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História Uma Brasileira em Hogwarts. - A detenção.


Escrita por: SenhoraPSnape

Notas do Autor


-Lumus...

Capítulo 26 - A detenção.


P.O.V'S ANTÔNIELLA ARAÚJO

Eu andava na direção da sala do diretor. Sentia todos os músculos do meu corpo tensionados depois da prova de fogo que foi a aula de Herbologia.

Digo a senha para a gárgula e subo a escada espiral. Bato na porta esperando o conhecido "entre" dito por Dumbledore.

Lá estava ele, atrás de sua altiva mesa, como sempre. O semblante calmo e os costumeiros olhos cintilantes.

-Recebi seu recado quando saí da estufa da professora Sprout. - Falo de mau humor enquanto me sento na cadeira disponível na frente de sua mesa.

Suas sobrancelhas se levantam um pouco com o tom usado por mim.

-O que aconteceu? - Ele questiona.

-O que aconteceu? - Repito a pergunta em tom irônico zombeteiro. - Aconteceu que você pode providênciar o novo filme do "Quarteto Fantástico" e me escalar para o papel de o "Coisa". Meus músculos parecem pedras nesse momento. - Passo a mão atrás do meu pescoço em uma tentativa falha de uma automassagem.

-Foi a aula sobre Aconito? - Ele pergunta enquanto enche uma xícara com chá.

-E você sabia. - Digo sem emoção na voz. - É claro que sabia. E obviamente deixou. Alvo, você sabe o quão tensa foi aquela aula? Como permitiu isso? - Entrei em estado de indignação.

Ele me lança um olhar de desculpas e volta a falar.

-Severo pareceria animado quando veio me pedir autorização pela professora Sprout. Aparentemente ela tinha certeza de que eu iria negar, então o mandou em seu lugar.

-Claro, ela é uma mulher sensata e deve ter pensado que você também era. Claramente estava errada. - Falo, bufando em zombaria.

-Antôniella, não entendo o motivo pelo qual você está chateada. Você sabe cultivar Aconito. Eu mesmo garanti que você soubesse. - Ele parecia um pouco ofendido. - Ou o estágio de três meses que fiz você fazer com Cassandra não serviu pra isso?

Cassandra era uma mestre em Herbologia do Brasil. Alvo me fez estagiar com ela quando notou meu interesse por poções.

"Um bom pocionista colhe seus próprios ingredientes" - Ele me dizia todas as vezes que eu reclamava da rigidez de Cassandra em suas aulas.

-Dumbledore, você acha que eu estava tensa por mim? Minha tensão saiu de mim no centésimo tapa forte que Cassandra deu na minha mão em suas aulas de como cultivar essa maldita planta. Minha preocupação foi com os outros alunos! - Acabo elevando um pouco a voz. - Julieta deixou a faca que cortava a planta quase cair em cima do pé, que tinha apenas uma sapatilha ridiculamente fina. Se tivesse encostado em sua pele, agora estaríamos tendo essa conversa na enfermaria. Um garoto na Grifinoria espirrou e quase tirou a máscara de proteção para coçar o nariz. E isso sem citar os vários outros quase acidentes. Se eu estou estressada imagine como Sprout está.

Afundo mais na cadeira, claramente cansada.

-Foi tão ruim assim? - Ele parecia um pouco arrependido.

Faço um gesto dispensando a pergunta e suspiro. Essa discussão só iria me esgotar mais. Logo me acalmei e tentei voltar ao estado normal.

-Esqueça... Agora já foi. Não vamos chorar pelo leite derramado. - Me ajeito na cadeira e lembro do motivo por ter vindo ao escritório dele. - Você queira falar algo comigo, não é?

Seu rosto se ilumina em reconhecimento e ele começa a falar.

-Claro. Sobre a sua detenção... - Faço um som choroso com o início do assunto.

-Eu posso não fazer essa detenção? Não tem outra opção? - Imploro.

-Antôniella. - Ele fala em aviso. - Não se atreva a faltar essas detenções. Você mereceu cada uma delas.

Ergo minhas mãos, declarando rendição sem dizer uma palavra.

-Ótimo. Agora, sobre as detenções com Severo. Seja razoável, pelo amor de Morgana. - Ele pediu, implorando. - Os burburinhos nos corredores acabaram de se cessar, não inicie outro. Seja civilizada.

-Alvo, eu vou nessas detenções com professor Snape, vou fazer o que tiver que fazer e, assim que eu terminar, vou voltar para a torre da Grifinória. Juro que serei o mais profissional que puder.

-Eu não falei que você precisava ser profissional. Apenas para ser civilizada. - Ele franze as sobrancelhas, confuso. - É assim que você o tem chamado? "Professor Snape"?

-Claro. Afinal de contas é o que ele é. Um professor. - Digo como se fosse algo óbvio.

-Ella, eu sou seu diretor e você não me chama assim.

-Eu te conheço a minha vida toda, isso não conta.

-Você também não chamava Cassandra assim, e ela te estapeava a cada erro. - Ele tinha um tom de tédio. - Isso é apenas para torturar ele não é? Você já notou que ele está arrependido e quer chutar o cachorro morto. Vou te dizer, é cruel.

-Não é cruel e nem tortura, eu apenas não o perdoei ainda e continuo com um pouco de rancor. Se eu o perdoar tão rápido ele não vai aprender nada com isso. Vai achar que pode fazer coisa parecida novamente. - Explico.

-Então isso quer dizer que em algum momento esse perdão vai chegar? Foi isso que acabei de ouvir? - Ele falou em animação completa.

