História Um ômega para mim - Primeira mentira

HoSeok estava lindo naquele dia, seus olhos brilhavam mais do que as muitas luzes que eram colocadas de forma piegas pelo meio do salão onde a festa em comemoração a aquele evento aconteceria. Todos o olhavam com admiração e não havia ninguém naquele local que não quisesse estar no lugar daquele que sumiria consigo ao altar. Aquele ômega, um lúpus, dos mais puros e requeridos estava se casando naquele dia em uma cerimônia grandiosa que seria exibida, era um dos mais requisitados no meio, mas somente uma pessoa em especial conseguiu enlaçar sua vida a sua. Alguns alfas ainda choramingavam por isso de forma infantil. Mas ninguém os julgaria, afinal, Jung HoSeok era um dos poucos de raça pura que ainda existiam por aquela terra. Uma relação com um era um achado, poucos eram os alfas que tinham essa sorte.

O branco de seu terno contratava com o ruivo de seus cabelos, seus olhos continham um leve esfumaçado avermelhado para ressaltar o tom alaranjado dos fios, em seus pés sapatos da mais alta linhagem, seu corpo belo e detentor da atenção de ômegas e alfas era desejado por muitos, invejados por outros, ainda mais ao se encaixar perfeitamente no traje que usava. Ele parecia brilhar mais ainda, não somente pela beleza que sustentava, mas pela felicidade transparecida em seu olhar e em volta do seu pescoço uma gargantilha feita com a mais fina pedraria. Aquele foi um presente de seu noivo, um homem do mais alto escalão, dono de uma das maiores empresas automobilísticas de Seul. Não sendo surpresa quando o casamento do filho dos Jung ser com o filho dos Kim. Taehyung era seu nome, amigo de infância do ômega e o único a conseguir a tão disputada mão daquele rapaz em casamento.

HoSeok, até então, era como se fosse uma pedra de gelo que não dava atenção a ninguém, recusando-se a qualquer namoro ou pretensão sexual com algum alfa, passava os cios sozinhos e não era dos que dava um braço a torcer em relação a dor. Ele a suportava, mesmo sendo um lúpus, por mais que ela fosse mais forte do que o esperado, só para não se envolver com ninguém. No final, dava a desculpa de que estava se guardando para o seu casamento, mas isso era deveras preocupante para a sua família. Ele estava passando dos seus vinte anos e precisava urgentemente se atar a um alfa.

O governo daquela geração era restrito em suas normas, defendo e impondo a ideia de que ômegas deveriam se casar com seus devidos alfas no máximo até seus vinte e quatro anos para a perpetuação da espécie lupina que estava sumindo em meio aos betas. Aquilo era um plano político para preservar os poucos exemplares da raça que ainda habitavam aquela terra, resultando em uma espécie de ditadura sobre a raça. Os ômegas que se recusavam ou que tinham um relacionamento com um beta, fêmea ou macho, eram deportados para campos de reprodução onde eram colocados para ter coitos com vários alfas para uma reprodução forçada.

Os filhos ômegas e alfas eram levados a um local especial, chamado “criação” e os conceptos betas eram colocados em abrigos. Era uma forma cruel e mesquinha, mas que segundo o governo, era o que mantinha a raça intacta. Mediante a isso, todos os casamentos e relações eram controladas pelos governantes. E nem as classes mais altas fugiam a regra. Por isso os Jung estavam desesperados, pronto para arrumar um casamento arranjado para o seu ômega quando ele apareceu com a notícia que mais chocou a todos, que se casaria sim, com um alfa.

Mas não qualquer alfa, ele se casaria com Kim TaeHyung, um lúpus assim como ele. A alegria tomou conta de todos e os preparativos estavam acontecendo as pressas para que tudo pudesse acontecer antes do prazo estipulado pelo estado. Assim, depois da anunciação do noivado, uma semana depois tudo estava proto para que ele subisse no altar ao lado do alfa a quem dividiria uma vida. Não existia momento mais feliz no mundo para os Jung, eles nem ao menos sabiam o que fazer, por sorte tinham dinheiro demais para contratar quem pensasse por eles, quem organizasse o casamento.

