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História Um Dia - jikook - O Primeiro Dia


Escrita por: SafiraOpaca e SafirArmy

Notas do Autor


Oi pessoinhas ><
Já comentei em outra fic que BTS é minha válvula de escape então, mais um vez, um plot levinho deles me tomou e eu me distraí e me diverti mt escrevendo shuehsue
Era pra ser bem dinâmico, eu contaria a história de trás para frente e enfim... mas eu to com outros projetos pessoais (revisão das minhas fics, por ex), então decidi deixar os planos mais elaborados mais pra frente ^^
A história ficou bem simplesinhas, mas sério gente, espero que sirva para distrair vcs e aquecer os coraçõezinhos nesses tempos tão nebulosos. Ela me ajudou bastante nesse aspecto :3

Boa leitura, perdoem os errinhos e até as NF!
Obs.: perdoem o título meio ruinzinho, mas eu queria mt fazer uma referência a Just One Day, mas em português não faria mt sentido para a estória então improvisei :v não desistam de miiim ~

Capítulo 1 - O Primeiro Dia


Fanfic / Fanfiction Um Dia - jikook - O Primeiro Dia

Aquela era o que as pessoas chamariam de “situação desconfortável”.

 Todo mundo que depende de transporte público já teve aquele momento, o momento em que seus olhos cruzam caminhos com os de outra pessoa e por alguns minutos, vocês vivem uma silenciosa história de amor, cheia de possibilidades e sorrisos contidos.

Nas suas cabeças.

Então, a parada chega, a história é cortada na metade e vocês dificilmente se reencontram.

Para Jimin e Jungkook, no entanto, uma pequena falha no enredo de sempre havia feito com que ambos saltassem no mesmo ponto. Completamente sozinhos e com o som alto da chuva pesada que caía, o que antes era um leve flerte gerou um clima estranho que beirava o incômodo enquanto o silêncio fora do ônibus parecia mais intensificado e brutal. 

 A noite era pontuada de luzes que tremeluziam por trás da cortina de chuva, os postes altos não dando vazão à rua estreita que deveriam atravessar até chegar na avenida principal, onde a movimentação os faria sentir segurança. Porém, a torrente de água não parecia favorável a uma pausa, prendendo Jimin, um ômega, em um ponto deserto no meio da noite com Jungkook, que não era apenas o homem com quem trocara olhares intensos no ônibus, como também um alfa.

 A civilização dos lobos, em muitas partes, ainda era arcaica e retrógrada. A supremacia alfa oprima ômegas e menosprezava betas, tornando a classe dominante objetos de desprezo hediondo às outras castas ou infligindo submissão doentia para a elas. A feição quase tímida, mas máscula de Jungkook fazia Jimin ponderar se ele seria um daqueles. Sabia que não deveria julgar um livro pela capa, por isso pedia internamente que a chuva passasse o mais rápido possível para que pudesse sair dali. Fingiu não perceber que ele se aproximava, mas as unhas afundaram contra os braços cruzados, preparado para correr ao menor sinal de ameaça.

 – Hm... Boa noite? – a voz receosa fazia a saudação soar como uma pergunta. Jimin suspirou e decidiu que olhá-lo era a única coisa que poderia fazer agora que ele o abordara diretamente. Jungkook estava enfiado em uma camisa branca lisa coberta por uma blusa de flanela e uma jaqueta jeans, pela qual a alça de uma case de violão transpassava. Os fios eram partidos de lado e caíam na vertical, cobrindo por vezes os olhos negros e intensos que encaravam Jimin de volta. O ômega apertou os lábios logo antes de suspirar ao notar que ele tinha o aroma do café fresco – Você precisa ir até a avenida?

 Jimin perdeu a noção do tempo que passou observando os olhos dele. Tão escuros que temia se perder, como buracos negros atraindo toda matéria para mais perto. Firmou os pés no chão, como se realmente temesse se desequilibrar. Respirou fundo como se buscasse clarear os próprios pensamentos, inebriado com a beleza suave tão incomum nos alfas, mas o gesto só o fez perceber ainda mais do aroma característico. Não um café recém passado ou ainda o aroma que se desprende ao moê-lo. Jungkook cheirava aos grãos frescos colhidos na época certa, ao café direto do pé. Jimin umedeceu os lábios e assentiu. O alfa pareceu ainda mais constrangido ao estender a mão na direção de Jimin, que abaixou o olhar para reparar o que ele trazia na palma: um guarda-chuva. Preto e com a empunhadura em forma de U feito de madeira, parecia grande o bastante para abrigar os dois.

