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História Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Consequências


Escrita por: crownprincess

Notas do Autor


Oi gente! Boa leitura pra vocês, e após o término do capítulo, leiam as notas finais, ok?

Capítulo 17 - Consequências


Fanfic / Fanfiction Um Futuro Escrito em Gelo e Fogo - Consequências

O duro golpe da revelação fez com que Lyanna ficasse atordoada, sem saber ao certo o que fazer. Ela apenas correu, indo em direção ao seu quarto para sair do meio da balbúrdia que bagunçava ainda mais seus pensamentos já embaralhados. Os rostos das pessoas que encontrava ao longo da caminhada pelos corredores não passavam de borrões e suas bochechas tremiam e esquentavam, fazendo-a se dar conta de que estava chorando; passou a palma da mão sobre os olhos, tentando abafar as lágrimas que escorriam, mas foi inútil, pois já havia desmoronado antes mesmo de chegar aos aposentos que ocupava.

Tirou a estúpida coroa de flores da cabeça e jogou-a no chão, sentindo raiva das lembranças que o objeto lhe causava. Parou em frente ao espelho e encarou o reflexo, procurando algum inchaço na região do tórax, mas era incapaz de ver alguma coisa. Lyanna passou a mão sobre o ventre e enfim pôde sentir algo, uma pequena e estranha protuberância que não costumava estar ali, tão imperceptível que havia passado em branco por todo esse tempo – mas agora ela estava atenta, conseguia enxergar o que seus olhos se negaram a ver.

Teve vontade de se jogar no chão e espernear como uma garotinha, mas sabia que não podia fazer aquilo. Lyanna teria que ser racional e pensar em uma maneira de lidar com a situação, e ficar desesperada definitivamente não ajudaria... Mas mesmo assim, as lágrimas rolaram por seu rosto, e o gosto salgado do pranto tornava-se amargo em sua boca. Caminhou até a cama e sentou-se à beira do móvel, tentando se recuperar do impacto que a descoberta lhe causara. Estava esperando uma criança, um filho de Rhaegar, uma ideia que lhe parecia tão doce, mas ao mesmo tempo tão terrível! Como o senhor seu pai e os irmãos reagiriam ao descobrir que Lyanna não era mais uma donzela e havia entregado sua virgindade para um homem casado? Quantas pessoas a chamariam de prostituta ao tomarem conhecimento do ocorrido?

Sua cabeça girava mais ainda ao pensar naquilo, e a tontura e mal estar pioraram ao imaginar o futuro de seu filho – se é que haveria algum futuro para a criança. Em suas visões, Lyanna não testemunhara uma palavra sequer sobre um filho seu, o que indicava que provavelmente a gravidez não vingaria, ou... Ou talvez, o bebê em seu ventre fosse o primeiro sinal de que talvez ela conseguiria alterar o pesado fado que o destino traria para aqueles que ela tanto amava; talvez ela lograsse em desobrigar-se daquele maldito arranjo que seu pai havia feito com Robert, e então poderia ser livre para ir para onde quisesse, ter a criança em paz em algum lugar calmo e tranquilo.

Lyanna então percebeu que, mais do que nunca, precisaria agir. Tinha que descobrir o que aconteceria para poder encontrar alguma brecha que lhe permitisse impedir que toda tragédia que galopava em direção a sua família. Levantou-se e saiu em disparada pelo castelo, sem se preocupar com as pessoas que lhe olhavam de maneira enviesada, cochichando coisas a seu respeito; ignorou as vozes que lhe chamavam quando atravessou o jardim apinhado de pessoas e seguiu até o coração do bosque, onde o grande e imponente represeiro jazia imponente.

Quando deparou-se com a árvore, um frio instalou-se em seu ventre, algo novo e diferente de qualquer outro que havia sentido na vida: medo, um sentimento que Lyanna Stark de Winterfell raramente sentia, mas que agora se emaranhava em suas entranhas. Lyanna hesitou antes de colocar a palma da mão sobre a casca branca da madeira, temendo ver algo que lhe trouxesse sofrimento e aflição, ou que acabasse de vez com todas as esperanças de ter um futuro. Temeu principalmente pela criança cuja existência ignorava instantes atrás, mas que querendo ou não, era sua; mas Lyanna teria que ser corajosa, e antes que a covardia se apossasse dela, inclinou seus dedos em direção ao toque ríspido da madeira.

