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História Uma mente suicida. - A mente suicida.


Escrita por: Lithium969

Capítulo 1 - A mente suicida.


Fanfic / Fanfiction Uma mente suicida. - A mente suicida.

”Escrevo-lhes esta mensagem para assim vocês verem o que nunca viram em mim, para enxergarem que na mente de outras pessoas não há somente o que vocês enxergam, e para assim vocês reconhecerem o que passei em silêncio enquanto vocês não me davam atenção, ou davam apenas para reclamar e me colocar mais para baixo ainda, parabéns por isto pais. Pela primeira vez aqui o foco de vocês irá ser eu, e não meu irmão, minha irmã, um mendigo, o cachorro, o rato, ou uma formiga. EU.
Vocês ainda se lembram de quando me trouxeram para o mundo? Pela falta de atenção de vocês, apenas vou relembrar a data, 14/05/1997, já que vocês nunca a lembraram. Nossa, que coincidência essa data, não? Feliz aniversário para mim! Estou a comemorar com minha sombra mais uma vez, viva!
Ouvi um dia vocês dizendo que choraram, que foi uma emoção a minha chegada, agora está difícil de acreditar, considerando que já é a terceira vez que vocês passaram por isso, e também a maneira que vocês me amam e me consideram como membro da família.
‘Olha ele está crescendo’. Chegou para mim a época da escola!
Que inocente eu era, queria tanto poder voltar a ser e pensar do jeito que eu era e pensava naqueles tempos, uma vida simples, chegar em casa, brincar, acordar, ir para a escola, energia quase infinita, a vida era uma simples brincadeira. Eu me preocupava se a Cinderela iria recuperar seu sapatinho, se o pai do Nemo encontraria seu filho, se o príncipe salvaria Rapunzel, e nada mais, não havia mais nada com o que se preocupar. Ah! Mas que inocente eu era, tenho pena e dó daquele menino que já não existe mais, não imaginava o que era a vida, o que passaria. Não quero mais nem imaginar o que eu passaria a partir das datas atuais.
A vida para mim tem sido como uma vela. Quanto maior a vela maior a felicidade, energia, esperança e amizade, e menor as tristezas, preocupações, decepções, e a solidão. Ela é acesa quando você nasce, e vai se acabando linearmente com o passar da vida, quando ela se acaba, o fogo se apaga, naturalmente. O tanto que vivi até agora não está na metade dessa vela, porém já está a um ponto que eu não aguento mais. Tenho medo e angústia ao imaginar como seria o resto dessa vela, então vem o sentimento de que ela é demais para mim, eu acho que não suportaria o resto, e daí que vem na minha cabeça a ideia de apagar o fogo dela, antes de ele se apagar sozinho.
Eu fui uma criança feliz, admito, porém, meus pensamentos começaram a mudar a partir da sexta série, onde eu tinha onze anos. Nessa época eu estava amadurecendo, na verdade mais do que as outras crianças, não sei muito bem o porquê, mas onde eu ia todos falavam que eu estava bem amadurecido para a minha idade. Nessa época, eu comecei a acordar para a vida, sentir amor, ter desejos sexuais, ter preocupações com futuro e com outras coisas que me tiravam do sério. Acontece que a partir dessa época me tornei alguém diferente do que eu era, me tornei alguém quieto, antissocial, inseguro, que não gostava do que os outros normalmente gostavam, não gostava de esportes. Eu me sentia bem estudando, praticando a minha mente, e não meu corpo, e gostava de coisas que me faziam por um momento fugir do mundo real, o qual eu estava parando de gostar, e entrar em mundos fictícios para me distrair, como séries, jogos, e até músicas. Consequentemente me tornei uma pessoa inteligente, porém diferente e fraca, e consequentemente me tornei motivo de piadas.
Motivo de piadas pode ser visto também como bullying. Este foi um dos meus maiores traumas e maiores motivos para eu me sentir como eu me sinto de verdade. Outras crianças/pré-adolescentes estúpidos me xingando, roubando minhas coisas, derrubando meus cadernos e livros, me colocando apelidos, me ameaçando, me batendo, me humilhando. Essa era a maior parte, a humilhação. Por que justo agora, que sentia carência, que sentia amor, me retribuíam com o contrário? Por que alguém como eu, que nunca fiz nada para ninguém, nunca faria, que é apenas alguém preocupado com o futuro, com estudos, com coisas que me fariam alguém melhor, vira vítima de crianças e pré-adolescentes estúpidos que não querem nada com a vida? Eu nunca consegui ver onde isso é justo, onde isso é certo. Se há forças superiores elas nunca me ouviram ou me viram. Nunca quiseram lutar contra injustiças.