 – Posso te dar uma carona... Se você quiser... E não se importar.

 Jungkook parecia fugir de seus olhos e Jimin acabou baixando a guarda. Ele parecia tão indefeso para um alfa. Não conseguia acreditar que fosse tudo fingimento. Checou uma última vez o sinal do celular, mas como todas as vezes que chovia, era impossível contatar alguém para auxiliá-lo. Vendo a incerteza da sua companhia inesperada, soltou o ar ao tomar sua decisão.

 – Qual o seu nome? – parecendo surpreso, o alfa ergueu o semblante e umedeceu os lábios como se prendesse um sorriso antes de dizer.

 – Jeon Jungkook. Mas pode me chamar só de Jungkook.

 Jimin sorriu simpático.

 – Sou Park Jimin. Só Jimin, já que vou te dar uma carona.

 Jungkook pareceu confuso até ver o ômega tomar o guarda-chuva de suas mãos e abri-lo ainda na proteção escassa do ponto. Analisou Jimin sorrir ainda mais ao reparar que ele aparentava estar perdido, e algo na forma como os olhos rasgados esconderam as írises castanhas fez o lobo de Jungkook se inquietar.

 – Um ômega oferecendo uma carona a um alfa é um pouco menos assustador que o contrário, não é? – ele disse como se segredasse algo e Jungkook acabou soltando o ar em uma risada incrédula, se aproximando um passo.

 – Infelizmente – ele disse e Jimin concordou, esperando que ele se aproximasse mais – Pensando bem, nada me garante que você não seja um serial killer ou um psicótico perseguidor de alfas indefesos.

 Jimin o olhou apenas uma vez antes de gargalhar alto, tampando os lábios ao perceber que exagerara. Jungkook não pôde desviar a atenção dele, especialmente quando – ainda com as bochechas rosadas do riso – ele o olhou novamente.

 – Acho que vamos ter que arriscar, não é?

 E tudo o que o alfa fez foi assentir, pedindo permissão antes de tomar o braço de Jimin com suas mãos em um esforço para se aproximarem ainda mais, evitando a chuva. Jimin usava um suéter lilás por cima de uma camisa social branca, cujas golas eram vistas dobradas por cima do suéter. O jeans claro delimitava as coxas fartas e o tênis branco já tinha respingos da chuva, assim como a bolsa tira colo. A um sinal mudo, desceram juntos da calçada, caminhando em passos apressador até o fim da rua, em direção à claridade da avenida. Foi nesse andar de passos síncronos que Jungkook notou: Jimin cheirava a vermelho.

 Não era algo que se pudesse descrever, Jungkook acreditava que seria diferente para cada um, mas foi ao que ele associou. Podia notar as notas açucaradas do ômega, mas havia um teor cítrico que o fez lembrar irremediavelmente ao cheiro de um red velvet fresquinho saindo do forno. O aroma lhe causava uma estranha sensação de tranquilidade, aquela paz com pitadas de felicidade que se sente ao adentrar uma cafeteria e receber seu pedido. O fez suspirar.

 A avenida enfim chegou, colorida pelas faixadas de neon e movimentada pelos pedestres que tentavam fugir da chuva. Eles se abrigaram sob um toldo vinho de um restaurante recém-aberto e se encararam em um questionamento que Jimin respondeu primeiro.

 – Eu vou para lá – apontou para direita e Jungkook acabou sorrindo.

 – Eu também.

 Sua resposta foi o sorriso de Jimin, doce. Era cada vez mais difícil separá-lo da associação que fizera com o bolo. Ainda juntos, unidos pelos dedos de Jungkook no braço de Jimin, caminharam em silêncio pela calçada parcamente coberta. O ômega começou a desconfiar que estava sendo seguido quando Jungkook nada mais falou, caminhando ao seu lado como se decidido a acompanha-lo até seu destino.