-E é óbvio que você apenas prestou atenção nessa parte do discurso. - Passo os dedos na testa revirando os olhos de leve. - Sim, um dia eu vou perdoar ele. Afinal, você tirou parte da minha memória e eu o perdoei quando recuperei ela, não é? - O encaro com olhar acusador.- Apenas me dê tempo para digerir o ressentimento. Ontem mesmo eu falava sobre isso com Felipe e a conversa me fez pensar sobre a situação como um todo.

-Então é com o senhor Fox que você tem trocado confidências? Você costumava fazer isso comigo... - Ele tinha um tom melancólico e expressão cabisbaixa.

-Alvo, você está com ciúmes? - Pergunto com um sorriso divertido estampado no rosto.

Ele desvia o olhar e finge preparar outra xícara de chá.

-Não sei do que está falando. - Coloca várias colheres de açúcar na bebida e reprimo a expressão de nojo ao imaginar o quão doce aquilo estaria.

-Você está com ciúmes! Não consigo acreditar! - Começo a rir sem controle algum.

Ele me lança um olhar cortante que só faz a risada aumentar. Vendo que aquilo não adiantava, ele apenas se concentrou em seu chá, o bebendo metodicamente, como se fosse a coisa mais importante do mundo.

-Você sabe que isso é completamente irracional, não é? - Limpo as lágrimas no canto dos olhos. - Você é meu melhor amigo, apesar dos pesares. Isso não vai mudar.

Seguro sua mão sobre a mesa.

Ele acena com a cabeça e tenta conter um sorriso por de trás da xícara.

-Agora seja um bom amigo e me faça uma massagem, por favor. Essa aula me quebrou. - Peço a ele enquanto me movo para sentar no sofá no canto da sala. - Considere isso um compensamento pra mim por, você ter deixado essa aula acontecer.

Seus olhos giram em sua órbita e ele vem em minha direção, fazendo um gesto para que eu me coloque sentada de lado.

-Eu mimei você demais. - Ele se senta atrás de mim e coloca suas mãos em meus ombros, fazendo movimentos repetitivos e intensos. O problema era que suas mãos eram finas mas muito pesadas.

-Alvo, desse jeito você vai deslocar meus ombros. Seja gentil. - Reclamo.

Ele me dá um leve tapa na minha nuca em repreensão.

-Fique queita. - Ele continua a massagem e um silencio confortável se instaura.

Em alguns minutos sinto meus olhos pesados, se fechando sem minha autorização. O cansaço me vencendo aos poucos, o corpo ficando mole e a mente apagando o nexo das coisas.

Pareciam segundos, parecia que nada havia mudado. Minha pele havia registrado a temperatura baixando e meus ouvidos notaram o silêncio dos pássaros.

Meu corpo salta sozinho, como se notasse por instinto que algo não estava certo. O coração acelerado e a pele parecia ter tomado um choque.

Meus olhos abrem, assustados. Me sento no sofá de um jeito rápido. Olho em volta para registrar o lugar.

O escritório de Dumbledore estava calmo, ele estava sentado em sua mesa, assinando alguma coisa, e olhou para mim.

-Aconteceu algo, Ella? Você parece assustada. - Ele falou com preocupação.

-O que aconteceu? - Percebo o sol se pondo pela janela.

-Você dormiu no meio da massagem. - Agora ele tinha um tom divertido. - Uma hora eu perguntei algo, mas você já tinha apagado.

Olho para todos os lados do escritório, procurando um relógio, mas não acho nenhum.

-São que horas? - Pergunto.

Ele tira um relógio de bolso de suas vestes e o analisa.

-Agora são cinco e vinte. - Meus olhos se arregalam em espanto.

-Santo Merlin! - Me levanto num salto e os cantos da minha vista ficam escuros. Agarro a borda da mesa para conseguir algum equilíbrio. - Merda...

-Vertigem? - Ele deduz. Aceno em confirmação e ele bufa. - Era de se esperar. Você dormiu por um longo tempo e perdeu o almoço. Coma alguma coisa.

-Sim, claro. Mas tenho que me preparar para a detenção, Alvo. Se professor Snape for me colocar para fazer poções, preciso estar pronta. - Falo, arrumando minhas coisas jogadas no sofá. - Preciso ir. Até logo.

Saio em disparada da sala do meu amigo, nem mesmo o dando chance de responder alguma coisa.

Atravesso o castelo em tempo recorde para chegar a torre da Grifinória. Digo a senha as pressas e sem esperar que o a passagem se abrisse com completo, corro por entre a fresta do retrato da Mulher Gorda.

Subo para o dormitório e, no malão em baixo da minha cama, procuro as roupas adequadas.

Minhas colegas de quarto me olhavam confusas mas não me dirijo a nenhuma delas.

Entro no banheiro, já tirando a roupa assim que a porta se fecha.

Com muito cuidado lavo todo meu corpo, sendo meticulosa com o que tinha por baixo das unhas. Deus sabe que sujeira pode entrar em conflito com certos ingredientes de poções.

Tendo certeza que cada resíduo do dia havia saído do meu corpo junto com a espuma do sabão e a água, estendo minha mão para a toalha e a enrolo no corpo.

Fico na frente do espelho embaçado do lavabo e passo a mão para poder me enxergar. Penteio meus cabelos ainda molhados e começo a fazer um choque firme no alto da cabeça, que segure todo o cabelo de forma apertada. Assim, lanço um feitiço simples para secá-los, não querendo um cabelo possivelmente mofado e com caspas depois.

