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História Um passo por vez... - Caleidoscópio


Escrita por: No_more_tea

Notas do Autor


Boa noite, queridos! Tudo bem? Eu espero que sim! Ultimamente fiquei fora do Spirit e acabei não respondendo os comentários do capítulo anterior. Perdão! Vou respondê-los ainda hoje! ^^

Ah, mas antes de agradecê-los pelo apoio e desejar uma boa leitura, gostaria de ressaltar alguns pontos determinantes! 。◕‿◕。

• Não tenho intenção de realizar um foco romântico entre os personagens. A interação será neutra. Dessa forma, dependerá da interpretação do leitor. Isto é, caso enxergue a interação dos garotos como um caso romântico, você é livre para pensar dessa forma. Caso os veja apenas como amigos/parentes, também não há problema algum, pois não deixarei nada explícito. (。•̀ᴗ-)✧

• Essa minha decisão foi tomada para evitar romantizações em prol do Transtorno de Conversão. Além de ser inexperiente com histórias românticas. Sinceramente, me recuso ( e abomino) transformar essa doença em algo "romântico". Por isso, a interpretação será livre! (. ❛ ᴗ ❛.)

• Os sintomas de nosso querido virginiano é baseado em pesquisas realizadas por mim. Caso hajam erros, seja bem-vindo para me corrigir! É apontando as falhas que adquirimos conhecimento! Isso também vale para erros gramaticais (◕ᴗ◕✿)

É isso, pessoas! Boa leitura! Agradeço imensamente o apoio!

Capítulo 5 - Caleidoscópio


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  Capítulo  5: Caleidoscópio


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U M  P A S S O  P O R  V E Z


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O amenizar da chuva não deixava dúvidas sobre uma manhã fria, coberta pelo lençol branco da neve. Meus ouvidos foram presenteados com o tintilar discreto do sereno, dando vida a sinfonia perfeita para pregarmos as pálpebras e nos entregarmos a Morfeu.


Contudo, ainda estávamos num hospital, impregnado pelo odor asséptico. O local até então impossível para privilégios, como um sono tranquilo…


De qualquer forma, é curioso imaginar a série de sentimentos que esses estalos desencadeiam em meu interior. Primeiro, causam-me pavor. – pois são capazes de trazer à tona o cenário mórbido do jovem virginiano queimando em febre. Não obstante, também desperta a saudade. Saudade de ser envolvido nos braços dela, sentir os perfumado fios dourados, a voz harmoniosa cantarolando contra meus ouvidos… 


Ela era a estrela guia em meio ao universo assombroso que nos abrangia…


Entretanto, o aroma adocicado de cerejeiras, junto a fragrância amadeirada do moreno, trouxe novamente as palavras responsáveis por cortarem os laços que me amarravam ao cadáver de minha querida mãe…


" O que está lá embaixo é apenas a sua casca. Se o corpo estivesse a 7 palmos do chão, chorarias dessa forma? Deixe-a ser livre, Hyoga. Suas lágrimas podem encharcar o trajeto que ela faz ao paraíso."


E você, Shun? Quando deixarás de guardar segredos e ser livre…? Tuas palavras sempre foram tão bonitas, então por que afogá-las em meio aos próprios conselhos…?


Agora, cá estou eu, afagando seus fios emaranhados num leito, sem forças para dizer que ficará tudo bem. Não tenho ideia de como está sua mente, pois, ao contrário de você, sou péssimo em analisar sentimentos. Nego ter coragem para dizer que o amanhã será perfeito. 


Provavelmente estou receoso em aceitar que, eu falhei em te proteger.


Sinto muito, meu amigo, muito mesmo…


Os passos sorrateiros de Ikki, ao anunciar sua busca por algo que pudéssemos dividir na lanchonete, foi o único fator capaz de despertar minha mente para o ambiente ao redor...


Pelo jeito, ainda estava abraçado ao rapazinho. Os fios ondulados roçavam em minhas bochechas, enquanto a respiração tranquila arrepiava os finos pelos de meu braço, ressonando. Um cenário totalmente diferente do devastador episódio na praça, em que o mesmo se esquecera de como respirar…


Sem qualquer malícia, a fim de excluir tais memórias perturbadoras, aproximei meus lábios da orelha alva, ocultada pelos delicados fios acobreados. A princípio, o vi franzir o cenho, mas logo a suavização da feição angelical acendeu a chama do alívio em meu coração. Acordá-lo acrescentaria mais chumbo a minha consciência. Fatal.


De minha garganta, um antigo cântico ousou vibrar em minhas cordas vocais, num tom rouco. As palavras saíam emboladas, sem qualquer nexo. Contudo, a calmaria esbanjada por aquela alma me atraiu por completo, derrotando o pudor.


