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História Uma Doce Mentira - Perdendo o controle - ATUALIZADO


Escrita por: YAfanfics

Capítulo 8 - Perdendo o controle - ATUALIZADO


Fanfic / Fanfiction Uma Doce Mentira - Perdendo o controle - ATUALIZADO

Justin’s Point of View

Pisquei algumas vezes antes de tornar minha visão totalmente nítida e enxergar apenas aquele teto branco e opaco acima de mim, pequenos filetes de luz transpassavam as cortinas do quarto mergulhado em silêncio e causavam grande incômodo aos meus olhos pesados. Em consequência do álcool e das substâncias ilícitas que eu havia consumido nas últimas doze horas, em uma boate que costumo ir com frequência, a noite passada se tornara um borrão para mim e deixara de presente apenas uma dor de cabeça exorbitante e difícil de suportar. Contudo, os acontecimentos que se deram no campus da universidade durante a longa manhã do dia anterior eram tão claros que um sorriso se projetou automaticamente em meus lábios. Oliver Morris havia sido o garoto que mais trouxera prejuízo aos negócios desde que o conheci há alguns meses, aquele drogado de merda estava me devendo uma grana preta e vivia implorando para que estendesse seu prazo de pagamento. No entanto, paciência não é uma de minhas virtudes e eu também precisava mostrar àquela garota cheia de si o que sou capaz de fazer quando pessoas inoportunas e insolentes cruzam o meu caminho, então resolvi matar dois coelhos com uma só cajadada.

Afastei as cobertas e coloquei os pés para fora da cama, permaneci sentado sobre o colchão enquanto coçava os olhos vagarosamente e depois me dirigi até o banheiro para tomar uma chuveirada. Saí de lá quinze minutos depois com uma toalha branca enrolada na cintura e bagunçando os cabelos molhados com uma das mãos, fui direto até o armário e peguei uma camisa cinza, uma calça jeans clara e um par de Vans vermelho.

Depois que terminei de me vestir, me certifiquei de tomar dois comprimidos de Ibuprofeno para a dor de cabeça antes de deixar o quarto e descer o lance de escadas de dois em dois degraus. Encaminhei-me até à cozinha, onde encontrei Angelina fazendo waffles com calda de chocolate para o café da manhã ao mesmo tempo em que cantarolava animadamente uma antiga música em espanhol.

– Bom dia, menino! – Ela abriu um sorriso assim que me viu. – Seus waffles estão quase prontos.

– Bom dia, Angelina. – Murmurei ao sentar-me à mesa e me preocupei apenas em massagear minhas têmporas com uma das mãos, na esperança de aquela simples ação fizesse a minha dor de cabeça cessar.

– Estava lendo o jornal hoje cedo e fiquei horrorizada ao passar os olhos por uma reportagem que falava sobre o assassinato de um aluno no campus da Columbia na manhã de ontem. – Angelina disse enquanto colocava um prato com waffles junto a uma mediana jarra com calda de chocolate em cima da mesa. – O noticiário local também estava comentando sobre isso.

– Esse tipo de coisa acontece todo dia ao redor do mundo, Angelina – disse sem dar muita importância – E Calabasas não é e nem nunca será uma exceção aos maníacos. – Completei.

– É isso que me assusta, menino. – Ela entortou a boca para acentuar ainda mais sua expressão aflita e agoniada. – Já perdi meu filho para o mundo do crime, não aguentaria perder você também.

– Sinto muito pelo seu filho. – Tentei mostrar respeito à sua dor apesar de toda a minha impaciência naquela manhã. – Quanto ao seu medo em me perder, você não precisa se preocupar com isso nem por um minuto, porque você nunca vai me perder. – Forcei um sorriso que pareceu tranquilizá-la e joguei um waffle no meu prato, depois despejei uma boa quantidade de calda de chocolate antes de enfiar um pedaço na boca.

Terminei de tomar café da manhã em silêncio e em seguida me dirigi até a sala, onde me joguei no sofá da sala antes de sacar o celular do bolso da calça e discar o número de Ryan, que atendeu no quinto toque.

Isso lá é hora de me ligar, filho da puta? – Ryan resmungou com uma voz arrastada de quem acabou de acordar e eu revirei os olhos.

– Isso lá é hora de estar dormindo, cuzão? – Rebati.

Sim, é. – Ele afirmou. – Você tem mais de cinco Rolex de ouro guardados em uma caixa e outros relógios espalhados pela porra da sua casa, então deve saber que são oito e quarenta e dois da manhã.

– E por saber que são oito e quarenta e dois da manhã é que eu estou te ligando.

O que você quer? – Ele murmurejou de má vontade.

