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História Um caso para um caso - De hoje em diante


Escrita por: Pineapplee

Capítulo 14 - De hoje em diante


Naquele mesmo dia John Watson fez uma ligação à Sra. Hudson para saber como a filha estava, e também, para informar que ele e o detetive iriam demorar um pouco mais que o previsto para retornar a Londres. A senhora, então, o tranquilizou como toda boa mãe faria, dizendo que ele não se preocupasse e que tudo ficaria bem. E felizmente, John não teria porquê discordar.

Os dias que se sucederam foram simplesmente incríveis. Foi tudo tão proveitoso, tão agrádavel, tão acolhedor e tão apaixonante. E provavelmente, uma das melhores férias que John poderia ter tido, mesmo que não fosse em um lugar extraordinário ou mesmo que não houvessem grandes programações de viagem. Porque a companhia de Sherlock e os momentos com ele, mesmo os mais singelos, eram o que tornava tudo tão especial.

Os dois passaram mais uma semana inteira viajando, e nesse meio tempo, ficaram hospedados em 3 lugares diferentes. Haviam dias em que eles visitavam alguns pontos turísticos. Eles conheceram o Castelo de Cardiff e o Castelo de Powis, os restaurantes finos de Cardiff Bay, e campos abertos que se estendiam por longos e longos quilômetros, onde puderam passar várias horas a sós, distantes de tudo e de todos.

Haviam momentos em que eles saíam para comer fora e ficavam conversando sem parar, mas também haviam momentos em que eles ficavam apenas num confortável silêncio durante longos minutos nos trajetos de trem.

Também haviam dias em que eles não saíam para lugar algum, e ficavam apenas deitados no quarto o dia inteiro, trocando carícias e falando sobre qualquer coisa. 

Eles davam as mãos com bem mais frequência agora, e não por acaso, John acabou descobrindo muitas coisas ao longo daquela semana. Ele descobriu que gostava de quando Sherlock o abraçava por trás. Descobriu que para acabar com o tédio do detetive, bastava beijá-lo sem aviso, e o resto acabava acontecendo sozinho. Descobriu que se sentia mais excitado fazendo sexo com Sherlock do que com qualquer outra pessoa com quem ele já havia transado. Descobriu que Sherlock tinha boas habilidades com a língua. Muito boas mesmo, por sinal. 

John também descobriu que gostava de repousar a cabeça em seu ombro à noite, quando tudo estava em silêncio e eles deitavam na cama para dormir. Descobriu que Sherlock gostava quando ele afagava seus cabelos ondulados entre os dedos. Descobriu que haviam momentos onde Sherlock conseguia ser bem mais carinhoso do que geralmente era. E descobriu que, agora, apreciava muito mais os momentos a sós que tinha com o detetive, porque o mundo parecia todo deles naqueles momentos, e nada e nem ninguém poderia estragar isso.

Naquela viagem, eles fizeram sexo em quase todas as noites e aproveitaram a chance para conhecerem ainda mais um do outro. Às vezes era Sherlock quem tomava a iniciativa. Às vezes, John. E por vezes, simplesmente acontecia, sem que eles sequer conseguissem distinguir qualquer coisa ali. Quase sempre acontecia na parte da noite, bem do fim do dia, quando ambos chegavam cansados de mais um passeio e deitavam para dormir. Certa vez aconteceu ao amanhecer, quando Sherlock despertou e encontrou John fitando-o com carinho. E Watson parecia tão belo naquela manhã, que Sherlock não teve como resistir. 

Houve outra vez em que eles estavam se aprontando para fazer um pequeno tour em Welshpool, e enquanto se vestiam, trocavam olhares sem parar. Em dado momento, enquanto Sherlock abotoava a camisa e John colocava o casaco, ambos simplesmente inclinaram-se na direção um do outro e começaram a se beijar vorazmente, fazendo com que todo o trabalho que tiveram para se vestir acabasse sendo em vão. No fim das contas, eles acabaram se atrasando para o tour em Welshpool.