 Apenas desfrutei da melodia passando por meus lábios, enquanto dedilhava as bochechas rosadas do caçula, solene…


Namida yori mo…

( Ouvir uma canção…)


yasashii uta wo…

(É melhor do que chorar…)


Kanashimi yori 

(Receba o meu calor…)


sono nukumori wo

(E nem pense em se entregar…)


 Ah, Shun, como consegues ter amizade com alguém tão hipócrita, como eu?…


Veja só… Eu estou chorando.


sekai ga sonnanimo

(Não vou esperar que o mundo irá mudar…)


kantann ni 

( Tão depressa assim…)


kawaru to wa

(A luz dominar…)


 omowakanai kedo

( E as trevas acabar…)


shizuka ni yami o tokashite

(Eu vou lutar, acreditar, até o fim…)


aruite aruite mi o tomonau

(Vou caminhar e te buscar, até te encontrar…)



Quando encontrar uma estrada alternativa no seu caminho, siga por ela. Encontrará vários obstáculos, mas terá de enfrentá-los. 


Não é fácil encontrar o caminho, mas é bom olhar pro lado e ver que não estou sozinho…


Às vezes precisamos percorrer um caminho, até então, solitário. Para um dia encontrar a tão esperada recompensa: amar e ser amado.



kurukuru mawaru

( Tudo que eu conquistei)


chikyuugi kurukuru kawaru

(Por você. Eu não quero mais perder…)


jikan sekai no hate ni

( Para sempre, guarde tudo o que falei)


ai wo yorokobi noserunoni

( E escute: deste amor não desistirei…)


yume wo

 (É o meu sonho…)


Então o realize, Shun. Faça aquilo que, nem mesmo uma estrela cadente, tão cintilante e bela, foi capaz de concretizar…


Durma em paz, pois o amanhã estará nas páginas de nosso destino… 


Cure as suas asas, anjo ferido... 


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Como havia previsto, a manhã veio fria, úmida e enfeitada pelos flocos límpidos da neve. Contudo, não fora tão receptiva. Acordei em um sobressalto, quando pesadelos devotos ofereceram uma frase controversa a um caloroso "bom dia".


"Ele não voltará a andar tão cedo…"


Foram as únicas palavras que ecoaram em minha mente após a chegada de Daidalos, o qual, sem hesitação alguma, oferecia notícias sobre o estado do menor. – que mais parecia um monólogo. E ainda por cima, o doutor ousou dizer a típica frase : "tenho boas e más notícias." Como se despertasse alguma esperança.


Quando há alguém bem-quisto, passando por dificuldades, os pesadelos sempre retornam. Nem mesmo pedem licença a minha consciência. Então, o que seria a esperança numa hora dessas? Provavelmente, a última saída para mim, mero descrente...


Pedimos, em primeira mão, a notícia ruim. Exato, a ruim. Dessa forma, poderíamos ter certo "alívio" para libertar as mágoas. Um belo "presente de grego"...


Não obstante, a notícia avassaladora, em prol do desespero, foi capaz de retirar a expressão indiferente do semblante ríspido de Ikki…


— Está tudo bem, senhor Alexei? — A voz austera me guiou às íris profundas. — Prefere esperar ao lado do paciente?


— N-Não! Eu… estou bem. — Desconversei, coçando a nuca. A ansiedade parecia me consumir diante do dilúvio de olhares sobre mim.


— Ele é aéreo assim mesmo, doutor! Deve estar em choque por encontrar meu irmão todo desamparado. — Exclamou o moreno, entre risos. E, surpreendentemente, nunca quis tanto agradecê-lo por me insultar. 


— Certo... Então, vamos às notícias... — Proclamou com desdém, lendo o formulário da prancheta, a qual possuía uma foto minúscula do castanho. 


— Primeiramente, já deixo claro que não tenho a intenção de assustá-los. Porém, infelizmente, devido a paralisia, desconfortos musculares e câimbras serão frequentes na recuperação do jovem. E quando digo "desconfortos", não estou comparando-os à leves formigamentos. Há casos em que as contrações musculares são extremamente incômodas ou, em outras palavras, dolorosas. — Anunciou entre suspiros, não havia como ocultar nossas expressões desconcertadas. Mas, o que poderíamos fazer? Ser ignorantes perante os fatos? Nunca! Repudiava, mais que tudo, ver o sofrimento alheio. Isso é inaceitável… 


— Entendo que esta é uma situação complicada, rapazes. Mas é necessário ter paciência. — Tentou nos consolar, observando atentamente a face desolada do moreno. — Até o momento, a ficha do paciente está sendo enviada à clínica de fisioterapia hospitalar. O tratamento será iniciado na próxima semana, junto às análises psiquiátricas… Agora, vamos aos resultados positivos!