 – Ahm... Jungkook? – chamou e o alfa murmurou para que ele continuasse, sem desgrudar os olhos das prováveis poças que poderiam encharcar ainda mais as botas escuras que usava.

 – Quando precisar continuar para outro lado, pode me avisar que eu dou um jeito de chegar.

 O alfa pareceu confuso por apenas um instante antes de descer os olhos até Jimin. Atento para não tropeçar, o ômega não percebeu que estava sendo avaliado, mas ouviu o suspiro que Jungkook soltou.

 – Não estou te perseguindo, Jimin. Não precisa se preocupar – apesar de tudo, a voz era calma. Jungkook tinha consciência da má fama que sua casta levava e nunca culparia Jimin por desconfiar de um alfa que acabara de conhecer. Não era exatamente sua culpa, mas era um estigma ao qual estava fadado a conviver desde que nascera do jeito que era.

 Foi a vez de Jimin suspirar, assentindo.

 – Tudo bem – e quando ele disse, Jungkook não teve certeza se ele ainda falava consigo ou com ele mesmo.

 Os passos continuaram se mimetizando até que Jimin parou na frente de um estabelecimento rústico e organizado, luzes calmas e alaranjadas pareciam tornar o ambiente interno aconchegante e as janelas amplas mostravam mesas sendo lentamente ocupadas com o início do atendimento noturno. Ao fundo, um balcão de madeira mostrava um bar repleto de opções em vidros bonitos e, mais à esquerda, a parede se abria em tijolos laranjas enfeitados por quadros decorativos. Na frente do espaço diferenciado, um diminuto palco negro era organizado com um banquinho e um tripé para microfone, a estática podendo ser escutada mesmo do lado de fora. Aliviado por enfim estar às portas de seu destino, Jimin olhou agradecido para Jungkook e se confundiu ao ver que ele sorria.

 Um sorriso grande e lotado de dentes. Adorável como a pintinha que se fez visível abaixo do lábio inferior, que Jimin não pôde deixar de reparar ser mais fino do que o superior.

– Era para cá que você estava vindo? – Jungkook questionou e Jimin, ainda confuso tanto pela pergunta quanto pelo impacto da beleza dele vista de tão perto, assentiu.

 – Era sim, por que?

 Jungkook resguardou as palavras ao apontar para um cartaz colado na porta do bar. Jimin fechou os olhos e soltou o ar. Óbvio, pensou. A case atravessada no peito de Jungkook deixava claro que ele seria a atração da noite anunciada no cartaz que, por incrível que pareça, o próprio Jimin havia impresso e colado no estabelecimento.

 – Que coincidência, não?

 A voz dele ficara mais baixa e mais próxima, fazendo um calafrio inconveniente tomar Jimin. Ele o olhou mais uma vez, sem saber exatamente o que dizer até que a porta se abrisse pelo lado de dentro, revelando um Hoseok esbaforido. O que não era de todo uma surpresa.

 – Aí está você! – foi o que ele disse, puxando Jimin pelo braço – Está uma loucura aqui com só Taehyung e eu para organizarmos as coisas do cantor e atender essa gente toda. Sábados não são dias para chegar atrasado, Park Jimin.

 A verdade era que o palco já estava arrumado e um Taehyung sorridente atendia todos que chegavam até o balcão para pedir, já que apenas duas mesas estavam ocupadas uma vez que o bar acabara de abrir. Jung Hoseok, apesar de um caloroso amigo, sempre fora o mais desesperado deles três. Havia iniciado uma sociedade com Taehyung há pouco mais de três anos, expandindo o bar aos poucos enquanto conquistavam clientela pela qualidade dos serviços. Jimin era o amigo do ensino médio que havia se arriscado na universidade, mas abandonara a advocacia no segundo ano da faculdade para trabalhar com os melhores amigos. Uma vida mais livre e desimpedida, como ele mesmo. Essas tinham sido suas palavras, não tão bem aceitas por sua mãe.

 – Hobi, respira – foi o que pediu e acabou rindo quando o amigo o obedeceu – Desculpe o atraso, não estava esperando essa chuva.

 – Eu entendo – o dono de cinquenta por cento do bar acabou dizendo, antes de olhar preocupado para o relógio que ostentava no pulso – Acha que o tal do Jungkook vai ficar preso por causa da chuva também?

