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História Uma estranha no ninho - Vol. II - Do luxo ao lixo, do lixo ao luxo.


Escrita por: Kitsune_Strife

Notas do Autor


Obrigada a todos que estão acompanhando até aqui. Um beijão grande. Desejo boa leitura e peço perdão pelos possíveis erros.

Até!!!!

Capítulo 18 - Do luxo ao lixo, do lixo ao luxo.


Fanfic / Fanfiction Uma estranha no ninho - Vol. II - Do luxo ao lixo, do lixo ao luxo.

A passos lentos, depois de uma conversa franca com Shaka, Mu praticamente se arrastou até a Casa de Touro. Não conseguia parar de pensar nas palavras de Kyoko. Seu mundinho lindo, seu castelo de areia estava se desmoronando. Ter de aceitar que uma doença estava ceifando a vida da mulher que amava já era difícil, agora aceitar que a doença era a si próprio era mil vezes pior. Tentava pensar em alguma saída ou que aquilo não passava de uma estratégia de Kyoko e Águia para afastá-lo de Ume, mas logo a imagem dela, abatida e mais frágil que o normal lhe fazia acreditar nas duras palavras da Kitsune. Sua mente trabalhava a mil entre lembranças boas, sensações e o fato de perdê-la para a morte.

Por que? Por que a vida de um cavaleiro parecia se restringir a solidão? Será que “felicidade” era algo arrancado deles logo que nasciam? Uma praga dos deuses?

De longe ouviu a tosse forte, o despertando de um devaneio tão intenso que nem ao menos percebeu que havia parado. Mu ergueu os olhos na direção da entrada privada de Touro e foi aí que se deu conta de que chorava. Tocou a própria face, colhendo uma lágrima. Já havia encarado a morte inúmeras vezes, perdido amigos de armas; irmãos. Mas nada, nenhuma delas se comparava com o que sentia naquele momento. Talvez por nunca ter amado tanto alguém ou por simplesmente ser humano. Ser um cavaleiro o fazia as vezes se esquecer de que era isso que era. Um homem. Cheio de defeitos, qualidades e que tinha necessidades que as vitórias em batalhas jamais sanariam. E uma delas era a vontade gigantesca que adquiriu de ter uma vida. Sim! Uma vida própria. Uma vida sua. Daquelas bem clichês onde a mocinha se apaixona pelo mocinho e eles vivem felizes para sempre logo depois de derrotar o vilão cruel. Era isso que queria. Era isso que passara a sonhar desde o momento que viu Ume.

A doce e bela flor de Ameixa.

A risada forte e calorosa de Aldebaran novamente despertaram Mu. O ariano fechou os olhos e respirou fundo, pensativo. Não podia se deixar abater assim. Tinha de pensar e muito. Haveria de ter um jeito. Tinha que ter! Algo de que nem mesmo Naomi soubesse e esse “jeito”, Mu faria das tripas coração para encontrar.

—Ela começou a adoecer, não é?

Mu respirou fundo, virando na direção da voz, mirando os olhos triste e sérios de quem lhe falava. Pelo tom Águia não queria brigar. E nem Mu. A verdade era que ambos queriam a mesma coisa, e agora, mais do que nunca, ambos sabiam disso.

— Sim! Águia, eu juro, pela minha vida, pela armadura que visto que vou encontrar um jeito.

— Não há jeito, Áries. – Águia falou entre os dentes, prendendo o choro.  

—Tem de haver um. Eu sei disso!

—Sim, tem razão. Há um.

—Não! Eu não vou deixá-la. Não vou abandoná-la! – rosnou Mu, nervoso. Águia riu também nervoso.

— Eu não quero ter que te matar. – Águia tentou prender as lágrimas, mas não conseguiu. Pensar em perder Ume o desesperava a níveis inimagináveis. Mu aproximou-se.

— Não vamos precisar disso se você me ajudar. Águia...

Águia umedeceu os lábios e ficou pensativo. Não era bobo e nem uma pedra de gelo para negar que o amor do cavaleiro por sua irmã era real. Ele sabia muito bem que Mu era um bom homem e faria sua irmã feliz, claro se o mesmo não fosse a fonte da doença que a matava. Queria mais do que ninguém que Ume fosse feliz, que tivesse uma família e alguém para amar, mas em contrapartida, por querer o bem demais dela era que sabia que nunca poderia permitir que ela sequer tivesse alguém para amar.