Ah, mas quanta ironia. A inquietação em meu estômago não ressuscita o afável otimismo. Será que Ikki sente o mesmo? Queria poder ler seus pensamentos nesse exato momento…


 Céus, por que estou prestando atenção nisso? Foco, Hyoga! Foco.


—… A tomografia descartou qualquer dano físico durante o processo. Fizemos também uma ressonância magnética, mas não encontramos nada preocupante, felizmente! — Anunciou sorridente. — Outra boa notícia é que, visto a rápida recuperação, o jovem Amamiya terá alta ainda hoje, após o efeito dos medicamentos. Ah, e já aviso: ele ficará sonolento durante o dia! Aliás, tratando-se de um Transtorno de Conversão, recomendo que não haja situações as quais afetam seu temperamento. Para alguém tão novo, será ainda mais cruel a apresentação de sintomas, como: cegueira, convulsões, alucinações, e até mesmo a perda da memória!


Foi possível perceber nosso empalidecer ao escutar as consequências. Ambos com os olhares vagando imersos, em gratidão à misericórdia, perante o enfermo…


— E há alguma previsão para a volta de suas… Suas p-pernas? — Deus, por que é tão difícil dizer algo tão simplório? Gaguejar em frente a um profissional? Que patético… 


Ah, não. O ego ferido novamente.


Como controlá-lo quando o domador desta fera está convalescente? 


Céus, eu me tornei tão dependente…


— Elas não voltarão até que sua mente esteja sadia. — Pontuou Daidalos, arqueando suas sobrancelhas. Vertendo o olhar cético para um, curiosamente, indescritível. — Senhor Alexei, conhece o funcionamento de um computador?


— U-Um computador? — Indaguei desacreditado. — Claro, mas… Por que a pergunta, doutor?


— Já lhe explico. — Respondeu rapidamente, mudando seu foco para o outro rapaz. — E enquanto a você, senhor Amamiya? Conhece o sistema completo de um?


— Estou estudando programação, doutor. — Informou o moreno, com certo receio. — Meu diploma estará em risco, caso eu não souber o básico.


— Ah, então temos um futuro programador? Isso é ótimo! — Parabenizou entre risos, pressionando a prancheta envernizada contra o esterno. — Bom, se ambos têm ciência sobre o assunto, me respondam: qual é o elemento principal para o funcionamento de um computador?



— Oras, isso é óbvio! Sem um processador, o sistema está acabado! — Exaltou, imediatamente; estalando a língua em desaforo. 


— Ele está certo. — Anui junto ao leonino. — Não tenho formação nesta área, mas sequer posso dar outra resposta…


— Formado ou não, ambos acertaram. — Manifestou-se, mudando o semblante alegre para um...neutro? Deus, devo estar perdendo as habilidades de observação também…


— E se eu insinuar que, essa única palavrinha é hábil o suficiente para fazê-los compreender a situação no rapazinho? Vocês acreditariam?


— Isso é algum tipo de metáfora?


— Talvez, senhor Amamiya… Talvez.


— Certo, e como esse "processador" irá abrir nossas mentes, doutor? — Questionei com certo tom  irônico. É fato, nunca fui fã de ladainhas enigmáticas. Não fazia parte do elenco de uma ficção misteriosa, para dizer : "Elementar, meu caro Watson.", a cada descoberta.


— Digamos que a condição de Shun seja semelhante, em outras palavras.


— O quê? Como assim?


— Vejam, o processador é o cérebro do sistema, encarregado de processar todas as informações. Porém, apesar de toda sua sofisticação, o processador não pode fazer nada sozinho. Para termos um computador funcional, precisamos de mais alguns componentes de  apoio, como a memória, unidades de disco, dispositivos de entrada e saída e finalmente, os programas a serem executados. Expliquei corretamente, senhor Amamiya? — Questionou com um sorriso lascivo.


— A-Ah, claro! Claro... — Pontuou, surpreso pela menção repentina de seu nome. — É exatamente isso, doutor…


— Ótimo! Dito a introdução, peço que imaginem a mente humana como um processador! — Bradou sutilmente, enquanto lançávamos gemidos confusos. — Sei que parece loucura, mas não é! Como havia explicado, o processador não funciona sozinho, assim como nossa psiquê! 


— Psiquê? — O moreno questionou.