 

***

 

A visão de Sam estava cansada e embaçada, e ele já não conseguia sequer enxergar a pena que estava em sua mão. Desde que chegara na Cidadela meses atrás, seu tempo era gasto copiando os escritos de meistres que, em sua grande maioria, já haviam virado pó assim como os papéis desgastados pelo tempo e pelas traças que tentava recuperar. Mas até aquele momento, não descobrira nenhuma informação útil para ajudar a derrotar os Outros, apenas se via preso àquelas paredes e lamentava profundamente sua ausência em eventos grandiosos, como a vitória de Jon sobre os Boltons e sua coroação como Rei. Sam ficaria felicíssimo em poder documentar a ascensão do melhor amigo, que de mero bastardo subira para o posto mais alto que um homem podia chegar em Westeros... Enquanto os Tarly iam de mal a pior.

O próprio Arquimeistre Ebrose lhe deu a notícia sobre as execuções do pai e do irmão pela mão de Daenerys Targaryen, e sentiu-se mal por ser incapaz de lamentar a morte deles. Claro, sentia muito pela mãe e por suas irmãs que deveriam estar sofrendo pelo ocorrido, mas depois de tudo que aconteceu, Sam sentia sua empatia esvaziar em relação aos mortos, principalmente por saber que seu pai se aliara com os Lannister.

Suspirou pesadamente, cansado pelo esforço repetitivo que tinha que fazer e notou que a vela sobre a mesa trepidou quando uma figura magra adentrou a pequena saleta da biblioteca. A pele escura de Alleras parecia ficar em contraste com o alaranjado das chamas.

― O que está fazendo aqui? ― Sam perguntou para o rapaz, tentando manter o tom de voz o mais baixo possível.

― Vim checar se ainda não se cansou de fazer todo este esforço inútil. ― o acólito lhe respondeu, enquanto sentava-se no banco ao seu lado ― Mas vejo prefere copiar o conhecimento alheio do que criar o próprio.

Alleras arqueou a sobrancelha em claro desafio, o que deixou Sam irritado.

― Não sou Roone, Mollander ou Armen para que me torre a paciência. Você deveria ir para a estalagem e me deixar em paz!

― Você tem tanto potencial Samwell Tarly, e me deixa triste vê-lo sendo desperdiçado desta forma... Sabe muito bem que não aprenderá nada copiando estes pergaminhos inúteis que Arquimeistre Ebrose lhe empurra. Aprenderia muito mais sobre o que deseja se conversasse com Marwyn.

Desde que chegara em Vilavelha, Alleras cercava Sam e tentava fazê-lo virar um aprendiz de Arquimeistre Marwyn; mas o homem tinha tanta má fama entre os outros meistres que o rapaz sentiu-se intimidado, quase impedido de sequer trocar uma palavra com o velho homem. Contudo, depois de meses e meses servindo de copista para Ebrose, Sam se perguntava se os conhecimentos ocultos de Marwyn não eram exatamente o que ele buscava ali.

― O que o Arquimeistre sabe sobre o que desejo? ― o rapaz perguntou, desconfiado.

― Ele sabe tudo. Não é sem razão que o chamam de Mago. ― Alleras respondeu.

Sam levantou-se da mesa, e mesmo que as pernas bambeassem, um lampejo de coragem percorreu seu corpo.

― Me leve até ele.

Alleras sorriu, e deixou os dentes alvos como pérolas à mostra. O acólito levantou-se e encarou Sam.

― Siga-me, Tarly.

O jovem não esperou a resposta de Sam para sair da saleta da biblioteca onde os dois estavam enfiados. Alleras era rápido como uma serpente, e Tarly tinha certa dificuldade em acompanhá-lo, pois seus passos eram estreitos e desajeitados.