—...você sofre da mesma doença. Da mesma...maldição! Me ajuda! Eu não quero perdê-la!! – quase gritou, segurando Águia pelos ombros. Sua vontade era explodir o Monte Evereste inteiro na base do grito tamanho desespero.

Águia ficou mudo por alguns segundos, desviando o olhar; pensando. Ele nunca havia dito sobre aquilo a ninguém e somente Kyoko, Yamoto e Naomi sabiam. Para fazer Mu entender o que estava acontecendo e o porquê, Águia teria de dizer a ele seu passado. Algo que não queria ter de revirar mesmo após a morte de Hiroaki.

— Águia, por favor. – Mu pediu de novo, fazendo o shinobi suspirar, rendido.

—Tudo bem, mas eu quero ver a Ume antes. Depois conversaremos.

Mu sorriu, batendo com entusiasmo no ombro do outro. Sabia que ainda havia um loooongo caminho pela frente, mas pelo menos a boa convivência com Águia já era meio caminho andado.

E se tinha algo que Mu possuía e muito era fé. Fé nas coisas da vida, fé na própria vida. Achava que esse sentimento era essencial para mover todo e aquele que sonhava em ser um cavaleiro da justiça.

Pela fé, homens atravessavam dimensões; pela fé eles esmigalhavam montanhas inteiras e até mesmo podiam voar. E era por causa dessa mesma fé que o Ariano engoliu toda sua dor, guardando-a no mais profundo de seu íntimo. Não era hora para ser fraco, tampouco chorar. Ume precisaria de todas as forças que pudesse dar, todo seu apoio e amor. Na verdade, ser fraco era o último dos últimos luxos que qualquer cavaleiro poderia se dar na vida.

Sorrindo ele adentrou a parte privada de Touro acompanhado de Águia. Ambos sorriam em vê-la surpresa pela aparente trégua entre os dois. E entre sorrisos ficaram todos assim, tentando fingir que aquele momento jamais acabaria. Aldebaran com toda sua animação fazia todos sorrirem ainda mais com suas histórias sobre a terra do samba, ou seja, a sua terra. Nela as mulheres iam a praia de fio dental, sambavam até o último fôlego e passeavam nas ruas com pedaços de pano ao qual chamavam de roupas. Ume e Maria ficaram chocadas com as letras, digamos, inapropriadas das músicas que Aldebaran dizia tocar pelas ruas, mas também maravilhadas com a riqueza de detalhe ao qual ele fazia questão de descrever as maravilhas que lá possuía. Mu também entrou no embalo e contara um pouco sobre sua terra e o quanto as pessoas eram simples e hospitaleiras, mesmo havendo tão poucas de sua raça.

—É bom saber que você não é um rabugento. – disse Aldebaran sentando-se a mesa e tocando o ombro de Águia.

—O mesmo para você, Touro. – devolveu Águia, sorrindo de lado.

— Sem ressentimentos? – indagou o Taurino, simpático como sempre.

Águia sorriu de lado e aceitou o aperto de mão forte do outro. Mu chegou logo depois. Suspirando ele se sentou, pegando uma das taças e tomando um gole de vinho tinto. Logo mirou o shinobi que sabia muito bem o que ambos esperavam.

— Ela pegou no sono. – fez uma pausa. — E então?! – completou, incentivando o outro.

— E então o que você quer saber. – Águia respondeu, fazendo Mu erguer ambas as sobrancelhas.  

— Tudo! Quero saber tudo. Para conseguir pensar em algo e traçar um plano, eu preciso saber de tudo sobre vocês dois. Seus passados, seu...clã. Quem são vocês? Quem é a Ume?   

Águia torceu um pouco os lábios por perceber que Kyoko já havia adiantado um pouco de seu passado, mas no fundo concordava com Mu. Precisava dizer a ele desde o princípio até ali. Quem sabe Mu não fosse mais inteligente que Naomi e não percebesse algo que ninguém nunca havia notado referente a maldição de seu clã. Ou quem sabe o amor não fazia dele mais atento do que qualquer um jamais fora.

