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História Uma Flor no Deserto - Anne Dixon


Escrita por: LaraOrlow

Capítulo 7 - Anne Dixon


Fanfic / Fanfiction Uma Flor no Deserto - Anne Dixon

Anne caminhava tranquilamente pela rua arborizada. Voltava para casa após mais um dia de trabalho. Estava cansada, mas feliz. As ruas estavam cada vez mais vazias, os rumores da epidemia que se alastrava pelo país fizera com que muitas pessoas fossem embora da bucólica cidade onde vivia com sua mãe e irmão. Carros do exército perambulavam pelas ruas, com soldados armados que vasculhavam cada canto da cidade em busca de possíveis focos da doença. Um acampamento militar havia sido montado ao redor do hospital da cidade.

A velha mãe não acreditava nos noticiários, afinal, com a medicina tão avançada e o filho Edward sendo médico, ela duvidava que a tal epidemia lhes alcançasse. Ela ficara viúva pouco tempo depois de o caçula nascer. Era professora primária e criara sozinha os dois filhos, Anne e Edward.

Anne era uma jovem frágil, delicada e muito cuidadosa com a mãe e o irmão mais novo. Edward já era mais agressivo, metera-se em diversas encrencas no colegial, adorava brigas de gangues e sempre estava em más companhias. Mas para sossego da mãe, isso durou somente até o final do ensino médio. Ao entrar na faculdade de medicina parecia ter-se transformado em outra pessoa. Estava mais atencioso, dedicado e calmo. De toda sua turma do colégio, era o único que seguira uma carreira digna, e isso dava à dona Sônia, sua mãe, um orgulho imenso.

Anne ajudara a pagar a faculdade do irmão, com seu simples emprego no mercadinho à beira da estrada vicinal, no único posto de gasolina da pequena cidade. Era seu primeiro e único emprego, começara ainda adolescente, quando seu Jason perdeu a esposa e se viu com a responsabilidade de criar a enteada e tocar seus negócios adiante. Dona Felícia, esposa do velho Jason, era a primeira da cidade a ter contraído a doença da epidemia. Ficara internada no hospital onde Edward era residente e ele cuidara dela até o fim.

Todos da cidade sabiam que o velho tinha negócios obscuros por trás da fachada do mercadinho e do velho posto de gasolina. Mas não se importavam. Ele era um bom homem no final das contas, religioso, ajudava na paróquia local, fora um bom marido para a falecida Felícia, e certamente seria um bom pai para a jovem enteada Sofia.

Sofia era pouca coisa mais nova que Edward, uma menina arredia e rebelde. Participara com ele de diversas gangues, metia-se em enrascadas diversas, principalmente por causa de drogas e bebidas. Ninguém estranhou quando a jovem começou a se prostituir. Assim que Edward regressou da faculdade para fazer residência em sua própria cidade, assustou-se ao se deparar com essa realidade. Mas, a cidade inteira fingia não ver o que acontecia de noite no posto. Jason prostituía jovens com “potencial”, como ele mesmo dizia. Meninas como Anne, frágeis e tolinhas, essas não serviam para o serviço. Anne só prestava para cuidar do balcão do mercadinho mesmo. Mas Sofia, essa tinha nascido para a noite, o velho afirmava.

Quando Anne chegou em casa notou uma movimentação estranha. Algo não estava nada bem. Algumas caminhonetes do exército estavam estacionadas à frente do portão, o que chamava a atenção dos vizinhos, que descaradamente esticavam o pescoço para entender o que estava acontecendo.

O exército estava espalhado pelo país. Pareciam estar vivendo uma guerra civil. Mas era tudo por conta da tal epidemia. Pessoas desapareciam, carros e caminhonetes do governo enchiam as ruas das cidades, os noticiários anunciavam falha nos testes de uma nova medicação para combater a epidemia, e rumores de que uma pandemia vinha pela frente assustava a população.