– Precisamos conversar sobre os negócios.

Ouvi Ryan soltar um longo suspiro do outro lado da linha. – E essa conversa não pode esperar até, sei lá, umas onze e meia? – Ele indagou.

– Você tem dez minutos para estar aqui. Dez minutos. – Frisei e finalizei a ligação antes de ouvir uma resposta.

Selena’s Point of View

Não passava das nove horas de uma manhã ensolarada na Califórnia e eu já me encontrava com as pernas esticadas sobre a escrivaninha do escritório há uns bons trinta minutos, equalizando a frequência das escutas estrategicamente colocadas na casa de Bieber há duas noites. O cômodo equipado com as parafernálias do FBI localizava-se ao lado da suíte principal no final do corredor e era bem pequeno em comparação aos outros, tinha as paredes pintadas em um tom de laranja acobreado e uma única janela com persianas.

Por meio de uma das escutas, descobri que Justin estava à espera de alguém, ou melhor, da mesma pessoa com quem falara no celular há alguns minutos e a quem estipulou um curto período de tempo para chegar à sua casa. Como Bieber fez questão de mencionar a palavra negócios durante a conversa, deduzi que a pessoa que o estava escutando do outro lado da linha se tratava de algum dos garotos, mais especificamente de Ryan, e acabou que a minha intuição estava certa. O garoto chegou não muito tempo depois do telefonema e ambos seguiram diretamente para o escritório, onde pude ouvir quando Bieber fechou a porta e se sentou sobre sua cadeira giratória com estofamento preto, a qual rangeu por conta do peso de seu corpo.

O que você tinha de tão importante para me falar que não podia esperar até que eu tivesse, no mínimo, tomado café da manhã? – Ouvi Ryan indagar em tom de reprovação.

Se você prefere ir ao bar da Ellie comprar aquela sua bebida de mariquinha e aproveitar a oportunidade para comer a Morgan no banheiro dos fundos ao invés de ficar aqui e pegar a sua parte da grana, não sou eu quem vai te impedir. – Justin respondeu sem dar muita importância – Mas vale lembrar que o último trabalho nos rendeu mais de seiscentos e cinquenta mil dólares.

Pensando bem, acho que prefiro os waffles com calda de chocolate da Angelina para o café da manhã. – Ele disse e soltou uma breve gargalhada.

Foi o que eu pensei. – A aspereza presente no tom de voz de Bieber me levou a pensar em qual havia sido a expressão facial de Butler diante das palavras duras do amigo, mas esse pensamento não me prendeu por mais de dois segundos.

E então, onde está a minha grana? – Ryan questionou depois de algum tempo em silêncio.

Está aqui. – Ouvi um barulho estranho de algo se chocando contra a tampa da mesa, como se Justin tivesse jogado um tipo de sacola sobre ela – Cem mil dólares contados. – Garantiu ao amigo.

– Que surpresa, ele sabe contar. – Debochei sabendo que nenhum dos dois podia me ouvir e dei uma risadinha baixa, voltando a prestar atenção na conversa em seguida.

Os negócios estão indo bem. – Butler comentou.

Mais um motivo para comemorarmos.

Como assim mais um? Que outro motivo teria para comemorarmos? – Perguntou curioso.

O fato de eu ter matado Oliver Morris. – Justin respondeu sem demonstrar qualquer resquício de culpa nas palavras.

Como é que é? – A julgar pelo espanto em sua voz, Ryan não estava ciente de nada relacionado ao assassinato que ocorreu no campus da universidade, o que me lembrou de que eu não havia o visto por lá no dia anterior quando tudo aconteceu.

Porque a surpresa? – Bieber interpelou com displicência. – Você sabe que ele ia acabar morto uma hora ou outra, eu só antecipei o inevitável.

E você fez isso no campus da Columbia durante o horário de aula? – Acredito que Justin respondeu à pergunta do amigo com apenas um movimentar de cabeça, a julgar pelo silêncio que se estendeu pelo cômodo por breves instantes após a questão ser levantada. – Você tem noção de que nós vamos todos em cana se alguma câmera de segurança pegou você matando aquele drogado de merda, cara?

Relaxa aí, Ryan. – Ele disse tranquilamente e o transmissor de áudio conseguiu captar suas primeiras três tentativas em acender um isqueiro, tendo conseguido somente na quarta. – O Chaz desligou todo o sistema de segurança, não há com o que se preocupar. – assegurou.

Você tem certeza de ninguém te viu por lá?

Meu pai me deixou no comando dos negócios porque sabia que eu era um entusiasta do crime e porque eu nunca deixei pontas soltas, então cala a porra da boca e acredite quando eu digo que sei o que estou fazendo. – Justin o repreendeu de forma bastante bruta.

