1. Spirit Fanfics >
  2. Um Belo Erro - Dramione >
  3. Um Pouquinho Maligna

História Um Belo Erro - Dramione - Um Pouquinho Maligna


Escrita por: Smel e MillaLyra8

Notas do Autor


Olá!!!!
Meu Deeeeeus, estamos muito felizes com os 155 FAVORITOS!!!!!!
Já tem um capítulo novo esperando no 200! hahaha
Apreciem o presentinho. Amamos vocês!
Obrigada, Lari!!! Essa foto das tatuagens do Draco vai ser participante de todos os meus próximos sonhos! hahahaha A gente te ama! <3

Capítulo 7 - Um Pouquinho Maligna


Fanfic / Fanfiction Um Belo Erro - Dramione - Um Pouquinho Maligna

   — Está vendo esse sombreado aqui? Ele dá o tom macabro que você quer, vê? — Olhei para a imagem onde o rapaz estava mostrando o esboço de uma mulher fantasmagórica,  de costas em um corredor longo, escuro e vazio. Havia sombras ao redor  dela, e era isso que o ilustrador tentava me fazer notar com tanto empenho. A imagem só me fazia querer chorar, mas acenei que sim, lutando para parecer corajosa.

   — A mulher de ombros curvados dessa forma ficou realmente perfeito. — Admiti para mim que aquilo estava sinistro e sombrio, o que era perfeito, em se tratando de uma capa de livro de terror. Não era a toa que aquele era considerado o melhor ilustrador do país, e a minha luta para conseguir um tempo com ele estava valendo a pena. Nos aproximamos mais da tela do laptop, e ele passou os dedos nos quadros velhos e de  aparência suja na imagem.

   — Os  quadros foram todos perfeitamente trabalhados de maneira exata com as descrições do livro, cada um deles apareceu na história em algum momento. — Disse ele. — Acho que ainda posso trabalhar um pouco mais na contracapa, detalhar as particularidades do Hotel, talvez dar a profundidade certa nos elementos sombrios…

   — Agora eu entendo o motivo do seu trabalho ser o mais caro do país, Leo. — Falei, colocando uma mão no braço dele. — Isso está incrível, e os cuidados que você têm com cores, imagens, efeitos… Esse livro vai ser um sucesso!

   — Esse garoto merece toda a briga que você lutou para me trazer até aqui? — Perguntou Leo. O sorriso estampou meu rosto, tão espontâneo que ele me retribuiu.

   — Draco tem um coração maravilhoso. Ele merece todo o meu empenho e carinho, acho que merece ainda mais do que isso.

   — Isso é bom… — Leo ergueu uma sobrancelha. — Mas eu me referia a merecimento profissional.

   Meu rosto corou violentamente, e Leo deu uma risada, batendo o ombro no meu.

   — Claro, Draco é o escritor mais talentoso dessa editora. — Gaguejei, ansiosa. — Ele conseguiu me fazer ler terror e realmente querer saber o final. Isso já é bem surpreendente por si só.

   — Então você é uma medrosa?

   — Sou uma pessoa prevenida. — Empurrei o ombro de Leo de volta, revirando os olhos para o sorriso no rosto bonito e os olhos cor de mel entretidos.

   — É possível que acabaremos o design da capa ainda hoje, aí só nos restará alguns detalhes de tipos de folhas para impressão. — Leo considerou, mexendo em um canto escuro da imagem, fazendo parecer que havia brilhos de olhos ali. Ignorei meu medo, me esforçando para fazer do novo livro de Draco um sucesso ainda maior do que todos os outros.

   — Eu tive uma ideia maravilhosa para a fonte…

   Enquanto eu falava, a porta do escritório abriu, e logo escutei a voz que vinha alegrando meus dias.

   — Seu prostituto chegou! — Draco exclamou, entrando na sala com uma mochila no ombro e um sorriso no rosto. Sorriso esse que desmanchou no momento em que ele viu Leo ao meu lado, e paralisou na entrada, nos encarando. — Cheguei em uma hora ruim?

   — Não, já estamos terminando aqui. — Acenei com a mão, voltando minha atenção para a imagem na tela. — Vá escrever, e hoje você vai ter que cuidar sozinho dos seus lanchinhos. Estou ocupada pela tarde inteira.

   — Mas… — Draco murmurou. — Você não vai me olhar escrever? Você sempre faz isso, é o que me faz trabalhar melhor e mais rápido.