O motivo pelo qual o Jung ainda não tinha se casado era desconhecido. Na realidade caiu no esquecimento com o passar daqueles sete dias. E aquele era um detalhe que muito agradou o ômega que escondia um leto segredo, na realidade o grande motivo pelo qual não tinha selado contrato matrimonial com ninguém ainda. Não era porque ele nunca tinha se apaixonado, muito menos porque era uma pedra de gelo como todos diziam. Jung HoSeok era um homem misterioso, sabia ter pulso firme quando era necessário, mas daqueles doces demais para não saber se apaixonar.

Ele tinha um coração, sentimentos e assim como todo mundo neste mundo – pelo menos uma vez na vida, nem que fosse apenas um vislumbre rápido – experimentou o que era se apaixonar. E era ai que morava o problema, ai que entravam as mentiras mais bem arquitetadas por esse ser de sorriso belo e de quem não parecia fazer nada de errado nesse mundo. O filho dos grandiosos Jung havia sido laçado sim, mas diferente do que pensavam ele estava tomado por um beta. E ai que mora o perigo. Ele não poderia deixar que essa relação fosse livre, fosse vista pelos depois de sua raça.

Mas quando conheceu Min YoonGi e se cativou, HoSeok não pensava que seria complicado assim continuar com aquilo, mas o tempo ia passando e ele não conseguia mais continuar sendo “solteiro” perante as autoridades. Também não queria precisar ir para um campo de reprodução ou ser tarjado como vergonha para os seus. No final de um ano de namoro com o Min ele já estava desesperado e temeroso. Continuar com aquilo era suicídio e mediante este quadro que a grande ideia surgiu. Ele se casaria assim como seus pais queriam. Mas havia um grande porém.

E um sentimento de gratidão também. Kim Taehyung estava salvando não somente a sua reputação, mas assim como sua vida e dignidade. Nunca que o Jung imaginou que aquele alfa aceitaria um pedido como aqueles, restava apenas agradecer.

Aquele ômega se sentia seguro demais, talvez isso fosse um erro.

[…]

– Você me parece animado demais para quem vai se casar de mentirinha. – TaeHyung sussurrou perto do ouvido no noivo enquanto este estava ao seu lado no altar. Poucos eram os que percebiam que eles conversavam, na realidade apenas um certo beta que assistia a cerimônia em uma das cadeiras da frente, já que os demais estavam ocupados demais choramingando emocionados pelo lindo casamento ou invejando aquele casal tão poderoso.

– E porque eu não estaria feliz. – riu divertido. – Estou me casando com o alfa mais belo de toda Coreia do Sul, quem dirá do mundo. – o mais novo quis gargalhar, mas tinha de manter a compostura dentro do terno preto. Seus cabelos loiros encobriam um pouco o olhar fazendo com que o ômega ao seu lado não notasse seus reais sentimentos.

– Quer dizer que eu virei um objeto de exibição, futuro senhor Kim? – brincou e o ômega deitou brevemente a cabeça em seu ombro, ouviram suspiros por parte dos convidados. Aos que vissem ao longe pensavam que se tratava de um casal muito apaixonado.

Pelo menos um deles eram.

– Claro que não, – empurrou de leve o ombro alheio – eu estou me casando com o melhor alfa do mundo, mas de bônus estou ganhando também o mais belo, compreensível, gentil, legal, engraçado e melhor amigo do mundo. – eles se olharam brevemente, um sorriso tímido adornando os lábios do ômega, ele estava emocionado. Sabia que ninguém no mundo faria por ele o que Taehyung estava fazendo. – Obrigado, de verdade. Eu sei que vai ser complicado para nós daqui em diante, mas eu não sei te explicar como eu estou feliz por você ter me salvado. Aliás, nos salvado. – o Kim nada disse de ato, apenas sorria terno enquanto entrelaçava seus dedos aos de HoSeok.