— Sim, meu rapaz.  A palavra “psique” é um termo utilizado para retratar a alma ou o espírito. Ela está diretamente relacionada à psicologia, e seu conceito inclui a personalidade de modo geral: os pensamentos, sentimentos e comportamentos – sejam eles conscientes ou inconscientes. Não é à toa que os gregos a enxergavam como uma divindade. — Esclareceu, levando o dedo indicador à lateral da fronte. — Nossa psiquê, garotos, nada mais é que o controle da mente humana. E, supondo a história do processador, eu lhes questiono: ele será capaz de funcionar caso algum outro componente quebre?


— Não, senhor. — Ambos respondemos em coro.


— Pois é, esse é exatamente o caso do jovem Shun. — Adicionou, direcionando olhares ao caçula, o qual dormia serenamente. — A parte central e física está intacta, porém, este não é o caso de sua psiquê. — Deduziu melancólico. — Assim, tendo conhecimento das falhas em um dos dispositivos, o esperado é que o funcionamento seja irregular. E, no caso, a falta de comunicação e paz trouxe consequências árduas para o rapaz…


— E-Então… Não há previsão?


— A recuperação, como eu havia dito, exige muita paciência, senhor Alexei. Até o momento, recomendamos muito repouso. O afastamento de atividades rotineiras também é apreciado, já que devemos evitar o stress durante o tratamento…


— Quanto tempo, doutor? — A voz de Ikki se manifestou, impaciente. Esbanjando aquele tom frio que sempre iniciava nossas brigas…


— Com todo o respeito, senhor Amamiya, não tenho respostas definitivas. — O profissional respondeu, em mesmo tom indiferente. — Alguns demoram meses. Já outros, demoram anos. Isso dependerá do estado psicológico e o ambiente de convívio. Por favor, não se aborreçam em prol da antecipação. Lembrem-se: a exaltação de vocês pode, indiretamente, piorar o estado do garoto.


Pronto! A finalização dramatizante aplicada por Daidalos deixou a perplexidade cair inerte em nossos ombros! Já havia aceitado que estávamos presos a uma situação chocante, a qual nos traz a sensação de inutilismo. Todavia, o remorso ainda corrói meus pensamentos. Não era exatamente o mel "amargo" da culpa. Mas, ainda assim… Ah, eu não entendo! Sinto minha garganta fechar a cada olhar discreto, direcionado ao leito. Os picos de adrenalina aceleravam a pulsação contra minhas têmporas, saltando sobre a pele fina da fronte. As mão encharcadas pelo próprio suor, então? Nem me fale! Seria alvo de gargalhadas caso levasse uma flanela para enxugá-las a cada contato com íris verdejantes tão desoladas…


Você sabe que chegou ao cúmulo da ansiedade quando fica ansioso para a própria ansiedade passar.

 Céus, isso é horrível…


— Tudo bem, senhores. Irei deixá-los em paz pelo resto da manhã. — Anunciou, dando um último aceno antes de se dirigir a porta. — Alguns enfermeiros aparecerão para apartá-lo do soro glicosado. Quando se retirarem, vou lhes visitar novamente para realizar um último check-up e libertá-los desse hospital! Tenham um bom dia, rapazes…


Apenas uma breve reverência foi manifestada antes de sermos privilegiados com a remota companhia do silêncio…


 Posso não ser especialista em sentimentos, mas sequer é necessário ter um diploma  para encontrar vestígios de "afastamento verbal" após  uma análise ríspida sobre orbes oceânicas estáticas, fixadas ao corpo despojado do mais jovem.


Os ponteiros estão correndo, Ikki… Logo o seu ego também se esvairá…


É só uma questão de tempo até Shun verter-se em nossa própria ampulheta…


Indolente ao cenário, simplesmente permaneceu imóvel ao experimentar a maciez das ondulações soltas do coque frouxo. O farejar da fragrância adocicada parecia domar a "fera do rancor", suavizando por completo a face retraída. Levando-o a cerrar as pálpebras, num longo e exausto suspiro...


Quando os lábios trêmulos, desesperados pelo desvencilhar das palavras, estavam prestes a se manifestarem, a voz rouca foi rapidamente cortada por alguns murmúrios baixos, os quais urgiram a atenção de nós, ali presentes…


— A-ah… — Gemeu fracamente, o menor. Ele havia despertado! Estava deixando a vista seus olhos esmeraldinos desorientados; semicerrados em busca de algum foco. 


— Shun?! — Exaltou primeiramente, Ikki, desatando sua índole impulsiva. E tão logo se arrependendo ao observar o auxiliar se encolher com a alta voz. — Ah, claro, me desculpe…


— É normal ele ainda estar sensível… — sussurrei, direcionando-me ao irmão do paciente. Em seguida, resolveu desfrutar de movimentos amenos para posicionar o caçula, adicionado mais travesseiros à cabeceira e chamando-o através de gestos, algo que atraiu as íris desorientadas…


— Hey, Shun, você consegue nos ouvir? — Desatei entre murmúrios, num fio de voz. Recebendo como resposta, as pálpebras cerradas em contato com a luz ranzinza da manhã nublada.


