História Um relacionamento explosivo - Capítulo 91 - Uma armadilha para Sakaguchi Kojiro

Sakaguchi contou com dificuldades a sua conversa com Sato Tsuzuki, pois estava fervendo de raiva. Shimoguchi lhe ofereceu um cigarro, pedindo que se acalmasse. O jornalista lhe contara sobre as respostas do médico e Shimoguchi concordara que ele não respondera a nada satisfatoriamente, apenas saíra pela tangente com bastante habilidade.

-Impossível, Shimoguchi-san! Se aquele médico é mancomunado com Asami Ryuichi, ele é um filho da puta! E um filho da puta esperto!

O diretor do jornal fumou com ar meditativo e perguntou, com um tom de voz que demonstrava que estava bastante preocupado:

-Você já pensou que, se aquele médico for aliado de Asami, já não pode ter dito a ele? Percebeu a coisa perigosa que fez, Sakaguchi-kun? Para gente como Asami e Myanmoto, nós somos pedras no sapato e eles nos eliminam sem piedade. Lembra dos dois jornalistas que perdemos por tentarem descobrir algo sobre o “escândalo da droga”?

Desta vez, Sakaguchi pareceu pensar seriamente sobre as palavras de Shimoguchi e ficou calado enquanto fumava. Um dos jornalistas desaparecidos por tentar descobrir sobre o “escândalo da droga” fora um dos seus melhores amigos e aquilo o fizera ter mais aversão a yakuzas. Mas Shimoguchi estava certo. Ele fizera uma coisa perigosa e talvez o médico tivesse contado a Asami. Entretanto, ele não era homem de retroceder e sempre gostara de Takaba Akihito, com quem estava preocupado. Odiava pensar que Akihito, tão jovem e talentoso, podia ter se tornado alvo de gente como Asami.

-Se algo me acontecer, Shimoguchi-san, isso significa que Asami realmente tem algo a ver. E que esse médico está envolvido nisso até o pescoço.

Shimoguchi deu uma longa tragada, pensando que seria uma pena perder alguém promissor como Akihito. Muitos nunca haviam levado o jovem e brilhante fotógrafo a sério por causa do seu jeito alegre e despreocupado,  mas ele gostara do garoto desde o início. Então, falou:

-Sakaguchi-kun, mas se Asami mandou o médico expedir um atestado, realmente, não se trata de sequestro. Ele não sumiu com Takaba. Como o próprio médico falou, nenhum sequestrador teria a preocupação em mandar fazer um atestado. Isso está cheirando a um plano. Talvez Asami esteja protegendo Takaba.

O jornalista mais jovem ergueu as sobrancelhas, surpreso. Por que Asami, um homem que todos diziam ser o mais perigoso yakuza do Japão, se preocuparia em proteger Takaba? Shimoguchi explicou, colocando bem as palavras:

-Talvez Takaba saiba de algo que pode ser vantajoso para Asami. Veja, Takaba fotografou o homem de Myanmoto tentando roubar de um carro. E o homem apareceu morto. Quem sabe, Asami não se ofereceu para proteger Takaba em troca dele contar algo que sabe a respeito de Myanmoto?

Sakaguchi apagou o seu cigarro e refletiu:

-E quem garante que Asami vai poupar Takaba após ele contar o que sabe? E dizem que Asami, quando marca uma pessoa, assedia e persegue até o inferno! Por que Takaba nunca falou se o tal Asami o estava assediando? O que acho estranho também é que aquele Yamazaki, sendo policial e um homem em quem Takaba confia, deveria estar a par de tudo isso! Caso Asami ou Myanmoto estivesse atrás de Takaba, não era natural que ele contasse ao Yamazaki e ele se preocupasse?  Achei incrível tudo que a vizinha de Takaba contou! Um irmão envolvido com um cassino yakuza e o tal Yamazaki não descobre nada depois de um ano? E Takaba considera esse homem um pai para ele? Tanto aquele policial quanto esse médico devem ser ligados à máfia!

Shimoguchi apagou seu cigarro, concordando com cara de desagrado:

-É comum policiais se aliarem à máfia. Aliás, qual o nome do irmão de Takaba?

-Takaba Yukio.