— Quando eu era criança, meu pai sempre me ensinou que meu dever era proteger a honra da nossa família, cuidar do nosso clã e principalmente das minhas irmãs. Eu me lembro que muitos youkais importantes costumavam visitar meu pai. Claro! Eu era só um menino, o filho do meio, mas sabia muito bem o motivo.

— E porquê? – indagou Aldebaran quando Águia parou perdido no tempo.

— Porque eu era o único filho homem do Rei do Leste. O único filho legítimo do primeiro Kage.  

Mu ficou parado um tempo, assim como Aldebaran, tentando processar o que havia acabado de ouvir: Águia era o único filho homem de um Rei. Um rei legítimo. De verdade e não eleito em uma batalha como Hiroaki ou Kyoko. E esse rei não era só um rei: Ele era o primeiro Kage existente, ou seja, Águia era descendente da linhagem original dos Kages, então Ume...

— Puta merda!! – falou Aldebaran caindo em si.

— Você é herdeiro de uma linhagem original de reis. – Mu balbuciou. — Então, Ume...é uma...princesa. De...verdade?

— Sim!

—Espera aí! A Keiko nos disse que o Leste era governado por Naomi, digo, Suzuki.

— E ela não errou. – fez uma pausa. — É aí que começa a minha história triste. Eu tinha mais uma irmã...Alessa. Ela era minha irmã mais velha. Eu não sei como aconteceu e nem em que momento. Eu só me lembro de acordar com minha irmã me chamando e meu pai ensanguentado...

“O menino abriu os olhos com dificuldade ao sentir o sacolejo forte em seus ombros. Ao abrir os olhos identificou o rosto. Era sua irmã mais velha...

— Levanta! Agora, nós temos que ir. Rápido, veste isso.

A mais velha envolveu o garoto em um lençol molhado, pegando ele pela mão e o tirando da cama. Águia tossiu ao sentir o cheiro forte de fumaça e se assustou com o grito de uma mulher do lado de fora do palácio. Estavam sendo atacados. Sua irmã, com muito custo carregava uma menininha nos braços enquanto seu pai mancava tentando acompanhar os passos dos filhos.

— Vem pai, rápido! – disse o menino.

O homem, ferido, sorriu ao filho. Sabia que naquele estado jamais conseguiria fugir, e também não podia. Ele era um Rei e um Rei nunca deve abandonar seu povo.

O homem soltou a mão da filha, fazendo a garota parar, olhando para o pai de forma incrédula; assustada.

— O que está fazendo? Pai...Não! – pediu Alessa.

O rei meneou a cabeça em negativa e com a última força que tinha criou uma barreira, separando-se de seus filhos. Alessa e Águia gritavam, socando a barreira na tentativa de tocar o pai, se despedir ao menos.

O rei sorriu terno, tocando a mão da mais velha por cima da barreira. Logo fez o mesmo com Águia.

— Prometa que cuidará das suas irmãs.

— Papai...por favor, não nos deixe.

—Ah meu filho, eu te amo tanto. Sinto muito ter deixado isso acontecer. Eu fui um tolo!

Som de passos e uma voz grave pode ser ouvida. Alessa se assustou quando identificou aquele que se intitulou por anos melhor amigo de seu pai. Aquilo parecia um pesadelo. Sabia que seu pai jamais conseguiria derrotá-lo no estado em que estava.

— Olá, caro amigo. – disse o youkai imponente, sorrindo.

— Vão! AGORA! – ordenou o Rei já entrando em confronto.  

— Papai...

— Vem! Vem, Águia! Vem! – pediu Alessa com o coração esmigalhado, chorando muito.

— Papai!!

Alessa pegou seu irmão no colo a força com um braço e com o outro sua pequena irmã. O menino se batia, tentando ir até o pai. Com lágrimas nos olhos Alessa começou a correr sem olhar para trás e a última visão que Águia teve de seu amado pai fora a espada impiedosa de Hiroaki atravessando seu corpo.

— PAPAAAIIII!!