— Sim… Eu... O-Onde estou…? 


— Nós estamos no hospital. Já se esqueceu de ontem? — Indagou o mais velho, rindo amargamente. — Como está se sentindo?


— Cansado… — Arrastou entre suspiros. — Sinto minha cabeça pesar como um pedaço de ferro…


— Bem, agora você sabe o que eu passo durante os dias de ressaca. — Entoei na esportiva, envolvendo a sua mão presa ao IV. 


— Acho que te julguei mal, então… — Respondeu sem-jeito, soltando todo o ar pela boca. — Me perdoem por essa… Bagunça. Não queria preocupá-los dessa forma tão... Vergonhosa.


Nesse momento, sem qualquer hesitação, Ikki se prostrou defronte ao rosto alarmado do menor, curvando o cenho em uma carranca… Melancólica? Sim, essa é a palavra perfeita para descrevê-la.


— Vergonhosa? Vergonhosa?! Qualquer um estaria em prantos no seu lugar, Shun! — Bronqueou, abrangendo com suas mãos, as bochechas coradas do outro. — Nós ficamos preocupados e não há pecado algum nisso! Pelo amor de Deus, pare de se culpar a cada oportunidade dada! Você me culparia caso trocássemos de lugar?!


— Chega, Ikki! Ficou louco?! — Esbravejei, puxando-o para trás. No entanto, a cisma prendeu seus pés no chão. 


A bendita teimosia dos Amamiya…


— Não, russo! Deixe que ele responda! — Gritou por cima dos ombros. — Você me julgaria da mesma forma que se martiriza, Shun?! 


Tic Tac, o ego de Fênix foi derrotado.


— E-Eu… — Os lábios finos tremiam, em contraste com os olhos marejados. — Não, eu… Eu nunca te julgaria, nii-san. Nunca…


— Então, por que carrega esse fardo?! — Inqueriu. — Eu sou capaz de caçar qualquer um que te faça mal. Mas, como poderei te proteger quando o verdadeiro vilão na sua vida é… Você mesmo? Porra, dê uma chance para nós! Não se lembra daquela conversa sobre o destino?! Pois é, você tem todo o direito de mudá-lo! Sair desse mártir… Por favor, Shun, deixe-nos  ajudá-lo com todas essas merdas que te colocaram nesse leito!


Com os olhos arregalados, o enfermo quase não teve reação antes do moreno rodear seu corpo esguio com os braços robustos. A este ponto, Ikki negava se importar com as grossas lágrimas que molhavam o pescoço do caçula. Afinal, quem se importaria? Como posso julgá-lo se, em meus próprios olhos, sinto a ardência incômoda salpicar minhas pálpebras? Tinha de sentir a chama do sentimentalismo.


— Eu te amo tanto, meu irmão… Tanto… — Sibilou em voz trêmula. — Sabe o quão doloroso é vê-lo imaginar que minha presença não passa de um sonho? Perceber as consequências de minha ausência? Porra, sou eu que deveria carregar essa culpa, não você! Então, pare de me perdoar e… Perdoe a si mesmo. Por favor, Shun. Por favor...


— M-Mas eu estou cansado de te ver sofrer, Ikki... — Confessou, participando da exposição de lágrimas. — E-Eu me tornei dependente e sensível demais. Por que não consigo lidar com coisas simples? I-Isso é tão egoísta! Já sou adulto e… P-passou a fase de incomodar os outros com meus problemas...


O rapaz de fios curtos soltou um riso sufocado, tateando os cabelos emaranhados ao bagunçá-los com sua palma, assim como faziam no passado.


— Se essa é a tua visão sobre a vida adulta, tampinha, então desejo que volte a ser criança...


Eu apenas observava, sensível a cada palavra proferida por ambos os irmãos. Quem diria que, um dia, estaria levando minhas mãos para secar as lágrimas e não desferir um soco no rosto do leonino? Ah, destino, como és perverso…


— Eu queria muito, Ikki… Eu queria…


"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz…"


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A mentira em si, para mim, sempre fora o pecado mais complicado de passar por meus lábios. E agora, auxiliando o virginiano a sentar-se na cadeira de rodas, fica cada vez mais difícil manter um sorriso satirizado…


A interação emocionante dos irmãos foi finalizada com os passos apressados do grupo de enfermeiros; todos acanhados por se apresentarem em um momento tão delicado. Os olhos vermelhos e inchados não passaram despercebidos, claro. Houve também uma maior preocupação em relação aos parâmetros de Shun, mas nada preocupante foi encontrado...