Começo a vestir minha calça impermeavel, ajustada, com corte feito sob medida, se alinhava rente ao corpo em seu tecido sarja na cor cinza chumbo sendo acompanhada de preste por seu cinto preto. O suéter veio logo depois. Sua gola alta protegendo o pescoço e suas longas mangas protegendo os braços e pulsos. A cor cinza queimado valorizava a peça justa que era colocada para dentro da calça. Antes de sair do banheiro, me certifico se as roupas que usava estavam mesmo com os encantamentos de proteção que haviam sido colocados em sua criação. Tendo a certeza que tudo estava bem, volto para o quarto e procuro meus coturnos.

-Alguma de vocês viu meus coturnos? - Pergunto revirando minha mala.

Uma das meninas apontou para um ponto acima da minha cabeça. Olhei para trás e os encontrei em uma prateleira.

-Obrigada. - Sorri para ela.

Começo a colocá-los e logo em seguida amarro bem seus cadarços até o final de seu cano alto na panturrilha, não apertando muito para o fluxo de sangue não ser interrompido

-Onde vai com tanta pressa?

-Detenção com professor Snape. - Digo ainda com a atenção focada em amarrar os cadarços.

Um silêncio desconfortável toma conta do lugar e eu podia imaginar elas olhando de uma para a outra, fofocando com os olhos.

"Pelo menos estão esperando que eu saia para começar a falar sobre isso." - Penso, agradecida por não ter que ouvir a possível e eminente fofoca.

Me levanto e vou até minha bolsa em cima na cama. De lá eu pego minhas próprias luvas, apenas confiando em meus próprios utensílios de proteção. Penduro as luvas no cinto e olho para o relógio em meu pulso. Eu tinha dez minutos para estar nas masmorras.

-Eu começaria a correr. Da última vez que me atrasei para uma detenção de Snape, ele me fez amassar larvas e picar minhocas a noite inteira. - Roberta falou, fazendo uma expressão clara de nojo ao lembrar.

Aceno em agradecimento, sorrindo para seu conselho.

Me despeço das garotas e saio do lugar.

                             >>◇<<

Eu estava andando em passos largos, quase correndo, na direção do escritório de Snape.

Nos corredores das masmorras haviam alguns Sonserinos que passavam, me lançando olhares de zombaria, claramente cientes do que eu fazia ali.

Finalmente chego à porta do escritório. Uma porta de madeira espessa e escura, polida tão bem que parecia um espelho. Sinto uma vibração pequena vindo de lá e reconheço o feitiço do olho mágico. Snape já sabia que eu estava atrás da porta. Não deixando que o feitiço capturasse minha expressão de reconhecimento, bato na porta.

Posso ouvir os passos das botas pesadas do professor através da madeira, o que era curioso, já que o homem era tão silencioso quanto um felino caçando.

Ele abre a porta por completo, me dando visão do que havia atrás dele.

O homem tinha uma carranca no lugar do rosto. Sua expressão estava tão fechada e rígida que não pude conter quando meus olhos semicerraram a procura de um motivo, mesmo que o tenha feito de forma inconsciente.

-Boa noite, senhor. - Comprimento em tom profissional.

Ele não me respondeu, apenas me deu passagem, tirando seu corpo da abertura da porta em um convite silencioso para entrar.

Olhei em volta e a sala não estava muito diferente. A mesa rústica do professor tinha seus incontáveis pergaminhos amontoados em uma bagunça sem fim, as duas estantes de livros, postas uma em cada extremidade do fundo do lugar. A altiva cadeira, claramente mudada para uma mais confortável que a anterior, arrastada até o canto da parede. O sofá no qual eu um dia meditei, estava lá, num tom marrom em veludo. O lustre, antigo em estilo gótico, iluminava o suficiente para não parecer muito claro nem muito escuro. No chão estava um tapete modesto,  preto, liso e sem estampa alguma.

Ao lado da sala havia uma porta fechada, que deveria levar até seus aposentos. Do outro lado havia outra, essa estava aberta, escancarada. De lá veio um som estrondoso de algo se chocando com o chão e se quebrando. Som de vidro.

Pude escutar Snape rosnar de raiva ao meu lado.

-Longbottom! Eu juro, em nome de Salazar, que se esse som foi emitido por algum dos meus ingredientes, vou fazê-lo perder tantos pontos da Grifinória que nem a quinta geração que vier depois de você vai saber o que é ganhar uma taça das casas.

-E você odiaria isso, claro. - Falo mais pra mim do que para ele, destilando sarcasmo na voz. 

Posso sentir seus olhos em mim, então o encaro. Ele ainda tinha a expressão sólida, nem mesmo um músculo havia se movido, mas os olhos brilhavam com algo.

"Isso mesmo, professor. Se distraia enquanto um aluno pode ter se machucado seriamente na sala ao lado." - Penso mas não digo, me lembrando da promessa à Alvo de ser civilizada.

Vendo que o homem não parecia tomar uma atitude, tomo a dianteira da situação e vou a caminho da porta aberta.

Lá encontro Neville Longbottom, tentando pegar, com as mãos trêmulas, pedaços de cacos de vidro que antes deveriam ser fracos vazios para armazenar poções.

Vendo essa cena, me aproximo rápido do menino.

-Neville, levante e solte isso. - Tento manter o tom gentil.

Quando o garoto se levanta posso notar seu pânico. Pego suas mãos nas minhas e começo a procura algum corte. Suspiro em alívio quando não encontro nenhum.

Me volto para a bagunça de vidro e posso ver Snape na porta, observando a situação.

Puxo minha varinha da manga do suéter e com um movimento simples os cacos no chão se juntam, retomando suas respectivas formas originais. Sem muita dificuldade, levito os frascos até o espaçoso balcão americano no meio da sala.

