"Eu não sabia que estava perdido até que você me encontrou".
Eram seis horas quando Justin resolveu ir embora. O céu já estava escurecendo. Da minha sacada, ou da rua mesmo, dava de ver o sol descendo perfeitamente atrás das montanhas. O céu em tons de rosa, amarelo e azul.
Justin e eu estávamos parados na frente da minha casa, observando o céu e ao mesmo tempo esperando seus guardas virem com o carro. Justin tinha expulsado eles depois da nossa briga.
Felipa ficou na defensiva depois que viu a nossa briga. Amanda não sabia o que fazer depois que tínhamos terminado. Eu fui me sentar nas cadeiras da sacada, e respirar um pouco, Justin veio alguns minutos depois. Era tão normal: Brigávamos, ficávamos de birra e sem notar estávamos falando novamente.
O ronco fraco do carro soou no final da rua, me tirando dos meus devaneios, e com isso me fazendo notar que Justin estava falando comigo esse tempo todo.
- Topa? – Pergunta se desencostando do muro e ficando de frente para mim.
Fico o olhando, procurando no meu cérebro o que eu não tinha escutado. Pisquei algumas vezes. Justin levantou o queixo e o baixou como se tivesse formulando a pergunta novamente. Passei a mão no rosto e mordi o lábio.
- Desculpa... – Começo, mas Justin levantou a mão, me impedindo de falar.
- Tudo bem se não quiser ir a um Jantar comigo amanhã – Ele revira os olhos e coloca a mão no bolso da calça e caminha para o seu carro. Eu fiquei petrificada no muro, como se eu começasse a fazer parte dele. Justin parou de repente e me olhou – Esse Guilherme vai te levar para algum lugar melhor?
Ao processar a informação, eu comecei a rir, a rir tanto que comecei a tossir depois disso. Justin veio até mim e bateu a mão nas minhas costas. Mas que merda, esse garoto tem uma mão pesada.
- Eu não estou engasgada! – Grito – Puta merda Jus, você quer parar de me bater?
Ele cruza os braços e fica me olhando. Endireito-me e olho para seu belo rosto, eu sei que belo não é uma palavra que usamos muito hoje em dia, mas era verdade, ele era belo. Como um por do sol na praia.
- Guilherme... Não temos nada! É serio! – Falo, enfatizando. O que me deixou irritada. Era como se meu ser todo estivesse gritando: Não tenho nada com ninguém porque estou apaixonada por você. Mas nunca vou dizer.
- É mesmo?
- Eu juro! – Falo rapidamente – Ele é uma pessoa simpática que tive a felicidade de trombar por ai.
- Certo! – Ele descruza os braços e esfrega uma mão na outra – Então?
- O jantar? – Pergunto, e ele concorda – Pode ser, onde?
- No restaurante do meu hotel, não conheço nenhum outro.
- Tudo bem, pode ser. Pelo preço que você paga para estar hospedado lá, com certeza deve ser um restaurante bom.
- Já jantei lá, é muito bom. – Afirma – Mas tem que ir a vigor
- O que?
- Sabe, traje a vigor. É engraçado, as pessoas vão muito chiques lá.
- Tem que usar salto?
- Bem, acho que sim! – Ele ri.
- Droga! – Me viro para entrar, mas paro e o olho; meu rosto ficando vermelho quando noto que ele está me esperando entrar. – Se sinta importante... – Começo – Eu vou usar salto alto por você!
Ele baixa a cabeça e começa a rir.
- Bem, isso é... é gratificante? – Solto um risada.
- Até amanhã Justin.
- Até amanhã Aurora!
Minha cabeça encostou-se ao travesseiro, e nada que eu fizesse me faria parar de pensar. Olho o relógio, uma, duas, três da amanhã e eu ainda estou rolando na minha cama. Não é o medo, é a ansiedade que me fazer roer as unhas, me faz pensar no seu perfume, me fazer sorri imaginando o seu sorriso. Não está fácil de fingir, de fugir, é como entrar em várias ruas e elas me lavarem para o mesmo lugar, estou andando em círculos. Consciência idiota, cérebro estúpido e coração masoquista.
Como ia me encontrar com o Justin somente a noite, passei o dia com minha melhor amiga e amigo. Fomos ao parque Vila Germânica. Nunca gostei muito daquele local, mas era, aparentemente, o único lugar que tínhamos em mente para ir.
O parque estava lotado com crianças correndo para todos os lados. Tinha barracas de pipoca e algodão doce na entrada do parte, e com a fila enorme que ambas as barracas tinham, dificultavam a entrada. Passamos por uma onda de bolinhas de sabão, que as crianças e os pais soltavam dos aparelhos. Encontramos uma arvore e Sophia esticou a toalha que trouxe de casa.
Aparentemente eram só boatos do Justin no Brasil. Meus amigos ainda não sabiam, e eu estava tentando me preparar para contar. O problema é que Rafa ia me fazer falar alguma coisa, mas não sei se ainda me importo se eles souberem ou não.
Deitei minha cabeça na barrida do Rafael, e Sophia nas minhas pernas. Ficamos tagarelando sobre: Faculdade, festas, amigos, professores e assim por diante.
Quando o assunto ficou morto no ar. Criei uma coragem em mim tão grande que achei que tinha capacidade de falar sobre o Justin. Mas eu teria que ir direto ao ponto, se eu inventasse de começar: Tenho uma coisa para contar, minha mente ia criar motivos que me fariam dizer: Deixa, acabei esquecendo.
Respirei fundo, sentindo as palavras na minha garganta e passando para os meus lábios.
- O Justin... – Comecei, agora tinha a atenção de ambos, tenho que continuar – Ele... Ele está...