 Por fim, nos deixaram a sós, logo depois de Ikki se oferecer para banhar o menor, deixando-o límpido, com os cabelos úmidos e fios de coloração escura, exalando o aroma suave dos produtos oferecidos pelas colegas de enfermagem.


— Acho que será difícil me acostumar a tomar banho sentado. — Gracejou em notável tristeza, mudando sua atenção para os fios embaraçados. — Céus, meu cabelo está um ninho! Será que June ou Saori também trouxeram um pente?


— Ah, Shun, e desde quando as garotas deixaram de ser prevenidas? — Provoquei enquanto lhe mostrava o pente amadeirado acima da escrivaninha, pegando-o logo em seguida. — Agora fica quietinho para tentarmos resolver esse desafio!


— Não precisa de incomodar, Hyoga. — Tentou me alertar, mas novamente seu pedido foi negado. — Ikki vai ficar enciumado quando chegar da lanchonete, quer apostar?


— E precisa de aposta? Do jeito que é, não deixará a carranca tão cedo. Mas se quiser disputar a sorte, ficarei escovando o mesmo local até ele chegar!


— Oh, Alexei Hyoga! Quanto tempo levou para me revelar essa sua face perversa?— Fingiu indignação, soltando um riso nasal. 


— Oras, não fui eu quem sugeriu a aposta! 


— Só estava te testando. Entretanto, você caiu direitinho! — Afirmou, entrando na brincadeira, atraindo nossas risadas.


Ah, e como era maravilhoso vê-lo utilizar sua voz para gracejar, não suplicar...


— Posso saber o motivo da graça? — A voz grave percorreu pelo quarto. Era o leonino, com uma bandeja em mãos, todo imponente. E, como prevíamos, manifestou o típico cenho endurecido ao perceber nossa presença.


— É sobre essa sua expressão caidinha ao me flagrar respirando o mesmo ar que o Shun, só isso!


— Hyoga! — Exaltou o castanho, contendo o riso. 


— Se quiser, aproveito a oportunidade para te deixar nesse hospital também. O que acha? — Desatou, curvando seus lábios em um sorriso provocativo.


— E ter você, ao meu lado, como visitante?! Peço-lhe perdão agora mesmo! — Respondi, juntando minhas mãos em sinal de arrependimento. Atuação merecedora de oscar.


— Tsk, idiota… — Rebateu, com um discreto riso. 


Essa interação fora curiosamente… Pacífica. Isso acaba tornando interesse o pensamento de que, se o cenário fosse mudado para anos atrás, Shun estaria lutando para nos separar de uma possível briga…


Ousa dizer que não leva jeito para a fase adulta, porém, desde o princípio, és o mais forte e maduro entre nós…


Como tu não enxergas isso, Shun? Como…?


— Eu trouxe alguns pedaço de [¹] Gyoza para vocês. — O moreno anunciou, jogando a embalagem em direção às minhas mãos. — Pegue também, russo. Tive que comer seu lanche, durante a madrugada, após te achar apagado ao lado da cama.


— Você não dormiu, Nii-san?


— Tirei um cochilo durante a manhãzinha. Mas não se preocupe. Já estou acostumado a passar a noite em claro. Caso contrário, seria despedido de meu cargo, como segurança, há muito tempo… — Replicou, dando de ombros. — Agora coma, Shun. Doutor Daidalos logo passará aqui. Isso serve para você também, Hyoga. 


— Tudo bem, tudo bem! — Levantei minhas mãos em redenção, dividindo o bolinho com o castanho.


— O senhor Tatsumi pode ser carrasco, mas nunca erra nas receitas. Isso está muito bom! — Elogiou o mais novo, devorando rapidamente.


— Fale isso por você mesmo. Eu não fui com a "cara" daquele careca…


— Ikki! Mais respeito, por favor! — Advertiu, tapando a boca.


— Ah, não minta para mim, Shun!  Até parece que nunca sentiu calafrios ao se deparar com aquela expressão murcha de poucos amigos!


O calouro revirou os olhos.


— Você se simpatiza com o tempo. — Divagou, fazendo uma pausa para saborear outro pedaço. — Todos no hospital possuem respeito por ele…


— Para mim, isso se chama temor. — Falei, entrando no assunto.


— Você também, Hyoga?! 


— Sabia que alguns pensamentos prestavam nessa sua cabeça, russo! — Exaltou o leonino, pousando uma de suas mãos em meu ombro. 


Empatia, como sentia falta desse sentimento.


