que havia visto a morte de perto muitas vezes.


— E-eu... — sua voz falhou.


Sasuke pressionou um pouco mais a lâmina, sem cortar, apenas o suficiente para lembrar que estava no controle.


— Se for mentira, eu vou saber — ele disse, impassível.


Aoyama fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Então, lentamente, as palavras começaram a sair.


— Foi quando eu era criança... meus pais... eles só queriam que eu tivesse um Dom... qualquer Dom... Eles fizeram um acordo com ele...


Sasuke permaneceu imóvel, ouvindo.


— All for One... ele... me deu esse Dom. Mas em troca, eu me tornei... dele. Um peão. Eu passei informações. Fui forçado a obedecer. Ele ameaçava meus pais, minha vida... tudo.


Aoyama tremia.


— Eu nunca quis... eu juro! Mas eu obedeci. Por medo. Eu sou um traidor, Sasuke... e nem sei se ainda posso mudar isso.


Sasuke manteve os olhos fixos no garoto. Mas não moveu a lâmina. Ainda não.


— Y-Yuuga... — a voz vacilante ecoou pela floresta densa.


Sasuke não precisou se virar completamente. Seus olhos afiados vislumbraram duas silhuetas se aproximando entre as árvores. Eram os pais de Aoyama, pálidos, com passos hesitantes. A mãe trazia as mãos trêmulas contra o peito, enquanto o pai estendia os braços à frente, como se pedisse clemência.


Sasuke suspirou. Seu olhar não suavizou.


— Vocês também estão envolvidos — disse com frieza.


Num movimento rápido, tão veloz que os olhos mal podiam acompanhar, ele desapareceu e reapareceu atrás dos três. Em questão de segundos, fios elétricos concentrados envolveram os tornozelos e pulsos de Yuuga e seus pais, os paralisando.


— Eu já entendi tudo... mas não vou deixar isso passar — sua voz era gélida, mas controlada.


Aoyama tentou se virar, os olhos arregalados.


— S-Sasuke, eles só queriam me proteger...


— Proteger? — Sasuke o interrompeu, se aproximando, seu rosto a centímetros do de Aoyama. — Eles te venderam, Yuuga. Venderam você pro maior monstro que esse mundo já viu. E você quase arrastou todos nós junto.


Ele se afastou um pouco, sem tirar os olhos deles.


— Não sou juiz, mas também não sou cego. Vocês vão responder por tudo. Mas terão uma chance... se colaborarem.


Um raio discreto cintilou entre seus dedos enquanto ele se comunicava por rádio.


— Sensei. Três capturados. Vou levá-los agora.


E então, com passos firmes, Sasuke começou a arrastá-los pela floresta. O silêncio que os acompanhava não era apenas medo. Era o peso da verdade, finalmente confrontada.


Os três — Yuuga Aoyama e seus pais — estavam sentados em cadeiras metálicas no centro do salão de treinamentos adaptado da U.A., agora transformado temporariamente em uma base de interrogatório. Algemas especiais, com contenção de energia e rastreamento, envolviam seus pulsos.


Ao redor deles, os principais professores e heróis estavam reunidos: Aizawa, de braços cruzados e expressão dura; All Might, sério e silencioso; e a diretora Nezu, empoleirada em uma mesa, observando atentamente. Alunos da 1-A, em posição recuada, também estavam presentes, alguns com semblantes pesados, outros com olhares confusos.


— Vocês vão contar tudo que sabem sobre o All for One — disse Aizawa, encarando os pais de Yuuga com olhos semicerrados. Sua voz era firme, sem espaço para rodeios.


A mãe de Aoyama tremia. O pai abaixou a cabeça, apertando os olhos, quase como se tentasse apagar a realidade.


— Nós... nós não sabemos nada — ele disse finalmente. — Tudo que fizemos foi seguir as instruções. Ele nunca revelou nada sobre si mesmo. Só mandava ordens... e ameaças.


— Ele nos usava como isca, como mensageiros... — completou a mãe, as lágrimas escorrendo. — Nós não sabíamos seus planos, nem seus alvos. Só... obedecíamos. Para salvar nosso filho.


Aoyama estava cabisbaixo, com o rosto em sombra. Ele não dizia nada, mas suas mãos tremiam.


All Might apertou os punhos, sua mandíbula cerrada. Nezu respirou fundo e anotou algo em um pequeno tablet.


