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História Um Amor de Carnaval - Cosa è venuto dopo


Escrita por: D4rknessEyes

Notas do Autor


~ Olá!
Consegui chegar a tempo para mais um capítulo antes do fim da década ksksks
Espero que gostem e boa leitura! ♡

Capítulo 21 - Cosa è venuto dopo


– Tentei protegê-lo desde então, da melhor maneira que pude, mas não foi o suficiente e nenhum "Sinto muito" pode compensar isso.

Desta forma Hyukjae encerrou sua narrativa. Havia contado-a resumidamente, quase atropelando as palavras, encarando apenas o piso de mármore e parecendo ansioso para se recolher ao próprio silêncio.

Diálogos e pequenos detalhes foram ocultados; tive a impressão que muitas coisas continuaram gravadas somente em seus pensamentos. Eu não sabia o quão confiável era sua história ou se poderia acreditar no homem à minha frente outra vez. Não tinha certeza de mais nada.

– Nossa. Hyuk… – Sungmin correu as mãos pelas mechas acobreadas claramente desnorteado. Seja lá o que diria, as palavras desapareceram ainda em seus lábios.

A situação era a mesma para todos e o silêncio pesava de forma quase física em nossos ombros; a revelação latejava em minha cabeça agravando a dor causada pelo choro recente. O cansaço me consumia.

– Bom… agora que podemos compreender o motivo dos últimos acontecimentos… – Junsu foi o próximo a tentar, com ar de quem planejava reverter a situação – Precisamos pensar no que fazer-

– Realmente vamos agir assim, como se nada relevante estivesse acontecendo? – Heechul interrompeu, a frieza na voz contrastando com o calor que emanava de sua mão apoiada em minha perna – Não se trata de uma tempestade minutos antes de nos apresentarmos ou alguma falha no figurino para apenas "pensarmos no que fazer".

– O que sugere, então? – o loiro ergueu uma sobrancelha – Continuar parados aguardando o pior?

– Sei o que ele quer dizer. – Sungmin interveio, repousando o queixo em uma das mãos – O que Hyuk nos contou não foi apenas um contratempo ou imprevisto… é algo muito mais sério e sequer conversamos sobre. Pressa em encontrar uma solução faz parecer que estamos ignorando a situação, como se fosse… uma coisa banal.

– E não é. – Heechul completou; suas feições permaneciam indecifráveis – Definitivamente não é. Uma vida foi perdida e outras quase tiveram o mesmo destino.

– Mas não vejo como remoer isso possa mudar o que aconteceu ou evitar o que ainda está por vir – Siwon parecia concordar com a ideia de pensar apenas no presente.

– Não se trata de remoer, mas… de oferecer algumas explicações. Hyukjae apenas sentou aí, jogou a verdade em nossas mãos e agora é nossa missão fazer algo sobre isso? Mesmo que pedir desculpas não resolva nada, é o mínimo que esse mentiroso irresponsável deveria fazer. Mas tudo bem, – Heechul deu de ombros sequer tentando encobrir a indignação em suas palavras – se vocês preferem pular esta parte, podem começar com as sugestões do que faremos. Não é como se houvesse outra opção mesmo, já que o problema envolve todos nós.

Novamente o silêncio tomou conta do hall de entrada por longos instantes. Siwon e Junsu pareciam reconsiderar seu ponto de vista; perceberam que não seria tão fácil encontrar uma saída se durante muitas semanas Hyukjae tivera a chance de fazê-lo e não foi capaz. 

Quanto a ele…

Continuava fechado em seu próprio mundo com uma tempestade rugindo dentro de si e escapando através de pequenos gestos: a respiração pesada, a cabeça baixa, os olhos opacos. Ele sentia-se culpado e eu sabia; podia enxergar a aura de confusão e constrangimento emanando de cada parte sua. Eu entendia. Mesmo assim, seu constante silêncio começava a me irritar.

– E então? Quem vai começar? – foi a vez de Sungmin erguer uma sobrancelha, usando na voz o mesmo tom indecifrável do moreno. Não era possível distinguir o sentimento que ambos passavam; inconformismo, raiva ou talvez cansaço. Também poderia ser uma mistura dos três.

– Bom… vai soar como se eu estivesse defendendo o Hyuk. – Junsu pigarreou, coçando a cabeça e bagunçando os fios claros – Mas ele fez algo que exigiu muita coragem e, se dependesse de nós, continuaríamos como testemunhas silenciosas pelo bem do Spectrum. "Cúmplices", e vocês sabem que não existe palavra melhor para definir o que nos tornamos durante anos.