Edward afirmava que a doença era perigosa, mas que ali, na sua cidade, estava tudo sob controle. Ele acalmava a mãe e a irmã. Ficava até tarde no hospital, e às vezes sequer voltava para casa. O mundo estava mudando, isso era fato. Mas o exército na sua casa, isso já era outra coisa.

Assim que entrou viu uma cena no mínimo confusa. Três soldados com fuzis na sala, Edward chorando com as mãos enterradas no cabelo e a roupa suja de sangue, sentado no sofá totalmente desconsolado. A jovem correu até ele e se ajoelhou abraçando-o.

- O que houve Ed? O que esses homens estão fazendo aqui?

O rapaz continuava inconsolável. Um dos soldados se adiantou, estendeu-lhe a mão em um breve cumprimento, e foi direto ao assunto:

- Comandante Kevin Sandler. A senhorita deve ser a irmã do médico, correto?

Anne apenas balançou a cabeça afirmativamente, antes dele prosseguir:

- Minha jovem, a epidemia está fora de controle. O hospital será bombardeado essa madrugada e estamos pedindo que os moradores saiam da cidade.

- Como assim? Não estou entendendo. Algumas pessoas estão indo embora, mas outras continuam aqui vivendo naturalmente. Eu estou chegando agora do trabalho, e...

- Senhorita Dixon, serei mais claro. O hospital onde seu irmão trabalha foi completamente tomado pelos mortos. Não sei se tem acompanhado os noticiários, aliás, nem sei se os noticiários estão dando a informação completa com receio de alarmar a população. Mas o fato é que essa doença mata as pessoas em questão de horas após o contágio, e após morrerem o vírus entra no sistema nervoso central, através do sangue infectado e a pessoa revive. Mas não como antes. Revive sem a menor noção de quem é ou quem foi. Se torna um ser selvagem, sem qualquer resquício de humanidade. Vivendo apenas em busca de carne fresca para sobreviver. Não temos ainda informações de como isso surgiu, mas sabemos apenas que a doença se alastra rapidamente. Estamos aqui porque seu irmão foi o único médico que ainda permanece vivo sem se contaminar. Ele tentou lutar contra a doença cuidando de seus pacientes. Nós, do exército ajudamos tentando manter sigilo quanto à situação. Mas agora as coisas mudaram. Viemos trazê-lo para que ele pegue o máximo de pertences que conseguir e o levaremos para um hospital militar onde seus serviços serão bem vindos. Ao passo que o hospital local deverá ser implodido e incendiado, pois não há nada que mate essas criaturas além de fogo.

- Nossa, quanta informação, isso parece quase surreal. E mamãe? Ela está bem? Vou subir e ajudá-la a arrumar as malas. Quando partimos?

- Sinto muito querida, você deverá sair da cidade, mas não poderá nos acompanhar até o hospital militar. Você deverá seguir o comboio com o restante da população da cidade. Nesse instante existem veículos do governo que estão levando as pessoas para locais seguros.

Edward chorava novamente. Agora ela entendia o desespero do irmão. Não só pelo fato do hospital ter sido dominado pela doença, mas porque diante de uma situação tão perigosa ele precisaria desamparar a família.

- E os outros médicos, enfermeiros? Todos irão para esse tal hospital militar?

- Estão todos contaminados minha jovem. Seu irmão é o único sobrevivente do hospital. E deva-se a isso sua experiência com gangues na juventude. O rapaz ainda luta bem – o velho comandante deu uma risada que fez a barriga balançar, mas naquele momento aquilo não tinha nada de engraçado, era quase asqueroso – os únicos que nos acompanharão ao hospital militar serão os feridos sem risco de morte e seu irmão que é medico.

Com raiva, nojo e desespero Anne subiu rapidamente as escadarias que levavam ao andar superior da casa. Sua mãe deveria estar arrumando as malas e ela a ajudaria. Se havia algum comboio para a população, elas iriam chegar em um local seguro.

E Edward iria com elas, o comandante gostasse disso ou não.



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