   — Hoje não vai dar, talvez amanhã.

   Draco parecia arrasado, mas ergueu o queixo e nos ignorou, indo sentar no divã e começar seu trabalho. Ele me agradeceria depois, falei para a voz ansiosa da minha cabeça que me pedia para que eu cuidasse do drama dele. Draco era uma criança mimada, mas sua prioridade sempre foi seus livros, ele os amava mais do que eu entendia.

   — Então, Hermione… — Leo voltou a falar, colocando uma mão no meu ombro para chamar minha atenção. — Eu também pensei em…

   — Hermione, você viu o carregador do meu celular? — Draco chamou, segurando a mochila de onde o carregador pendia no bolso da frente. Encarei seu rosto, exasperada.

   — É só olhar para baixo, Draco. — Murmurei. Ele piscou, vendo o carregador e sorrindo de forma inocente, nem sequer agradecendo antes de voltar a escrever. Voltei ao meu trabalho, mas não demorou para ocorrer a próxima interrupção.

   — Hermione, um sinônimo para ciúmes.

   — Sei lá, excesso de zelo?

   — Funciona perfeitamente. — Draco concordou, digitando furiosamente com o cenho franzido.

   — Ótimo. — Revirei os olhos. — Leo, e as letras, como você acha que…

   — Vou pedir um sanduíche, vai querer  alguma coisa?

    — Por enquanto, apenas o silêncio.

   — Nossa, grossa… — Resmungou ele, dessa vez ficando quieto enquanto mexia no celular, com as pernas largadas sobre o sofá.

   Minutos se passaram, e comecei a acreditar que finalmente teríamos a calma que precisávamos para terminar aquele trabalho. Eu podia sentir Draco nos observando, mas suspeitei que era apenas curiosidade, então o ignorei, ele agradeceria depois. Estava tão distraída pelas opções de fontes e cores que Leo me mostrava, que fiquei completamente confusa quando o cheiro de bacon permeou o ar. Incrédula, encarei o sanduíche nas mãos de Draco, que olhava entretido para a tela do laptop.

   — Só um segundo, tudo bem? — Sorri, me desculpando, para um Leo pálido e parecendo enjoado. Ele acenou, e caminhei até o divã, me inclinando para falar baixo. — Draco, Leo é vegetariano, você está deixando tudo com um cheiro horrível de porco assassinado!

   — Oh, seu amigo está enjoado? Que meigo. — Draco bufou, voltando a digitar. — Tem  máscaras cirúrgicas na enfermaria, ouvi dizer.

   — Só se comporte, ok? — Grunhi, e ele deu de ombros. Bufando de indignação, voltei para Leo, novamente me  desculpando.

   Eu não podia acreditar no trabalho lindo que Leo estava fazendo, e não medi palavras para elogiar a perfeição da sua criação. Logo mergulhamos no nosso projeto, ambos encantados com o perigo que parecia irradiar da capa.

   Um projétil desconhecido acertou minha testa, caindo no decote da minha blusa. Pisquei, paralisada com o choque, e encarei o pequeno salgadinho depositado tão rudemente entre meus seios. Draco deu uma risada alta, o rosto corando com o esforço.

   — O que porra… — Comecei, mas então lembrei que esposas da cartilha de mamãe  não xingavam em público. — Draco, o que é isso?

   — Você estava me ignorando nos e-mails, então resolvi chamar sua atenção. — Disse ele, sem um pingo de arrependimento. Cerrei os dentes, me convencendo de que espateá-lo não era profissional, e ligar para a Vovó Mira seria infantil.

   — Tudo bem, eu  olho os e-mails. Não precisa jogar  comida, é só falar meu nome.

   — Eu falei. — Respondeu, azedo. — Mas você só tem olhos para o maldito computador, ao que parece.

   Respirei fundo, com meu sorriso forçado no rosto me dando a aparência de alguém prestes a surtar. Peguei meu celular, abrindo a caixa de e-mails.

Assunto: O que caralho…

… Você está fazendo?

 

Assunto: Para de me ignorar!

Qual o seu problema em me dar um segundo de atenção?!

 

Assunto: Isso é uma ameaça!

Se não olhar agora, te jogo um salgadinho na cara. É meu último aviso. Tentei ser cordial.