Soava mesmo como uma defesa, mas todos sabiam que era verdade. Antes de alguém tomar a palavra para si, o loiro continuou:

– Entretanto… eu quase morri ao final da última apresentação no La Gran Scena, quase paguei o preço por algo que até então considerava ser um blefe. Gostaria muito de encontrar uma saída, mas primeiro preciso entender… o motivo. Por que você mentiu, Hyukjae?

Notei alguns movimentos de cabeça em concordância. Sabíamos porquê ele fizera aquilo: havia pensado nas incontáveis vítimas lhe substituindo, vidas trocadas por paz. Havia pensado em mim. O verdadeiro problema não era o ato, mas a omissão dele.

Um suspiro baixo veio de Hyuk que possuía todos os olhares voltados para sua direção, não demorando a devolver uma resposta:

– Parecia ser meu dever lidar com isso sozinho. Não só porque fui o responsável, mas também por causa do tempo que essa controvérsia durou sem qualquer atitude minha. Meu papel… é cuidar de vocês, certo? Protegê-los, liderá-los. E o que fiz? Nada. Deixei que os Deuses do Leste impusessem as próprias regras, lançando ameaças e instigando o medo. Transformando todos nós em cúmplices.

– O acordo era a única garantia de segurança que possuíamos. – Heechul afastou uma teimosa mecha de cabelo cobrindo seu olho esquerdo – Não significa que eu concorde com ele, se tratava de uma condição injusta e distorcida, mas… você foi um pouco precipitado. Não estamos prontos para o que virá em seguida.

– Esse acordo estúpido sequer existiria se eu não tivesse perdido o controle e tentado acabar com Yunho naquele bar! Nada mais justo do que consertar essa merda-

– Se queria tanto ajudar, não seria melhor nos avisar de sua façanha de uma forma que pudéssemos nos preparar para quando eles viessem? – o moreno cerrou os punhos ao perceber que estava elevando o tom de voz; ninguém mais se movia – Talvez não se lembre mas a consequência é tê-los atrás de nós, cada um, "sem aviso e sem exceção". Qual o benefício em agir sozinho, escondendo informações e colocando a todos em risco?

– Não era um risco tão grande. – Hyukjae estava desconfortável como se, ao pronunciar seus pensamentos, eles piorassem além do esperado – Mas o retorno de vocês a Veneza deixou as coisas complicadas.

Heechul apenas franziu o cenho permitindo que ele continuasse, a pergunta "O que pretendia?" estampada em suas feições.

– Com o acordo quebrado, os Deuses viriam por nós. Certo. Mas fui o único a ser visto e vocês já haviam partido, não? Mesmo que desejassem começar por outra pessoa, eles não tinham escolha pois o Spectrum estava distante. O risco era totalmente meu. Eu seria o primeiro, com sorte o único, e quando isso acontecesse pensei em talvez… conseguir outro acordo. Uma barganha.

– Esqueceu com quem está lidando? Achou mesmo que o quarteto poderia ser confiável ou estaria aberto a fazer negócios? – Sungmin o observava como se estivesse diante de um estranho, a indignação cobrindo suas feições feito uma sombra – Era muito provável que você morresse!

– Pelo menos o Spectrum não precisaria continuar vivendo assim, sempre fugindo ao primeiro vislumbre de seus inimigos!

Silencioso em meu lugar, analisei a compreensão espreitando através do grupo. Junsu escondeu o rosto entre as mãos com um suspiro cansado, Siwon balançou a cabeça em negativa e Sungmin endireitou o corpo como se fosse atingido por um soco. Em seguida me alcançou e também fui capaz de compreender o que ele planejava: se entregar, oferecer sua vida em troca de outras quatro. Proteger seus amigos com um sacrifício.

Heechul que, até o momento permanecera com a atenção fixa em Hyukjae, estreitou os olhos e por um instante sua respiração pareceu ficar descompassada. Sem dúvidas, estava irritado.

Seus lábios se moveram para expulsar as primeiras palavras - talvez um pouco agressivas, imaginei - mas antes disso Siwon ergueu a mão. Uma interrupção. "Eu assumo daqui", era o que seu olhar firme indicava.