Nem todos os alunos se envolviam com isso, porém os que não se envolviam ou riam ou ficavam de boca fechada.
É um bom momento agora para falar sobre minhas idas na igreja, lembra pai? Sempre falavam de amor ao próximo, ser alguém bom, colher o que é plantado, dentre outras coisas que sempre acreditei e agora acredito que são baboseiras. Fiz isso minha vida inteira e o que colhi agora, pai? Solidão? Depressão? Nada do que eu fiz de bom estar voltando para mim? Lá, eles nunca foram de acordo com o suicídio, nós não iremos para o “céu” caso apagarmos o fogo da nossa vela antes de ele se apagar naturalmente. Eu torço para que isso seja uma baboseira igual o resto das coisas que acreditei minha vida inteira. Caso nada disso que eu tenha dito for uma baboseira de verdade, eu afirmo que fui abandonado por Deus.
14/05/2008 – O aniversário mais triste comemorado com o maior sorriso já visto pelo homem – ou melhor, não visto pelo homem. Eu poderia estar rodeado com 2 bilhões de seres humanos do planeta Terra nesse dia, porém o sentimento de solidão só é real quando é sentido mesmo ao redor de outras pessoas. Eu estava tão triste, me sentindo tão só, me tranquei no quarto quase o dia inteiro. Vocês, pais e irmãos, obrigado por me parabenizar e me dar aquele presente, mas acho que nada nesse mundo me ajudaria nesse momento. Eu sorri, porém vocês não sabem o quanto chorei no meu travesseiro depois que eu estive sozinho no meu quarto de novo. Talvez vocês não tenham precisado lavar o travesseiro aquela semana.
Pais, como eu não posso apagar o que está escrito a tinta, aproveito agora para me desculpar do desprezo escrito por mim para vocês no começo desta carta, entendo que nas nossas   condições financeiras e ainda com mais 2 filhos dificulta mostrar o amor de vocês por cada um de nós, talvez ter um a menos ajude agora, e também entendo que a falta de expressão e de conversação minha com vocês não ficou claro o que eu sentia para vocês tentarem me ajudar. Não os culpo. Nunca conversei com vocês sobre isso tudo pois sempre foi algo humilhante para mim. Não sei se conseguiria olhar para seus olhos de novo pensando que vocês sabem o bullying que eu sofria e os sentimentos que tenho, me sentiria humilhado, me perdoem.
A partir do primeiro ano de ensino médio da minha escola, como os alunos em geral estavam amadurecendo também, eles começaram a ter um pouco mais de consciência e não me humilhavam e faziam mais o que faziam antes, porém acontece que eu já havia pegado um trauma provavelmente irreparável. Tinha medo de tudo que eu ia fazer, brincar de algo, jogar algum esporte, apresentações ou até mesmo um simples jantar, tinha um medo absurdo de virar motivo de piadas, me sentia inferior pelas pessoas rirem de mim, eu tremia, me sentia inseguro, suava frio, não conseguia ter mais uma vida comum mais. Não tinha coragem para NADA. Não tinha amigos. Raramente abria a boca para falar. As pessoas olhavam para mim, e eu imaginava que elas estavam me zoando, rindo de mim. Evitava olhar para os outros.
Além desse medo, muitas outras coisas começaram a me perturbar, começaram a aparecer.
Eu queria ter alguém, eu queria uma namorada, queria alguém para poder abraçar, sentir, dar carinho e amor. Nunca tive a oportunidade de sentir calor humano, e isso se tornou uma obsessão gigante, era tudo que eu queria.
Na minha sala haviam as meninas mais bonitas da escola, e eu as observava. Como pode existir coisa tão linda e perfeita no mundo? São uma divindade. Elas estão tão perto e tão distantes. Mas eu? Eu não sou nada perto delas, elas são meus sonhos, e eu sou apenas um nada, um rato ou coisa pior. Algo que elas olham com olhar de desprezo e riem, enojadas.