A jovem Alessa corria o quanto suas pernas podiam aguentar, se embrenhando na floresta, por entre o mato, até a beira de uma cachoeira negra. A moça parou, sentindo a vertigem da altura. Com pressa ela amarrou a pequena Ume nas costas de Águia, assim como faziam as chinesas, para que assim pudesse descer. Mas mal tivera tempo de começar, pois logo uma dor lacerante lhe atingiu as costas. Alessa gritou de dor ao ser atingida por uma lança e com os um dos braços ocupados em segurar Águia ela acabou por cair.

Do alto o olhar de soberba e satisfação de Suzuki brilhou. O Rei já havia sido morto e tudo agora era seu, agora só faltava os herdeiros e nada o impediria de retornar a seu posto, dando ainda mais autonomia a Hiroaki sobre o Makai inteiro.  

— Encontrem os corpos e queimem. – ordenou a seus homens.

Com as últimas forças que ainda possuía, Alessa lutou contra a correnteza feroz do grande rio do Makai. A garota, ao finalmente conseguir alcançar a margem mal respirava. O pequeno Águia tossia enquanto buscava forças para acudir suas irmãs. Ume, o bebê chorava de medo e frio amarrada às costas de Águia, enquanto Alessa tremia de dor e medo. Sabia que não podia ir além disso. Seu papel estava feito. Havia protegido seus irmãos. Dado a eles a chance que nem ela e nem seu pai tiveram.

Com os olhos fechados ela ouviu a voz de Águia, mas não soube identificar o que ele dizia, mas a última frase que distinguiu deixou a jovem em paz para morrer. Seu irmão a amava. Era isso que ele dizia.  

Águia chorou ajoelhado ao corpo da irmã por longos minutos. Não sabia o que fazer e muito menos para onde ir. Nunca andava sozinho e sempre havia uma dezena de guardas ao seu lado quando, pelo menos, acordava ou tomava seu café da manhã. Estava escuro, frio...sozinho, sem saber para onde ir, mas mesmo tão novo tinha ciência que ali ele não poderia ficar por muito mais tempo. Precisava continuar, mas...para onde?

A pequena Ume resmungou fazendo o menino se recordar do último pedido de seu pai.

Proteja suas irmãs!

Claro, não havia conseguido proteger Alessa, mas ainda tinha Ume e ela mais do que ninguém precisava de si. Por isso, Águia precisava ser forte, precisava lembrar de tudo que seu pai lhe ensinara. Ele era um kage. O melhor! E lhe ensinara o melhor, principalmente em se esconder.

E isso Águia aprendeu muito bem...”

 

— A minha irmã morreu para que eu pudesse viver e proteger a Ume. Eu havia prometido ao meu pai e a mim mesmo que jamais deixaria acontecer com ela o que houve com Alessa. Depois daquilo eu andei por dias pela mata e quando encontrava comida sempre dava a maior parte a Ume. Depois de uns dias eu encontrei uma casinha abandonada no meio do nada. Um lugar ótimo para se esconder. Nós mal tínhamos onde dormir ou o que comer, mas logo eu aprendi a me virar. A cidade não ficava muito longe e com a notícia da nossa morte...bem, tudo ficou mais fácil. Eu estava morto, afinal. Eu aprendi a me esconder ainda mais pela mata a medida que ia crescendo, criando armadilhas melhores e afastando inimigos ou curiosos. Muitos tinham medo daquela floresta por ter fama de “assombrada” ... – Águia riu, bebericando um pouco d’água.

—...foi muito, mas também muito difícil. Se eu estivesse sozinho tudo seria mais fácil, mas...com a Ume. Bem, eu mal conseguia comida para um e ter de alimentar um bebê...perdi as contas de quantas vezes dormi com fome e com frio. Tudo que eu tinha era para ela: Se conseguia uma roupa, dava para ela; um pão ou uma fruta, era para ela. Tudo na minha vida sempre foi para ela.

— Se arrepende? – Mu interrompeu, curioso.

— Não! Nenhuma vez. – Águia suspirou. — Eu sempre aprendi as coisas muito rápido graças as habilidades que herdei do meu pai, então...eu logo arrumei um jeito mais...fácil para comer e me vestir.

