História Um novo mundo, um novo começo - Pain

Glenn se levantou e eu vi a terrível forma como havia ficado seu rosto, o que fez com que eu começasse a chorar. 

- Amigo, ainda está aí? - Negan perguntou para Glenn - eu não sei, parece que está tentando falar, mas levou uma porrada e tanto - ele zombava - foi tão forte que seu olho saltou para fora e é nojento pra caralho! 

- Maggie, eu vou encontrá-la - ouvi Glenn murmurar e isso fez com que eu chorasse mais, levando minhas mãos ao rosto, desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo.

- Diabos - ele voltou a dizer - posso ver como isso é difícil para vocês. Sinto muito. De verdade. Mas eu avisei. Sem exceções! - ele se virou e acertou Glenn novamente, derrubando-o.

 Assim como fez com Abraham, Negan esmagou a cabeça dele e eu fechei meus olhos com mais força, ouvindo os sons do taco colidindo contra Glenn. 

Tempo depois, ouvi Rick sendo levado por Negan e o trailer foi ligado. Eu estava sentada no chão, abraçada à meus joelhos, chorando descontroladamente, o mais silenciosamente possível.

Já havia amanhecido quando Negan voltou com Rick e eu havia passado o resto do tempo ainda abraçada a meus joelhos, sendo vigiada pelos capangas de Negan assim como todos os outros do grupo. Eu sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto a cada vez que eu respirava, deixando-me em um estado de entorpecimento. Negan arrastou Rick até a nossa frente e eu olhei-os.

- Aqui estamos. Vou perguntar uma coisa, Rick: sabe por que aquele passeio? - Rick não respondeu - responda quando falarem com você. 

- Certo - Rick respondeu.

- O passeio foi sobre o jeito que olhou para mim. Eu queria mudar aquilo. Queria que você entendesse. Mas ainda está olhando para mim do mesmo jeito. Como se eu tivesse cagado nos seus ovos mexidos. E isso não vai funcionar. Então, eu te dou mais uma chance? 

- Sim - Rick sussurrou. 

- Certo, tudo bem. Agora, o grande prêmio. O que você fará vai decidir se seu dia de merda será o último dia de merda de todos ou apenas mais um dia de merda. Ponham as armas na nuca deles - Negan ordenou e eu ouvi uma arma sendo engatilhada atrás de mim. Eu feche meus olhos e custei a abri-los novamente - ótimo. Nivelem com os narizes dele e se tiverem de atirar, fará um estrago enorme. Garoto - Negan disse e fez sinal para que Carl se aproximasse - aqui - Carl não se mexeu - garoto, agora. 

 Carl se levantou e andou até ele.

- É canhoto? - Negan perguntou. 

- Sou o quê? - Carl questionou.

- Usa a mão esquerda?

- Não.

- Ótimo - Negan respondeu e amarrou um cinto no braço esquerdo de Carl, o que fez com que uma onda de medo me tomasse novamente - doeu?

- Não. 

- Devia. Era pra doer. Tudo bem. Deite-se no chão, garoto, ao lado de seu pai. Abra os braços - e Carl obedeceu - Simon, tem uma caneta? 

- Sim - Simon respondeu e jogou a caneta para Negan. 

- Desculpe garoto, isso vai ser tão frio quanto um saco de esquimó - e ele riscou o braço de Carl - como se estivesse pendurando o saco sobre você e arrastando no seu braço. Isso lhe dá uma vantagem. 

- Por favor - Rick começou a dizer - por favor, não. Por favor, não faça isso.

- Eu - Negan riu - eu não vou fazer nada. Rick, eu quero que pegue o seu machado e corte o braço esquerdo do seu filho bem na linha. Eu sei. Precisa processar isso por uma segundo. Faz sentido. Mas se não cortar, toda essa gente vai morrer. Então Carl morre, e todas as pessoas da sua casa também e, no final, você. Vou deixá-lo respirando por alguns anos, para que possa sofrer por isso.

- Não tem que fazer isso - Michonne suplicou - nós entendemos. 

 Eu estava com minhas mãos tremendo enquanto olhava toda aquela cena, sentindo como se eu fosse desmoronar a qualquer momento.

- Você entende. Sim. Não tenho certeza de que Rick entenda. Quero que corte bem na linha. Sei que é uma coisa sacana de se pedir, mas terá de ser como uma fatia de salame. Nada complicado, corte limpo, 45 graus. Nos deixe algo para dobrar. Temos um ótimo médico. O garoto ficará bem. Provavelmente. Rick, isso tem de acontecer agora. Rapidinho. Ou eu mesmo vou esmagar o crânio dele. 

- Pode… - Rick começou a dizer - pode cortar meu braço. Pode fazer isso comigo. Posso ir com você. 

 Eu ouvia Rick suplicando e me inclinei ligeiramente para frente, apertando meus olhos com as mãos, abrindo-os e torcendo para que nada estivesse acontecendo. Eu queria minha vida de volta. Queria Glenn e Abraham vivos. Queria poder abraçar Daryl sem ninguém apontando uma arma pra minha cabeça. Eu queria fugir. Queria gritar. Queria que meu irmão estivesse ali e me dissesse que vai ficar tudo bem. Queria que Alexandria fosse um porto seguro novamente.

 Mas isso não iria acontecer.

Ouvi Rick gritando e levantei meus olhos para ele, vendo-o segurando o machado alto enquanto chorava. Prendi a respiração e Negan o parou. 

- Rick. Você me obedece. Você trabalha pra mim. Você me pertence, certo? - Rick assentiu e Negan gritou - responda quando falam com você! Você me obedece! Você trabalha pra mim!

- Eu trabalho para você - Rick respondeu. 

- Você me pertence, certo? 

- Certo. 

- Certo! É esse o olhar que eu queria ver - ele pegou o machado e continuou - nós conseguimos. Todos nós. Juntos. Até os mortos no chão. Diabos, eles ganham o prêmio para espírito com certeza. Hoje foi um dia produtivo! Agora, eu espero, para o bem de todos vocês, que tenham entendido. Que entendam como as coisas funcionam. As coisas mudaram. Seja lá o que tivessem antes, acabou. Dwight, ponha-o no furgão - ele apontou para Daryl e Dwight começou a carregá-lo.

- O quê? - falei - não! Não! Não! - comecei a me levantar enquanto sentia o choro preso em minha garganta. 

- Eu disse pra ficar no chão! - a mesma mulher gritou com a arma apontada para mim e eu parei, olhando enquanto jogavam Daryl no furgão. Daryl se virou e me olhou enquanto eu começava a chorar. Dwight apontou a crossbow para ele e eu soluçava, olhando-o sendo tratado como um animal.

- Como é o nome dele? - ouvi Negan gritar. 

- Daryl - Simon respondeu e eu enxuguei meu rosto com a mão.

 Continuei olhando Daryl e ouvi Negan gritar:

- Bem-vindos ao novo mundo, seus desgraçados! Vou deixar uma camionete para vocês. Fiquem com ela. Usem-a para carregar a merda que vão ter que achar para mim. Voltaremos para a primeira oferenda em uma semana. Até lá, tchauzinho.

 Vi eles fecharem a porta do furgão e começarem a se dissipar, deixando-nos ali, no chão, despedaçados. Olhei para minhas mão e voltei a chorar, sentindo como se um pedaço tivesse sido arrancado de mim. Sentindo meu corpo fraco demais para pensar em sair dali. 

Sentindo como se os motivos para continuar viva estivessem acabados.