– Hyukjae, nós… bom, eu entendo quais eram suas intenções. Não eram ruins mas foram mal pensadas. Você sabe que, não importaria quanto tempo levasse, voltaríamos para te buscar. E quando estivéssemos aqui… nada poderia garantir a validade de uma promessa feita pelos Deuses do Leste. Seria tudo em vão. Além disso, não sabíamos da existência do Hae, então quem iria protegê-lo? – Siwon deixou escapar o esboço de um sorriso, continuando – Não é porque você é o líder que precisa carregar todo o peso nas costas. É para isso que estamos aqui, sabe? Para somar, ajudar. Somos seus companheiros, seus amigos, deveria ser motivo suficiente para confiar em nós.

Hyukjae correu os dedos pelo cabelo escuro, abraçando os próprios joelhos em seguida. Parecia pequeno, cansado e… melancólico, talvez. Por alguns instantes me senti mal por ele, algo assemelhando-se a pena. Encarei-lhe enquanto, com certa dificuldade, ele começava:

– Me desculpem. Heechul, Sungmin, Siwon e Junsu, eu sinto muito. Me arrependo por excluir vocês dos meus planos, na realidade… eu sequer sabia o que estava fazendo, acho. Quando retornaram, fiquei com medo de confessar o que havia feito e as coisas continuaram tomando caminhos diferentes do imaginado. Então… tudo acabou se tornando uma grande mentira onde eu não possuía mais o controle.

Lutando contra o ímpeto de manter a atenção voltada para o chão, Hyuk procurou meu rosto ao prosseguir:

– Donghae, me perdoe. O que aconteceu noite passada… foi tudo culpa minha. Me perdoe por agir como se não soubesse de nada, me perdoe por olhar em seus olhos e dizer mentiras, por ignorar seu esforço em descobrir a verdade e tentar ajudar. Imagino que você deva me odiar nesse momento, e com razão. Eu também me odiaria. Acho que me odeio agora.

Dúvidas se alojavam em minha mente. Eu não conseguia dizer se concordava, se realmente o odiava. Meu coração parecia ter sido revirado com brutalidade; podia ouvir o som das rachaduras se espalhando por toda a sua estrutura.

– O que você já fez por mim, principalmente ontem… – ele continuou e não gostei da maneira que soava, como se estivesse prestes a fazer outra confissão – …é muito mais do que mereço. Fui atrás deles sabendo qual era meu destino, talvez desejando dar um fim nisso tudo, mas você… esteve lá por mim. Me salvou. Nem todas as palavras do mundo poderiam expressar o quanto me sinto grato e arrependido por entrar em sua vida.

Absorvi as súplicas com dificuldade como se elas deixassem um gosto amargo por onde passavam. "Fui atrás deles sabendo qual era meu destino, talvez desejando dar um fim nisso tudo". Então na noite anterior ele havia saído com a morte em seus pensamentos, ciente de que não poderia lidar com os Deuses do Leste. De novo. Simplesmente não se importando em como seus amigos ficariam, ou como eu ficaria caso ele se fosse para sempre.

"Ainda que a ideia de 'Começou e terminará comigo' funcionasse, o que esperava que fizéssemos ao nos deixar para trás?" foi o que senti vontade de cuspir "Seguir em frente como se não houvesse diferença?"

Não libertei nenhuma dessas frases ainda que forçassem caminho através da minha garganta. Permiti que a irritação se agravando em meu peito tomasse as rédeas e optei por algo mais insensível:

– Você poderia ter me avisado sobre seu desinteresse pela própria vida, e ao invés de perder tempo deixando o palácio, eu ficaria ao lado do meu pai durante os últimos momentos que lhe restavam.

Houve uma estranha troca de olhares entre os rapazes à minha volta com exceção de Hyukjae, que apenas meneou em concordância - talvez acreditando ser merecedor de tal tratamento. 

Uma parte teimosa de mim, a que gostava dele ao ponto de se preocupar em não ferir seus sentimentos, quis voltar atrás e não escolher palavras tão duras. Mas a outra parte, ressentida pelo histórico de mentiras contadas com tanta facilidade, acabou vencendo. Eu não queria tais metades travando batalhas entre si na frente de todo mundo e evidenciando o quão vulnerável meu coração estava.

– Temos de considerar que Donghae… tem motivos para reagir assim. E só para te lembrar Hyuk, sem você não existe Spectrum. – Junsu emendou rapidamente para abafar minha resposta – Então pare de achar que tudo se resolveria caso não estivesse mais aqui, certo?