Tudo bem, tudo bem – falou como rendição – Eu confio em você, bro.

Certo, então pare de agir feito um moleque descontrolado e vamos falar sobre a comemoração de hoje. – Mesmo não podendo vê-lo naquele momento, tinha certeza de que Justin trazia sua marca registrada nos lábios: aquele sorriso cafajeste e convencido que eu tanto odiava.

Acredito que você já tenha algo em mente. – Ryan presumiu.

Hoje é a inauguração do Platinum Club.

Oh! É mesmo! Cara, eu tinha esquecido totalmente. – Disse com certa euforia.

O filho da puta do proprietário me deve uma grana, então dei a ele a opção de escolher entre colocar os nossos nomes na lista ou morrer antes da grande inauguração. – Bieber deu uma breve pausa – Você já sabe o que ele escolheu.

Já falou com o resto dos caras?

Chaz, Chris e Ethan vão depois que terminarem a simulação do roubo. A Rebecca resolveu ignorar todas as minhas três ligações, então não faço ideia se ela vai dar as caras por lá e nem sequer me importo. – Respondeu.

Tudo bem então, nos vemos mais tarde. – A escuta captou o leve som do couro do sofá se endireitando no momento em que o corpo de Butler o desocupou com seu traseiro. Os passos do garoto eram totalmente audíveis e estavam se afastando, indicando que ele estava se encaminhando para a porta do escritório. – Ah, vou levar uma pessoa hoje à noite.

Isso não é problema meu. – Justin disse com uma aparente seriedade e Ryan gargalhou alto diante da grosseria dita por aquele garoto cheio de si, enquanto que eu apenas revirei os olhos para aquela atitude previsível.

Isso foi rude, filho da puta.

Legal, mas isso ainda continua sendo problema seu. – Comunicou sarcasticamente a Ryan, que soltou uma risada nasalada antes de bater a porta atrás de si.

[...]

Resolvi tomar café da manhã somente quarenta minutos depois que Ryan deixou a casa de Bieber, pois queria me certificar de que não perderia nenhum detalhe que pudesse me beneficiar no decorrer do caso. O restante do meu dia acabara se baseando apenas em passar o relatório sobre o que já havia sido descoberto para Eva, que entrou em contato comigo por meio de uma web conferência e me perguntou sobre como as coisas estavam indo antes de finalizarmos a conversa.

Era pouco mais de oito horas da noite quando comecei a me sentir sufocada naquele apartamento e senti que precisava espairecer um pouco, portanto, achei que seria uma boa ideia sair para correr na companhia do meu novo ipod. Começando ao som de Tequila Sunrise, da boa e velha Eagles, corri pelo tempo exato de uma hora e utilizei esse tempo para refletir sobre tudo o que estava me incomodando desde que cheguei na Califórnia, ou seja, Justin Bieber e sua trupe. Quando voltei ao condomínio, por volta das nove horas, me permiti chamar o elevador para evitar que aqueles incontáveis lances de escada me causassem falta de ar e acabei encontrando um Ryan todo arrumado em frente à porta do meu apartamento, prestes a tocar a campainha.

– Ryan? – O chamei, tirando os fones de ouvido enquanto me aproximava.

– Ei, aí está você! – Ele exclamou.

– É, é o que parece. – Disse como se fosse evidente, e realmente era. – Mas o que você está fazendo aqui? – Me esforcei para que aquela pergunta não soasse de forma tão indelicada, mas acho que minha tentativa foi em vão.

– Talvez eu te conte se você me convidar para entrar. – Ryan sorriu.

– E talvez eu não queira saber o motivo da sua vinda tanto assim. – Rebati na esperança de que o garoto se desse por afetado e renunciasse à insistente ideia de entrar no meu apartamento novamente, mas ele apenas baixou a cabeça e soltou uma risada nasalada.

– Você não baixa a guarda nunca?

– Nem por um minuto. – Dei um sorriso falso – Agora me diga o motivo que te trouxe até aqui.

– Hoje é a inauguração de uma boate em Hidden Hills – ele começou – Achei que você gostaria de ir... comigo.

– Porque você achou que eu gostaria de ir a um lugar onde a música faz parecer que eu estou dentro de um jogo de videogame? – Cruzei os braços na altura do peito e me limitei a dar um sorriso quase que imperceptível.

– Porque eu tenho quase certeza de que você não costumava frequentar esse tipo de lugar em Seattle, o que faz todo sentido se parar para notar o quanto você fica na defensiva quando qualquer pessoa tenta se aproximar para te convidar – ele disse da forma mais direta possível, no entanto, ainda mantinha aquele sorriso charmoso repuxando ambos os cantos de seus lábios – Mas agora você está aqui na Califórnia, e precisa se permitir viver as aventuras que esse lugar está oferecendo a você.