Olho de novo para Neville e o menino tremia de medo, seus olhos passavam por mim e iam para Snape, que ainda estava na porta.

O professor andou até meu lado, ainda com seus passos estranhamente pesados. O lanço um olhar pela visão periférica e sei que ele notou quando o ouço limpar a garganta.

-Você está dispensado, senhor Lomgbottom. - Ele anuncia.

O menino saiu do lugar numa rapidez surpreendente, e antes que eu pudesse dizer algo, a porta do escritório havia se fechado em um baque, deixando claro que ele tinha saído.

Olho para o balcão e lá vejo a bolsa de Neville. Vou até a bolsa, me colocando atrás do balcão.

-Ele esqueceu as coisas dele. - Penso em voz alta e Snape deduz que eu falava com ele.

-Eu ficaria surpreso se ele lembrasse. O garoto só ainda não perdeu a cabeça pelo fato do pescoço a prender.

Com esse comentário, meus olhos se levantam para examinar o homem.

Ele não tinha mais a postura de momentos atrás. Seu rosto tinha perdido a expressão severa de antes. Ele tinha a cabeça um pouco abaixada e beliscava a ponta do nariz com as pontas do indicador e polegar. Aquilo era um gesto apaziguador. O homem estava nervoso. Ficar trocando seu peso de um pé para outro, sutilmente, apenas confirmava.

Ele fez um som de tosse, provavelmente desconfortável.

-Então... -Começou. - Dumbledore me contatou pela rede de flu. Ele falou algo sobre você não ter se alimentado direito nas últimas horas. Ele acha melhor que você coma algo antes que comece a detenção. Você está de acordo? - Pergunta.

Balanço a cabeça em um sinal de "sim".

Ele aponta a varinha para o balcão e, em um segundo, ele está limpo da bagunça que Neville tinha feito limpando os caldeirões. O granito preto estava liso e impecável.

-Apenas me dê um segundo. - Ele disse, levantando o dedo indicador.

Assim, ele saiu pela porta que levava para seu escritório e o perdi de vista. Me sentei em um banco alto e sem recosto e esperei.

Alguns momentos depois começo a escutar o tilintar de talheres ou algo assim. Então Snape aparece de novo em meu campo de visão, atravessando a porta com uma bandeja mediana nas mãos, está repleta de recipientes.

Ele se aproximou com cuidado, tomando precauções para não derrubar tudo.

-Bem... Eu não sabia do que você gostava, então pedi uma luz para Alvo. Ele me deu uma lista das coisas que você gosta, então entreguei a os elfos na cozinha. - Falou enquanto colocava a bandeja em cima do balcão.

Ele se move para longe, indo para o outro lado, me olhando em expectativa.

Finalmente presto atenção na comida à minha frente.

Ali havia uma variedade interessante. Salada de espinafre com molho de iogurte natural, arroz integral com brócolis e cenoura, um feijão preto, com o caldo tão grosso que parecia chocolate, filé de frango passado com tanta cebola que poderia tranquilamente ser chamado de "cebola ao frango" e não o contrário. Tudo em recipientes separados. Num pequeno pote, no canto da bandeja, havia um purê de abóbora salpicado com linhaça. Em um grande copo, cheio quase até a boca, estava um suco, que pelo cheiro deduzi ser de limão.

Olhando para tudo aquilo, o pequeno troll em meu estômago começou a reclamar, fazendo um barulho tão alto que tive certeza que até o homem do outro lado do balcão escutou.

                             >>◇<<

P.O.V'S SEVERO SNAPE

Contenho a pequena risada que quase me escapa quando o estômago dela ronca em protesto.

-Vou preparar as coisas para sua detenção. - Deixo de prestar atenção nela, não querendo que ela fique desconfortável.

Posso escutar o som dos talheres se chocando com os recipientes de metal e logo com o prato de vidro.

Ando pelo lugar a procura da lista de poções que Pomfrey enviou essa semana. No momento que a recebi, soube imediatamente que isso seria a atividade perfeita para as detenções com Antôniella.

Enquanto eu lia a lista, de costas para a garota, pergunto:

-Você está familiarizada com poções base de uma enfermaria? - Começo a me virar em sua direção, apoiando as mãos sobre o balcão.

Ela bebia seu suco e me olhava por cima do copo. Não se apressou a responder, abaixou o copo calmamente e pareceu querer começar a falar.

-Algumas mais que outras. Mas sim. - Finalmente respondeu.

-Ótimo. Hoje você vai lidar com uma delas. - Anúncio.

-Qual? - Pergunta enquanto leva uma garfada generosa até a boca.

-Poção Apimentada. O tempo de resfriados está chegando, Papoula quer estar preparada.

-Não me admira. Com o tanto que chove nesse lugar era esperado que as pessoas ficassem resfriadas com facilidade. - Ela diz com uma nota de diversão na voz.

Isso me anima. Aparentemente ela estava mais aberta para conversa neste momento.

-Então você não gosta de chuva? - Tento continuar o assunto.

-Não foi isso que eu disse. A coisa é que aqui chove o tempo inteiro. É quase absurdo. - E bebe outro gole do suco. - Eu gosto de chuva, mas todos precisamos de um pouco de sol, mesmo que não seja na temperatura infernal da minha cidade.

-Lá faz tanto calor assim? - Incito ela a continuar.

Ela bufa uma risadinha irônica.