 

   Levantei a cabeça, estreitando os olhos para Draco, que digitava como se fosse um troglodita educado. Respirei fundo, amenizando a irritação, e voltei para meu trabalho. Já estava prestes a continuar quando o batucado começou, e a voz melódica e rouca soou baixinho, mas impossível de ignorar. Ergui meus olhos, já exausta da infantilidade de Malfoy, e o encarei batucar o laptop com dois lápis na mão.

   — Quer saber? — Segurei a mão de Leo, que apertava os lábios como se quisesse sorrir. — Vamos sair dessa sala antes que eu quebre esse maldito laptop na cabeça dele. E eu estou perigosamente inclinada a isso.

   — Autores são emotivos, você tem que ter paciência. — Leo olhou para Draco. — Mas tenho que admitir que esse conseguiu superar até o que achei insuperável.

   — Não olhe para ele, pode ser contagioso. Vamos tentar sair sem chamar atenção. — Sussurrando e segurando a mão de Leo, levei-o através da sala e abri a porta, foi quando Draco deu um pulo do divã, parecendo preocupado.

   — Por que está indo embora? — Perguntou. — Onde está indo com ele? Eu posso ir também?

   — Vamos trabalhar, Draco, pelo amor de Deus! — Discuti com um rugido abafado. — Fique aí! É uma ordem, ou eu juro que ligo para a Vovó Mira!

   Seu rosto despencou de decepção, mas Draco se jogou de volta no divã, suspirando com um biquinho projetando os lábios e a cara emburrada. Sorri, feliz em ter sido dura sem me deixar cair nos ataques de Draco, e saí da sala.

 

   Finalmente conseguimos decidir todos os detalhes da capa do livro, e faltavam apenas algumas pequenas particularidades da sinopse para darmos o trabalho como concluído. Já era quase hora de ir embora, e eu não tinha saído para almoçar, mas Draco tinha deixado ao meu lado alguns pacotes de biscoito e salgadinhos sem que eu notasse. Leo olhava para a tela com o cenho franzido enquanto acertava o que faltava, e eu me sentei ao seu lado, me inclinando para ver melhor. Um barulho soou atrás de mim, e me virei para ver Rony apertando a mão de Harry, parecendo parabenizá-lo por algo. Voltei para frente, incomodada com o peso no estômago que sempre acompanhava a presença de Ronald, ultimamente. Ele é meu marido, pensei, ansiosa. Não posso começar a ter aversão por ele!

   — E estamos prontos! — Leo anunciou, sorrindo amplamente para sua obra de arte. Suspirei, encantada com a beleza da capa e as sensações que a acompanhavam.

   — Você é um deus! — Dei um gritinho, batendo palmas. — Draco vai desmaiar quando ver isso.

   Aconteceu tudo ao mesmo tempo, tão rápido que sequer percebi me levantar. A porta da minha sala abriu, e um Draco descabelado saiu de lá, seus olhos vagando até me achar no nicho da frente junto a Leo, então ele sorriu.

   — Hermione! — Gritou, mais alto do que era necessário. — Preciso de você para uma foda!

   Meu estômago despencou, e minhas pernas tremeram por um momento. Olhei para Malfoy, sequer considerando acreditar no que eu tinha escutado. Engoli o nó de vergonha na minha garganta, apertando os lábios para não gritar de raiva. Foi quando lembrei que Ronald estava ali, e meu corpo virou para ele rapidamente.

   Ronald parecia prestes a explodir, o rosto tão vermelho quanto os cabelos, os olhos verdes faiscando de ódio.

   — O que você disse para a minha esposa?! — Rugiu ele, avançando para Draco. Reagi antes mesmo de parar para pensar. Me joguei para frente, segurando seu braço para impedí-lo de bater em Draco, e usei meu corpo para deter o dele. Rony me forçava para trás, mas me agarrei a ele com mais força, apavorada.

   — O que? — Ouvi a voz risonha de Draco, e eu podia jurar que aquele sorrisinho idiota estava no seu rosto. — Só falei que preciso dela para uma foda. Acho que você desconhece o termo.

   — Não, Rony! — Empurrei meu marido para trás, ouvindo os rosnados dele.

   — Fale isso novamente e eu juro que…!

   — O que vai fazer? Deixá-la sozinha de novo? — Draco não ajudava em nada a segurar a fúria de Rony. Virei para ele, empurrando Ronald com minhas costas. Draco sorria daquele jeito que eu suspeitava, os braços cruzados no peito. — Se você machucá-la na sua tentativa patética de parecer homem, eu quebro seu rostinho bonito até não restar chances de recuperação.