– E é tendo um mentor aventureiro como você que vou descobrir as belezas de se viver aqui? – Olá sarcasmo.

– Pare de fazer perguntas óbvias e vá logo tomar um banho, você está suada de uma maneira muito excitante e isso não é bom caso a gente queira mesmo preservar a nossa amizade.

– Não somos amigos – falei no mesmo instante – Quer dizer, mal nos conhecemos, não podemos rotular isso como amizade. – Esclareci.

– Viu, mais um motivo para você colocar a sua melhor roupa e ir comigo a essa inauguração. – Ele sorriu e eu acabei por revirar os olhos depois de encará-lo por alguns instantes em silêncio.

Deixei Ryan assistindo televisão na sala de estar enquanto eu tomava um banho quente e demorado, na expectativa de que este me ajudasse a aguentar uma longa noite de farra na companhia daqueles universitários desmiolados. Passei bons minutos embaixo do chuveiro apenas refletindo sobre o fato de eu nunca ter tido tempo para viver essa parte da minha vida, quer dizer, é óbvio que eu já havia ido a um desses lugares com música alta e jogos de luzes psicodélicas, a única diferença é que eu estava com uma arma no cós da calça e com o meu distintivo guardado no bolso interno do blazer preto. Era sempre sobre trabalho.

Saí do banheiro com os pés descalços sobre o piso gélido de porcelanato e com o corpo envolvido por uma toalha de coloração rosa bebê, meus pensamentos agora se resumiam apenas em qual estilo de roupa e qual par de sapatos eu usaria para aquele tipo de ocasião. Escolhi um vestido de couro preto com vários detalhes em uma renda mais sofisticada, de mangas cavadas e com um zíper que ia até um pouco abaixo do meu umbigo. Para combinar, calcei botas pretas de cano médio e de salto alto que realçaram bem as minhas pernas nem tão longas assim e peguei uma bolsa igualmente preta da Louis Vuitton para guardar alguns pertences de extrema importância. Depois disso, parei em frente à penteadeira para retirar as extensões do cabelo e me esforcei ao máximo para deixar cachos o mais naturais possível com o babyliss. Deixei para fazer a maquiagem por último, sendo ela somente uma sombra preta esfumaçada e acompanhada de máscara para cílios e um batom levemente rosado.

– Estou pronta, vamos? – Apareci na sala de estar puxando a barra do vestido para baixo e só depois notei que Ryan estava me encarando um tanto abobalhado, o que, de fato, me deixou sem graça – Por favor, me poupe de ter que ouvir os seus comentários cheios de testosterona.

– Você está linda. – Ele disse, por fim.

– É, eu sei. – Torci o nariz e sorri em seguida, o que despertou uma gargalhada no garoto.

Chegamos à boate Platinum em menos de dez minutos, o que é um recorde e tanto comparado ao tempo que fora estipulado pelo GPS e considerando que o clube fica localizado na cidade vizinha, em Hidden Hills. Melhor ainda foi saber que não precisávamos esperar em pé naquela fila gigantesca que tinha início bem perto da entrada principal e final só Deus sabe onde, pois bastou Ryan informar seu nome e o meu como sendo sua acompanhante que o segurança liberou a nossa entrada sem nem ao menos pedir as nossas identidades.

O lugar era amplo e tinha grandes letreiros fluorescentes das mais variadas bebidas adornando as paredes pretas. “The Night Is Still Young”, da Nicki Minaj, tocava aos berros quando chegamos e o jogo de luzes fez com que eu me sentisse um pouco zonza por conta de sua agilidade em se movimentar. Esgueirando-se de algumas pessoas já completamente tomadas pelo álcool, Ryan me guiou pela mão até um lance de escadas que nos deu acesso a uma espaçosa área reservada apenas para convidados, onde ele encontrou alguns de seus amigos e meu apresentou a eles um a um. Avistei Chaz e Chris conversando animadamente em um canto perto do bar e pensei em ir cumprimentá-los, mas os dois foram mais rápidos vindo em minha direção e me dando um beijo estalado na bochecha, com exceção de Chaz, que me rodopiou no ar em um abraço exagerado.

– Veja só quem veio nos brindar com a sua ilustre presença. – Mesmo com a música nas alturas, reconheci aquela voz no mesmo instante e fechei os olhos em um longo suspiro de irritação.

– Só pode ser brincadeira. – Murmurei para mim mesma e me virei para confirmar o que eu já sabia, e detestava.