– Preciso de um tempo. – deixei escapar um suspiro e levantei percebendo que havia alcançado meu limite; ao continuar ali estaria arriscando dizer mais coisas das quais ficaria arrependido depois.

Sem pressa alguma comecei a subir a escadaria, pouco preocupado em proferir despedidas aos outros. Naquele momento só pensava em repousar sobre algum móvel e dormir até esquecer meu nome, o que estava acontecendo e as decepções sucessivas que me rodeavam.

– Mais alguém tem qualquer segredo sórdido para revelar? – a voz de Siwon parecia apagada mesmo que tentasse soar descontraído, muito diferente da determinação habitual – Esta é a melhor hora… ou pior, mas já que estamos aqui, aproveitem.

– Eu tenho algo a dizer sim, mas não é um segredo. – Heechul tomou a frente outra vez, não deixando que a aura mórbida e cansada do lugar alterasse seu comportamento – Pode ser uma ordem ou um pedido desesperado, interpretem como quiserem: a partir de hoje ninguém omitirá uma única informação. Não importa o quão irrelevante pareça, contem. Se não quisermos que esse grupo desmorone, precisamos ser transparentes.

Silêncio.

Prometam, Spectrum. – voltou a falar. Não precisei virar a cabeça na direção deles para saber que todos haviam concordado sem objeções.

– E você, Hae… – parei no penúltimo degrau antes do topo da escadaria, não esperando ser chamado – Pode considerar isso uma orientação ou também pode ignorar caso queira: não deixe de contar a verdade ao seu amigo. Isso nunca saiu da minha mente e creio que não exista melhor exemplo do que hoje para lhe incentivar a ser sincero. Saber a verdade fez total diferença para você, certo? Não acha que para o Kyuhyun também faria?

Perceber que havia permanecido no escuro enquanto os dias passavam era revoltante; fazer meu melhor amigo sentir o mesmo seria egoísmo e hipocrisia. Balancei a cabeça em afirmativa ao analisar seus orbes escuros que conseguiam me ler por inteiro, admirado por seu jeito simplista e decidido.

Retomei a lenta caminhada deixando que a reunião continuasse, ouvindo alguém dizer "Agora sim, podemos pensar em um plano" antes de contornar o corredor e tudo se tornar murmúrios abafados. Encontrei o cômodo onde havia estado e, apesar de meu primeiro impulso ter sido desabar no sofá, joguei todas as almofadas sobre o tapete e ali fiquei. Pelo menos não correria o risco de cair outra vez durante um pesadelo.

Minha mente parecia prestes a entrar em colapso, fazendo meu coração se encolher com as lembranças de tudo o que ouvira e presenciara nas últimas vinte e quatro horas. As palavras de Heechul ainda voltavam em intervalos como as badaladas de um relógio: não deixe de contar a verdade ao seu amigo. Aquela era minha última preocupação - confesso que sequer havia pensado em Kyuhyun durante um bom tempo - mas não poderia continuar fugindo.

E havia Hyukjae.

Ele ocultou um detalhe importante e fingiu não saber os motivos do que acontecia mesmo eu lhe perguntando várias vezes. Foi irresponsável ao ponto de tentar entregar a própria vida aos inimigos e aguardou que uma tragédia acontecesse para enfim contar a verdade, além de me tratar como um estranho após ser tomado pelo remorso.

Mas ele também havia me salvado. Aquela noite de carnaval, que até então julgava ser a melhor de minha vida, poderia ter sido a última. Graças à sua "irresponsabilidade" pude ver o amanhecer outra vez. Sem mencionar os momentos vindos depois; as conversas, o contato, a solidão no palácio sendo dispersada após tantos anos.

Eu não sabia o que pensar ou sentir. Lágrimas mornas já escorriam por minha face sem haver controle algum sobre elas e apenas se intensificaram quando avaliei o que havia feito no hall de entrada. Sem hesitação, insinuei minha preferência por deixá-lo morrer em um lugar qualquer.

Seguindo essa conclusão vieram mais e mais lágrimas, como ondas impiedosas se chocando contra a costa. Seu retorno era previsível e não lutei para acalmá-las; precisava expulsar a dor de alguma forma. Então durante incontáveis minutos, chorei.

O que diabos está acontecendo comigo?