-Vá para aquele lugar no mês de Janeiro para experimentar. Sol de 40°C e chuvas vindas do nada. Fica abafado e húmido. Se pode sentir o peso no ar. Claro, isso quando não é o completo oposto e o ar fica tão seco que se pode sentir as narinas ásperas e a garganta arranhando como areia. Os asfaltos fervem e eu desafio qualquer um a usar uma sapatilha de plástico nesses dias. - Falava sorrindo, olhando para sua comida e a mexendo com o garfo.

Algo brilhou em sua expressão, algo como reconhecimento. Ela levantou seus olhos e os colocou em mim, me analisando com cuidado. Suas feições se acalmaram, retomando os traços neutros de todos esses dias. Ela estava ocluindo emoções.

-Professor, acho melhor começarmos. Terminei de comer. - Apontou para a bandeja a sua frente.

-Sim... Claro. - Hesito na fala, notando que o momento havia acabado ali. - O lugar onde vai preparar a poção é este mesmo. Os caldeirões estão na prateleira atrás de você, bem ali em cima. - Aponto. - Fique a vontade, apenas não exploda nenhum caldeirão.

Algo em seus olhos me dizia que ela estava pronta para responder a pequena provocação, mas ela apenas se absteve a acenar com a cabeça.

Começou pegando o caldeirão de ferro na prateleira e colocando sobre o fogo já aceso, colocou água e deixou isso de lado quando foi até o armário no fundo da sala, para pegar os ingredientes. Ela não precisou que eu dissesse quais eram, ela nem mesmo perguntou. Os colocou na superfície lisa e foi pegar a tábua de cortar.

-Está errado. - Digo.

Ela voltou com a tábua nas mãos e me olhou, questionando.

-Não, não está. - Falou enquanto limpava a faca para a usar.

-Essa poção não leva água. Isso faz com que a poção perca a potência. - Digo, sabendo que isso tinha um jeito de ser revertido mas esperando para ver a ração dela.

-Claro, você está certo. - Fez um gesto dispensando meu comentário, com as mãos ocupadas, cortando a polpa das pimentas tão finamente que elas poderiam estar translúcidas. - Isso se eu não fosse duplicar a quantidade de pimenta e do sangue de salamandra em relação às escamas de Kappa e os pelos de Erumpente, coisa que vou fazer. Vou moer as sementes da pimenta no pilão ao invés de as adicionar inteiras. A poção pode ficar mais instável e precisar de atenção triplicada, mas isso vai fazê-la render muito mais e até mesmo ficar mais intensa.

Um sorriso satisfeito se formou em meu rosto.

"Garota esperta." - Penso orgulhoso.

-Posso fazer uma pergunta?

-Claro. Porém não posso garantir que vou responder. - Fala, colocando uma grande quantidade de sangue de salamandra no caldeirão quente.

-Onde aprendeu a fazer poções? Sei que Alvo te ensinou em casa, mas ele não é o melhor pocionista, sua área mesmo é transfiguração e DCAT. - Pergunto com curiosidade.

-Bom. Alvo me ensinou tudo que podia, até que já não sabia mais o que me ensinar nessa área e em algumas outras. Realmente a especialidade dele são essas duas matérias. Quando eu terminei meu segundo ano em magia, e aconteceu... bem, aconteceu. - Ela parecia desconfortável e identifiquei no mesmo instante do que ela falava.

Ela limpou a garganta e continuou.

-Eu estava me afogando em coisas para fazer, tentando manter a mente ocupada. Então, no início do meu terceiro ano, Dumbledore colocou em prática algo que ele já queria que eu fizesse a um tempo. Ele me fez fazer estágios com algumas pessoas, me fazendo aprender com alguns mestres das áreas das matérias que precisava estudar. Alguns estágios duravam um mês, ou apenas duas semanas, outros chegaram a quatro meses. - Ela já havia terminado de cortar a pimenta e colocou na poção.

-Com quem você estagiou em poções? - A observo colocar as sementes no pilão. Ela era precisa em cada movimento feito.

-Acácio Salvatierra. Ele é um mestre de poções mexicano, mora no Brasil faz uns dez anos. Fiz estágio com ele por quatro meses. Na verdade foi um dos que mantive. Todos os anos, depois do terceiro ano, eu fico dois meses com ele, em seu laboratório. Também ainda faço os estágios de DCTA e Herbologia, mas esse ano não vai ser possível, por estar em Hogwarts. Talvez nas férias, quem sabe. - Ela pondera consigo mesma.

-Alvo não achou que seria melhor fazer esses estágios com os professores de Hogwarts? - Minha testa estava franzida em confusão.

-Ele achou que seria injusto com os outros alunos. Ele estava convicto que minha mãe iria ceder em sua preocupação de eu vir para Hogwarts, e Alvo não queria que eu ficasse familiar dos professores e pudesse ter alguma vantagem, tendo aulas particulares com vocês antes de vir estudar aqui.

-Você tendo aulas avançadas e particulares não seria injusto, claro. A lógica de Alvo Dumbledore. - Meus olhos reviram com isso e posso ouvir ela dar uma pequena risada, tão baixa que se o lugar não estivesse tão calado eu não escutaria. Meus lábios se erguem um pouco dos lados com isso.

-Eu não o culpo, professor. Ele apenas estava preocupado. - Ela coloca as sementes bem amassadas no caldo fervente da poção e mistura com uma colher de madeira. - Pode me passar a pinça do seu lado, por favor? Não quero danificar as escamas de Kappa as pegando com a mão.

Olho para meu lado e pego a pinça, estendendo o braço para que ela pegue. Antôniella abre sua mão para pegar a ferramenta delicada e sem querer nossa pele se toca.

"Tão clichê..." - Zombo na minha mente, tentando fingir que meu coração não batia em meus ouvidos agora.