Os rapazes passavam pelas vielas da Cidadela o mais discretamente possível, evitando atrair atenção indesejada. Mesmo que Sam não soubesse qual era o plano de Alleras, tinha certeza que era melhor que ninguém soubesse que ele estava envolvido.

― Vamos caminhar por muito tempo? ― Tarly perguntou, ofegante pelo esforço que lhe tirava o ar.

Alleras não o respondeu e apenas apontou para uma porta que estava a poucos passos de distância.

Pararam em frente à saleta, e então Alleras bateu na madeira de forma ritmada, como se fosse um código de conhecimento de poucas pessoas. Não demorou muito para que a porta fosse aberta e Marwyn aparecer para recepcionar os rapazes.

― É bom finalmente vê-lo, Tarly. ― o arquimeistre sorriu e deixou seus dentes sujos e avermelhados à mostra ― Sabia que conseguiria trazê-lo para o nosso lado, meu caro Alleras.

O homem fez um gesto, convidando os dois rapazes para entrarem no pequeno cômodo. Sam surpreendeu-se com a bagunça do quarto, cujos móveis sujos eram cobertos por pilhas e pilhas de pergaminhos que pareciam que iriam desintegrar-se a qualquer momento.

― Alleras me disse que sabe o que desejo e... Bem, deduzi que poderia me ajudar a conseguir. ― Sam disse, sem ter certeza de que estava fazendo a coisa certa.

― Eu sou a única pessoa neste maldito lugar que pode lhe dar o que deseja, Tarly. ― Marwyn lhe respondeu ― Os outros são apenas ignorantes que fecham seus olhos para coisas que não podem ser explicadas pelo senso comum.

Sam sabia que por “outros”, Marwyn se referia aos meistres.

― Então sabe que...

― Que veio até aqui para encontrar uma forma de parar o avanço do exército dos mortos e impedir o Rei da Noite de conquistar Westeros? Que tipo de arquimeistre eu seria se não soubesse disto? ― o homem lhe perguntou, como se toda a situação fosse algo muito óbvio ― Sei que é amigo do antigo Senhor Comandante da Patrulha da Noite, o mesmo que agora usa a coroa do Reino do Norte; sei também que ele é aliado de Daenerys Targaryen e possui a intenção de impedir que a Longa Noite se abata sobre a humanidade novamente.

Sam engoliu em seco as palavras de Marwyn. Como ele sabia de tudo aquilo?

― Sei que deve ser difícil para um rapaz como você ver seu amigo ascender tão alto e não estar perto para ajudá-lo, mas encontrei algo que se não for capaz de solucionar seus problemas, decerto servirá ao menos para aliviá-los. ― o homem continuou.

Marwyn apressou-se e foi rapidamente até a grande mesa empoeirada que ficava contra a parede do quarto e começou a vasculhar as pilhas de pergaminhos amarelados. Fuçou os papéis durante algum tempo, até que enfim retirou algo que fez seu rosto contorcer-se em um sorriso rubro.

― Tome. Leia isto. ― ele ergueu o documento em direção a Sam.

Sem demora, o rapaz pegou o pergaminho e pôs-se a lê-lo com atenção. Sentiu seus próprios olhos abrirem mais em mais em surpresa ao se dar conta do conteúdo que o antigo documento continha.

― Isto... Isto é sério? Se for... Pelos deuses, as chances de Jon contra o Rei da Noite aumentariam enormemente! ― o rapaz sentiu o coração acelerar e sua fala enrolar devido à excitação.

― Descobri a informação há alguns anos, mas não confio em nenhuma das ovelhas cinza para compartilhá-la. Contudo, você, Samwell Tarly, trouxe a oportunidade perfeita para que enfim isto saia das muralhas da Cidadela e atravesse o mundo.

― Quer dizer que posso ficar com isto? ― Sam ergueu a mão, sinalizando o pergaminho.

― É todo seu... Mas desde que me dê algo em troca.