 Jimin abriu os lábios, ligeiramente constrangido pelo amigo, mas um pigarro os interrompeu, fazendo Hoseok prestar atenção em Jungkook pela primeira vez.

 – Boa noite. Eu sou o tal do Jungkook – o alfa disse com um sorriso simpático e Jimin se compadeceu quando viu o queixo de Hoseok cair.

 O beta tinha o cheiro da erva-cidreira e o maior coração que Jimin conhecia. Não atoa, Kim Taehyung, um terço daquele trio, havia caído de amores por ele. Brigado com a família desde então, o alfa que cheirava a licor de chocolate sempre fazia questão de lembrar que eles eram tudo o que ele precisava. A verdadeira família era aquela que não abandonava, palavras dele. A sociedade arcaica, Jimin às vezes pensava, influenciava em muito além do medo de andar sozinho na rua. 

Tudo porque só o que viam em Hoseok era o estigma dos betas, não importavam suas qualidades.

 – Ele me deu uma carona até aqui – Jimin disse, lembrando-se então de fechar o guarda-chuva para devolvê-lo ao cantor da noite – Obrigado, inclusive.

 – Não foi nada – o alfa pegou o objeto de volta – E foi você quem me deu carona, esqueceu?

 Jimin ficou um pouco admirado com o bom humor dele, sorrindo abestalhado ante o olhar analítico de Hoseok. Pigarreando, o beta chamou a atenção deles de volta e sorriu polido para Jungkook.

 – Obrigado por ter vindo mesmo com esse tempo ruim, Jungkook-ssi – disse e viu o alfa negar como se não fosse nada demais – Por favor, pode ir para o palco quando quiser. E se precisar de alguma coisa é só chamar a mim, ao Taehyung ou ao Jimin aqui.

 Jungkook assentiu agradecido e, com um último olhar ao ômega, seguiu até o palco improvisado. Jimin não notou que suspirava até ser atingido pelo aroma de amarula quando Taehyung passou os braços por seus ombros.

 – Acho que meu Chimmy finalmente está apaixonadinho – alfinetou e, constrangido, Jimin limpou a garganta antes de se afastar na direção do bar.

 – Um lunático esse Kim Taehyung, senhoras e senhores.

 E enquanto Hoseok e Taehyung riam e voltavam a seus afazeres, Jungkook os observava. O violão escuro na mão e os olhos negros acompanhando os movimentos de Jimin. Ele pareceu perceber, pois não se assustou ao virar os olhos em sua direção e percebê-lo encarando. Na ínfima distância que se abria entre os dois, algo aconteceu

Foi como despertar, mesmo que não percebessem que estavam dormindo. Paralisados, sentiram como se perdessem o controle dos próprios corpos e suas consciências fossem parcialmente tomadas pelos lobos que habitavam seus interiores. Numa realidade própria, os focinhos se ergueram, como se só então reconhecessem a presença um do outro. E Jimin não teve medo. O lobo de Jungkook era gigante, alto e forte em uma pelagem cinza escura pontuada por olhos verdes como duas esmeraldas. Para Jungkook, nada no mundo se compararia ao quão adorável o lobo branco de Jimin era. Sentado nas patas traseiras, ele o olhava quase curioso, os olhos brilhando em dourado como ouro derretido. O lobo de Jungkook caminhou até o dele, o focinho reconhecendo o cheiro de Jimin enquanto rodeava o lobo ainda sentado, sem demonstrar qualquer desconforto pela proximidade alfa. Foi um pequeno espasmo que quebrou o torpor em que se embrenhavam em silêncio, o cotovelo de Jungkook acertando o tripé e causando uma microfonia que incomodou à audição alheia. Jimin sacudiu a cabeça e antes que o alfa pudesse olhá-lo de novo, já havia fugido para o banheiro dos fundos.

 Bufava enquanto encarava a água fria escorrendo por seus dedos, lavando o rosto com fúria mesmo no tempo ameno do outono que já chegava ao fim. Não queria pensar no que tinha acabado de acontecer, contos de fada sendo barrados de voltarem à sua mente naquele momento. Até que ele ergueu o olhar. Olhando-o de volta, seu reflexo tinha os fios loiros umedecidos pela lavagem do rosto, as bochechas coradas pelo o que tinha acabado de acontecer, e no lugar das írises castanhas, o dourado de seu ômega se revelava em todo o seu esplendor.