Cada momento que tiveram naquela viagem havia sido bom e especial, mas ambos deveriam confessar que estavam ansiosos para ter um ao outro no aconchego de seu próprio apartamento. Então, no sétimo dia, eles decidiram que era melhor voltar para casa. 

O trajeto não foi muito longo, durando apenas algumas horas para se realizar. Assim que chegaram a Baker Street e passaram pela porta da propriedade em que residiam, eles foram muito bem recebidos por uma Sra. Hudson sorridente e muito animada por finalmente vê-los outra vez. E para a sua alegria ainda mais absoluta, a senhora percebeu que eles estavam de mãos dadas quando entraram, o que fez com que a mesma abrisse um sorriso ainda maior. 

Mas apesar de contente, Sra. Hudson não parecia surpresa, o que fez o médico duvidar se ela estava mesmo feliz pela novidade, ou se na verdade estava apenas feliz por eles finalmente terem... revelado o que supostamente sempre houve entre ambos? É, conhecendo-a bem, John com certeza poderia apostar na segunda opção.

A senhora deu um abraço nos dois, começou uma conversa breve e os convidou para entrar. Então, eles finalmente puderam reencontrar Rosamund.

Quando os viu, a loirinha abriu os bracinhos e chamou John de "papai", tal como costumava fazer. Watson a pegou no colo e lhe deu um abraço bem apertado, aproveitando-a ao máximo. Depois de um tempinho, John passou a menina para os braços de Sherlock. Enquanto o detetive a segurava no colo, pela segunda vez naquele mês, Rosie chamou-o de "papai" também. Então o coração de Sherlock pôde acalentar-se novamente com aquela sensação doce, pura e aprazível. 

John quase sentiu seus olhos marejarem quando presenciou a cena. Ele torcia muito para que Rosie continuasse chamando-o assim, e estava deveras feliz pelo fato de que o termo "família" teria um significado ainda maior entre eles dali em diante.

John e Sherlock passaram mais alguns minutos no andar de baixo com Rosie, conversando e fazendo companhia a Sra. Hudson. Eles subiram para o próprio apartamento antes de anoitecer, desfizeram as malas e deram uma pequena geral no lugar. Depois, os dois pediram pizza para comer à luz da lareira, e quando entardeceu, ambos levaram Rosie para o quarto e colocaram-na para dormir.

Quando voltaram para a sala e se viram sozinhos, os dois começaram a se entreolhar um pouco. Tão logo os olhares começaram, algo pareceu surgir no ar. Uma atmosfera que prenunciava o calor e a evidência da oportunidade. E então, uma certa fagulha começou a brotar na mente de ambos, se alastrando por seus respectivos corpos também.

Eles já haviam feito aquilo meia dúzia de vezes, mas pensar em fazer ali e agora, na sala do 221B, parecia diferente. Parecia ainda mais excitante.

No fim das contas, poderia até ser curioso, mas eles acabavam de constatar que o tesão no 221B da Baker Street parecia melhor do que em qualquer outro lugar do mundo. Era como se a perspectiva de poder fazer coisas tão íntimas se tornasse ainda mais incitadora ali. Bem ali, entre aquelas paredes. No mesmo lugar onde já viveram tantos momentos juntos, no lugar onde desejaram um ao outro tantas vezes em segredo. No lugar onde podiam ser eles mesmos, onde podiam simplesmente relaxar e se sentir bem em estar. No seu lar.

E ah... como seria bom experimentar aquilo ali. Como seria...

Com um semblante suave, John se moveu de onde estava e deu alguns passos na direção de Sherlock. Quando o alcançou, Watson ficou na ponta dos pés, segurou-o pelo colarinho e, depois de encará-lo de pertinho por alguns instantes, depositou um beijo cheio de desejo em seus lábios.