O diretor do jornal teve uma ideia:

-E se investigarmos nós mesmos? Com certeza, não houve um real interesse da parte de Yamazaki em descobrir nada sobre o destino de Yukio que, com certeza, foi morto por não pagar suas dívidas. Quem diria que Takaba-kun, com aquele jeito tão molecão e despreocupado, teria uma história familiar dessas.

Pegaram o computador e acessaram a Internet, digitando o nome de Takaba Yukio. Logo, viram sobre a prisão de Takaba Yukio num pequeno jornal.

-Por essa época, Takaba-kun era quase uma criança. Devia ter uns dezessete anos. Comentou Shimoguchi.

Sakaguchi viu a foto de Yukio sendo preso por roubo. A matéria falava dele como um ex-delinquente juvenil que já tivera passagens por vários reformatórios por se envolver em brigas e ter espancado outros delinquentes, tendo mesmo quebrado o braço de um. O jornalista ficou surpreso ao ver o rosto do irmão de Akihito. Ele não era bonito como o fotógrafo, mas tinha feições grosseiras e um olhar endurecido de pessoa precocemente desiludida com a vida. Devia ter cerca de 1,79 metro e pesar uns 79 kg. Em outra foto, aparecia a foto de Takaba Hiroshi, desolado. Sakaguchi conhecia o pai de Akihito. O fotógrafo já lhe mostrara a foto do pai, falando nele com amor e gratidão.

-Puxa, ele tinha um jeitão de delinquente típico desses que a gente vê nos mangás e animes com delinquentes, Shimoguchi-san. Tinha cara de violento. Será que Takaba tinha vergonha dele e por isso nunca falou sobre ele?

-Acho que não, Sakaguchi-kun. Penso que ele talvez não quisesse envolver trabalho com sua vida pessoal. Takaba-kun não parece ser  o tipo de pessoa que julga os outros. Ele é agradável com todo mundo.

Sakaguchi pensou por um longo tempo antes de dar sua opinião:

-Na verdade, não dá para avaliar bem que tipo de pessoa ele é, Shimoguchi-san. Ele sempre só conversou assuntos relacionados ao trabalho, nunca falou muito na família dele além de dizer que o pai morreu do coração e a mãe mora noutra cidade. Fora isso, eu só o conhecia como alguém alegre, cabeça fresca,  que vivia com uma piada na ponta da língua. A gente acha que ele nunca leva nada a sério. Minha nossa, pensar que alguém como ele tem segredos assim...

O diretor do jornal lembrou que há tempos estava achando Akihito estranho e tenso.

-Sakaguchi-kun, com certeza, Takaba estava se sentindo ameaçado há um bom tempo, mas por quem? Seria Myanmoto? Se ele se sentia ameaçado, deve ter contado ao Yamazaki. Mas como um policial, que o conhece há tanto tempo e a quem ele considera um pai age de forma tão indiferente como ele agiu quando você foi procura-lo? Isso é estranho. Ele realmente deve saber algo e está escondendo.

Sakaguchi achou que a conversa não levaria a lugar nenhum. Ele estava pensando no que a vizinha de Akihito falara sobre homens com jeito de yakuza rondando onde ele vivia e no homem que acompanhava o fotógrafo quando ela falara com ele pela última vez. De fato, tudo indicava que alguém devia estar ajudando Akihito a se esconder. Mas quem seria? Por que um homem como Asami se preocuparia em proteger Akihito, um fotojornalista que talvez soubesse de coisas que o comprometessem? E onde aquele médico entrava?

-Tudo está embaralhado demais, Shimoguchi-san. Se Myanmoto está atrás de Takaba por causa das fotos, onde Asami e esse médico que, com certeza, é mancomunado com ele, entram? E, se Myanmoto descobriu que foi Takaba que tirou as fotos, por que não  o eliminou logo? E esse Yamazaki deve saber de tudo. Se ele é tão próximo de Takaba, que confia tanto nele, por que não o enquadrou num programa de proteção a testemunhas? Talvez Takaba saiba de coisas que o próprio Asami não queira que se espalhem.

Shimoguchi bocejou. A conversa não estava mesmo sendo produtiva. Quanto mais pensavam, mais dúvidas surgiam. Sugeriu que Sakaguchi fosse para casa descansar e que no dia seguinte eles conseguiriam pensar melhor. Sakaguchi acabou relembrando do aniversário de sua filha e do presente que haviam mandado em nome de Takaba.