 Jimin tremeu, amedrontado por perceber o que queria continuar negando por mais um tempo: havia sofrido um imprinting pelo alfa que acabara de conhecer. Seu lobo se conectara ao dele e encarando o próprio reflexo, Jimin se perguntou se estaria ficando louco quando, ao invés da forma humana, viu o lobo branco lhe encarando de volta.

 Nós o queremos.

 – O que? – balbuciou, o coração desenfreado palpitava como se ele acabasse de correr uma maratona.

 O alfa. Ele é nosso, Jimin.

 Jimin sentiu o estômago revirar, como se atingido com força demais pelo sentimento que transbordava de seu lobo. Nunca fora possessivo em nenhum de seus relacionamentos, por mais apaixonado que estivesse. Mas seu lobo também nunca mostrou qualquer satisfação pelos lobos alheios. Daquela vez, no entanto, sem ao menos tocar Jungkook propriamente, ele despertara e quase lhe ordenava para que não o deixasse escapar.

 – É loucura – murmurou, esfregando o rosto e quase enxergando quando seu lobo sorriu complacente.

 Não é. E se parar se parar de ser tão bobo, vai notar que nós já somos dele também.

A frase o deixou confuso e surpreso, fazendo-o afastar as mãos dos olhos apenas para reparar que seu reflexo voltara ao normal, assim como seus olhos. Bufou, tentando arrumar os fios antes que ouvisse a porta ser aberta novamente.

 – Chimmy, o que... – Taehyung arregalou os olhos quando entrou as imediações do banheiro, o semblante inocente de Jimin subindo ao seu rosto no momento exato para perceber o amigo cobrir o nariz com a palma, escondendo que as presas ameaçavam crescer.

 – Tae? – questionou confuso, mas tudo o que o alfa fez foi apertar os olhos e estender a outra palma em sua direção, pedindo silenciosamente que ele não se aproximasse.

 – Seu c-cio está próximo? – questionou, dando um passo para trás. As sobrancelhas de Jimin franziram.

 – O que? Não!

– Meu deus, o seu cheiro – Taehyung cambaleou para trás, buscando a gola da própria camisa para tampar a boca e o nariz – Vou pedir para Hoseok vir. Eu não posso...

 E assim partiu, sem mais nada dizer. Jimin chegou a recalcular seu ciclo, mas como uma bigorna, a compreensão o atingiu. Seu lobo estava aflorado por causa de Jungkook, era óbvio que seu cheiro se tornaria mais intenso. 

 Hoseok o encontrou encolhido contra a parede mais distante do banheiro, tentando suprimir a própria existência para que ninguém o achasse. O beta se compadeceu, agachando-se a sua frente e o puxando para um abraço.

 – Está tudo bem, Minnie – murmurou, as mãos gentis subindo e descendo pelas costas musculosas – É raro, mas essas coisas acontecem.

 – Como você sabe? – Jimin questionou, realmente surpreso ao se separar minimamente de Hoseok. Erva-cidreira parecia estranhamente calmante, assim como o sorriso morno que ele abriu ao ajeitar seus fios rebeldes.

 – Você sabe que sou um romântico incorrigível que sempre acreditou em contos de fadas, não é? – Jimin acabou sorrindo – E Jungkook também precisou sair para pegar um ar.

 À simples menção do nome dele, Jimin se encolheu ainda mais contra a parede, sentindo seu corpo tremer. Era ligeiramente frustrante e assustador ter se tornado tão desejoso da presença de alguém que sequer conhecia.

 – Eu não queria que isso tivesse acontecido – confessou e Hoseok o acarinhou o dorso da mão, paciente.

 – Eu imagino o quanto deve ser assustador – não era como se pudesse dizer a ele para ignorar Jungkook. Seu lobo sempre chamaria pelo dele agora que se encontraram, mas ambos tinham todo o direito do mundo de tirarem o próprio tempo para pensar no que aquilo significaria – Jungkook parece um bom alfa, tenho certeza que você percebeu. Fico feliz que os deuses tenham o escolhido para ser seu par – e quando os olhos de Jimin o encararam quase suplicantes, Hoseok riu e completou – Mas minha casa sempre estará de portas abertas caso você queira fugir dele, ok?