Aizawa deu um passo à frente.


— Isso não é suficiente. Vocês participaram, mesmo sem saber. E se quiserem ter qualquer redenção, vão ajudar a descobrir onde ele está. Cada detalhe. Cada palavra. Qualquer coisa. Porque agora... vocês não têm mais escolha.


O silêncio que caiu sobre o lugar era quase sufocante.


Kirishima deu um passo à frente, seu olhar firme, mas carregado de decepção. Os demais alunos recuaram levemente, sentindo a tensão no ar aumentar. Ele olhou diretamente para Aoyama, que permanecia com a cabeça baixa, os olhos evitando qualquer contato.


— Me diz uma coisa, Aoyama... — começou Kirishima, a voz embargada, mas contida — o que você teria feito se o Sasuke não tivesse descoberto?


O silêncio de Yuuga foi quase ensurdecedor. Ele apertou as mãos trêmulas em cima das pernas, lutando contra as lágrimas.


— Você... teria continuado? Fingindo? Rindo com a gente? — continuou Kirishima, a voz mais pesada agora. — Teria traído a gente de novo se fosse obrigado? Ou teria nos contado por conta própria?


Yuuga levantou os olhos, e neles havia um mar de culpa e desespero. Ele queria responder. Queria muito. Mas tudo que saiu foi um sussurro fraco:


— Eu... não sei. Eu estava com tanto medo...


Kirishima abaixou a cabeça por um instante, depois virou o rosto de lado.


— Medo... Todos nós temos medo. Mas a diferença é o que fazemos com ele.


E então ele se afastou, sem mais palavras.


Aizawa observava os três diante deles — Aoyama e seus pais, cabisbaixos, arrasados. O olhar dele era firme, inabalável, como sempre foi nas decisões difíceis.


— Não temos escolha. Eles serão detidos — disse Aizawa, com seriedade. — Conspiraram com o maior inimigo que esse país já viu.


Antes que alguém pudesse dizer algo, a voz de Sasuke cortou o ar:


— Você por acaso é burro, Aizawa?


O professor virou-se, encarando o Uchiha com surpresa e leve indignação. Os alunos atrás prenderam a respiração, e até All Might deu um passo à frente, cauteloso.


Sasuke deu um passo em direção aos três, ainda sob vigilância, e então falou com firmeza:


— Se vocês prenderem os três agora... vão só jogar fora a única vantagem que temos. Eles são a nossa única chance real de enganar o All for One.


Aizawa estreitou os olhos.


— Continue.


Sasuke olhou diretamente para ele, com a calma fria de quem já havia planejado tudo.


— Aoyama ainda é uma peça valiosa. All for One acredita que ele está sob seu controle. Podemos usar isso. Enviar informações falsas. Criar armadilhas. Trazer o inimigo pra perto. Mas se vocês o trancarem, ele se torna inútil.


O silêncio caiu pesado. Sasuke se virou para Aoyama.


— Mas se ele for forte o bastante pra lidar com a culpa e fazer o que é certo... então ele pode se redimir ajudando a acabar com tudo isso.


Aoyama levantou os olhos, surpreso e emocionado, e pela primeira vez desde que tudo veio à tona... havia um vislumbre de esperança.


O ambiente ficou pesado, o ar denso, como se uma tempestade estivesse prestes a se formar. Sasuke, com sua expressão impassível, deu um passo à frente, e todos ao redor sentiram a tensão aumentar instantaneamente. Seus olhos, que normalmente carregavam uma calma fria, agora estavam sombrios, perigosos, como se todo o peso do mundo estivesse em seus ombros.


Com um movimento rápido e quase imperceptível, Sasuke retirou a pistola de sua cintura e apontou para Aoyama, seus dedos firmes no gatilho, a arma apontada diretamente para o peito do jovem. O som do metal sendo erguido cortou o silêncio como uma lâmina afiada.


— Escutem bem — Sasuke disse com uma voz baixa e cortante, seus olhos fixos em Aoyama. — Se vocês não colaborarem... se continuarem com essa história de traição... eu farei o máximo pra eliminar vocês três. Não hesitarei nem por um segundo.