— Roubando. – disse Aldebaran.

— Eu tinha de comer e não só eu. Tinha a Ume. Eu não ia deixar ela morrer de fome. Não podia trabalhar honestamente, as sombras era o meu lugar. Os anos passaram e com os roubos eu consegui ajeitar nossa casinha. Não era luxuosa, mas...tinha o necessário. Um belo dia eu estava na cidade e foi aí que minha vida mudou de novo...

 

Os youkais estavam deslumbrados com a imponência dos Kages. Era raro, muito, muito raro, mas quando acontecia era impossível passar despercebido. Águia observava toda a elegância e luxuosidade que os quatro emanavam, escondido atrás de uma barraca de jarros de barro. Os famosos shinobis, tão elegantes quanto seus líderes causavam certo medo nas pessoas. Os monstros que se assemelhavam a camelos desfilavam no meio da rua cheia de gente curiosa, sem temer nada.

Uma menininha estendeu uma pequena flor e com um sorriso meigo, mas que irritou o jovem ladrão, a raposa mais famosa do Makai aceitou o presente de bom grado. O kimono vermelho, muito luxuoso, com um dos ombros caído, deixava a pele alva de Kyoko a mostra.

— Uall! Olha como ela é gostosa! Eu chuparia aqueles peitinhos até sangrar. – gargalhou um dos jovens.

—Tem razão, mas eu fico imaginando mesmo é quanto ouro não deve ter escondido no meio daquelas roupas. Ficaríamos ricos só com um saco de moedas.

— Você enlouqueceu! Se alguém escuta isso nós estamos ferrados. Não se pode nem ao menos chegar perto de um Kage. Quer morrer seu imbecil? – retrucou um outro jovem do bando de Águia.

 Águia sabia que havia sido um Kage a matar seu pai, sua família, seu clã. Seus olhos se estreitaram, desejando como nunca o sangue deles. Sua vontade era de enfiar uma adaga no coração de ao menos um deles, mas...um Kage?! Não! Impossível! Não se pode nem ao menos chegar perto de um.

Bom...será mesmo?!

Águia sorriu de lado, tendo uma ideia e um de seus amigos o segurou pelo braço temendo o que sabia que ele faria.

— O que pensa que está fazendo, seu maluco? – cochichou o outro.

—Ganhando meu sustento, agora não me siga se está com medo.

Águia se libertou, se enfiando no meio das pessoas, passando por uma barraca e pegando um pano velho qualquer, enrolando no rosto a fim de esconder-se.

A raposa sorriu ao ver uma senhora se aproximar e lhe entregar um lindo lenço azul, da cor de seu olho e quando segurou o pequeno embrulho de moedas tudo aconteceu muito rápido; Águia passou no meio das duas, tomando a carteira da mão de Kyoko. A senhora levou um susto e Kyoko se surpreendeu, mas não saiu do lugar. Seus olhos mudaram de cor e se estreitaram, observando de longe o jovem sumir como fumaça no meio das pessoas. Yamoto sorriu de lado por baixo da máscara de raposa, assim como Ookami. Hiroaki rosnou irritado e quando iria dar a ordem de execução, Kyoko segurou sua mão.

Longe dali, Águia corria como um louco, pulando sobre as casas, se embrenhando por entre os becos até achar sua passagem secreta. Antes de passar, averiguou se tinha mais alguém e quando viu ser seguro entrou. Caminhando por entre uns túneis subterrâneos ele logo saiu no meio da floresta. Sorrindo vitorioso observando seu premio.

— Hãn! Quem fora que disse mesmo que não se pode chegar perto de um Kage? – desdenhou.  

Águia correu um pouco mais, seguindo a trilha conhecida de cor e lá estava sua casa. Da chaminé a fumaça saia, indicando que o almoço já devia estar quase pronto. Estava doido para contar a irmã o que havia conseguido. Sabia que levaria uma bronca, mas mesmo assim não se arrependia. Ume merecia o melhor e aquilo com certeza era o melhor que podia dar no momento.