 Jimin fungou, mesmo que não chorasse, se sentindo estranhamente sensível pelas palavras do amigo. A junção de tudo o que acontecera nos últimos minutos parecia sobrecarregá-lo.

 – Ok – disse por fim, apoiando-se em Hoseok para levantar – Como está meu cheiro?

 Hoseok franziu o cenho, como se avaliasse o ar.

 – Menos do que quando Taehyung entrou aqui, mas ainda forte – Jimin grunhiu e Hoseok o abraçou pelos ombros – Relaxa. É como um pré-cio. Se quiser, sabe onde fica os supressores.

 Jimin suspirou. Não gostava de tomar remédios que mexiam com seus hormônios, mas era simplesmente impossível trabalhar em um bar aberto a todas as castas quando seu cheiro parecia atrair alfas ao seu pescoço como abelhas ao pólen. Agradecendo à Hoseok, buscou a caixinha transparente que deixava guardada na mesa do escritório do amigo, tomando um comprimido e tentando recuperar a compostura antes de voltar ao salão principal. Não teve coragem de olhar na direção do palco, os olhos baixos enquanto se concentrava em secar os copos que Taehyung lavara antes de sua chegada. Procurou o amigo com os olhos e o encontrou atendendo mais clientes que acabavam de chegar. Ao olhar em sua direção, Taehyung sorriu compreensivo. Jimin soltou o ar. Só queria que aquela noite acabasse.

 – Jimin? – o copo escorregou de sua mão e Jimin o impediu de se espatifar no chão com movimentos desastrados para prendê-lo contra a bancada interna. As mãos tremiam quando ergueu os olhos na direção de Jungkook. O alfa parecia perdido, gotículas de suor eram visíveis na testa e os olhos, febris em sua direção – Nós podemos conversar?

 O lobo de Jimin estava em puro regozijo enquanto o de Jungkook o observava com certo carinho. Jimin não sabia o que dizer, apertando o copo de vidro entre os dedos como se tentasse rachá-lo. Mas então, o lobo de Jungkook se aproximou, calmo como se não quisesse assustá-lo – mesmo que seu próprio lobo já estivesse tão eufórico com sua presença. Ele sentou distante de Jimin, apoiando a cabeça nas patas dianteiras em uma posição indefesa, nenhum traço de hostilidade. Foi quando Jimin entendeu que ele não avançaria se não o permitisse.

 Por favor, me deixe ir. Por favor, Jimin.

 Seu lobo gania, quase em desespero, querendo se afundar na pelagem do de Jungkook. Jimin engoliu em seco, as palavras parecendo dificultosas, mas antes que pudesse responde-lo, a voz de Hoseok encheu o bar.

 – Boa noite e bem-vindos ao Eclipse – palmas e assovios fizeram o anfitrião sorrir contra o microfone. Jimin e Jungkook suspiraram, ambos encarando o beta enquanto tentavam controlar o próprio coração – Como sabem, sábado é dia de show ao vivo e eu tenho a honra de chamar ao palco uma das vozes mais bonitas de Seul: Jeon Jungkook.

 Jungkook queria sorrir pelos elogios, pelas palmas e gritos. Mas tudo no que conseguia pensar era em Jimin, ainda o encarando incerto do outro lado do balcão. Suas mãos formigavam na ânsia de tocá-lo, seu lobo grunhia reclamando-o como dele. Mas mesmo assim, o manteve distante, acuado até Jimin lhe dar permissão. Com um suspiro derrotado, começou a se afastar, mas foi impedido quando dedos hesitantes contornaram fracamente seu pulso. Foi como colocar fogo em uma linha de pólvora que culminava na explosão de seu coração e olhar para Jimin apenas maximizou os efeitos que ele lhe causava: os olhos se refletiram em verde quando notou os dele dourados. Apenas por um segundo, mas ambos perceberam.

 – Depois do show – foi tudo o que ele conseguiu dizer, ainda parecendo acuado. Mas foi o suficiente para que Jungkook abrisse seu sorriso mais sincero e levasse os dedos que prendiam seu pulso até os lábios em um beijo simples e cavalheiresco que fez as bochechas de Jimin esquentarem.