Me sentia estranho, quase envergonhado por demonstrar tamanha fraqueza, mas continuei chorando até que restasse apenas um vazio em mim e o cômodo voltasse ao seu silêncio costumeiro. A dor de cabeça agora era insuportável, se alastrando desde a fronte ao interior dos olhos.

Em cada pensamento surgia aquele par de orbes escuros, as mechas macias e os lábios bem desenhados. Mesmo exausto, não consegui cair no sono pelos minutos seguintes e sua figura continuou a fazer companhia. Duvidei que tal conflito interno estivesse próximo de um fim então, sem alternativa, permaneci daquela maneira: imerso em divagações e arrependimentos lutando contra a insistente ardência sob as pálpebras.

Foi quando ouvi a sequência de passos no lado de fora, tão sutil que poderia ser confundida com um simples engano. Não tinha certeza de quanto tempo havia se passado, mas a reunião no andar de baixo já deveria ter terminado e não restavam dúvidas sobre quem estava ali.

A confusão ainda me envolvia e dominava cada ação a ser realizada; talvez por isso não hesitei antes de obedecer ao impulso de ficar em pé. Ignorando o latejar pulsante nas têmporas, soltei a almofada que abraçava e chutei as que jaziam em meu caminho, seguindo na direção da porta. Após abri-la, encarei as sombras infestando o corredor e chamei seu nome.

– Hyuk…? – não conseguia me desfazer do hábito de usar o apelido. 

Assim como esperava, o movimento cessou completamente e pude ver sua silhueta hesitar, como se não soubesse o que fazer ao ser pego de surpresa. A suave iluminação dos candelabros remanescentes contornavam seus traços e ofereciam um tom mais claro aos seus cabelos. Ele apenas abaixou a cabeça mas não se virou; era muito provável que não o faria. Olhar em meus olhos deveria ser uma tarefa difícil.

Antes que Hyukjae decidisse seguir seu caminho sem ao menos olhar para trás, obedeci a primeira ordem que surgiu em minha mente. Deixei o cômodo avançando na sua direção com certa urgência - quase correndo - e este gesto não foi notado até que eu o tocasse. Quando meus braços envolveram sua cintura com delicadeza e nossos corpos se encontraram, pude ouvir algo que assemelhava-se a perder o fôlego.

Ele não teve qualquer reação depois, incerto do que aquilo deveria significar. Respirei fundo tentando organizar os pensamentos e as palavras que estavam prestes a sair, me sentindo perdido. Hyukjae não estava muito melhor com a culpa lhe consumindo, talvez também se sentisse perdido, então decidi que não cabia à minha alma quebrada agravar sua situação.

– Eu não odeio você. Acho que jamais poderia. E estava mentindo. – encostei o rosto um pouco acima do espaço entre suas omoplatas, ignorando o calor emanando de sua pele e o quanto sentira falta dele – Sob nenhuma circunstância teria deixado que Yunho e Jaejoong te matassem em um beco escuro, mesmo sabendo o que sei agora. Eu iria atrás de você e o salvaria quantas vezes fossem necessárias.

Com hesitação, Hyukjae se moveu e por alguns segundos apenas acariciou meus braços que continuavam em torno de si, portanto continuei:

– Quem disse aquilo foi um Donghae rancoroso e magoado que estava confuso. E ainda está, na verdade.

– Aquelas palavras acabaram saindo por um bom motivo. – sua voz parecia triste, não passando de um sussurro delicado.

– Mas foi cruel, mesmo assim.

Nos próximos instantes, nossa respiração atravessando o ar foi o único som presente na quietude densa da escuridão. Desejei esquecer tudo, voltar para alguns dias antes onde vivia em uma ilusão e não parecia tão difícil encontrar uma saída para as adversidades.

Seus dedos deslizaram pelos meus, entrelaçando-os com cuidado. Cada breve contato doía mais que o anterior, porém não senti vontade alguma de interrompê-los.

– Ainda estou pensando no que disse… sobre precisar de um tempo. – ele beijou brevemente as costas da minha mão esquerda e depois a direita – Vou dá-lo a você. É o mínimo que posso fazer: não lhe sufocar com a minha presença.

Quase confessei que eu já não sabia qual era minha necessidade, que gostaria de perdoá-lo naquele exato momento mas simplesmente não conseguia, que algo nas profundezas do meu coração não concordava com a ideia de nos afastarmos e que desejava estar isento de fazer escolhas por enquanto.