Nada vem de graça nesta vida, o senhor seu pai sempre lhe dizia. E agora Sam sabia que era verdade.

― O que deseja?

― Desejo que parta imediatamente comigo e com Alleras. ― o arquimeistre lhe disse.

― Partir para onde? ― Sam indagou.

― Porto Real.

― Mas Daenerys Targaryen cercou a cidade, ninguém sai ou entra lá.

― As pessoas começaram a morrer de fome e a revoltar-se contra os leões, e a conquista do dragão não tardará a ser completa. ― Alleras, que até então mantinha-se calado, enfim falou.

― Ficaremos em alguma estalagem próxima a Porto Real, mas que também seja distante o suficiente para que não sejamos atingidos pela violência da guerra... O que importa é que estejamos por perto assim que Daenerys conseguir conquistar o trono que tanto deseja. Veja bem, antes de ela trazer os dragões de volta ao mundo, seria impossível tornar realidade o conteúdo deste pergaminho que você segura. ― Marwyn complementou.

O que o arquimeistre acabara de dizer tinha verdade, pois seria impossível conseguiriam realizar o ato descrito no pergaminho sem a Rainha Targaryen. Sam também sabia que Marwyn possuía em sua corrente o elo de aço valiriano – o que significava que tinha conhecimento profundo das artes mágicas – e que era conhecido pela cidadela como “o Mago”. E além do mais, urgência em resolver a questão e poder trazer alguma contribuição útil ao esforço de Jon de proteger a humanidade impedia que seus escrúpulos em relação à reputação de Marwyn pudessem ser um obstáculo à sua busca por formas de derrotar o Rei da Noite.

― Aceito sua condição, arquimeistre. Partiremos assim que o senhor decidir. ― Sam finalmente respondeu.

― Ótimo! Eu sabia que podia contar com sua ajuda e compreensão, Tarly. ― Marwyn lhe disse, visivelmente satisfeito ― Vocês podem ir agora, meus jovens. Organizem suas coisas, pois partiremos ao amanhecer.

― Mas já? Não seria mais prudente...

― Não temos tempo a perder, Sam. ― Alleras lhe cortou ― Agora venha, o arquimeistre precisa de tempo para decidir o que levar consigo em nossa viagem.

O outro rapaz agarrou Sam pelo pulso e o puxou para fora da saleta, batendo a porta atrás de si.

― Tenho que avisar Gilly que partiremos em breve. Ela precisa ter tempo para embalar as coisas do Pequeno Sam. ― Tarly disse.

Alleras lhe encarou de modo misterioso.

― Confesso que pensei que você teria mais resistência a ir embora daqui. ― Alleras disse ― Achei que Daenerys Targaryen seria a última pessoa que gostaria de encontrar, tendo em vista que ela foi responsável pela morte do seu pai e do seu irmão.

― Bem, não posso dizer que eu era próximo dos dois e que me importo com o que aconteceu com eles. Não fico feliz, mas também não me deixa triste o fato dos dois terem morrido, entende?

Sam sentiu-se envergonhado por dizer aquilo em voz alta e encolheu os ombros, retraído.

― Se qualquer pessoa sequer tentasse ferir minha família, eu enfiaria uma lâmina embebida em veneno engrossado de manticora em sua carne para que morresse da forma mais dolorosa possível. Mas acho que é a beleza da vida, não é? Sermos diferentes uns dos outros. ― um sorriso sinistro formou-se nos lábios de Alleras antes que ele desse as costas a Sam e começasse a caminhar casualmente pela pequena viela que dava acesso aos aposentos dos acólitos.

 

***

 

O continente de Westeros era demasiadamente frio para o seu gosto, Daenerys pensava; estava acostumada ao clima mais ameno de Essos, além de ter o azar de chegar à terra de seus ancestrais no início do inverno. As paredes de Pedra do Dragão lhe pareciam terrivelmente mais gélidas que o usual e o frio parecia atingir até o tutano dos seus ossos. A Rainha analisava minunciosamente a mesa esculpida no formado do continente até perceber que grande parte do território disponível – ou seja, aquele que os nortenhos não haviam reclamado para si – estava sob seu comando; mas faltava uma parte, a mais importante delas: a capital.