Ele já teve Sherlock das formas mais proveitosas possíveis na última semana, mas ainda assim, queria muito mais. John estava completamente viciado nele a essa altura, e para o seu imenso contentamento, o vício era mútuo.

 

----

 

Cerca de alguns dias depois, tudo permanecia relativamente normal no 221B. John ainda estava de férias do hospital onde trabalhava, o que era um certo alívio para ele. No momento o médico estava na sala de estar, sentado em sua poltrona acolchoada com o notebook sobre as pernas enquanto digitava continuamente. Ele andava escrevendo sobre o último caso que tiveram, o qual intitulou de "O demônio de Abercarn".

John narrou a história como qualquer outra que ele já havia contado, sem esconder o fato de que ele e o detetive precisaram fingir um namoro, afinal era muito difícil descrever certos acontecimentos da investigação sem mencionar esse fato. Porém, ele contou apenas o básico, é claro. Sem expressar muitos detalhes, apenas o suficiente para contextualizar a história, deixando assim que o público imaginasse o resto.

Então, obviamente, ele também ocultou o que aconteceu no quarto do hotel na última noite em Gales. John gostaria que esse último fato ficasse apenas entre os dois, como uma memória somente deles, íntima e particular.

Quando finalmente concluiu a narrativa, John releu os últimos parágrafos em silêncio para se certificar de que havia ficado bom o suficiente, e deu um pequeno sorriso ao passar os olhos pelas últimas linhas:

No fim, um amor não correspondido, um ódio fraterno, uma alta dose de anestésicos e um grande instinto protetor foram os pilares que motivaram o grande plano de Henry Llyod. 

Henry foi preso, e pelo que pude saber, passará o resto dos seus dias na Penitenciária HMP do País de Gales.

Assim, eu e Sherlock encerramos aquele dia com a sensação de dever cumprido. Infelizmente não voltamos a Londres de imediato, tivemos que passar mais uma pernoite no hotel. A noite estava fria, se me lembro bem, mas ao menos eu tinha a companhia de meu melhor amigo, Sherlock Holmes, então...

— "...aquela noite fria pôde ficar um pouco mais cálida"? Entrelinhas? Sério? Por que não diz logo que nós transamos?

Sherlock repetiu em voz alta, aparecendo atrás de John enquanto comia alguns biscoitos de gengibre.

— Santo Deus. Que susto, Sherlock. — O médico levou a mão até o peito e olhou para trás, encontrando o detetive com a postura inclinada para baixo, o olhar atento na tela do notebook e a boca cheia de biscoitos.

— "O demônio de Abercarn"? — Holmes arqueou uma das sobrancelhas.

— É. Você ouviu o Henry dizer durante a confissão. Eu achei que seria um bom nome.

— Hum. Não. É péssimo. Primeiro porque os leitores vão se frustar quando perceberem que a história não tem nada a ver com o sobrenatural, e segundo porque o demônio tecnicamente seria a própria vítima de assassinato, e não o culpado. Isso vai completamente contra todas as expectativas, John. Qualquer outro nome seria melhor do que esse. — O detetive implicou, praticamente massacrando o título, como de praxe, o que não surpreendeu o outro nem um pouco. 

— Ah é? Que nome você daria então?

— Um bem melhor que esse. Com toda certeza. — John bufou em resposta. Era engraçado como Sherlock sempre reclamava dos nomes, mas nunca sugeria outro. — Você não contou tudo, não é? 

Watson o encarou por um instante, e não precisou de muito para entender ao que ele se referia.

— É claro que não.

— E ao invés disso está fazendo insinuações. Isso só vai aumentar ainda mais os boatos.

— É melhor do que deixar tudo às claras. Seria uma bomba em tanto, não acha? E tenho certeza que você não iria querer que eu dissesse realmente tudo. Sobre o quanto você gosta que eu aperte a sua cintura, sobre como o seu gemido é sexy, ou sobre como o seu p-

— Tá, já chega. Tem razão. É melhor evitarmos isso. — Sherlock o interrompeu rapidamente, fazendo com que John desse um sorriso ardiloso.