- Fala logo garota! – Incentiva Sophia de um jeito nada gentil.
- Está no Brasil, aqui na cidade! – Soltei. Sophia se sentou e encarou o gramado antes de se virar para mim e colocar a mão na minha testa.
- Você está bem? Está tendo alucinações?
- Se eu estou tendo, então, meu pai e Amanda, meus tios e minha prima e minha irmã e a amiga dela, também estão tendo. – Suspiro – Me admira ainda não estar nas redes. Ele me encontrou dentro do ônibus, praticamente todos reconheceram, e os que não reconheceram foram avisados pelas pessoas do lado.
- Isso não é uma brincadeira? – Pergunta Rafa. Eu me sento e encaro ambos.
- Eu vou a um jantar com ele hoje.
- Mas você o odeia! – Afirma Sophia.
- Não tenha tanta certeza assim – Solta Rafa – Tem alguma coisa para contar para seus melhores amigos, além dessa?
Baixo os olhos e brinco com meus dedos. Rafa ia sempre direto ao ponto, e eu não me sentia bem com isso, me faziam ficar na defensiva.
- Tipo o que? – Me faço de tonta.
- Tipo, estar apaixonada por ele? – Fala Rafa. Levanto meus olhos e vejo Sophia, ela não parecia surpresa, na verdade, parecia que já soubesse disse, até mesmo antes de mim – Como pode esconder isso da gente?!
- Eu não...
- Para de mentir Aurora – Fala Sophia – Mentir para si mesma é a pior coisa.
- Olha... Tá, estou apaixonada por ele, satisfeitos?
- Muito, na verdade! – Rafa abre um enorme sorriso. Mas então faz uma cara de pensativo. – Como ele te encontrou?
- No meu currículo tem...
- Não, dentro do ônibus, como ele ia saber que você estava lá?
- Ah! – Exclamo, rindo logo em seguida – Meu Iphone tem um rastreador.
- Então ele sabe que você está aqui?
- É, ele sabe sobre vocês também e sobre o Guilherme! – De repente parei para pensar. Mas Rafael falou primeiro.
- Estranho!
Meus olhos se arregalaram.
- E se ele colocou uma escuta junto?
- Não seja tola! – Revira os olhos Sophia – Ele pode ter outros meios de saber sobre nós... E quem é Guilherme?
- Um garoto que conheci na sorveteria.
- Quanta coisa você esconde da gente? – Pergunta Rafa
- Aparentemente já falei tudo.
A noite chegou e meus amigos me ajudaram a arranjar uma roupa. Um vestido azul, colado ao corpo, ia até o meio da minha coxa. Um salto preto pegado emprestado da Sophia. Sophia fez uma trança frouxa no meu cabelo, que ficou apoiada no meu ombro.
A Ferrari do Justin parou na frente da minha casa, Rafa e Sophia não podiam acreditar. Mas ao invés de sair o Justin saiu Hugo, dizendo que Justin estava me esperando no Hotel. Entrei no carro e acenei para meus amigos, ambos sorrindo.
Hugo me guiou até o restaurante. Fui ao balcão de entrada e esperei o homem atender a pessoa na minha frente. Cheguei ao balcão, e endireitei meus ombros, Hugo logo atrás de mim. Como Hugo era enorme, fazia as pessoas se sentirem intimidadas, mas esse senhor a minha frente, agia como se o “homem armário” nem estivesse ali.
O homem me olhou como se eu fosse mais uma pessoa qualquer entrando no seu restaurante, e para ser obvia eu era. Mas ao mesmo tempo era amigável o jeito que ele olhava.
- Aurora Bömmel – Falo. Ele guia o dedo pela lista, e assim que encontra meu nome, ele me olha e dessa vez ele me olha com outros olhos. Como se eu fosse um diamante diante de uma pessoa com dividas.
- Oh, claro, venha comigo!
Ele acena para alguém ocupar seu lugar e caminha ao meu lado. Agarrei no braço de Hugo, usando-o como se fosse uma muleta, para conseguir me manter em pé sobre os saltos.
Saltos: São sapatos feitos para mulheres usarem em diversas ocasiões, e mesmo que estava doendo, você sorri, porque sofrer é a lei da mulher, pelo que posso ver.
Entramos em um elevador. E fiquei pensando: até onde esse restaurante ia. Fiquei falando com Hugo enquanto isso, perguntado sobre as novidades desde que tinha ido embora. O elevador deu o apito e o homem já foi saindo, e Hugo foi me carregando nem dando tempo de olhar que andar.
Assim que pus meu pé para fora, quase tive vontade de rir. Estávamos no terraço. O céu tão amplo e estrelado, a lua em forma de uma banana. E então uma mesa redonda, a toalha que cobri era dourada e tocava o chão, um cálice de vela, prato pequenos dentro dos maiores, e duas taças de vinha: grande e pequena e duas cadeiras e um carrinho onde nossa comida estava. E em pé, olhando a cidade lá em baixo, estava Justin. Usando um terno azul: Se tivéssemos combinado a cor, nunca daria tão certo. E mesmo que ele não estivesse de frente para mim, sabia que estava impecavelmente belo.
Largo Hugo e vou até ele, passando o que provavelmente é o gerente, levantando a mão, sinal de que ia eu mesma chamar ele. Parei nas suas costas, e quando a minha mão foi tocar seu ombro, ele se virou. Um sorriso enorme ocupando metade do rosto. Ele pega a minha mão, a que está no ar, e me faz dar um volta.
- Não pensei que se arrumaria tanto - Comenta
- Não teria me arrumado se soubesse que íamos jantar a doze andares do chão!
Ele baixa a cabeça e ri.
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