   — Ela é minha mulher!

   — Agora repita isso até lembrar a si mesmo de que ela não é sua empregada ou colega de quarto.

   — Não provoca, Draco! — Gritei.

   — Sai da porra da minha frente, Hermione! — Rony retrucou, segurando meus ombros e me afastando dele. Em uma tentativa desesperada de evitar um desastre, corri até Draco e o empurrei pelo peito até fazê-lo entrar, batendo a porta antes que ele reagisse. Virei para Rony, ficando na frente do trinco, protegendo-o. — Saia da minha frente!

   — Não vai tocar nele. — Murmurei, contendo as lágrimas de medo. Ronald parecia outra pessoa ali, com aquela expressão assassina e violência irradiando de seu corpo. Ergui a cabeça, olhando-o nos olhos. — Não vou deixar que faça isso.

   — Está defendendo esse moleque, Hermione?! Você ouviu o que ele falou?!

   — Draco estava se referindo ao livro! Eu o ajudo observando-o criar, isso faz com que ele fique mais criativo, Ronald! Qual o seu problema maldito em confiar em mim?! Foi você quem me colocou com ele, tenha um pouco de consideração e bom senso! Estou fazendo o meu maldito trabalho aqui, vá para a sua sala e faça o seu!

   — Saia da frente ou eu juro que quebro a maldita porta!

   — Se você ousar entrar nessa sala, eu levo Draco para outra editora e faço o melhor contrato da vida dele. Eu juro, Ronald.

   Ele deu um passo para trás como se minhas palavras fossem um tapa, piscando os olhos, incrédulo. Continuei ali, firme, protegendo Draco da melhor forma que eu podia, ameaçando a empresa do meu marido.

   — Essa editora é nossa, Hermione…

   — Isso não muda o que eu disse. Não vou deixar que machuque nosso melhor escritor só porque não soube interpretar suas palavras, Ronald. Se entrar na sala, vou acabar com a Crown’s.

   Rony estava prestes a desmaiar de ódio. Ele rangia os dentes, tão vermelho quanto uma pimenta, estreitando os olhos verdes até não passarem de frestas ameaçadoras. Então girou bruscamente e saiu, deixando a mim e mais alguns funcionários completamente atônitos. Tomei uma respiração que nem sabia que faltava, sentindo minhas pernas bambas de alívio. Pigarreei ao notar todos me observando.

   — Todos de volta ao trabalho. — Murmurei. — Esse show é privado, a partir de agora.

   Entrei na sala e rapidamente tranquei a porta, me virando para encontrar Draco sorrindo na minha frente, me encarando com uma emoção que não consegui identificar.

   — Eu não acredito que você fez isso. — Suspirei, mas ele apenas sorria.

   — Você me defendeu. — Disse, feliz. — Ficou contra seu marido babaca por mim.

   — Foi pela Crown’s.

   — Eu sei que não foi. — Malfoy deu de ombros. — Eu ouvi você falando que me tiraria da editora se ele me machucasse. Foi a coisa mais fofa que já ouvi.

   — Você não podia ter feito isso, Draco. — Murmurei, horrorizada com o que tinha acabado de ocorrer.

   — Mas eu só te pedi ajuda…

   — Você o provocou! — Grunhi, estreitando os olhos. Draco tinha no rosto a expressão mais inocente que eu já tinha visto. — Falou para ele coisas que confiei a você!

   — Eu não podia deixar que Ronald te tratasse como vem fazendo Hermione. — Com dois passos ele estava na minha frente, me olhando com insistência. — Aquele babaca ridículo acha que é seu dono. Não vou deixar que ele te faça sentir mal por não obedecer às regras estúpidas dele.

   — Não fale assim de Rony. — Me forcei a defender meu marido, como era esperado de mim. — Ele é bom, só não… Rony só não sabe ser um bom marido.

   — Não quero que ele seja um bom marido, estou pouco me fodendo se ele segue o manual do bom casamento. Eu só não posso suportar a ideia de que ele seja tão estúpido com você. Hermione… — Draco segurou meu queixo, erguendo meu rosto. Seus olhos estavam mais sérios do que eu já tinha visto, antes. — Ele não é apenas um péssimo marido, é um homem de merda.