― Perdoe-me pela intromissão, Majestade. ― uma voz fina e melódica lhe tirou do torpor em que estava.

Ao virar-se, Dany pôde ver que se tratava de Varys, que se movia tão silenciosamente que podia passar despercebido se não tivesse chamado atenção para si.

― Sim, Lorde Varys?

― As frotas navais dos irmãos Greyjoy e das bastardas de Dorne estão a caminho e em breve se posicionarão para atacar a Baía da Água Negra. A Senhora Olenna também enviou um corvo para avisar que os soldados de Jardim de Cima estão prontos para quando for necessário atacar. ― ele disse, com uma face tão enigmática quanto uma esfinge.

― Ótimo. ― Dany respondeu, embora tenha se sentido estranhamente apática em relação às notícias ― Creio que meu Lorde Mão também esteja regressando das Terras Ocidentais com o meu novo exército.

― De fato, minha Rainha. Lorde Tyrion conseguiu converter grande parte do exército ocidental após conquistar Rochedo Casterly, e tenho certeza que este será o golpe de misericórdia à causa perdida de Cersei.

― Então é melhor que preparemos uma recepção para os Senhores Lannisters, não acha?

Pela primeira vez desde que o conhecera, Daenerys conseguiu ver o sentimento de confusão refletido nos olhos indecifráveis do Aranha.

― O que quer dizer com “Senhores”, Majestade?

― Falo de Lorde Tyrion e Lorde Jaime, é claro!

― Jaime Lannister não deveria estar marchado em direção à Muralha para se juntar à Patrulha da Noite? ― Varys indagou, tentando, contudo, fingir que não estava surpreso.

Daenerys começou a caminhar em direção à grande porta de madeira que dava acesso ao pátio exterior.

― Posso lhe garantir que o Regicida pagará por seus crimes, meu senhor... Mas decidi que isto acontecerá depois que ele prestar-me alguns serviços. ― ela respondeu, ainda em movimento e sem olhar diretamente para Varys  ― Pensei que tivesse conhecimento da minha mudança de planos, afinal não é o Mestre dos Sussurros?

A Rainha saiu da Câmara da Mesa Pintada antes que o eunuco pudesse lhe dar qualquer resposta.

 

***

 

Havia sido tremendamente prazeroso conquistar Lannisporto e Rochedo Casterly, uma sensação mais poderosa que foder mil putas, Tyrion tinha certeza disto. O gosto da vitória – e principalmente do fato de estar prestes a ser oficialmente o Senhor do castelo que pertencia a sua família há incontáveis gerações – ainda explodia em sua boca, assim como a capitulação daqueles que sempre zombaram de sua condição física. Claro que não fora uma conquista fácil e tampouco unânime, e houve aqueles que se negaram a reconhecê-lo como o Protetor do Ocidente e Daenerys como Rainha, mas nada que alguns dias nas masmorras e a tomada de herdeiros como reféns não fosse capaz de mudar. O pensamento mesquinho dos homens que tempos atrás seguiam o senhor seu pai seria dobrado, assim como seus joelhos, ele sabia bem.

Jaimie, por outro lado, não parecia estar em conformidade com a nova situação. Tyrion conseguia recordar-se com facilidade da expressão de descontentamento e frustração que tomou conta do rosto do irmão quando lhe deu a notícia de que Daenerys havia mudado de ideia e que ele não iria imediatamente para a Muralha como fora acordado antes. Tyrion estava tão no escuro quanto Jaime e não tinha noção do que Daenerys planejava com a súbita mudança de planos.

Mas os irmãos Lannister em breve saberiam o que a Rainha desejava. Após uma cansativa viagem, a comitiva das Terras Ocidentais finalmente chegou à Pedra do Dragão. Os homens desembarcaram rapidamente dos navios, e logo Tyrion e Jaime foram instruídos a aguardarem Daenerys na Câmara da Mesa Pintada.