Abriu a porta com tudo, chamando Ume. O tempo pareceu parar, sentindo o coração bater na garganta. Águia paralisou ao dar de cara com ninguém mais, ninguém menos que Kyoko. Lá estava, dentro de sua sala, atrás da mesa descascada, a raposa mais poderosa do Makai em pessoa.

Kyoko segurava uma escultura de uma mulher grávida, observando a mesma com curiosidade. Com certeza ela era projeto de um roubo. Águia estremeceu, não por si e sim por Ume. Se Kyoko estava ali, onde estava sua irmã?

Engolindo em seco ele mal tivera tempo para pensar. Um soco forte lhe acertou no rosto, fazendo-o cair e bater a cabeça na quina da mesa e abrindo um corte na testa. Mal havia tocado o chão e seu corpo fora puxado de volta, dessa vez pelos cabelos. Sua boca sangrava e um novo soco forte abriu um corte fundo embaixo do olho direito. Águia gruiu de dor, caindo no chão de pedra, sentindo a visão rodar como num carrossel. Nunca havia recebido um soco tão forte em toda sua existência.

Kyoko, devagar, girou nos calcanhares, começando a caminhar. Ao se aproximar agachou. Águia a observou com dificuldade, já que Yamoto, o autor do soco, pisava em seu pescoço.

—Ora, ora! Um ladrão corajoso. Tsic-tsic-tsic! Roubando um Kage...que ousadia. – a raposa falou, altivez. Os olhos amarelos que indicavam irritação. —Ninguém lhe ensinou que a última coisa que se deve fazer no mundo é roubar de um Kage?

—Vai se ferrar, sua...vadia! – cuspiu furioso.

Kyoko sorriu, observando com superioridade e arrogância o rosto irritado do jovem.

Ela, então, ficou de pé, caminhando pela casa. Yamoto o agarrou pelos cabelos o colocando de pé para olhar Kyoko. Ela olhou para a pia, deslizando o dedo ali e com a outra mão fez um sinal. Ookami que observava de longe, entrou no recinto, fazendo Águia finalmente entender a gravidade da situação.

— UME!!!

— ANIKI!!!

Nos braços de Ookami, Ume quase sumiu de tão alto que ele era. A jovem tentava se libertar, mas mal conseguia mover os dedos. Kyoko sorriu com o desespero do atrevido.  

—NÃO! POR FAVOR! ELA NÃO TEM NADA COM ISSO. – implorou Águia.

— Ahhh não me diga. Você não parecia preocupado com isso enquanto roubava, moleque. – Yamoto falou ao pé do ouvido.

— Você me humilhou na frente daquelas pessoas, roubando uma quantia muito grande em dinheiro. Acho que o preço é mais do justo. – Kyoko caminhou, olhando nos olhos dele. Águia se desesperou mais ao entender onde Kyoko queria chegar.

—Não, por favor! Eu faço qualquer coisa, eu imploro!  

Kyoko sorriu mais, passando por ele sem a menor dor na consciência. Ookami a seguiu, jogando Ume nos ombros como um saco de batatas, fazendo a moça gritar.

—ANIKI!!! – berrou a jovem.

— NÃO!!!! – devolveu desesperado, sentindo o soco potente de Yamoto no estômago.

O shinobi de Kyoko crispou o cenho, observando com atenção a feição que não sabia de onde, mais parecia-lhe familiar. Águia segurou em seu pé, tentando ficar de pé. Nunca em toda sua vida havia se arrependido tanto quanto naquele instante. Se não tivesse sido tão orgulhoso Ume não estaria pagando por seus erros.

Yamoto puxou o pé e sem misericórdia se afastou, caminhando atrás de Kyoko. Águia berrou, se arrastando atrás deles em pânico. Os gritos de Ume o deixando ainda mais desesperado.

Em um último impulso desesperado ficou de pé e sem saber como correu. Correu rápido na direção de Kyoko, erguendo o punho, em vão, pois Yamoto entrou na frente, abaixando, desviando do soco e lhe acertando um direto de direita, tão forte que Águia voou por metrôs.

Kyoko sorriu da valentia do garoto. Não iria dizer, mas apreciou e muito a coragem dele. Uma coisa era inegável: ele amava a irmã demais e era muito, muito mais corajoso do que muitos inimigos que já enfrentara na vida. E isso a raposa não deixaria passar.