— Oh, não! Estou criando dois atrevidos! — Dramatizou em tom sarcástico, sorrindo meigamente. — Parece que terei de conversar sobre isso depois...


— Eu ainda sou o mais velho! — Exclamou o outro irmão, em falsa indignação.


— Sim, nii-san. Mas, agora a pouco, estava se encrencando com um cozinheiro! Quem é o caçula, agora? — Gracejou, oferecendo uma discreta piscadela.


— Oras, seu tampinha… 


Há, não deu outra! Em poucos segundos, o castanho já estava se desmanchando em gargalhadas sufocadas, provocadas por um ataque de cócegas. Como esperado, neguei esconder meu próprio riso. O naufrágio sofrido por aquele ambiente tenso, aos poucos, estava sendo purificado junto às nossas almas, com tal sinfonia acolhedora.


Paz e harmonia: eis a verdadeira riqueza para fortalecer a família…


— Com licença, estou atrapalhando algo? — De repente, uma voz descontraída entrou no quarto, aguçando nossa curiosidade para o médico simpático, de meia idade, encostado a porta, com um semblante divertido. — Parece que já está animado, jovem Shun.


— A-Ah! Bom dia, senhor Daidalos! — Afoitou-se o mais novo. Limpando rapidamente, com as mãos, as migalhas teimosas em seu busto. 


— Por favor, vamos deixar as formalidades por enquanto. Já nos conhecemos há bastante tempo, não é mesmo? — O profissional assegurou, cumprimentando-nos logo em seguida com uma breve reverência. Seu jaleco límpido continha os bolsos estufados, os quais guardavam os materiais já familiares ao meu ver. — Só quero fazer um Check-up rápido antes de deixá-lo livre dos meus cuidados. Está de acordo?


— Claro, doutor. — Pontuou, endireitando a postura. — Aliás… Essa cadeira de rodas, quando devo devolvê-la ao hospital?


— Oh, não se preocupe com isso! — Exclamou, materializando o estetoscópio em mãos. — O senhor Yukida a pagará. Inclusive, há poucos minutos ele veio até mim, dizendo que almejava encontrar algo para sua redenção. E se eu fosse você, meu rapaz, não recusaria. A cisma daquele homem é extremamente complicada! Fazê-lo mudar de ideia, então… 


— M-Mas ele não precisa se preocupar! — Disse em seguida, exibindo suas bochechas rubras em surpresa e vergonha. Isso foi inesperado. Muito inesperado. — Céus, eu nem sei como agradecê-lo…


Daidalos apenas desatou um sorriso ladino, concordando com o auxiliar. Seu olhar estava fixo às íris cor oliva. Parecia vasculhar a "psiquê rompida" de que tanto falara, encostando o metal gélido contra o peito alvo do menor.


— Que tal escrever uma carta? Soube que ele adora comunicações "à moda antiga". — Sugeriu, ainda inspecionando o torso. — Sei que irá aceitar a proposta, então já me preveni. Agora, respire…


Seguindo as instruções dadas pelo superior, a realização do Check-up foi hábil, nos impressionando com tamanha rapidez e profissionalismo por parte do médico. Agora percebo que, não é em vão a admiração demonstrada pelo virginiano…


— Eu trouxe minha antiga agenda para você expressar sua gratidão. Não se esqueça de que também há uma caneta presa a capa, de coloração azulada. — Avisou em tom descontraído, deixando-as em cima da colcha. — Vou organizar a papelada responsável por sua alta e logo estarei de volta para nos despedirmos! Sei que capricho é sua especialidade, então nem preciso lhe alertar, certo?


— M-Muito obrigado, senhor Daidalos! — Proclamou o menor, tentando esconder as bochechas coradas pelo elogio.


— Não por isso, Shun… — Respondeu. — Estou torcendo por você!


Com isso, deixou como despedida a visão de sua silhueta passando pela porta envernizada.


Estava na hora de agradecer aquele que, rispidamente, nos uniu em uma árdua jornada…


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— Céus, eu não consigo escrever! — Reclamava o virginiano, quase a beira das lágrimas. — Veja se está bom, Ikki. E depois você, Hyoga! 


— Pelo amor, Shun! Todas estavam excelentes! E essa também estará, como aquela pilha de papéis amassados no lixo! — Esbravejou, o moreno, pegando novamente a folha detalhada. A princípio, o jovem impulsivo dizia não encontrar motivos para agradecer alguém que, somente fez o mínimo após tratá-lo com tamanha falta de profissionalismo. 


Todavia. Contudo. Entretanto. Não obstante… O rancor do moreno não era páreo para sua implacável teimosia.


— Ikki tem razão, Shun. — Pontuei, lendo o texto curto e nitidamente cortês. — Geralmente os autores nunca se satisfazem com as próprias obras, apenas os leitores.