Jungkook era gracioso e másculo, Jimin notava, e foi apenas a ele que dedicou sua atenção. Da forma como ele sentava no banco até a maneira que ele dedilhava os acordes no violão eram duais. Ele exalava a forte essência alfa, dominadora e intensa, que revirava seu estômago só de olhar. Mas então ele começava a cantar, de olhos fechados, e banhava a tudo com o timbre doce e sensível. Parecia derramar a alma em cada letra e Jimin teve que admitir o quanto ela era bela. A única coisa que o dispersou da presença de Jungkook foi o som dos copos se estilhaçando contra o chão quando uma onda de dor atingiu Taehyung sem qualquer aviso.

 Jimin se impulsionou a ajuda-lo, mas antes que desse qualquer passo, o cheiro forte de licor o atingiu e seu próprio corpo se contorceu, enjoado. Era sufocante demais e piorou quando Taehyung, inconscientemente, começou a impor a própria presença. Era uma noite atípica aquela, Jimin pensava. Taehyung nunca viria trabalhar se estivesse perto do cio, por isso imaginou que o encontro com seu próprio cheiro mais cedo o tivesse desestabilizado.

 Os clientes saíam em um fluxo apressado enquanto Taehyung tentava se manter de pé. A cabeça de Jimin latejava, seus músculos doíam pela forma que Taehyung impunha seu alfa, oprimindo as presenças ômegas do bar. Quando Jimin achou que desmaiaria, um calor confortável o envolveu. Braços quentes e uma pulsação que pareceu melodiosa quando o peito forte foi de encontro ao seu ouvido pela posição do abraço.

 Acima do licor e acima da presença de Taehyung, Jimin sentiu o frescor do aroma de café.

 Jungkook o cercou de maneira protetora, mas sem força para não espantá-lo. Jimin, mesmo antes de entender o que acontecia, se colocava na ponta do pé, em busca do pescoço do alfa. As glândulas ali liberavam o mais concentrado de seu aroma e Jimin suspirou aliviado, apertando o pano da camisa de flanela entre os dedos quando buscou apoio. O ar quente contra a pele de Jungkook o arrepiou, mas ele se conteve em apoiar as mãos nas costas de Jimin.

 – Você está bem? – questionou, baixo. O cheiro açucarado parecia dispersar a náusea que lhe acometia por estar no mesmo cômodo que um alfa no cio. Jimin assentiu e Jungkook notou a movimentação de Hoseok, que abraçava e amparava Taehyung em direção à porta.

 – Minnie – ele chamou, preocupação na voz e um pedido mudo.

 Ainda grudado no peito de Jungkook, Jimin prendeu a respiração e os olhou. Culpou-se pela tez pálida e sôfrega de Taehyung, os lábios sujos de sangue quando fora incapaz de controlar o despontar das presas. Jimin apenas assentiu, autorizando que eles fossem embora e pegando as responsabilidades de organizar o restante do bar. E assim eles partiram, levando a maior parte do odor de licor com eles. Unidos, os últimos ocupantes do bar continuaram em silêncio até que Jungkook o tocou nos braços, separando os corpos minimamente para buscar os olhos de Jimin.

– Está melhor? – questionou, genuinamente preocupado. Jimin assentiu.

 – Acho que se abrirmos a janela vai arejar mais rápido.

 Jungkook concordou, mas algo parecia essencialmente errado quando se afastaram para que fizessem o sugerido por Jimin. Suspiraram juntos contra a brisa limpa e fresca da noite, o ar condensando na frente dos rostos e os lembrando do clima frio daquele sábado. A troca de olhares deixou registrada a necessidade de conversas futuras, mas por hora, se contentaram em encher as caixas de música com acordes aleatórios de uma playlist de Jimin enquanto limpavam o bar antes de fechá-lo.

 A última coisa que fizeram foi fechar novamente as janelas, apagando as luzes até que sobrasse apenas os enfeites de neon do bar e do teto oferecendo claridade. O momento inevitável se tornava cada vez mais próximo, e foi Jimin quem convidou o alfa a dividir uma mesa no breu do estabelecimento.