Tais palavras pesavam além do que eu era capaz de suportar, sequer conseguia aceitá-las, então continuei em silêncio. E aquele abraço - assim como a presença de Hyukjae - se dissipou tão rápido que cheguei a duvidar da sua veracidade.

Voltei pelo corredor com a mesma urgência na qual viera, desta vez para evitar que o eco de passos se distanciando pudesse deixar marcas em meus pensamentos.


》 》 》


Aquela não foi o que eu poderia chamar de "uma boa noite de sono", nem as outras que vieram depois. Na verdade, no estado em que me encontrava, até o período diurno se mostrava péssimo.

Quando a manhã surgiu, demorei algumas horas até conseguir sair do chão e pelo resto do dia não fiz nada que fosse notável o bastante para ser lembrado. A noite retornou em um piscar de olhos (para meu alívio), se tornando um pretexto para me confinar naquele cômodo esperando que ao acordar as coisas não estivessem tão ruins.

A sensação era de deslocamento, como se eu observasse o tempo passar pelos olhos de outra pessoa. Um, dois, três, quatro, cinco… os dias seguiam e nenhum deles era muito diferente do outro; às vezes Leeteuk aparecia preocupado e tentava conversar comigo ou me obrigar a não pular as refeições.

Ele também oferecia conforto como podia, intercalando entre longos abraços silenciosos, palavras ternas e carícias em meus cabelos. De vez em quando comentava sobre o fato de Donghwa já ter voltado às suas atividades (que em breve envolveriam o Conselho), talvez esperando um surto de inspiração da minha parte. Mas a resposta era sempre a mesma: "Não Teuk, ainda não quero dar continuidade àquelas aulas".

E não havia Hyukjae.

Desde a nossa última conversa não tive qualquer vislumbre seu. Teoricamente era algo bom, pois encará-lo não me permitia pensar com clareza. Além disso, ambos precisávamos de espaço para reparar os danos acumulados em nós mesmos - ou pelo menos aprender a lidar com eles.

Mas eu estaria mentindo ao dizer que não sentia falta dele ou que aprovava esse desfecho.


No sexto dia já estava conformado com aquela monotonia e o sentimento apático lhe acompanhando, certo de jamais voltar a ser o Donghae de antes. Apesar de saber que deveria estar usando o tempo oferecido para organizar minha vida, o constante mal-estar me tomando não deixava espaço para começar.

E quando imaginei que não poderia ficar pior, recebi uma visita.

A tarde estava longe de parecer bonita; nuvens pesadas fechavam o céu e trovões vibravam com curtos intervalos entre si. Parado sob o arco que levava ao pátio interno, observei as flores e suas cores nada favorecidas pela iluminação do teto aberto.

Cruzei os braços ao perceber o local sem traço algum de presença além da minha, concluindo que não estava acostumado a passar os dias sem a companhia de Hyukjae. Era hora de aprender, então.

– Hae… alguém quer te ver. – foi quando a voz de Leeteuk ecoou às minhas costas juntamente com outro par de passos – Não tive muita escolha além de deixá-lo entrar, porque-

– Eu sou muito insistente. – meu melhor amigo completou.

Algo estranho se contorceu em meu estômago ao ouvir sua voz, uma sensação fria e desconfortável. Quando virei fui recebido por seus grandes olhos escuros que emanavam amor e preocupação, me fazendo desejar desaparecer. Ainda não estava pronto para vê-lo, mas assim como esperava, não pude continuar fugindo.

Encarei Kyuhyun enquanto o nó em meu estômago parecia dar mais uma volta, notando Teuk se afastar pela visão periférica. Então tentei sorrir - já não sabia fazê-lo como uma pessoa normal - e quando o vi estender os braços em um convite silencioso, busquei refúgio entre eles.

Diferente do intencionado, aquele gesto afetuoso me fez mal. Sentir o carinho do meu amigo confidente ao mesmo tempo em que mentia para ele era desagradável, machucava, e me perguntei como Hyukjae conseguira. Felizmente não durou mais que breves segundos.

– Eu sinto muito… por você, por essa tragédia, por tudo. Me desculpe por não aparecer antes. – Kyu se juntou à tarefa de observar o jardim – Você estava arrasado em San Michele e julguei um pouco… invasivo surgir aqui logo no dia seguinte. Mas se ainda não quiser-

– Tudo bem. Gosto de você aqui. – balancei a cabeça em afirmativa sentindo o coração triplicar a velocidade de suas batidas – E acho que precisamos mesmo conversar. Eu… tenho de colocar algumas coisas para fora.