   — Ele vai melhorar…

   — Eu realmente espero que ele faça. — Draco segurou minhas mãos, erguendo uma sobrancelha. — Eu estou observando o comportamento desse cara, a partir de agora. Tem alguém para cuidar de você bem aqui. — Minha garganta apertou, e me senti ridícula ao perceber que era disso que eu precisava. Alguém que cuidasse de mim. Draco puxou minhas mãos. — Venha aqui. — Disse, me abraçando, deixando meu rosto descansar no seu peito. — Vai ficar tudo bem.

   — Ele vai te infernizar.

   — Acha que eu não sei me defender?

   — Ainda não te perdoei por me fazer querer sumir de tanta vergonha, Malfoy. — Resmunguei, ouvindo-o rir. — Eu vou me vingar, e não vai demorar.

   — Mal posso esperar por isso. Você é a mimadinha mais meiga que eu conheço, não tem habilidade de assustar ou envergonhar ninguém.

   — Ah, é? — Sorri, uma ideia se formando na minha cabeça. — Vamos ver então, Malfoy.

 

***

 

   Meu coração palpitava enquanto eu caminhava até a porta, mal contendo a empolgação de finalmente dar o troco por todos os mini-infartos que Draco havia me causado. Antes de subir as escadas, vi Vovó Mira pela janela, mexendo algo em um recipiente e cantarolando Satisfaction. Apertei os lábios para não rir e subi até a porta de Draco, parando lá para respirar fundo e colocar minha expressão de pânico. Eu não era muito boa em fingir, mas tinha planejado e ensaiado na frente do espelho do carro, até que finalmente consegui ser convincente.

   Estendi o punho, batendo duas vezes e franzindo o cenho, deixando que meu rosto parecesse cansado e arrasado. Ouvi a voz de Draco do outro lado, e logo seu rosto me saudou. Estava sem camisa, vestindo um jeans rasgado e surrado, os pés descalços e aquele sorriso convencido no rosto. Meus olhos fixaram no dorso coberto de desenhos que eu nunca teria imaginado. Havia um par de asas que pareciam rabiscos desleixados sobre o peito, e no lado direito da costela estava desenhada uma caveira estilizada com cachimbo e cartola. No final do abdômen, sobre o V que descia até desaparecer sob o jeans, havia a frase “Start me up”. Minha boca abriu, mas nenhuma palavra saiu dela.

   — Não consegue ficar algumas horas longe de mim? — Perguntou, me provocando. — Não a culpo. Meu poder de magnetismo é lendário.

   Balancei a cabeça, retomando o plano. Eu tinha que me concentrar e parar de olhar as tatuagens, principalmente aquela frase indecente.

   — Eu tenho uma notícia para dar, Draco. — Me surpreendi quando soou tão sério e sincero que quase convenci a mim. O sorriso dele vacilou e Draco segurou meu braço, me puxando para dentro da casa e fechando a porta. Olhei incrédula para a mão esquelética chifrada na cervical de Draco, facilmente escondida por qualquer camisa. Me peguei pensando que ele deveria mostrá-la mais vezes… “Foco, Hermione!”, Pensei, inconformada.

  — Rony machucou você? — Perguntou ele, ansioso, me analisando como se procurasse hematomas. Pisquei, aturdida com a intensidade do que senti ao perceber sua preocupação, como um alívio relaxando meu corpo.

   — Não, não é isso. — Toquei seu braço, acalmando-o e percebendo a já conhecida estrela vermelha na parte interna de seu cotovelo. — É sobre você, na verdade.

   — Eu? — Seu rosto franzido me fez pensar mais uma vez sobre meu plano cruel, mas eu tinha sido desafiada, e meu lado competitivo tinha sido despertado. Eu simplesmente não sabia ignorá-lo. A cena daquela tarde piscou na minha cabeça, todo o meu embaraço e vontade de morrer de vergonha… Foi o que precisei para continuar.

   — É melhor você sentar. — Entrelacei nossos dedos, levando-o comigo até o sofá e me sentando ao lado dele. Draco me  encarava com uma sobrancelha arqueada, esperando.

   — Devo chamar Vovó para me defender? — Questionou, tentando parecer relaxado, mas a tensão estava óbvia em seus ombros.