Deparei-me com a camiseta regata listrada em tom de branco e vermelho quase sendo encoberta por outra desabotoada e de tonalidade cinza claro, a calça jeans rasgada no joelho, o par de Vans vermelho com estampa e aquele sorriso sarcástico de sempre acentuando seu olhar de divertimento. Lá estava Bieber, acompanhado de uma voluptuosa garota morena que lhe acariciava a nuca e seus fios aloirados enquanto ele ficava me olhando como se não tivesse nada melhor para fazer em um lugar como aquele.

– O lugar mal foi inaugurado e já estão abrindo as portas para a ralé.

– Você já foi mais criativo com as suas ofensas, Justin. – Abri um sorriso falso.

– Deixa a garota em paz, bro. – Chaz partiu em minha defesa, tentando apaziguar uma briga que ainda nem havia sido iniciada direito.

– Não, tudo bem, Chaz. – Olhei-o por um segundo, dando-lhe um sorriso reconfortante e agradecido antes de redirecionar o olhar para Justin – A minha vida inteira eu tive que lidar com gente imatura e desesperada por atenção, isso não é nenhuma novidade pra mim.

– Como se o seu único objetivo vindo aqui e armando esse show todo não fosse apenas para conseguir chamar a atenção dele. – A garota com quem Justin estava acompanhado murmurou alto o suficiente para que eu conseguisse escutá-la e respondesse da forma como me fosse desejado.

– Não me compare a uma necessitada por atenção como você, pois isso sim seria um insulto a qualquer mulher que tenha o mínimo de respeito próprio aqui nesse lugar. – Rebati e ela se retraiu um tanto ofendida.

– A sua inveja vai tão longe que você precisa atacá-la? – Bieber a favoreceu.

– Inveja do quê? Dessa otária com DST que você vai levar pra cama hoje e esquecer o nome amanhã de manhã?

– Certo, gente, agora chega! – Chris interveio. – As pessoas já estão olhando.

Olhei ao redor e notei que muitas pessoas da área privada em que estávamos haviam interrompido conversas e passos de dança aleatórios para testemunhar a nossa discussão e se inteirar sobre o motivo que nos levou a iniciá-la. Alguns cochichavam uns com os outros ao mesmo tempo em que nos olhavam descaradamente, e continuavam o fazendo mesmo sabendo que estávamos cientes de que éramos o assunto a ser mantido em segredo por seus sussurros trocados.

– Que porra está acontecendo aqui? – Ryan finalmente apareceu.

Onde diabos ele estava quando essa maldita discussão começou?

– Essa garota veio com você, Ryan? – Bieber questionou o amigo.

– Sim, por quê?

– Porque a sua acompanhante está sendo inoportuna. – A morena respondeu antes que Justin pudesse falar alguma coisa.

– Você fala como se soubesse o que essa palavra significa. – Retruquei.

– Alguém pode me explicar o que é que está acontecendo? – Ryan voltou a perguntar agora com uma irritação aparente, olhando para cada um dos rostos conhecidos que estavam ali em volta e esperando por uma resposta – Pensando bem, porque você não me explica o que falou para causar esse alvoroço todo, Justin? Porque eu tenho certeza de que não foi a America quem começou tudo isso. – Butler garantiu com tamanha convicção, me defendendo dos ataques incansáveis do melhor amigo.

– Você está fazendo as perguntas erradas, Ryan. – Justin disse com o olhar cravado em mim, deixando transparecer toda a sua superioridade. – A pergunta correta seria o que alguém como ela está fazendo em um lugar como esse?

– Que eu saiba o lugar é público. Estou errada?

– Você está em errada ao pensar que uma pessoa como você pode encontrar um lugar para se encaixar no nosso mundo.

– Estou dispensando a vaga que me concederia a vida miserável do seu mundo, Bieber. – Respondi de imediato e ele deu um riso irônico.

– Olhe ao seu redor, Miller – ele disse com os cantos dos lábios voltados para cima em um sorriso maldoso e eu movimentei lentamente o rosto para observar o aglomerado de pessoas que estavam a nossa volta, atentos à discussão – Deve ser doloroso pra você saber que todas essas pessoas que fazem parte do meu mundo miserável têm amigos com quem conversar ou uma família esperando por eles em casa, enquanto você não tem nem amigos e nem uma família, não é?

– Você já está passando dos limites, bro. – Chaz advertiu.

– Cara, acho que você já bebeu demais e está falando muita merda. – Chris se aproximou de Justin para afastá-lo de mim e daquele círculo de curiosos, mas Bieber se soltou de suas mãos e parou a poucos centímetros de mim.