— É, eu imaginei que sim. — O médico voltou a olhar para a tela do notebook, salvou a história e enfim a publicou no blog. 

Ele assistiu o detetive se aproximar da poltrona preta e sentar na sua frente como sempre fazia. Holmes levou o último biscoito à boca, limpou as mãos e, passados alguns minutos, alcançou seu violino.

Ele dedilhou-o para se assegurar de que estava bem afinado, e enquanto fazia isso, ouviu a voz de John cortar o ar novamente.

— O que acha disso? — A pergunta saiu tão simples e desimpedida que ele poderia estar falando de qualquer coisa. Por um momento Sherlock parou de dedilhar as cordas e mirou em seus olhos.

— Sobre o seu estilo de escrita? Acho que já lhe dei minha opinião sobre isso. Ela não mudou.

— Não isso. — John deu uma pausa, olhou mais francamente para ele, e esclareceu. — Nós.

Sherlock piscou algumas vezes e apertou os olhos.

— Como assim, "nós"?

Watson ficou encarando-o com uma expressão meio vazia por algum tempo, como se pensasse um pouco mais a respeito, e no fim, simplesmente desviou o olhar e voltou a olhar para a tela do notebook que estava diante de si.

— Quer saber, esqueça. Só... deixa pra lá.

Mas Sherlock não se contentou muito com isso. Então, o detetive parou de dedilhar o violino e pressionou o companheiro.

— Não. Agora termine. O que você queria dizer?

— Não é nada demais, eu apenas...

— Você está com medo. — Sherlock o cortou simploriamente, com um sorriso quase imperceptível na face. 

John se viu desarmado, sendo mais uma vez uma pobre vítima das deduções descabidas de seu amigo. E diante disso, ele tentou contornar os fatos.

— Não é bem isso. 

— Ah não? Assim como também não era ciúmes quando você descobriu que eu estava flertando com o Henry? — Sherlock lhe lançou um olhar persuasivo. John suspirou, redendo-se. — Você está com medo que as coisas desandem, não é? Está com medo de estragar as coisas, mas principalmente... — Sherlock deu uma pausa, e prosseguiu. — está com medo que eu estrague tudo.

John apenas olhou para baixo, balançou levemente a cabeça e voltou a fitá-lo. 

— Sherlock, não me entenda mal. Eu adorei os últimos dias que passamos juntos, eles foram incríveis. Você foi incrível. Mas isso... isso tudo é meio novo pra nós, não é? Eu não consigo não ficar pelo menos um pouquinho... ham... apreensivo com tudo isso.

E então Sherlock deu um olhar que nunca teve o hábito de dar. Um olhar curiosamente meigo e compassivo. Em seguida, ele disse com um meio sorriso.

— Eu entendo. Eu sou difícil, não é?

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Mas eu sei. A maioria das pessoas me descreveria como rude, desagradável, ignorante, insensível ou qualquer outro adjetivo semelhante. Mas, você está comigo, mesmo assim. E para minha sorte, você consegue despertar o melhor lado em mim. — Holmes abriu um sorriso um pouco maior. — Eu entendo que se sinta assim, John. Mas não precisa ter medo. E sabe por quê? 

John balançou a cabeça num pequeno "não", e esperou que Sherlock lhe dissesse. E o detetive fez isso, serenamente, pausadamente, e com toda a convicção que pôde demonstrar.

— Porque toda vez que eu me imaginava fazendo o que as pessoas fazem, tendo uma família, numa casa de campo, envelhecendo... — Seu semblante suavizou um pouco mais. — Toda vez que eu me imaginava com alguém, eu me imaginava com você. Eu me imaginava casado com você. Eu já queria ser bom o bastante pra você, John, mas agora eu tenho ainda mais motivos pra isso. E eu tenho muitas coisas em mente, mas te desapontar definitivamente não é uma delas.