– Eu nunca deixaria você passar por aquilo, seria desumano e eu não sou dos que consegue fechar os olhos diante de toda essa atrocidade. – o ômega suspirou, o cheiro de cereja com leves toques mentolados sendo espalhado sem querer. Ele estava feliz demais, tanto que mal conseguia conter as lágrimas que lhe acometiam. Aquilo dava, mesmo sem querer, um tom mais real a aquela farsa.

– Eu sei, eu tenho o melhor alfa ao meu lado. – foi sincero, por mais que suas palavras caminhassem para um tipo diferente de sentimento. – Eu não sei o que seria sem você, sem o que fez por mim e pelo meu…

– Não precisa dizer mais isso, não repita aquilo que não deve ser escutado. – HoSeok fez que sim, estava sendo imprudente ao ser emocional demais. – Eu entendi, estou aqui para te ajudar como posso e de coração, não precisa agradecer, hyung. – um casto beijo foi deixado na fronte do ômega. Mais suspiros por parte dos convidados.

E um certo beta não estava gostando nada daquilo.

– Você é o melhor Kim TaeHyung, espero que encontre alguém que te faça feliz. – ditou calmo e baixo o ômega, o padre a frente deles lia os votos se aproximando do famigerado momento do 'sim'.

– Você sabe que eu não me importo com isso. Gosto dessa minha calmaria, solidão. Um dos grandes motivos pelo qual aceitei fazer isso com você, hyunguie. – ditou dengoso o alfa, o cheiro bom de Whisky tomando o ar deixando os ômega agitados, um lúpus era envolvente em todos os aspectos. O homem a frente havia chegado na parte que todos esperavam. Repentinamente o coração dos dois palpitaram ao mesmo tempo. Poderia ser uma mentira, disso alguns sabiam, mas aquele leto ato de dizer sim diante de um altar mexia com qualquer um ou uma. O ômega estava emocionado e ao mesmo tempo melancólico. Queria ele poder dizer sim ao homem que verdadeiramente amava. Já para o alfa, aquele era um momento pelo qual tinha aguardado por anos e anos. Um detalhe que o Jung nem sequer sonhava que existia.

– Kim Taehyung, aceita esse ômega, Jung HoSeok como seu legítimo esposo? – a pergunta que demarcava tudo. – Para amar e respeitar, todos os dias de sua vida, na alegria na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe? – as palavras preenchiam a mente do alfa como um mantra.

– Aceito. – disse com toda segurança do mundo, tanta que abalou HoSeok brevemente. Isso porque o mais velho não estava acreditando que o Kim realmente estava lhe fazendo aquele favor tão grande. Ele estava se casando com um homem que não amava romanticamente, tudo isso para que este dito cujo pudesse viver um romance secreto em uma espécie de traição consensual. Por mais que eles não tivessem nada mais do que uma amizade. Era incrível demais, quase surreal, assim pensava HoSeok.

– Jung HoSeok, aceita este alfa, Kim TaeHyung, como seu legítimo esposo? Para amar e respeitar, todos os dias de sua vida, na alegria na tristeza, na saúde e na doença até que a morte os separe? – o discurso fora repetido, o ômega olhou brevemente para trás, avistando Min YoonGi lhe olhar intensamente. Era por eles que ele estava fazendo isso, por isso não hesitou em voltar seu olhar para o padre e dizer o óbvio.

– Eu aceito. – sua voz soou doce e um pouco trêmula pela emoção.

– Então, pelo poder convertido em mim pela lei dos céus e dos homens, eu vos declaro casados. – uma chuva de palmas preencheu o local, a emoção escorria pelos olhos de uma forma real demais para uma mentira como aquelas. – O alfa pode beijar o seu ômega. – aquele momento já havia sido ensaiado pelos dois que combinaram que não dariam mais do que um selar casto nos lábios, pelo fato do verdadeiro amor de HoSeok estar ali, assistindo seu amado se casando com outro.

E depois que o gesto foi feito, que aquele momento foi fidelizado e laçado aqueles dois sorriram um para o outro com todo carinho do mundo. Podia se ver um ômega feliz por finalmente achar que estava livre para amar e um alfa que finalmente havia conseguido o que mais queria.

No fundo, Jung HoSeok era ingênuo demais.