-Aquele boneco do Doraemon é caríssimo. Takaba poderia comprar um presente como aquele? Sei que ele pretendia dar um item do Doraemon, mas o dinheiro dele não dá para tanto. Bem, vou indo, Shimoguchi-san.

-Até mais.

O jornalista se despediu e saiu da sala do diretor. Despediu-se de outros jornalistas que foi encontrando enquanto ia ao elevador. Entretanto, ele não sabia que o homem de Myanmoto vigiava seus passos e ligava para um celular, comunicando que ele estava saindo.

Sakaguchi saiu do prédio e foi andando pela calçada. Seu celular então tocou e ele atendeu.

-Alô, Sakaguchi-san, podemos conversar?

Ficou surpreso ao reconhecer a voz de Yamazaki. A desconfiança se acendeu dentro dele mas pensou que talvez devesse falar com o policial.

-Sim, sou eu mesmo, Yamazaki. Que deseja?

“Merda, talvez não seja boa ideia. Entretanto, ele deve saber de algo. Bem, que devo fazer? Será sensato arriscar?”

-Sabe, eu sei que fui um pouco evasivo quando você foi me procurar. Mas acontece que eu não sabia se podia confiar em você.

O jornalista ficou mais desconfiado com as últimas palavras de Yamazaki, que lhe pareceram muito estranhas. Ele fora à delegacia mostrando toda sua preocupação com o que pudesse ter ocorrido com Akihito, expusera a história e suas pontas soltas e o policial, que conhecia Akihito desde que este era criança, demonstrara indiferença, como se fosse um caso qualquer. E agora aquele homem dizia que agira de de forma esquisita porque não sabia se podia confiar nele?

-Bem, Yamazaki-san, eu fui lá demonstrando toda minha preocupação com Takaba-kun e o meu interesse em elucidar essa história, que tem muitos pontos que não se encaixam. Procurei o senhor porque Takaba sempre falou muito bem no senhor, dizendo como tem sido um segundo pai para ele, principalmente depois que o pai dele morreu quando ele era quase um menino. Eu o procurei porque pensei que o senhor seria alguém que poderia saber de algo útil. Como diz que não sabia se podia confiar em mim?

Yamazaki notou a insinuação na voz de Sakaguchi e percebeu que estava realmente em perigo. O jornalista não confiava nele e insinuara que ele, como alguém em quem Akihito confiava tanto, não demonstrara preocupação com o que pudesse ter acontecido com o fotógrafo. E ele também pudera notar que o jornalista estava ainda mais desconfiado. Teria ido investigar algo? Yamazaki aconselhara muito Akihito a nunca falar sobre Yukio e seus problemas familiares com as pessoas com quem trabalhava, dizendo que ninguém precisava saber de sua vida, mas não era impossível que Sakaguchi, curioso para saber sobre o fotógrafo, houvesse investigado e tivesse  acabado descobrindo sobre Yukio. Ele poderia ter ido aonde Akihito vivia e falado com a vizinha dele, a Kaneki Tomoko, que sabia que o irmão de Akihito sumira misteriosamente. A partir daí, seria fácil saber que nada fora descoberto sobre o desaparecimento de Takaba Yukio mesmo após um suposto ano de investigações, o que já seria um bom motivo para desconfiar. Sakaguchi também poderia ter encontrado Takato e Kou. Akihito nunca escondera que os dois eram seus melhores amigos, que sabiam de muitas coisas sobre sua vida, exceto que ele fora abusado pelo padrasto.

“Esse jornalista vai se tornar uma pedra no sapato.Se ele soube a história de Takaba Yukio e não me contou que soube, é porque não confia mesmo em mim.  Que devo fazer? Talvez não seja tão fácil atraí-lo para uma armadilha.”

-Sakaguchi-san, eu tenho Takaba Akihito como um filho. O pai dele e eu éramos grandes amigos e eu fiz uma promessa a Hiroshi: que cuidaria dele se algo acontecesse com ele. Você talvez saiba que o pai de Takaba morreu de ataque cardíaco fulminante quando o rapaz disse que tinha passado no exame para entrar na faculdade. E tenho feito de tudo para cumprir. Hiroshi tinha verdadeira adoração pelo rapaz, que era tudo para ele.