― Devo me preparar para morrer? ― Jaime perguntou, enquanto encarava fixamente a pesada porta de madeira.

― Se a Rainha o desejasse morto, tenha certeza que já o estaria a muito tempo. ― Tyrion replicou ― Sua Majestade não costuma quebrar sua palavra, irmão.

Demoraram mais alguns minutos até que Daenerys finalmente aparecesse, escoltada por dois Imaculados.

― Perdoem-me a demora, meus senhores. ― ela desculpou-se rapidamente ― Devo dizer que estou feliz por vê-lo, Lorde Mão. O sucesso de sua empreitada nas Terras Ocidentais espalhou-se por Westeros como um lastro de pólvora, e o parabenizo e agradeço por isto. Mandei organizar um banquete no qual oficialmente lhe nomearei Protetor das Terras Ocidentais e Senhor de Rochedo Casterly.

― Não sei o que... ― as palavras escaparam da boca de Tyrion por um breve momento ― Obrigado, Majestade.

A Rainha assentiu discretamente e Tyrion pôde notar que ela de fato estava orgulhosa dele. Ver aquele sentimento estampado na expressão de Daenerys fez o Lannister sentir-se apreciado – o que era estranho, tendo em vista que poucas vezes sentiu-se de tal forma ao longo de sua vida.

Mas ao seu lado, Jaime não parecia tão confortável. O irmão pigarreou, tentando chamar atenção para si.

― Oh, Regicida. ― o tom de voz da Rainha tornou-se mais azedo ― Esqueci-me de você por um breve instante.

― Mão não esqueceu-se o suficiente para impedir que eu fosse para a Muralha me juntar à Patrulha da Noite de uma vez por todas... ― Jaime devolveu.

O semblante de Daenerys fechou-se e Tyrion soube que o irmão havia irritado a Rainha com sua insolência.

― Preciso que faça algumas coisas pra mim antes de cumprir a pena por seus crimes, Regicida.

― Precisa para...?

― Fará duas declarações durante o banquete que daremos em homenagem a Lorde Tyrion e sua conquista. A primeira é a repetição do que disse em Rochedo Casterly, que renuncia a todos os seus direitos sobre as possessões e títulos de sua família. ― ela interrompeu-se brevemente, como se analisasse o rosto do Lannister mais velho ― A segunda é que assumirá a paternidade dos filhos de Cersei e consequentemente a bastardia deles.

Daenerys havia raciocinado bem, Tyrion percebeu. O direito ao Trono que Cersei dizia possuir era através de seu laço de sangue com Joffrey e Tommen – mas se estes fossem declarados oficialmente como bastardos, a reivindicação de sua irmã se apoiaria em uma base inexistente. Foi então sua vez dele de sentir orgulho da perspicácia da Rainha.

― Todos já sabem disto. É mesmo necessário que eu faça uma declaração? ― Jaime tentou argumentar.

Extremamente necessário. ― a Rainha rebateu ― É isto que preciso de você no momento.

― “No momento”? Então precisará de mim em outras ocasiões?

― Discutiremos isto quando adequado e necessário. ― Daenerys dignou-se a responder ― Agora, se não se importa, eu gostaria de ter uma palavra em particular com meu Lorde Mão.

Jaime não disse nada, apenas andou até a saída da câmara, sendo escoltado por um dos Imaculados que acompanhava a Rainha. O outro fora dispensado, e então os dois estavam a sós.

― É uma ótima ideia fazer Jaime reconhecer a paternidade das crianças de Cersei perante todo o reino. ― Tyrion lhe disse ― De fato, um movimento bastante inteligente.

― Aprendi com o melhor professor. ― Daenerys sorriu discretamente e então sentou-se numa poltrona próxima à lareira.

O anão deu alguns passos e aproximou-se da Rainha.

― Quando atacaremos?

― Em algumas semanas. ― ela respondeu ― Apenas o tempo necessário para que todas as tropas se posicionem. Lorde Varys disse-me que há protestos, revoltas e tumultos em Porto Real graças ao bloqueio que estamos fazendo. O ambiente é propício para que Cersei seja destronada com pouca dificuldade.