O olhar de Sasuke se tornou ainda mais frio, uma ameaça clara em seus olhos, e seus amigos ao redor, incluindo All Might e Aizawa, entenderam que ele não estava brincando. A tensão no ar era palpável, cada um esperando o próximo movimento, o próximo respiro.


— Vocês... traíram todos nós. Se não estão dispostos a pagar por isso, então, não merecem o perdão ou a chance de sobrevivência. — Sasuke falou, seu tom implacável. Ele não estava ali para fazer promessas, mas para mostrar que a traição tem um preço.


Aoyama e seus pais estavam petrificados, e até os alunos mais próximos, como Kirishima, Mineta e Sero, engoliram em seco, sem saber o que dizer ou como agir.


Sasuke não parecia nem um pouco disposto a dar mais chances. Ele estava pronto para cortar qualquer laço que não fosse digno da sua confiança.


Sasuke permaneceu imóvel por alguns segundos, o dedo ainda no gatilho, o olhar cravado em Aoyama. Mas então, com um suspiro pesado e contido, ele baixou lentamente a arma, o cano reluzindo sob a luz fraca da sala.


Seus dentes cerraram com força, a mandíbula marcada de tensão. Ele virou a cabeça para o lado, evitando encarar qualquer um diretamente, o olhar fixo em algum ponto do chão.


— Droga... — murmurou baixo.


Depois, falou em voz alta, com firmeza:


— Eu tive uma ideia.


Todos ao redor voltaram a encará-lo com atenção, enquanto ele levantava o olhar, os olhos ainda endurecidos, mas a voz um pouco mais controlada.


— Tapem as bocas e os ouvidos da família Aoyama. Usem qualquer coisa que tiverem. Eles não podem ouvir ou falar nada daqui pra frente... não até a gente ter certeza de que podemos usá-los sem correr risco de mais vazamentos.


Aizawa franziu o cenho, mas não discordou. Já sabiam que o plano de Sasuke podia ser arriscado, mas se tinha alguém capaz de prever os piores cenários, era ele.


— Vamos fazer isso do meu jeito agora — completou Sasuke, os olhos voltando para Aoyama. — E reza pra isso dar certo. Porque é a única chance que você tem.


..

..


Sasuke se afastou um pouco, cruzando os braços e encarando o grupo à sua frente. Ele respirou fundo, reuniu as palavras na mente e começou a explicar. Sua voz saiu baixa, mas firme, cada frase carregada de propósito.


Os olhos de Aizawa se estreitaram lentamente conforme escutava, e até mesmo All Might, sempre tão resoluto, arqueou as sobrancelhas, tomado por um certo espanto. Momo levou a mão à boca, surpresa. Bakugou cerrou os punhos, olhando de canto para Sasuke, como se quisesse dizer algo, mas preferisse guardar pra si. Tsuyu apenas piscou devagar, assimilando cada ponto, enquanto Kyoka parecia inquieta, os dedos fechando e abrindo em seu casaco.


Shouto foi o primeiro a falar, sua voz soando mais baixa do que o normal:


— Isso… pode funcionar.


O silêncio foi quase absoluto após as explicações. Era como se todos estivessem processando o que ouviram, pesando as consequências. Um plano como aquele… arriscado, imprevisível, mas com uma chance real de virar o jogo.


Sasuke então deu um último olhar ao grupo, sério:


— Mas pra dar certo… ninguém pode falhar. Nem uma vez.


A tensão no ar era palpável. Eles estavam prestes a cruzar uma linha da qual talvez não houvesse volta.


Aizawa deu um passo à frente, seus olhos cansados observando Sasuke em silêncio por um breve momento. Então, sem dizer nada de imediato, colocou a mão firme sobre o ombro do Uchiha.


— Eu estou orgulhoso do que você se tornou — disse ele, a voz baixa, mas carregada de sentimento. — Você poderia ter seguido um caminho muito mais escuro… e ninguém aqui te culparia. Mas escolheu lutar, proteger. Mesmo que isso signifique carregar o peso sozinho.


Sasuke manteve os olhos baixos por um instante, os lábios entreabertos como se fosse responder, mas nenhuma palavra saiu. O toque no ombro, vindo justamente de alguém tão reservado quanto Aizawa, dizia mais do que mil discursos.


O Uchiha assentiu lentamente, em silêncio, aceitando aquele gesto como um raro momento de reconhecimento… e, de certo modo, de pertencimento.


..

..