O jornalista não acreditou nas palavras de Yamazaki e foi bastante incisivo:

-Se o senhor sabe de algo que pode ser útil, por favor, fale. O momento não é para falar de promessas. Sei que parece rude mas o que realmente importa é falar sobre o que possa nos ajudar a saber o que realmente houve com Takaba. Eu o tenho como um irmão mais novo, porém, não é isso que importa agora.

Sabendo que seria arriscado, Yamazaki disse com um tom de voz alarmado:

-E se eu disser que o dono do carro é Asami Ryuichi? O ladrão, que trabalhava para Myanmoto, estava tentando roubar do carro de Asami, que sabe que foi Takaba que tirou as fotos do ladrão. Foi Asami que impediu as fotos de saírem na imprensa e matou o homem do Myanmoto. Se quiser, podemos conversar melhor pessoalmente. Por favor, não conte a ninguém.

Aquilo deixou Sakaguchi com mais suspeitas. Se o homem sabia de tudo aquilo, por que não dissera nada? Tudo então se encaixava? Não, não se encaixava. Por que Asami não mandara eliminar Takaba? E por que Yamazaki, sabendo que Akihito sabia de tudo e estava envolvido numa briga de tubarões como aquela, não fizera nada para proteger o rapaz que dizia que considerava um filho?

-Yamazaki-san, eu não entendo. E como o senhor sabe que Asami é o dono do carro? Se ele sabe que foi Takaba que tirou as fotos, não era mais natural mandar fazer picadinho dele logo no começo? Para a máfia, jornalistas investigativos são um estorvo. E como esse médico amigo de Asami entra nessa história? Por que Asami estaria escondendo Takaba?

Pensando rápido e deduzindo que iria entrar em terreno movediço, Yamazaki acrescentou:

-Sakaguchi-san, Asami é um anormal. Não falam  que ele nunca tem mulher? Ele se interessou por Takaba e Takaba me contou várias vezes que suspeitava que Asami o estava assediando, agindo como um stalker. Mais de uma vez, Takaba me contou que suspeitava que era observado. Na festa em que conheceu Asami, o desgraçado se aproximou dele e o deixou assustado.

Desta vez, Sakaguchi ficou surpreso. Já ouvira falar que suspeitavam das preferências de Asami, mas nunca dera atenção. Para ele, fofocas não eram o verdadeiro jornalismo.

-Como é?! Asami Ryuichi assediando um rapaz como Takaba Akihito? E sua história fica mais intrincada a cada revelação. Se Asami estava assediando sexualmente Takaba, isso deveria ser usado contra ele. Por que a polícia não fez nada? Um homem perigoso como ele assediando um jovem sem condições de defesa e o senhor não tomou uma medida concreta? Quer me explicar? Era seu dever protege-lo! O que ele pode contra um homem que chefia uma organização criminosa? Nada!

O policial explicou que não havia provas, embora tudo indicasse que era Asami que  perseguia Takaba. Para convencer Sakaguchi, Yamazaki inventou que Akihito contara que se sentira observado em seu apartamento, nos restaurantes que gostava de comer e tantos outros lugares que frequentava.

Sakaguchi não ficou satisfeito e disse:

-Bem, não tenho condições de ir falar com o senhor. Tenho que cuidar de coisas importantes. Não vou falar com ninguém, como pediu, mas não dá para dizer que Asami esteja escondendo Takaba! Não temos provas! Yamazaki-san, se Asami está com Takaba, deve saber que isso pode ser configurado como sequestro, não? E, se ele for esse anormal que o senhor insinuou, não quero saber o que Takaba estará passando nas mãos dele! Bem, tenho de desligar. Até logo.

-Até logo.

O jornalista ficou ainda mais intrigado. Muito esquisito tudo que ouvira. E suas suspeitas contra Yamazaki so haviam se fortalecido. Não podia confiar nele nem ir conversar.

“Não, não posso me arriscar indo conversar com ele. Deve ser uma armadilha.Ele não descobriu nada sobre o irmão de Takaba em um ano de investigação e não fez nada para proteger Takaba do suposto assédio de Asami? Esse homem só pode ser um policial corrupto. Meu Deus, que farei?”

Sakaguchi foi andando, ignorando que Yamazaki, de um carro, observava-o. O policial estava no banco do carona e um homem se Myanmoto olhava fixamente para o jornalista.

-Vê? Ele não mordeu a isca. Não acredita em mim.

O homem de Myanmoto disse:

-Vamos ver se o seguimos. Ele tem de ser eliminado.