― Se bem conheço a minha irmã, ela não se dará por vencida com facilidade. ― Tyrion suspirou pesadamente ― O que aconteceu enquanto eu estive fora?

― O usual. Nada de extraordinário ocorreu, apenas os preparativos de sempre.

― A calmaria antes da tempestade. ― o Lannister tentou fazer um gracejo ― E onde está o Rei do Norte? Não o vi desde que cheguei.

O sorriso leve que Daenerys exibia murchou e a expressão de seriedade – quase tristeza – fez-se presente.

― Está no subsolo do castelo, minerando vidro de dragão para suas aventuras Além da Muralha. ― ela respondeu, em um tom quase desdenhoso.

Tyrion hesitou, sem saber ao certo como tocar no assunto de maneira delicada; mas lembrou-se que nunca fora conhecido por sua polidez, e então fez a pergunta da forma que sabia fazer:

― O que aconteceu entre vocês dois? ― ele a encarou, com seriedade ― Antes que eu partisse, disse-me que estava apaixonada por Jon e que não se importava com as consequências... Então... Houve consequências, Majestade?

Daenerys moveu-se de maneira desconfortável na poltrona e suspirou pesadamente.

― Um coração partido pode ser considerado como consequência? ― ela fitou Tyrion e ele pôde ver a tristeza transparecer nas íris violetas ― Nos envolvemos tanto que acabamos por esquecer que havia uma terceira pessoa entre nós dois.  Mas então Jon lembrou-se e...

― A maldita honra nortenha finalmente disparou... ― Tyrion disse ― A mesma que matou Ned Stark, que os deuses o tenham. Jon se parece com o pai, até demais em algumas ocasiões, e uma hora ou outra a promessa que ele fez à Senhora Karstark falaria mais alto... Mas até mesmo Lorde Eddard cometeu deslizes, e o próprio Jon é resultado de um deles.

― Então eu sou o deslize que Jon cometeu? ― Daenerys indagou, visivelmente ofendida.

― Claro que não, Majestade! ― o anão apressou-se a remediar ― O deslize de Jon foi comprometer-se rápido demais com uma garota que sequer conhecia, um erro que o faz carregar um peso terrível, tenho certeza. Não sei o que aconteceu exatamente entre vocês, e não precisa dizer-me se não se sentir à vontade, mas tenho certeza que em breve terá o seu trono e também o Rei ao seu lado. Cersei, Alys e a Longa Noite serão apenas lembranças vagas em sua mente quando finalmente tiver tudo que desejar!

Daenerys sorriu de forma cansada, como se fosse um esforço acreditar naquilo que escutara.

― Senti sua falta, Lorde Tyrion.

― A recíproca é verdadeira, minha Rainha.

O Lannister então aproximou-se ainda mais da lareira, tentando aquecer o corpo e espantar o frio através do fogo.


Notas Finais


Primeiro de tudo eu queria me desculpar MUITO com vocês por essa demora tremenda. Acontece que o tablet no qual eu escrevia a estória nos intervalos que eu tinha entre faculdade e estágio simplesmente morreu e com ele se foi o capítulo 80% completo que eu estava escrevendo. Tive que reescrever tudo no notebook e me desanimei pra caramba, o que me fez demorar esse tempo todo pra postar o novo capítulo. Mas essa madrugada eu decidi que meu desânimo tinha que acabar e eu me esforcei pra entregar o melhor capítulo que eu pude (apesar de ser inferior ao que já estava escrito) e apesar de não ser tão grande ou empolgante quanto os outros, é importante demais. Depois do ano novo vou ver se meu tablet tem conserto e tentarei escrever e postar mais capítulos agora que eu estou de férias, e é isso aí meu povo. Me desculpem mais uma vez pela demora, e espero de verdade que vocês gostem das coisas que eu estou planejando. Beijos e até breve (eu espero) ❤

http://futurogf.tumblr.com/


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