O castanho cerrou suas pálpebras, soltando um longo suspiro, massageando a lateral da fronte.  Como se estivesse cogitando em descartar, novamente, mais uma impecável carta...


— Qual a razão para tanto stress? Talvez você não as esteja lendo direito. Escute:  "Caro senhor Yukida…" — O outro rapaz começou a ditar, palavra por palavra, em voz alta.


— Ikki…! — Advertiu, escondendo o rosto entre as mãos. Esse ato, instantaneamente, curvou meus lábios num singelo sorriso. Lembrava-me, claramente, as aventuras exploradas na adolescência.


O leonino apenas o ignorou, pigarreando ao iniciar o próximo parágrafo. — e, consequentemente, alavancar a escala de tons avermelhados em sua face.


— "...Venho por meio desta oferecer meus sinceros agradecimentos pela ajuda que me foi oferecida.


Peço-lhe perdão por minhas faltas perante essa nobre profissão. Porquanto, não guardo mágoa alguma de vossa senhoria.


Faço lhe informar que também estou à  disposição para retribuir sua generosidade em qualquer momento que lhe seja conveniente ou necessário.


Mais uma vez, agradeço por tudo.


Com os melhores cumprimentos, auxiliar Shun Amamiya."



Quem poderia imaginar que, uma mera cartinha, me faria  repensar o contexto de: "A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces."


— Acho melhor reescrevê-la e adicionar um…


— Não! Está perfeita dessa forma! — Bronqueou o mais velho, pegando a agenda das mãos do menor. — Se continuar assim, nunca sairemos desse hospital! 


— Mas, Nii-san… — Suplicou, inchando as bochechas rubras, como uma criança que acabara de ter seus doces confiscados.


— Nada de "mas" ! Você pediu nossa avaliação e a resposta será definitiva! Até desenhou coraçõezinhos nas bordas!  — Repreendeu, mostrando as figuras delicadas nas linhas finais. — Caso ele não fique satisfeito, eu mesmo escreverei uma carta! E já aviso que não será amigável…


— Estava demorando para começar uma intriga… — Debochei, recebendo o típico olhar flamejante do outro.


— Cala boca, russo. Quer transformar sua garganta em um novo recipiente para aquela papelada descartada? 


— Mas é claro! Vai que, com isso, eu experimente um novo vocabulário.  — Dei-lhe um sorriso ladino, tendo o mesmo gesto em troca… 


Continuamos discutindo amenidades, repletas de alfinetadas e gargalhadas até escutarmos o batuque oco sobre a porta. A pessoa cujos fios dourados esvoaçavam pelas paredes pálidas, se apresentou como "June", a jovem enfermeira e aprendiz de Daidalos. Sua voz otimista, em instantes, nos hipnotizou por completo. Junto ao seu sorriso, eram gestos simples e perfeitos, os quais abriam as portas para a sensação que há muito tempo estava trancafiada: o aclamado otimismo…


Contudo, não posso bancar o corajoso. Passar por aquele corredor sombrio, participante de uma paisagem retórica e contrastante às janelas cinzentas, ainda causavam-me calafrios. Principalmente quando a trilha sonora que nos acompanhava, não passava do tintilar das rodas metálicas contra o cristalino porcelanato...


Mas talvez eu devesse enfrentar o futuro como um caleidoscópio, o qual nunca estará definido enquanto for "mexido". Afinal "A coragem cresce forte em vitalidade cada vez que é usada."...


Quando os flocos de neve dançaram sobre nosso narizes, as despedidas já estavam aos cuidados da ternura. Não era um dia perfeito, detalhado por lírios, abelhas e clima primaveril. Todavia, foi em dias desapontantes, como este, que três almas se uniram.


E as nuvens, sempre emocionada, exalaram suas lágrimas puras, chorando sobre nossas figuras. Abraçando-nos com vossa serenidade, a quietude confortara cada suspiro.


 Haviam flocos nos céus, assim como perdão para nós, meros réus. 


Era uma manhã emburrada de Segunda, quando aprendi a respeitar a ampulheta acusada por tamanha loucura…

______________________________________________


Continua...


Notas Finais


[²] Espécie de bolinho com recheio de frango.

Olá! Obrigada por lerem até aqui!
Tentei fazer um capítulo mais animadinho, mas creio que, no início, foi bem difícil perceber algo descontraído.

Bom, é isso por enquanto! A frequência será a cada 2 semanas! (Às vezes, consigo postar em uma)

Agradeço pelo apoio! Perdão por qualquer erro!

Beijinhos. Se cuidem! (。♡‿♡。)


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