   — Eu preciso começar dizendo que sinto muitíssimo, ainda mais do que eu posso falar. — Comecei, inundando minha voz de desalento e arrependimento. — Eu me sinto tão mal, Draco… — Abaixei a cabeça, olhando minhas mãos. — Espero que não pense que fiz  de propósito, e…

    — Hermione, por todos os deuses, me fala o que aconteceu.

   — Lembra o que você me falou, quando estávamos saindo da Crown’s?  — Pisquei os olhos, tentando parecer tímida. — Sobre eu guardar suas contas de backups e todos os arquivos do seu livro?

   — Claro, acho que você é a pessoa mais confiável para isso. — Concordou ele prontamente.

    — Eu perdi tudo, Draco. Não sei o que aconteceu, mas perdi todas as contas, arquivos e backups.

   Draco estava petrificado, me olhando com a mesma falta de expressão. Ele inclinou a cabeça levemente, como se não entendesse minhas palavras, e em seguida a cor escoou completamente do rosto até que o medo de tê-lo matado me invadiu. Sua respiração acelerou, os olhos arregalados vagando pela sala.

    — Meu livro… — Ele sussurrou, perdido. — V-você… Meu coração está parando, acho que é um infarto.

    — Draco? — Segurei seus ombros, vendo-o deitar no encosto do sofá, com uma  mão sobre o coração. — Draco, você está bem?

   — Meu filho… — Lamentou Draco, a voz falhando miseravelmente. — Meu bebê, você perdeu o meu bebê.

   — Está tudo bem? — Coloquei  uma almofada sob a cabeça dele, assustada com a respiração  enlouquecida e o pânico no rosto. Apesar das palavras, ele parecia completamente devastado pela notícia. — Draco, tente respirar profundamente.

   — Respirar?! —  Exclamou ele, histérico. — Como eu posso respirar sabendo que o meu livro tão lindo está perdido, Hermione?! — Encarei, perplexa, seus olhos marejando enquanto Draco lamentava. — Ele era lindo, os melhores assassinatos e cenas sanguinárias que eu já escrevi. Passei horas planejando todas as mutilações, perdi noites  de sono para criar o monstro perfeito. Era meu psicopata sobrenatural preferido, eu amava aquele assassino… Meu coração está em pedaços, Hermione.

   — Você pode refazer, nós podemos…

   — Você me odeia, não é? — Draco perguntou, sussurrando. — Só pode ser isso. É algum tipo de atração que você sente por mim, e acaba se culpando e culpando a mim. Mas eu não pedi por isso, Hermione. E nem o meu livro. Foi injusto, você me magoou.

   — Atração? — Pisquei, aturdida. — Draco, do que você…

   Mas antes que eu terminasse ele se jogou de costas no sofá, cobrindo o rosto  com o braço e fazendo aquele biquinho de sofrimento.

   — Eu não quero mais falar com você. — Murmurou, devastado. — Não gosto de brigar com você, Hermione, mas não sei se serei capaz de perdoá-la, um dia. E nesse momento, não tenho condições psicológicas ou emocionais para discutir. Achei que te amava, mas agora…

   — Draco, foi sem querer. — Me inclinei, segurando sua mão e tentando ver seus olhos. Draco não deixou, inconformado. Meu coração começou a apertar de dó, e o arrependimento fez eu me sentir uma merda. — Olha para mim, eu juro que não sei como isso aconteceu!

   — Foi o Ronald. — Grunhiu ele, claramente magoado. — Ele te mandou fazer isso comigo, admita. Só tentei te defender, e olha o que ganho com isso…

   Já decidida a contar toda a verdade de tanto remorso, passei a mão sobre seus cabelos claros, tirando-os da testa, preocupada com os danos  emocionais que eu poderia ter causado.

   — Desculpe ter feito isso, era tudo… — Uma batida na porta me interrompeu, e logo a voz familiar soou.

   — Estão vestidos? — Olhei para Vovó Mira que entrava na sala e fechava a porta, vindo até nós dois com um sorrisinho malicioso nos lábios vermelhos. — Ah, que pena, achei que estivessem transando.

   — Não agora, vovó. — Draco resmungou, virando para o lado e pousando a cabeça nas minhas pernas, provavelmente para que a vó não visse seu estado deplorável. — Acabei de perder o meu filho mais importante.

   — Eu sou bisavó e você não me contou? — Vovó Mira arregalou os olhos, colocando as mãos na cintura. — Eu não ficaria surpresa. Você precisa ficar mais tempo com as calças, menino.