O vento soprava forte no terraço da U.A., balançando os fios escuros de Sasuke enquanto ele permanecia ali, imóvel, diante do céu nublado. A cidade abaixo parecia distante, apagada, como se estivesse presa em outra realidade — uma onde as decisões não pesavam tanto.


Ele estava sozinho.


As mãos à sua frente tremiam. Ele as observava como se não as reconhecesse, os dedos levemente curvados, manchados pela poeira, pelo tempo… e por escolhas.


O punho direito fechou-se devagar, mas a tremedeira continuava.


Ele não teve piedade. Nem de um colega de classe.


Mesmo que Aoyama tivesse sido manipulado. Mesmo que estivesse desesperado. Mesmo que tivesse chorado. Sasuke o havia encarado como um inimigo. Como mais um na longa lista de ameaças que precisavam ser eliminadas.


— Que tipo de herói eu sou…? — murmurou para si mesmo, os olhos endurecendo.


A linha entre justiça e vingança estava cada vez mais tênue, e Sasuke sentia o peso disso. Mais do que qualquer outro ali, ele sabia que monstros não nascem — são moldados. E naquele momento, se perguntava o quanto faltava para ele deixar de ser humano… e se tornar apenas uma arma.


Sasuke continuava ali, imóvel, o olhar perdido entre nuvens e lembranças, quando ouviu passos suaves atrás de si. Ele não se virou de imediato. Já sabia quem era.


Kyoka parou ao lado dele, o vento bagunçando seus fios roxos e fazendo o casaco dela tremular suavemente.


— Você é um herói que esse mundo precisa — disse ela, a voz firme, mas com um toque de ternura.


Sasuke permaneceu em silêncio por um instante, como se aquela frase tivesse perfurado direto o peso do que sentia. Seus olhos desviaram das mãos trêmulas para ela.


— Eu sou um assassino, Kyoka. Um que nem hesitou em ameaçar alguém que cresceu do meu lado.


Ela deu um passo mais perto.


— E mesmo assim… você não puxou o gatilho. Mesmo com raiva, mesmo com medo. Você tomou decisões difíceis porque ninguém mais teria coragem de tomá-las.


Kyoka olhou nos olhos dele.


— Isso não te faz menos humano. Isso te torna real. Forte. Necessário.


Sasuke sentiu um nó na garganta, mas não desviou o olhar.


— Eu só não quero que você se afaste de mim por causa disso.


Kyoka sorriu de leve, pegando a mão dele com cuidado, mesmo que ela ainda tremesse.


— Eu vou estar do seu lado. Mesmo que o mundo inteiro vire as costas.


E naquele momento, o peso pareceu um pouco mais suportável.


— Tira a camisa. — Kyoka disse, com a voz calma, porém firme.


Sasuke virou o rosto devagar, encarando-a com surpresa.


— O-o quê?! — ele gaguejou, os olhos arregalando levemente, como se tivesse acabado de ouvir algo impensável vindo dela.


Kyoka apenas sorriu de leve, cruzando os braços.


— Calma, idiota. — disse, divertida, mas com aquele carinho silencioso nos olhos. — Eu só quero ver. As cicatrizes. As que você ganhou… depois de tudo isso.


O Uchiha hesitou por alguns segundos. Seu corpo estava tenso, como se expor fosse mais difícil que qualquer batalha. Mas, ao olhar nos olhos dela, encontrou algo ali — uma ternura sincera, sem julgamento. Apenas preocupação e desejo de entender.


Lentamente, levou as mãos ao tecido da camisa e a puxou pela cabeça, revelando o tronco. As cicatrizes marcavam sua pele como traços de guerra — cortes antigos, arranhões profundos, queimaduras e outras feridas mais recentes que nem haviam cicatrizado por completo.


Kyoka deu um passo à frente. Seus olhos percorreram cada marca com cuidado, como se lesse a história da dor que ele nunca conseguia dizer em palavras. Sem pressa, ela estendeu a mão e tocou uma cicatriz no ombro dele com a ponta dos dedos.


— Cada uma dessas… é prova de que você sobreviveu — murmurou. — De que não importa o quanto o mundo tentou te destruir… você sempre voltou.


Sasuke respirou fundo. Pela primeira vez, aquelas cicatrizes não pareciam mais tão feias.


Próximo capítulo: Dupla de três. 



















Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...