– Então – começou, mas não sabia como terminar.

 – Então – Jungkook o imitou e eles acabaram rindo da situação embaraçosa. Jimin suspirou.

 – Eu não sei o que fazer – foi sincero e os olhos concentrados de Jungkook o deixaram desnorteado, mesmo que apreciasse da atenção – Nunca imaginei que viveria isso.

 – Isso faz dois de nós – Jungkook disse com o mesmo sorriso tranquilo que o vinha oferecendo desde o começo da noite. Jimin desejou poder lidar com as coisas da mesma forma que ele – Mas posso ser sincero? – Jimin assentiu e Jungkook desviou o olhar para mesa, em um claro gesto de constrangimento – Eu já estava interessado em você desde antes do imprinting, Jimin.

 O ômega engoliu em seco, mas Jungkook notou que ele mordia o lábio para prender um sorriso que se abria sem permissão. Passado o torpor do primeiro impacto, Jimin conseguia analisar com clareza o que acontecia. Jungkook não ameaçava o marcar ou lhe empurrava a um casamento imediato, como sabia que acontecia em certos casos de impriting. Não. Mesmo seus lobos já atados um ao outro, ele lhe oferecia a normalidade de ir com calma. E Jungkook era o cara em quem fixara os olhos desde que o vira entrar no ônibus, que o encantara com sua sutileza desde antes da chuva forte que agora se dispersava para o sul da cidade, que o surpreendera com uma voz tão doce quanto parecia seu coração. Quase podia visualizar seu lobo o arrastando na direção de Jungkook pelos dentes, o que seria cômico se não fosse trágico.

 Um suspiro.

 Um pequeno sorriso.

 Jimin assentiu.

 Os olhos de Jungkook dobraram de tamanho.

– É sério?! – Jimin riu largo da surpresa e felicidade genuínas de Jungkook. O grande lobo cinza dava voltas agitadas no próprio corpo, eufórico pela possibilidade de aproximação. O lobo de Jimin, comportado, se aproximou alguns passos, poucos centímetros separando os focinhos. Jungkook engoliu em seco – Obrigado, Jimin.

 O ômega negou.

 – Eu também me interessei em você desde antes do imprinting, Jungkook – confessou, mesmo ante a vergonha. O que não era nenhum segredo entre os dois, mas massageava genuinamente seus egos e mantinha os sorrisos nos lábios.

 O sorriso de Jungkook, Jimin percebia, ainda seria a causa de seu infarto.

 – Sabe, eu conheço uma cafeteria que fica aberta até tarde – ele propôs então e Jimin se ergueu, pendurando a bolsa tira colo em um ombro.

 – Que coincidência. Eu adoro café – Jungkook não percebeu malícia no comentário, mas riu baixinho enquanto o acompanhava até as portas duplas de vidro, esperando que ele trancasse tudo antes de se virar em sua direção novamente – Me mostre o caminho.

E mesmo sem chuva, Jimin passou as mãos miúdas pelo braço de Jungkook como ele havia feito naquela mesma noite mais cedo. Os sorrisos foram cúmplices e sentiram que aquela noite estava apenas começando quando começaram a caminhar.

E nenhum dos dois sabia que aquele era apenas o primeiro dia do resto de suas vidas.

 


Notas Finais


É isso, galeris!
Primeiro de tudo o meu IMENSO OBRIGADA ao @JikookLandsPjct por sempre me salvar abrindo vagas para essa desesperada que quer as fics com a cara bonitinha sheuhsue e pelo design de @Jugguuk que PELO AMOR DE DEUS OLHA QUE TRABALHO MAIS LINDO. Eu joguei as referências mais aleatórias e a capa saiu mais linda do que eu imaginava :') obg de coração <3

Bom, a short vai ter 4 partes +1 bônus e cada capítulo contará o mesmo dia, só que em anos diferentes para vcs acompanharem o desenrolar do relacionamento dos jikookinhos :3 ah, e as postagens serão dia sim/dia não

Obrigada a quem nos deu uma chance, vc ter lido até aqui me deixa mt feliz ^^
Comentem oq acharam, se puderem. Faz toda a diferença do mundo pra mim *-*
Até o próximo ~
XOXO


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