   — Só me deixem sozinho, ok? — Mesmo enquanto falava, Draco rodeou minha cintura com os braços, enterrando o rosto na minha barriga. — Não quero ver ninguém nesse momento de luto.

   — O que deu nesse garoto? — Mira me encarou, esperando explicações, mas sua expressão era tão divertida que foi impossível não querer fazê-la rir mais um pouco.  Suspirei teatralmente.

   —  Todos os arquivos do novo livro foram perdidos.

   — E é por isso que ele está agindo como prostituta não paga? — Como eu esperava, ela deu uma risada alta, me fazendo apertar os  lábios para não gargalhar junto. — Garoto, você é mais  melodramático do que artistas de Hollywood!

   — Vovó! — Draco olhou para ela por um segundo, antes de voltar a deitar no meu colo e me abraçar mais forte. — Vocês não me amam. Como podem ser tão insensíveis com a minha perda? Você já considerou que isso pode me traumatizar? —  Ele virou um centímetro na minha direção, apenas um dos olhos me observando. — É possível que eu precise de algumas sessões  de análise para voltar a ver um livro sem chorar. Vocês não entendem, não sabem como me sinto íntimo do meu psicopata perfeito, ele é como um fruto da minha própria genialidade.

   — Você está sendo ridículo, sabe? — Murmurei com paciência, tirando as mechas teimosas de sua testa. — É um livro, Draco, eu te ajudo a escrevê-lo.

   — Você me magoou bem aqui. — Ele segurou minha mão e colocou sobre seu peito, os olhos brilhantes e abatidos em mim. — E está doendo, Hermione. Você  terá de aprender  a viver sem mim, agora.

    — Quer que eu vá embora?

   — Não. — Ele me abraçou mais apertado. — Só daqui a pouco, ainda não estou pronto.

   Disfarcei a risada com uma tosse, voltando a acariciar sua cabeça.

   — Puta merda, ele é uma garotinha na puberdade. — Vovó Mira resmungou, balançando a cabeça em desgosto.

   — Não é necessário tanto drama, querido… — Tentei soar doce, mas tudo que eu queria era gargalhar junto com vovó.

   — Drama? — Draco levantou a cabeça como se eu tivesse o estapeado. — Quero ver você dizer que é drama quando eu jogar todas as suas roupas de vó pela janela do seu duplex!

   — Está dizendo que eu me visto mal, moleque? — Vovó perguntou.

   — Vovó! — Foi a minha vez de reclamar.

   — Desculpe, querida.

   — Você entendeu o que eu quis dizer!  — Draco bufou, deitando novamente. — Meu coração está partido.

   — Tudo bem, já chega. — Murmurei, revirando os olhos e erguendo a cabeça para uma vovó Mira inconformada. — Desculpe, Vovó, pode nos dar um segundo?

    — Eu que não quero presenciar esse constrangimento. — Disse ela. — Me chame quando meu neto virar homem.

   —  Você é cruel! — Draco gritou, mas a senhora o ignorou, batendo a porta.

   Voltando a olhar o homem deitado no meu colo, me agarrando como uma criança medrosa e magoado como um bebê que perdeu um doce, comecei a me sentir péssima pela brincadeira. Continuei passando meus dedos pelos fios claros de Draco, preocupada com seu estado emocional.

   — Querido, olhe para mim. — Sussurrei, e ele resmungou um ‘não’, me abraçando mais forte. — Draco, era só uma brincadeira. Seu livro e todas as cópias estão seguras, eu prometo.

    Malfoy levantou a cabeça em um estalo, sentando rapidamente em seguida. Seus olhos queimavam  de indignação, estreitos e ameaçadores.

   — Você não fez isso, Hermione. — Ameaçou, numa voz baixa. — Essa foi  a coisa mais cruel e imperdoável que… — Seu biquinho se projetou novamente. — Ele está seguro mesmo?

   — Eu disse que me vingaria…

   — Você é a mimadinha mais desumana, hedionda e impiedosa que eu já conheci. Mexeu com meu filho, Hermione… isso não se faz. — Sua voz séria se dissolveu no momento em que ele viu minha expressão de arrependimento e meu queixo trêmulo. Draco franziu o cenho. — Não faça eu me sentir culpado por dizer a verdade. — Olhei para baixo, desanimada. — Hermione, não faz essa cara, é injusto! — Funguei, contendo a vontade de sorrir. — Droga, vem aqui.