Apesar dessas palavras continuei em silêncio. Adiando o momento. Ocupado analisando os rostos pálidos das esculturas e a água límpida na fonte, ainda fui capaz de sentir Kyuhyun me estudando:

– Tem a ver… com essas marcas no seu rosto?

Os hematomas não estavam tão ruins como antes, mas nada escapava ao seu olhar atento.

– Um pouco. Mas em maior parte envolve a pessoa que você ama. – soltei um longo suspiro e virei o rosto em sua direção, completando – Temos de conversar sobre Changmin.

Meu amigo arqueou as sobrancelhas como se esperasse qualquer tópico - perdas, apoio, dor, amor, culpa - menos aquele. Afinal, como Changmin poderia ter relação comigo ou com o que estava acontecendo?

– Conversar o quê exatamente? – por enquanto ele permanecia calmo, tentando entender meu ponto.

E eu não queria fazer aquilo. Pensei em inventar uma desculpa, dizer que estava confuso e não possuía nada para revelar. Se pudesse ficar mais alguns instantes ao lado dele, me distraindo com aleatoriedades como éramos acostumados…

Mas não havia tempo. Caso resolvesse desistir ali, eu jamais teria coragem de retomar o assunto.

– Se trata… de quem Changmin é. Não tenho certeza se você está seguro com ele.

– E o que lhe faz pensar isso? – Kyu inclinou a cabeça e franziu o cenho, seus grandes olhos me fitando com um ar que não identifiquei. Desconfiança, talvez.

– Há um tempo… venho descobrindo alguns segredos. Você pode não acreditar, e eu compreendo, porque às vezes um sentimento muito forte nos impede de aceitar os fatos como eles são. – minha única forma de compartilhar um segredo era despejar todo ele de uma vez – Quando o conheci naquela relojoaria, algo não parecia certo. E aos poucos entendi o que era. Changmin se esconde por trás de uma máscara confeccionada em bondade, mas eu o vi fazer coisas ruins. Muito ruins.

Imaginei que deveria ter elaborado melhor minha fala, finalizá-la com um comentário sobre proteção e amizade, mas estava muito nervoso. Um calafrio desceu por minha espinha e, se não estivesse de braços cruzados, era provável que sentiria as mãos tremerem.

De início, pensei que minha explicação não havia sido clara pois Kyuhyun continuou me observando. Busquei em suas feições o menor traço de ceticismo ou curiosidade, mas elas apresentavam um enorme ponto de interrogação. Não conseguia interpretar a reação do meu amigo por mais que tentasse.

Ele suspirou, encostando-se no arco das portas enquanto entreabria os lábios com incerteza. Por fim, ofereceu uma resposta:

– Não esperava chegar a este ponto tão cedo… é um péssimo momento para isso.

Pisquei, confuso. Kyuhyun não perguntou sobre as "coisas ruins" que eu testemunhara, sequer contestou a veracidade de minhas palavras e não se preocupou em defender seu amado.

– Eu não entendo… – murmurei.

– Em outras palavras Hae, já imaginava que um dia teríamos essa conversa. – seus lábios curvaram-se em um leve sorriso marcado por tristeza – Mas o agora não parece muito apropriado. Não quero agravar sua dor lhe sobrecarregando com informações.

– Oh. – apesar de estar afirmando, deixei escapar um leve tom intrigado – Então você sabe.

Ele acenou positivamente.

Pego de surpresa, eu não fazia ideia de como prosseguir. Havia subestimado meu melhor amigo: seu comportamento não era nada parecido com o que imaginei, tão… calmo e centrado. Apenas o ar sereno e compreensivo de quem já estava ciente da situação havia um bom tempo.

Milhares de perguntas começavam a surgir e se acomodar na ponta da língua, mas não consegui pronunciar nenhuma delas. Como se pudesse ler a dificuldade vagando por meu rosto, Kyuhyun acrescentou:

– Eu também andei descobrindo algumas coisas. Você está certo, Changmin possui um lado… diferente daquele exposto aos outros. Um lado obscuro que ainda o assombra, nascido e moldado a partir de seu passado. Ele realmente fez coisas ruins ao longo de sua vida para sobreviver: mentia, enganava e furtava. No presente não há mais necessidade, entretanto, velhos hábitos são difíceis de mudar.

– Como você…?