John Watson se desfez num coração aquecido, um sorriso angelical, uma certa camada de lágrimas nos olhos e uma agradável sensação de completude. Ele nunca imaginou que Sherlock pensasse em fazer todas essas coisas, e principalmente, consigo. Mas a ideia era bela, lhe agraciava imensamente, e sem dúvida, acalentava todo o seu ser.

John poderia ter respondido a qualquer uma das coisas que Sherlock havia dito. No entanto, a primeira coisa que veio em sua mente foi apenas...

Casado?

E Sherlock engoliu em seco, ficando um tanto desconcertado quando se deu conta do que ele próprio havia acabado de dizer.

— Ham... bem... não que eu esteja dizendo pra casarmos necessariamente ou ficarmos juntos até morrermos... digo- não que eu esteja querendo lhe prender a mim ou nada do tipo, mas-

— Sherlock. — John o interrompeu como se dissesse "não estrague o momento", ou simplesmente, "pare de falar". — Eu sei. 

Watson levantou da poltrona vermelha, caminhou até o detetive, tirou o violino de suas mãos e agachou-se diante dele. Sherlock o fitou com um olhar hipnotizado o todo tempo. No fim, John pôs a mão sobre a coxa dele e disse num tom baixo, mas repleto de convicção.

— Sabe de uma coisa? Eu gosto de me imaginar casando com você. Gosto de me imaginar fazendo todas essas coisas com você. — O médico deslizou a mão pela parte interna de sua coxa e fitou seus lábios, assistindo-os perfomarem um lindo sorriso.

Sherlock suspirou. Ele realmente pensou que as coisas não poderiam melhorar mais. Felizmente, estava imensamente enganado.

O detetive se perdeu momentaneamente nos lábios entreabertos de John e na forma como ele encarava a sua boca. Sherlock não resistiu. Ele se inclinou em sua direção e lhe deu um forte beijo, que começou leve, mas não demorou muito a se intensificar.

Holmes pôs a mão direita atrás da cabeça de John e puxou seus fios loiro-desbotados entre os dedos, causando-lhe um arrepio bom. Em resposta, John aprofundou ainda mais o beijo, levando uma de suas mãos até a face dele e a outra até os botões de sua camisa, como se ansiasse em desabotoar todos ali mesmo.

O toque dos dedos de John em seu peito fizeram Sherlock arfar baixinho. Watson lhe devorava com tanto empenho que era até difícil respirar, mas o detetive não estava reclamando. Oh, não mesmo.

Em meio ao beijo, Sherlock mordeu o lábio inferior de John, que correspondeu deslizando a mão que estava sobre o peito dele, descendo-a de maneira vagarosa até enfim alcançar a discreta saliência que havia se formado em seu baixo ventre.

O detetive arfou novamente, ansiando por mais. Quando John o envolveu com a mão e apertou o volume já bem definido, Sherlock gemeu. Foi um som discreto, baixo e comedido, mas havia tanta indecência naquele gemido, e tanta incitação velada, que John sentiu-se ainda mais atiçado por tudo aquilo, e por ele

O médico levantou do chão para subir no colo do detetive e pôs um dos joelhos sobre a poltrona, bem no meio das pernas de Sherlock, mas antes mesmo que sentasse sobre seu colo propriamente — coisa que estava ávido por fazer —, Holmes cortou o beijo e anunciou ofegante:

— Lestrade. 

John parou, abriu os olhos e fitou-o por alguns segundos.

— Droga. — Ele praguejou baixinho.

O loiro rapidamente tirou o joelho da poltrona, afastou-se de Sherlock com um olhar cheio de malícia e foi até a porta, já ouvindo os conhecidos passos de um certo detetive-inspetor subindo as escadas. Holmes prontamente pegou uma almofada qualquer e colocou-a sobre o próprio colo para se cobrir, afinal ele não queria ter a deselegância de deixar que Lestrade lhe visse com uma ereção daquelas.