Ela me olhou pela primeira vez desde que começou a fazer a poção. Uma de suas sobrancelhas se levantou, me causando uma familiaridade comigo mesmo que me aqueceu o peito por um momento. Era possível notar que ela tentava não deixar os cantos da boca subirem em um sorriso.

-Obrigada, senhor. - Agradeceu já com a pinça na mão. - Vou colocar as escamas inteiras. O pó delas pode entrar em conflito com a pasta das sementes.

-Sem problemas. - Afirmo, prestando atenção na coloração da poção.

Enquanto ela colocava as escamas, a poção tomou um tom lilás claro. Imediatamente ela tira o caldeirão do fogo.

-Agora só precisa esfriar. Se esfriando ela se tornar roxa, quer dizer que fiz algo errado. Se ela se mantiver, é só colocar o último ingrediente. - Balançou o recipiente com os pelos de Erumpente nas mãos.

Antôniella abriu o pote e aproximou do nariz.

"É agora que veremos..." - Penso em expectativa.

Sua expressão fica confusa mas logo seus olhos se arregalam.

-Seu grande idiota... - Ela sussurra em descrença, me olhando.

Não digo nada quanto a isso, fingindo que não tinha escutado sua ofensa.

Pegou três pelos grossos em sua mão, ao invés dos seis que a receita pedia, e jogou na poção ainda quente.

"Boa menina." - Escondo um sorriso atrás da mão, tentando parecer discreto quanto a isso.

-Deixe-me ver se entendi direito. Você iria me deixar colocar seis pelos de Erumpente no cio nessa poção, tendo risco de envenenar algum aluno com a quantidade de feromonios nesses pelos? É isso mesmo, professor? - Ela parecia indignada.

-Se você fizesse tal coisa, essa poção seria jogada no lixo no momento em que colocasse os pelos. Então eu te explicaria o que fez de errado e você teria que fazer a poção de novo. - Explico. - Mas você adicionou só metade dos pelos e na poção ainda quente, fazendo com que eles dissolvam e tenham a mesma força original. Muito bem.

Ando até ela e fico a sua frente. Seus olhos me encaram e ela tem que inclinar um pouco sua cabeça para cima para conseguir fazer isso.

-O senhor é uma cobra traiçoeira. - Ela insulta.

Dessa vez não contenho o sorriso malicioso. Me inclino para frente, me abaixando um pouco para perto de seu rosto.

-Não é pelo fato de que gosto de você que deixei de ser seu professor, e mais, o chefe da Sonserina. Esse foi meu teste e você passou. Essas são minhas técnicas de ensino, mas nesse caso não precisei ensinar você. Você teve uma performance excelente. Parabéns. - Falo e volto a minha posição normal, coluna reta e vários centímetros acima dela.

Sua expressão vacilou em diversão por um momento, mas logo ela se recuperou e voltou a neutralidade. Se virou para sua estação de trabalho e lançou um feitiço para esfriar a poção.

-Onde estão os frascos? - Pergunta.

Abro o armário em baixo do balcão e pego um suporte de madeira com cerca se 50 frascos pequenos. Arrasto isso para o lado dela, entregando.

Antôniella parecia concentrada em não deixar nenhuma gota vazar. Logo aproveitei o momento para observar com mais cuidado.

Ela não estava vestida de um jeito convencional. Parecia rígida, formal e profissional. Algo em sua roupa me lembrava de alguma coisa.

-Sua roupa me parece muito familiar... - Penso em voz alta.

-É um uniforme de pocionista, do departamento de aurores do Brasil. - Explica, sem me encarar, ainda enchendo os vidrinhos.

-E como exatamente você tem esse uniforme? Isso não é ilegal?

-Meu tio é auror. Ele me arranjou um no início do meu estágio em poções. E sim, é ilegal. Mas meu tio retirou o brasão dos aurores da roupa. Então se ninguém vê, ninguém sabe. - Sua voz estava baixa e concentrada, como se falasse sozinha. Em seu tom, era possível perceber uma satisfação por não estar seguindo as regras.

-E seria inteligente falar isso para um professor? - Provoco ela.

-Oh sim? E o que vai fazer? Contar para Dumbledore? - Ela destilava sarcasmo em uma voz risonha.

-É claro que o velho maluco sabe. - Sussurro para mim mesmo.

Ela pareceu não ter ouvido, ou fingiu que não.

Terminava de encher os frascos e terminava sua tarefa.

Sem que eu mandasse, ela começou a limpar a estação de trabalho. Iniciou lavando o caldeirão na pia atrás dela. Ela o areou e poliu em silêncio, quase apreciando o momento. O secou com cuidado e o devolveu a sua prateleira de origem.

Eu observava do outro canto da sala quando ela limpava a bancada, a deixando intacta, tomando cuidado para não deixar resíduo algum. Por fim ela limpou as facas, terminando de vez aquela primeira detenção.

Ela andou e se colocou à minha frente.

-Mais alguma coisa que devo fazer, senhor?

Olho em volta do lugar, procurando alguma falha em sua limpeza, até mesmo na sua poção já nos recipientes, mas nada me dava mais algum motivo para fazer com que ela ficasse mais. Suspiro rendido.

-Não. Não há mais nada por hoje. Pegue suas coisas, vou te levar até a torre da Grifinória. Já passou do toque de recolher. - Informo a ela.

-Não tem nada que precise pegar, professor. Apenas trouxe minha varinha. Podemos ir.

-Tudo bem. Guie o caminho. - Faço um gesto para que ela vá primeiro.