– Você não vai falar nada? – Ele indagou com sarcasmo. – Nenhum discurso sobre o quanto eu sou baixo e sujo por falar isso na frente de todo mundo? Ou você se deu conta de que é mesmo uma derrotada? – Justin me olhava com um mesclar de divertimento obscuro e cruel, mas apenas me mantive em silêncio e lhe devolvi um olhar inexpressivo.

– É melhor você calar a sua boca, Justin. – Ryan cerrou os dentes e me puxou para trás dele, como se estivesse tentando me proteger. – Você está sendo um tremendo filho da puta.

– Veja só, Miller, você encontrou outro derrotado que se importa com você. – Bieber disse.

Ryan fechou os punhos e fez menção de ir para cima do melhor amigo, a fim de dar início à briga tão esperada por nossos espectadores bisbilhoteiros, mas então tomei consciência do que estava prestes a acontecer se eu não impedisse e me obriguei a segurar firme em seu braço para conseguir contê-lo. Butler me olhou com o cenho franzido e eu respirei fundo antes de finalmente dar um passo à frente dele, me colocando cara a cara com Bieber e com seu hálito fedendo a uísque e a cigarro.

– Olha Justin, eu não sei se a porra do seu problema é comigo ou com o fato de eu ter te rejeitado, mas a verdade é que eu simplesmente não posso ignorar a repulsa que sinto toda vez que olho pra sua cara só porque o seu maldito ego inflado está ferido. E, sinceramente, a sua vida deve ser muito vazia pra você ter que procurar consolo toda noite com uma mulher diferente e muito monótona a ponto de você sentir necessidade de humilhar e de correr atrás de alguém que não está dando a mínima pra você. Mas você já deve estar acostumado com isso, não é? Afinal, eu não sou a única pessoa que te rejeitou e a quem você implora por atenção, sou? – Dito isso, dei às costas para Bieber sem esperar por uma resposta repleta de motejos vinda de sua parte e me direcionei até o lance de escadas que me levaria até o primeiro andar.

– Espera! – Senti uma mão quente segurar o meu pulso enquanto eu tentava me esgueirar por entre a multidão e virei o rosto para ver quem era o insuportável da vez, rezando mentalmente para que não fosse Justin e sua insistente vontade de continuar aquela briga ridícula. Porém, foram as feições preocupadas de Ryan que vi quando os flashes de luz que se movimentavam com frequência pelo lugar iluminaram seu rosto. – Aonde você vai?

– Vou embora. – Informei por meio de um grito para que ele conseguisse ouvir com clareza, pois havia um pilar bem ao nosso lado com duas caixas de som instaladas e com uma música vibrante explodindo por elas – Você pode ficar e se divertir, eu pego um táxi, não se preocupe.

– Não, espera! – Ele voltou a me puxar quando ameacei me afastar. – Eu te levo em casa, só preciso fazer uma ligação antes.

– É sério, não precisa.

– Eu te trouxe até aqui, America, então sou eu quem vai te levar de volta para casa. – Ele disse sem demonstrar sinais de desistência e eu bufei, concordando com um movimentar de cabeça sem vontade – Não saia daqui, eu volto em um minuto e então iremos embora. – Sacou o celular do bolso da calça jeans escura e discou um número que não consegui ver por conta da baixa iluminação do clube, e então fiquei o observando enquanto ele se distanciava com o telefone encostado no ouvido.

Segundos depois que Ryan se afastou para falar em particular no celular, senti meu corpo ser erguido no ar e comecei a me debater ainda mais quando vi que era Bieber quem havia me jogado por cima de seu ombro esquerdo e agora me carregava em direção ao banheiro feminino. Com o pé, ele empurrou a porta pintada em tom de vermelho sangue e gritou de forma impaciente para que as duas mulheres que estavam retocando a maquiagem em frente ao espelho saíssem de lá imediatamente. Elas esboçaram uma feição horrorizada e saíram correndo do banheiro de mãos dadas e tropeçando sobre os próprios pés, enquanto que eu me ocupava esbofeteando as costas de Justin toda vez que ele se atrevia a me dar um tapa na bunda só por eu o ordenar, entre palavrões e gritos histéricos, a me colocar de volta no chão.

– Me põe já no chão, Justin! – Disse autoritária, pela milésima vez.

– É melhor você calar a boca se não quiser ganhar outro tapa. – Ele respondeu e em seguida eu ouvi o barulho da chave girando na fechadura, o que me levou a arregalar os olhos por ter certeza de que estávamos confinados naquele banheiro e de que isso não era nada bom.

– Você perdeu completamente a noção? – Me exaltei quando Bieber, por fim, me colocou no chão.

– Não posso perder o que eu nunca tive. – Ele deu de ombros.