   Alegremente deixei que ele me puxasse para seu peito tatuado, seus braços me envolvendo calorosamente. Eu podia sentir  seus lábios movendo contra meu cabelo enquanto ele sussurrava.

   — Eu juro que não queria chegar tão longe. — Falei, e senti seu suspiro expandir o peito definido sob meu rosto.

   — Não posso acreditar que você me enganou. A Srta. Imaculada me fez acreditar em uma mentira.

   — Não me chama assim!

   — Vovó vai rir de mim pelo resto da semana.  — Ele bufou, e então segurou meu rosto, me olhando com esperança óbvia. — Ele está bem mesmo?

   — Já o enviei para a edição, Draco. — Rolei os olhos, sorrindo feito idiota. Estava ridiculamente orgulhosa do trabalho mais recente dele, como se sua alegria fosse a minha. — Hotel De’Moarte vai ser o maior sucesso que o mundo editorial já presenciou.

    — Ele vai ser o mais famoso entre todos. — Seu sorriso de orgulho era tão lindo que foi impossível não retribuir. — Vamos conhecer o mundo inteiro graças a ele.

    — Estou orgulhosa, escritor preferido.

    — E eu de você, editora chefe maligna. — Draco me abraçou, sorrindo com toda a energia vibrante que sempre vinha dele, a mesma que parecia me envolver, me inserindo em um mundo livre e feliz, onde não havia rédeas na minha vida.

 

***

 

   Hermione:  Preciso das minhas melhores amigas da vida.

 

   Luna:  Own, eu amo quando você tenta me manipular...

 

   Gina: Aposto que é TPM.

 

   Gina: Ou gravidez.

   

   Hermione: É apenas solidão. Estou sozinha mais uma vez. É depressivo não ter nada para fazer.

 

   Gina: Já experimentou ligar para seu autor gato preferido, amiga? Aposto que ele largaria a mãe na forca para te fazer companhia.

 

   Luna: Cristo, Gina, você é cruel!

 

   Luna: Adoro você!

 

   Hermione: Draco  está tocando, hoje. E eu não tenho disposição nem para seguir vivendo, muito menos para ir ao Hard Rock.

 

   Gina: Indisposição para encontrar aquele gato? Retiro o que disse sobre TMP e gravidez, o que você tem é demência.

  

   Hermione: Sabe que meu marido é seu chefe, não é?

 

   Luna: Adoro quando Gina perde as palavras.

 

   Gina: Esquecemos  a pergunta mais importante, aqui.

 

   Gina: Onde está Ronald que não se encontra ao seu lado na cama?

 

   Hermione: Trabalhando, como sempre… Quase três horas da manhã e meu marido está na Crown’s. Não sei se isso é esforço ou exagero.

 

   Luna: Hermione, querida, não quero preocupar você, mas eu estou na Crown’s nesse exato instante

 

   Luna: E Ronald não está aqui.

 

   Hermione: O quê?!

 

   Hermione: Como assim Rony não está aí?

 

  Gina: Agora fiquei curiosa. Onde ele está, então?

 

    Luna: Desculpe, Hermione. Ele saiu pouco depois que você foi embora, eu vi.

 

  Gina: E ele estava sozinho?

 

   Luna: Gina!

 

   Gina: O que? Era só uma pergunta…

 

  Luna: Hermione, querida, está tudo bem?

 

  Larguei o celular sobre a cama, sentindo meu peito apertar até meus olhos queimarem. Ronald tinha mentido para mim, talvez por todo aquele tempo. Onde estava quando me dizia que  continuava na Crown’s? Como podia mentir para  mim e me acusar por ter caído no sono ao lado de Draco?!

   Mordi o lábio, inconformada e me recusando a chorar. Eu descobriria o que ele andava fazendo, nem que isso me custasse cada gota de sangue e sanidade que me restava. E que Deus tivesse piedade da alma de Rony se ele ousasse me enganar. Eu acabaria com ele. Com cada mínimo centímetro dele.

 


Notas Finais


O que acharam esse Draco neném???? E essa Hermione rainha?!
Mais uma vez, MUITO OBRIGADA pelos favoritos!
Não esqueçam de comentar os dois capítulos, façam duas autoras felizes!
Próximo presentinho aos 200! Até a próxima segunda, amores!
Beijão!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...