                            >>◇<<

Nós andávamos pelos corredores silenciosos. Tudo que era ouvido eram os sons dos nossos sapatos contra o chão duro, ou de alguns quadros mais barulhentos, que "roncavam" dormindo.

-Antôniella... - Tento começar.

-Não deveria me chamar assim. Pode parecer antiprofissional. - Ela nem mesmo me olhou, só continuou andando ao meu lado.

- Eu decido o que é antiprofissional ou não. - Não queria, mas esse comentário saiu com uma rispidez desnecessária. - Desculpe... Eu apenas queria tentar consertar... Bem, você sabe.

Ela continuou andando mas dessa vez virou seu rosto para mim.

-Professor. Apenas me leve até a torre da Grifinória. Não vamos falar sobre isso. Eu não quero falar sobre isso agora.

A única coisa que eu consegui prestar atenção foi no "agora" no final daquela fala, e aquilo ficou martelando tanto na minha mente que nem notei quando chegamos ao retrato da Mulher Gorda.

Antôniella me olhou como se tivesse um segredo que não poderia revelar, aquilo me fez achar graça da situação.

-O que? Com medo de dizer a senha perto de mim? - Ela cruzou os braços e semiserrou o olhos, me desafiando. Aquilo me fez abaixar a cabeça para rir.

Coloquei as mãos nos bolsos da calça social e olhei para a garota emburrada e desconfiada na minha frente.

-Lula Gigante. - Digo e a passagem para a sala comunal da Grifinória se abre. Antôniella me olha um pouco surpresa. - Eu sou professor de Hogwarts a muitos anos, faço rondas por esse castelo para manter os alunos seguros. Eu sei cada senha e cada passagem possível nesse lugar. Não precisa tentar esconder isso de mim.

O brilho desconfiado ainda não saiu de seus olhos, mas ela assentiu, confirmando que entendeu.

-Boa noite, professor Snape. - Se despediu, passando pela passagem no grande quadro.

-Boa noite, Antôniella. Durma bem. - Não pude saber se ela ouviu ou não, o retrato se fechou antes disso.

P.O.V'S ANTÔNIELLA ARAÚJO

-Felipe. Você pode, pelo amor de Deus, mastigar de boca fechada? - Digo, perdendo um pouco da paciência com o barulho de mastigação.

Outro dia se iniciava e nada de novo acontecia. A monotonia estava me corroendo e me causando ansiedade.

-Parece que alguém acordou do lado errado da cama... A detenção com Snape foi tão ruim assim? - Felipe comenta.

Ignoro sua provocação e presto atenção em minha própria refeição. Se passam alguns minutos e o som de dentes triturando comida volta. Levanto minha cabeça para poder repreender meu amigo novamente, só que dessa vez o barulho vem de um pequeno ruivo, comendo com tanta vontade que se poderia dizer que estava em jejum a quarenta dias.

Vendo isso, dou um tapa no braço de Felipe, que estava sentado ao meu lado.

-Veja o que fez? Rony está pegando seus maus hábitos. - Acuso.

-Ei! Pode parando. Como eu posso ter algo com o modo que ele come? - Parecia ofendido.

-Eles passam grande parte do tempo conosco. Ou você acha que quando jogam Xadrez Bruxo ele não repara em seus comportamentos? Eles são crianças de onze anos, tendem a copiar ou espelhar ações de quem gostam. Por isso algumas crianças são tão parecidas com seus pais e mães. - Explico. - Então coma direito, se porte melhor perto deles, e por favor, não xingue se eles puderem escutar.

-Você soa como uma mãe. - Ele tinha a pura expressão de descontentamento.

-Isso deveria ser um insulto?

Ele apenas sorri e ignora a pergunta.

-Você fez o trabalho de runas? - Questiona.

-Sim. Terminei anteontem. Tive um problema com a tradução de algumas mas fui até a biblioteca e fiz uma pesquisa melhor.

Sinto Felipe colocando a cabeça em meu ombro e me encarando com olhos de cachorrinho abandonado.

-Ella... - Ele começou.

Sorrio com o rosto próximo ao seu e acaricio sua bochecha.

-A resposta é não. - Então beijo sua testa e lhe dou um pequeno peteléco no mesmo lugar.

-Você nem sabe o que eu ia dizer. - Ele se ajeita em seu assento, tirando a cabeça do meu ombro, e tem uma voz indignada.

-Você ia pedir para copiar meu trabalho. - Bebo um gole do suco de abóbora. - E a resposta é não. Se não fizer por sua conta, como vai aprender? E outra. Não é como se não fossem perceber dois trabalhos exatamente iguais.

Ele abaixou a cabeça até a mesa e apoiou sua testa nela.

-Eu vou ficar sem nota. - Falou choroso.

-Eu iria para a biblioteca nesse primeiro tempo de fosse você. - Aconselho.

-Perdeu o juízo. Nós temos aula de poções nos dois primeiros tempos agora de manhã. Se não apareço nessa aula, Snape me tortura na próxima por isso.

professor Snape. - Hermione corrige, sentada ao lado de Harry e um Rony que revirou os olhos com isso.

Felipe olha para a menina e depois para mim, em choque.

-Eu acabei de ser repreendido por uma garota de onze anos? - Me perguntou como se não pudesse acreditar.

-Sim, e com louvor! - Tento reprimir a risada. - E ela não está errada.

-Oh claro. Mas ele te chamar de Antôniella noventa e nove porcento do tempo está tudo bem? Não seja hipócrita. - Sussurrou para mim, tentando ser discreto.

-Com objetivo de preservar minha paciência, não vou responder isso. Agora, termine logo seu café. Vamos nos atrasar.
                        