Dois segundos depois, Greg deu três batidas fortes na porta e ouviu o som de John abrindo a fechadura.

— Ah. Oi, John. — O grisalho disse com a expressão simplória de sempre, mas seu semblante franziu-se um pouco quando ele olhou mais atentamente para o rosto do médico e percebeu que havia uma pequena anormalidade ali. — Ham. O que foi isso no seu lábio?

John passou a língua pelo lábio inferior e sentiu a pele arder. Pelo visto a mordida de Sherlock havia sido um pouco mais forte do que o calor do momemto havia feito parecer. Watson desviou o olhar meio desconcertado e coçou a nuca.

— Nada. Não foi nada. Hum... você não quer entrar? — Ele abriu um pouco mais a porta e deu passagem para o detetive-inspetor, que não contestou e simplesmente entrou de vez no apartamento.

Então Lestrade avistou o detetive de pernas cruzadas sobre a poltrona de couro, com uma almofada sobre si, uma das mãos cobrindo o queixo e a boca, e os cabelos levemente mais assanhados que o normal. O grisalho franziu um pouco mais o cenho e olhou para trás, voltando a fitar o médico que agora passava por ele e caminhava até o centro da sala com ambas as mãos nos bolsos dianteiros da calça. Além de cortado, o lábio de John também parecia um pouco mais avermelhado que o de costume, e Greg tinha certeza quase absoluta de que ninguém havia socado a cara dele nos últimos 5 minutos.

Talvez Lestrade pretendesse questionar alguma coisa, ou no mínimo fazer algum comentário sobre tudo aquilo, mas qualquer coisa que ele pensasse em ter dito foi rapidamente esvaído pela voz interruptiva de Sherlock, que cortou o ar como se de alguma forma soubesse o que o grisalho estava prestes a dizer.

— O que o trás aqui, Lestrade? Espero que seja algo realmente importante. Do contrário, eu tenho coisas melhores pra fazer.

Se Sherlock pretendia ter mudado o curso óbvio do assunto que provavelmente estava por vir, ele com certeza não havia sido muito efetivo nisso. Mas talvez a intenção fosse justamente essa, porque Greg pôde ver o sorriso quase secreto que surgiu em sua face quando tais palavras saíram de sua boca, quase como se ele estivesse se divertindo com aquilo tudo, ou talvez com a reação meio embasbacada de Lestrade, simplesmente.

— Ah- ham- eu só... eu tive- tenho, um caso novo mas... olha, se quiser eu posso voltar outra hora e -

— Basta, Lestrade. Todos sabemos que você não tem e não pode ter a intenção de voltar outra hora, já que o assunto que está trazendo é de extrema urgência. 

— Correção, você sabe. — John corrigiu com um meio sorriso, afinal Sherlock era a única pessoa naquela sala que conseguia fazer deduções com tamanha rapidez e precisão.

— Pela força e quantidade de passos, é óbvio que você subiu as escadas às pressas. Sua blusa está mal passada e um dos botões está fora da casa, o que acabou desandando todos os outros. Você percebeu isso, mas não corrigiu o erro porque estava apressado demais, já que lhe chamaram para o trabalho mais cedo que o de costume e você precisava chegar o quanto antes. A mancha de café na sua gravata, mal feita, por sinal, também indica que você não teve tempo nem mesmo para comer com calma. Você também está suando mais que o normal, e estão fazendo 13°C hoje, o que não é uma temperadura propensa pra suar. Então, definitivamente deve ter acontecido algo muito urgente pra você estar assim e pra ter vindo até mim a essa hora da manhã. Desembuche logo, Lestrade. 

É. Pelo visto, o simples fato de Sherlock estar com John agora, de um jeito tão íntimo e entregue, havia sido mais que suficiente para que ele voltasse a recobrar toda a sua atenção e autocontrole. Sherlock estava seguro afinal.