– Ele mesmo me contou. Muitas coisas. – Kyu deduziu qual era a pergunta antes de estar completa, continuando após segurar minhas mãos entre as suas – Ainda não recomendo tocarmos neste assunto agora, Hae. Tem certeza que não precisa de um tempo, sei lá, se distraindo com algo mais leve? Podemos subir para a biblioteca, se preferir.

"Eu adoraria, confesso. Não me sinto preparado para encarar a realidade" - desejei responder. Mas precisava levar aquilo adiante, desvendar o quanto ele sabia e estar preparado caso precisasse de mim.

– Não, tudo bem. – contrariando a própria vontade, pedi – Continue, por favor.

– Certo. Bom… tudo tem ficado mais claro. Agora eu sei o motivo de Changmin ser tão distante às vezes, seus momentos evasivos passaram a fazer sentido. Também sei que ele não é tão amigo de Hyukjae quanto fez parecer. – deixou escapar uma risada soprada ao se lembrar do quão facilmente fora enganado – Agora conheço as origens do homem que amo, o segredo por trás de sua loja e dos relógios, suas amizades… e sei que nada disso é segredo para você, Hae.

Senti aquela pressão familiar no lado esquerdo do peito à qual já começava a me acostumar. Desta vez, seu significado nada mais era que culpa.

– Eu sinto muito. – suspirei, notando o quão íntimo estava ficando destas três palavras – É verdade, eu… estou à par da situação há mais tempo. E juro que gostaria de lhe contar, mas não tive coragem para enfrentar sua reação. Você parecia tão feliz ao falar nele, amava e sentia-se amado, não pude estragar isso acrescentando um problema dessa proporção. Mas agora que digo em voz alta… tudo soa como uma desculpa idiota.

Meu melhor amigo balançou a cabeça em negativa e deixou os dedos deslizarem por suas mechas castanhas - que voltaram a cair-lhe pela testa. Então vi aquele sorriso melancólico retornar:

– De certa forma, você estava tentando me proteger. E não acredito que eu estivesse sob algum tipo de perigo iminente, mesmo assim.

Lembrei da promessa feita por Changmin em nosso último encontro, a de jamais machucar seu amado. Era a única palavra vinda dele que parecia verídica e eu me permitiria confiar. Enquanto existisse amor, Kyuhyun realmente não estaria sob perigo.

Aliviado por esclarecer todos os fatos ao invés de escondê-los, analisei meu amigo. Se estava sendo difícil para ele, não aparentava; seu rosto permanecia voltado para o alto do pátio interno observando as nuvens cinzentas. Nada em suas ações demonstrava aflição ou sofrimento, era como se acabássemos de conversar sobre um tema qualquer.

E isso não parecia certo.

Após ouvir sobre a má índole da pessoa amada, diretamente dos lábios dela, quem em sã consciência agiria com tamanha indiferença?

Talvez ele estivesse com dificuldade para processar a informação, negando a si mesmo.

– Como você se sente… em relação a tudo? – perguntei quando senti que precisava dizer algo mas nada melhor veio à mente.

– Eu… Ah. Droga. Sou um péssimo amigo Hae, não fiz essa visita para… não deveríamos estar falando de mim, sabe? Mas já que insiste… – o sorriso de Kyuhyun pareceu genuíno ao dar de ombros dramaticamente, me fazendo rir também – Eu poderia estar pior. Não me sinto tão mal assim pois acredito na possibilidade de contornar essa controvérsia. Nós temos um plano.

Devo ter feito uma expressão confusa ao perceber que não estava ciente daquela última frase.

– "Nós temos"? – repeti, um verdadeiro sentimento alarmante me acolhendo pela primeira vez.

– Sim, estamos pensando em algo. Changmin e eu. – Kyuhyun inclinou a cabeça para o lado, prosseguindo como se a resposta não fosse óbvia – O que você imaginava, Hae? Que eu o deixaria?


Notas Finais


Só sofrimento gente, eunhae desabando :/ Donghae ficou moscando o tempo todo achando que deixaria o Kyu triste mas ele já sabe de tudo e parece ter tomado uma decisão um tanto... peculiar?
Fica aí pra se pensar hehe

PS.: Queria desejar a todo mundo um feliz e próspero ano novo, cheio de luz, diversão, amor, objetivos alcançados e etc, se cuidem 💕 Espero que o 2020 de vocês seja fantástico, de verdade!

Até a próxima! ❤


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