Olhando para ele, ela disse então:

— Eu vou levar a sua irmã como mercadoria. Fique com o dinheiro, é claro. Se a quiser de volta, vá ao Reino do Sul, Yamoto o estará esperando. Se conseguir passar por ele, eu lhe entregarei sua irmã e mais um bônus. E, ah! E se isso lhe conforta, adianto que Ookami e Yamoto cuidarão muito bem da sua...irmãzinha. – gargalhou caminhando.

— U...me...não! – gemeu, cuspindo sangue, antes de desmaiar.”

 

— Você é maluco! – riu Aldebaran.

— É engraçado ela dizer isso já que...bom...continua. – Mu desconversou.

— Eu fiquei caído naquele chão por um dia e meio, e só acordei por conta da chuva forte. Passei dias sem mal conseguir andar. Cuspindo sangue. Fiquei desesperado. Ela havia levado Ume, a coisa mais importante que eu tinha. Tudo bem que eu sabia muito bem para onde, mas...as palavras dela. Ookami e... Yamoto. Eu só conseguia pensar naqueles dois tocando e... abusando dela. Já tinha ouvido relatos de que várias e vários eram feitos de escravos por Kages, e minha irmã estava correndo o mesmo risco. Eu mal me recuperei e corri até o Reino do Sul. Lá fui recebido prontamente por Yamoto, assim como Kyoko-sama havia dito que seria. Yamoto é muito calmo e pacífico, mas...não se engane.

—Você levou uma bela surra. – Aldebaran anteviu.

— A maior da minha vida! E não foi a única. Eu fui lá várias e várias vezes. Perdi as contas de quantas costelas minha ele quebrou, quantas vezes meu braço foi quebrado, quantos litros de sangue eu perdi e todas as vezes Ookami observava só para rir de mim. Dizia que eu era um inútil e um frangote. Aquele viado, desgraçado! – suspirou fazendo uma pausa.

— E como a situação mudou? Como você se tornou um Kage e...tão dedicado a Kyoko? Era pra você odiá-la. – Mu indagou, curioso.

—É difícil acreditar, bem...na minha, sei lá, milésima vez que apanhava de Yamoto, eu usei meu poder. Claro, não funcionou, eu era fraco demais, mas foi o suficiente para ele olhar para mim e dizer: Parabéns! Você conseguiu! Eu mal pude acreditar. Não era uma luta e sim um teste. Ele estava me testando o tempo inteiro, paciente até que eu me revelasse. Lembro-me vagamente de ter desmaiado e quando acordei estava em um quarto que não era o meu e nem em uma prisão. Na verdade, estava livre. Minhas feridas haviam sido cuidadas e não haviam correntes. Eu andei pelo casarão e notei que ali não haviam escravos como diziam, notei que as pessoas não choravam ou passavam fome. Notei que as servas que me serviram café da manhã sorriam como se eu fosse um convidado. Um hospede. Fiquei muito surpreso e ainda mais quando, caminhando no jardim, eu vi Ume sorrindo junto a Kyoko-sama. Ela estava bem. Estava...linda! Protegida, bem vestida, bem alimentada. Ume não era a diversão de Yamoto e Ookami e sim a dama de companhia que Kyoko estava procurando a anos. Confesso que não foi fácil. Senti muita...raiva. Ódio! Mas também...segurança, algo que eu não sentia desde...desde a morte do meu pai. Eu queria que a Ume ficasse bem, ficasse segura. Eu era um fraco e a maior prova disso era que eu, em todas as vezes, nunca nem tinha sequer arranhado Yamoto e ele era só o shinobi. Com eu poderia dar a Ume a segurança que ela merecia, o conforto, tudo, se eu não podia derrotar ninguém?! E foi por amor a ela que engoli meu orgulho, aceitando a proposta de Kyoko-sama em ficar ali. Ela sabia quem eu era e sabia também sobre nossa doença, por isso me deu sua palavra de que ninguém jamais saberia quem nós éramos e principalmente que ninguém tocaria na Ume, em todos os sentidos. Perto de um Kage nenhum homem ou, seja lá quem fosse, ousaria tocar na minha irmã. Eu treinei muito com Ookami e Yamoto, me tornando o que sou hoje. Um shinobi. Não fiz isso pela Kyoko inicialmente e sim...pela Ume. – Águia completou, olhando Mu nos olhos.