– Me dá essa chave! – Exigi ao esticar a mão em sua direção.

– Não. – Justin disse simples. – Nós precisamos conversar sem que ninguém nos atrapalhe dessa vez.

– Eu não tenho nada pra conversar com você – rosnei – E você não tinha nada que me carregar como se eu fosse uma garotinha teimosa de sete anos.

– Não vi outra forma para fazer você me ouvir.

– Então quer dizer que você vai sair por aí me carregando sobre o ombro toda vez que eu não quiser te ouvir? – Indaguei furiosa e com as mãos na cintura.

– Não, você é muito pesada. – Ele abriu um sorriso zombeteiro.

– Boa tentativa, mas isso não me ofendeu nem um pouco.

– Certo, então chega de papo furado e vamos logo ao que interessa.

– Exatamente, chega de papo furado e me deixa sair daqui antes que eu grite.

– O fato de você achar que alguém vai conseguir te ouvir só te faz parecer ainda mais patética do que de costume. – Os olhos de Justin irradiavam diversão e sarcasmo diante de toda aquela situação, o que só serviu para me deixar furiosa e com uma vontade insana de matá-lo da forma mais cruel possível.

– O que você quer de mim, Justin? – Perguntei esgotada – Não faz nem duas semanas desde que cheguei aqui e você não parou de infernizar a minha vida nem por um segundo. Você faz isso com todo mundo ou só com as que não têm o menor interesse em se tornar uma das suas amiguinhas de trepada?

– Eu quero saber o que você sabe sobre mim, Miller. – Ele disparou com um tom de voz austero e ficou me fitando por alguns instantes, mas continuou falando assim que percebeu que eu não responderia. – Você sempre age como se soubesse toda a minha história ou como se conhecesse cada um dos meus demônios, mas, a verdade seja dita, você já deixou bem claro que é certinha demais para deixar alguém como eu atrapalhar a sua vida perfeita, então como pode saber tanto sobre mim se você se esforça para me manter longe?

– Eu não sei nada sobre você além do que eu vejo. – Falei de imediato.

– E o que você vê, America?

O silêncio se instalou.

– Um cara vazio. – Disse depois de um tempo. – Somente um cara vazio.

Justin ficou me encarando por longos minutos com uma feição indecifrável, era como se ele estivesse processando cada palavra que eu disse e como se cada uma delas o tivesse o atingido de diferentes formas. Presumi que havia sido muito dura e, por esse motivo, me aproximei com a intenção de lhe pedir desculpas de modo indireto, mas ele me surpreendeu ao girar o meu corpo em um movimento rápido e ao empurrá-lo fortemente contra a porta, mantendo um braço de cada lado do meu rosto e me encarando com seus olhos carregados de ódio.

– E sabe o que eu vejo quando olho pra você? – Não me deixei intimidar por sua voz carregada de raiva e continuei encarando suas íris – Eu vejo alguém que tenta se mostrar confiante e destemida a qualquer custo, mas que na verdade não passa de uma garotinha órfã e sem amigos, uma completa rejeitada. – Um nó se formou em minha garganta e de repente eu já não tinha mais voz para rebater, mas prometi a mim mesma que não o daria o gostinho de me ver chorando.

– Você já terminou o seu típico discurso sujo? Ou eu ainda preciso ficar trancada aqui vendo você perder o seu valioso tempo sentindo pena da órfã sem amigos? – Esbocei um semblante sério e me esforcei para ignorar a proximidade de Justin, que agora revezava seu olhar entre a minha boca e os meus olhos.

– Nos vemos por aí, America. – Ele disse com os lábios curvados em um sorriso astuto e ergueu a chave. Peguei-a com rapidez e me virei para girá-la na fechadura, me libertando daquele momento estranho que ocorrera há menos de dez segundos.

– Onde foi que você se meteu? – Ryan surgiu atrás de mim. – Eu estava te procurando feito um louco.

– Vamos embora daqui. – O puxei pelo braço em direção à saída e ele me seguiu em silêncio.

[...]

Já no carro, encostei a cabeça no vidro da janela e fiquei observando a paisagem passar como um borrão diante dos meus olhos, ainda que Ryan não estivesse ultrapassando a velocidade máxima de sessenta quilômetros por hora. Era uma pintura de casas bem arquitetadas e elegantes antes de o caminho ser tomado por pinheiros verde-escuros, que passaram a fazer parte do cenário junto a um céu estrelado que pairava sobre nós.