— Serial killer. — Greg respondeu num só suspiro. Holmes arregalou levemente os olhos, e John, que estava de braços cruzados e com a cabeça baixa até então, ergueu o olhar rapidamente. — Quatro assassinatos sem relação aparente, numa só manhã, num intervalo de tempo muito curto entre uma morte e outra, cerca de apenas 15 minutos entre cada uma. Aconteceram nas ruas mais movimentadas de Londres; Jermyn Street, Brick Lane, Piccadilly e The Mall; mas ninguém viu absolutamente nada. As vítimas simplesmente caíram duras no chão com um bilhete codificado nos bolsos. Não há mais nenhuma pista. Precisamos decifrar os bilhetes e descobrir como estão fazendo isso. Ou melhor, quem está fazendo isso. — O detetive-inspetor explanou de uma só vez, tão rápido que quase não teve pausa para respirar. — Sherlock, se não vier agora, podem haver mais mortes.

E o moreno, que continuava estático e meio boquiaberto em sua poltrona, balançou a cabeça e disse-lhe com um olhar reluzente.

— Essa foi definitivamente a melhor coisa que você me disse em meses!

— Então você vem?

— Ah, meu caro detetive, eu não perco isso por nada. John! Pegue o casaco! Nós temos que sair. — Sherlock jogou a almofada para o lado e levantou da poltrona com o mesmo ímpeto de sua fala.

Greg deu um pequeno sorriso. Ele não saberia mensurar o quanto se sentia grato por sempre poder contar com aqueles dois — independentemente das circunstâncias, pelo visto.

— O primeiro assassinato aconteceu na Jermyn Street. Podemos começar por lá. Você vem comigo ou...?

— Você sabe que eu odeio carro de polícia. Vou com o John de táxi. Vá na frente, nos encontramos lá.

Dito isso, o detetive-inspetor deu um breve aceno e desceu escada abaixo. Sherlock olhou para John com um sorriso divertido enquanto enrolava o cachecol em torno do pescoço.

— John, em que mês estamos? Tem certeza que não é dezembro? Parece natal!

— Não, certeza que estamos em agosto, mas... ham... Sherlock.

— Hum? — O detetive indagou estusiasmado, e John desviou o olhar de sua virilha para fitar seus olhos azuis.

— Você ainda está duro.

Sherlock ficou um pouco mais corado do que já estava, olhou para si próprio e constatou o fato inegável.

— Ah. É. — Ele balançou a cabeça para o lado e voltou a erguer o olhar para John. — Não temos tempo pra uma rapidinha, não é?

— Não mesmo. Parece que você vai ter que usar todas as suas habilidades mentais pra sumir com isso sozinho, detetive. — John disse dando um olhar sorrateiro e uma pequena lambida nos lábios.

— Fica meio difícil com um caso desses e com você me provocando assim. — O moreno contestou enquanto colocava o sobretudo.

— Não se preocupe, amor. Eu te ajudo com isso quando o caso acabar. — Watson deu uma piscadinha.

Sherlock, por sua vez, lhe lançou um olhar penetrante e cheio de perspicácia.

— Ótimo. Está pronto?

— Por você, sempre.

— Então vamos nessa, meu caro Watson. Esses crimes não vão se resolver sozinhos. 

E John não poderia estar mais feliz por isso. Os dois desceram as escadas rapidamente e logo alcançaram a Baker Street para pegar o primeiro táxi que aparecesse.

John enfim se deu conta de que não iria mais resolver casos com seu melhor amigo e companheiro de apartamento — não apenas isso, pelo menos. De hoje em diante, ele iria resolver casos com seu namorado também. Porque ele tinha um namorado, e esse homem era Sherlock Holmes. Esse homem também era seu parceiro na vida, seu futuro esposo, seu porto seguro e seu grande amor. E enquanto se aprumava ao lado do detetive na calçada, ansiando pelo início de mais uma aventura, John Watson chegava a conclusão de que, provavelmente, nunca havia ficado tão feliz em ter alguém para chamar de seu.



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