                           >>◇<<                                

-Hoje vocês iram preparar uma poção de repor sangue. Ela repõe um quarto de sangue perdido. Pode parecer pouco, mas faz toda diferença. - Snape explica. - É uma poção de nível médio, isso considerando que vocês estão no sexto ano. Logo, eu espero que não tenhamos incidentes. Caso aconteça...

Com isso ele lançou olhares antipáticos e ficou subtendido o que ele queria dizer.

Todos os alunos começaram a ir até os armários de ingredientes. Fiz o mesmo, tomando cuidado para não confundir os dentes de chupacabra com os de qualquer outra criatura.

Voltei para minha bancada e coloquei o caldeirão no fogo médio, com água para ferver.

Comecei a moer os dentes de chupacabra no pilão. Quando terminei a água já borbulhava. Peguei o conta gotas e pinguei as dez gotas de sangue de dragão. Higienizei o utensílio com um feitiço e o usei de novo para duas gotas de lágrimas de fênix.

A poção tomou uma cor âmbar brilhante, confirmando que tudo corria bem.

Descasquei e cortei a beterraba, triturando com a ponta da faca, como se fosse um hambúrguer feito de jeito artesanal. Quando coloquei na poção, ela se tornou vermelho sangue.

Me afasto um pouco da bancada, com o objetivo de esperar a poção encorpar para colocar os dentes de chupacabra.

Olho para o lado para ver se Felipe estava indo bem e me assusto quando noto um ingrediente em sua mesa.

-Ó Deus... -Sussurro pra mim mesma.

Tento manter a calma e levanto minha mão, tentando chamar a atenção do professor.

Ele me olha confuso. Era a primeira vez que o chamava durante a aula, até mesmo antes da briga.

Snape se aproximou da minha bancada e a olhou, analisando se tinha algo errado com minha poção para o ter chamado. Seguro seu braço e o puxo um pouco para baixo, tentando o deixar mais próximo da minha altura.

-Esvazie a sala. - Sussurro para ele. - O mais rápido que puder.

-Por qual motivo? - Responde no mesmo tom baixo que o meu.

Aponto de modo discreto para a mesa de Felipe, que estava alheio ao desastre eminente.

-Felipe se confundiu e usou presas de Oni ao invés de dentes de chupacabra. Ele já colocou o sangue de dragão e as lágrimas de fênix. Pela cor ele já colocou as presas também. Se meus cálculos estiverem certos, você tem...

-Cinco minutos para esvaziar a sala. Seis, se tivermos sorte. - Ele completa meu pensamento.

Nesse mesmo momento a poção de Felipe começa a soltar uma fumaça vermelha escura.

-Todos vocês. Saiam dessa sala imediatamente. - Professor Snape diz, tentando manter a voz firme.

Os alunos o olham confusos com isso e ele parece perder a paciência.

-Saiam! AGORA! - Então eles não questionam mais.

Todos os alunos saem em disparada, quase levando consigo as cadeiras que estavam sendo arrastadas pelos passos desesperados.

Felipe ficou, me esperando ainda perto do seu caldeirão caldeirão instável.

-Senhor Fox! Você tem uma detenção comigo hoje por sua total falta de atenção com ingredientes! Garoto completamente estúpido! - Grunhiu para o aluno.

O professor deu um passo para nos enxotar da sala, mas cambaleou um pouco e se segurou em uma mesa.

Olhei para Snape e algo claramente estava errado. Ele parecia mais pálido, seus olhos pareciam pesados e sua testa tinha uma camada fina de suor. Pude ver o exato momento em que seus olhos viraram nas órbitas e só o branco deles pode ser visto.

Fui rápida o suficiente para não o deixar cair e se machucar, mas o homem era pesado demais para manter assim. O deitei no chão com dificuldade e olhei para Felipe.

-Vá e avise a Madame Pomfrey, logo depois corra a diga a Dumbledore o que está acontecendo. Seja rápido. - Uso a voz de comando aprendida nas caçadas.

Ele corre na direção da porta e logo o perco de vista.

Volto minha visão para Snape desmaiado e um pânico se instaura em mim.

-Professor. Professor Snape. - Começo a chamar o dando pequenos tapas em suas bochechas.

Olho para o caldeirão borbulhante a algumas mesas de nós e um desespero incomum começa a me tomar.

-Snape, acorde pelo amor de Merlin. Nós precisamos sair daqui. - Pego minha varinha para tentar levitar Snape para fora daquele lugar, mas repenso no último segundo. A magia do feitiço pode afetar a poção e fazer a explosão ser algo dez vezes pior.

Respiro fundo e tento acalmar minha mente. Engulo em seco e solto o ar. Com movimentos fortes e precisos da varinha, construo um escudo ao nosso redor, tentando garantir que a poção não viria a nos machucar. Esse era o objetivo pelo menos...

Mais calma agora, sabendo que pelo menos tinha algo que nos separava daquele caldeirão, me volto para o homem desacordado.

-Severo... - Passo a mão em seu rosto, afastando os fios de cabelo, e me aproximo para que ele possa me escutar se tivesse o mínimo de consciência acordada em seu corpo. - Severo, você precisa acordar. Não sei por qual motivo você desmaiou mas precisa acordar. Aquele caldeirão vai explodir a qualquer momento e eu não sei se o escudo que levantei vai segurar o impacto que sei que esta por vir. Por favor, acorde... - Suplico.

Antes que eu pudesse tentar mais alguma coisa, escuto e sinto a explosão e logo tudo fica vermelho.


Notas Finais


-Nox...


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