Fechei os meus olhos quando uma antiga música de rock começou a tocar na estação de rádio em um volume bastante agradável e, mesmo sem querer, meus pensamentos começaram a girar em torno das palavras perversas que foram proferidas por Justin nas duas malditas vezes que nos encontramos naquela noite. Por um momento, me permiti sentir raiva de todas as tolices que fui obrigada a ouvir da parte dele, mas depois me convenci de que não valia a pena me preocupar com o conceito que Justin tinha sobre a minha vida se noventa por cento do que me fora dito não era nem de longe a verdade. Eu podia não fazer a menor ideia de onde os meus pais estavam, mas eu não era órfã. America Miller, sim.

– Você quer me contar o que aconteceu para você sumir daquele jeito? – Ryan perguntou cauteloso.

– Não aconteceu nada, só estava cansada e acabei me perdendo no meio da multidão.

Afundei-me no banco do carona sem muito ânimo para dar continuação àquela conversa, e só percebi algum movimento quando Ryan esticou a mão para aumentar um pouco o volume do rádio. Os cinco minutos seguintes foram de um silêncio reconfortante entre nós dois, seus olhos azuis se ocupavam com a estrada à nossa frente enquanto outro rock dos anos 1980 cumpria a tarefa de tornar o ambiente menos sobrecarregado.

– Merda. – Ele murmurou baixinho, o que me fez virar o rosto com o cenho franzido de dúvida e ver seu olhar se revezar várias vezes entre o espelho retrovisor e a rua vazia diante de nós.

– O que foi? – Perguntei e me virei para trás por quando ele não me respondeu.

Havia um Range Rover Sport preto se aproximando da traseira do Buggati de Ryan.

– Temos companhia. – Ele disse e acelerou.

Ryan ficou manobrando e trocando de pista para tentar driblar o Range Rover que nos perseguia incansavelmente, mas chegou um momento em que o garoto decidiu manter-se somente na pista da direita e enterrou o pé no acelerador, passando por três sinais vermelhos e desviando de uma Mercedes que estava muito abaixo do limite de velocidade permitido naquela rodovia.

Em todas as vezes que tornei a olhar para trás pelo espaço vazio entre os bancos, a fim de verificar se ainda estávamos sendo seguidos, vira o carro tentando nos alcançar e forçava os olhos para ver se conseguia identificar o motorista. Porém, quando o veículo conseguiu se alinhar ao nosso lado e bateu com força na lateral do Buggati, vi que o motorista estava camuflado por vidros fumê e confirmei a minha teoria de que aquilo tudo havia sido programado para tirar um de nós da jogada, eu só não sabia se era Ryan ou a mim. E foi então que ele nos atingiu mais uma vez e Butler tentou manter o controle do volante quando seu carro fora empurrado para perto das paredes de um túnel.

– Que porra esse filho da puta está tentando fazer? – Gritei em nervosismo.

– Eu também não sei! – Respondeu enquanto evitava outra golpeada na lateral, manejando o volante para o mesmo lado do motorista maníaco quando o carro ameaçou se aproximar novamente.

De repente, tudo pareceu acontecer em câmera lenta ao meu redor.

Na quarta golpeada, Ryan acabou perdendo totalmente o controle da direção e eu senti a minha cabeça bater com força contra o vidro da janela quando o Buggati foi de encontro a um grande carvalho. O carro se destruiu com o impacto, desde a lataria brilhante até o chassi, e o meu corpo teria sido facilmente lançado pelo para-brisa se eu não estivesse usando o cinto de segurança. O peso em minhas pálpebras me impedia de mantê-las aberto por muito mais do que dois ou três segundos, mas isso era o suficiente para conseguir ver a fumaça saindo do capô dianteiro e o estrago que a árvore havia feito àquele belíssimo carro.

Minha cabeça estava latejando e eu podia sentir gotas de sangue pingando da minha testa para o tecido grosso do meu vestido, mas o pior foi quando meus olhos percorreram lentamente o restante do meu corpo e eu vi que minha perna direita estava presa entre as ferragens do carro. Tomada por uma dor agonizante e insuportável, tentei tirá-la de lá com ambas as mãos cobertas de cortes feitos pelos cacos de vidro do para-brisa e fiquei frustrada quando percebi não conseguia me mover direito. Minha respiração foi ficando fraca a cada vez que eu me esforçava para me mexer, e não demorou muito para que eu perdesse a consciência e só a retomasse a tempo de ouvir as sirenes se aproximando e a voz inconfundível de Ryan ao telefone.

Cara, você sabe que eu jamais te pediria algo assim se não fosse importante, mas eu estou muito fodido e vou ter que sumir por uns tempos. Preciso que você tome conta dela enquanto eu estiver fora, mesmo que isso vá contra todos os seus princípios. ​

E então eu me perdi na escuridão.


Notas Finais




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