— Uall! Você, meu rapaz, foi do lixo ao luxo. Meus parabéns! Você fez a melhor escolha. – Aldebaran sorriu amigável. Águia retribuiu com o olhar sério de sempre.

— E a doença?

— Bom...quem descobriu quem eu realmente era, foi Yamoto. Meu clã era chamado de Kyōfu no me, que significa Olhos do medo...

Mu ficou pensativo, lembrando-se do dia em que beijara Ume pela primeira vez. Lembrou-se do olhar macabro de Águia e o quanto aquilo o havia deixado transtornado. Então, era isso. O poder do clã podia gerar medo só com o olhar e quanto mais forte mais medo poderia causar. Na época Mu estava selado pelo cordão de Naomi e seu cosmo muito fraco, o que justificava o motivo de ter sentindo medo na ocasião. 

— Somente o meu clã possui essa habilidade. Foi assim que Yamoto me identificou. – concluiu.

— Um Rei! – disse Mu e riu. — Deuses! Estou...apaixonado por uma princesa. Uma princesa de verdade.

— A doença sempre esteve presente no nosso clã. Se não nos relacionarmos com os nosso, por algum motivo, ficamos doente e morremos. Nunca vimos problemas com isso já que éramos muitos, mas bom...agora só existe eu e a Ume. A doença não tem cura. É como se não tivéssemos imunidade a outros. Eu deixei a Naomi fazer o que queria comigo, mas mesmo assim ela não obteve sucesso, então...desistimos até por não haver mais ninguém além de mim e minha irmã. A doença dela ainda está no estágio inicial. Se você se...afastar agora ela...ainda terá uma chance de viver.

—Eu não vou deixa-la. Não importa o que digam...

—Mas você disse que a amava...- bradou Águia.

— E eu a amo! E é por isso que não vou abandoná-la. Eu não sou estúpido. Sei que sou a causa da doença dela, mas...pelo que entendi essa doença só acontece se...nós nos...relacionarmos emocionalmente. - disse Mu, pensativo.

— Sim! A doença só ocorre quando há contato físico amoroso, como: beijos, abraços...sexo. Na verdade, o sexo parece fazer a doença avançar ainda mais rápido.

— Talvez por se ter um contato físico e troca de fluídos ainda maior. – falou Aldebaran.

— Exato! Quanto mais vocês se tocam, mais se...beijam, mas ela irá adoecer. Chegará uma fase que a doença não regredirá.

— Então, eu não preciso me afastar dela... – concluiu Mu, sorrindo de lado.

— Mas também não poderá tê-la como mulher. – contornou Águia.

— Eu sei! Mas isso já me deixa mais tranquilo. Será difícil. Não poder tocá-la será...

E de repente Mu e Aldebaran se levantaram. Suas expressões sérias deixaram Águia perturbado.

—O que foi? – perguntou o shinobi.

— Eles chegaram! – respondeu Mu.

— Bem com Shion previu. Desgraçados! – rosnou Aldebaran.

— Os deuses...- balbuciou Águia. —Ume...

— Fique aqui com ela. Aldebaran irá ajudá-lo. Eu preciso subir, Saga e Camus já devem estar lá.

— E Kyoko-sama?!

— Não se preocupe. Saga, com certeza, já deu um jeito nisso. – Mu se aproximou do outro, tocando seu ombro. — Águia, eu juro que vou dar um jeito. Eu vou encontrar a cura para Ume...e para você também. Tem minha palavra de honra!

Águia ficou em silêncio e com um aceno de cabeça, e um aperto de mão forte deu a Mu seu voto de confiança. O ariano tratou de sair caminhando em direção ao 13º templo. Se as coisas já estavam ruins, agora, ficaria ainda pior.

 

Continua...


Notas Finais


Um Rei?! É...é isso mesmo. kkkkkkkkkkkkkkk... bjs e até.


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