De onde eu iria tirar coragem para falar com elas? O que eu iria dizer? Elas ririam de mim, me desprezariam. Eu não fui feito para ter o que eu quero. Ah, eu queria que elas soubessem tudo que eu faria por elas. Eu me perguntei muito: O que eu não faria por elas? Eu beijaria os pés delas se elas quisessem, eu seria um cachorro. Um pedaço de merda não tem direito de viver junto a uma divindade.
Eu nunca, simplesmente NUNCA teria aquilo para mim. Não nasci para ser feliz, nada permite minha felicidade. Eu me sentia mais só do que nunca, mais triste do que nunca.
Devo aceitar que Deus me criou com o intuito de ser triste, de sofrer, de ficar sozinho, de não ter o que querer. Chorar antes de dormir virou rotina noturna.
Eu não sou bom como os outros, eu me tornei um lixo perto de qualquer um. Como todos conseguem se enturmar, conversar, namorar? As pessoas que me humilhavam e que me estragaram vivem bem melhor do que eu. Se eles olharem para uma menina, a menina se torna deles. Se eu olhar para uma menina, tenho certeza que virarei motivo de piada e nojo.
Enquanto minha escola se tornou um inferno, minha casa se tornava um outro inferno. Entendo a preocupação de vocês, pais, com o meu futuro, acontece que preocupar uma mente solitária triste e já preocupada irá faze-la explodir. Eu não aguentava mais o que eu já estava passando, e vocês eram tão rígidos com os estudos, com o meu futuro, que foi demais para mim. Vocês não me deixavam desabafar em paz. Vocês não me deixavam chorar em paz. Frases que vocês falavam do tipo ‘Você não será ninguém na vida’, ‘Você não faz nada’, nunca me ajudaram muito.
Entendo a preocupação pais, mas eu comecei a creditar em vocês. Sabe como eu acredito em vocês? Assim: ‘Eu não consigo conversar, tenho medo de contato social, não consigo nada do que eu quero, como uma mulher para dar e receber amor, teria medo de uma entrevista de emprego, não faço e nem consigo melhorar, não consigo mudar minha forma de pensar, então, realmente, não serei ninguém na vida.’ Cheguei a conclusão que minha vida estava perdida, não havia mais o que fazer.
O pessimismo, a falta de auto estima, a insegurança, o medo, o trauma, todos eles aproveitaram o vazio que havia dentro de mim para se infiltrar. Passei a viver dentro da escuridão do meu quarto, o único lugar onde havia paz, que eu podia chorar em paz. Esperança não havia mais em mim.
Muitos criticam quem se corta, porém todos eles não têm a mínima ideia de como é sentir o que eu sinto, a dor de cortes nos braços não é nada comparada a dor que toma conta do meu peito.
Com o tempo que passei sozinho no meu quarto, tentei imaginar minha vida se eu não fosse um pedaço de merda como eu sou agora. Como se eu fosse um pelo menos um ser humano. Acordar cedo todos os dias para ir para a escola, entrar em uma faculdade, trabalhar, e talvez ter alguém que me ame e que eu ame. Mas uma coisa eu concluí: como é possível a vida ser boa? Não suporto acordar cedo, não suporto escola, não suporto trabalhar... e meu dia-a-dia seria como? Acordar cedo, trabalhar, chegar em casa, dormir, acordar cedo, trabalhar, chegar em casa, dormir... não consigo ver prazer nisso. Todos vamos morrer algum dia, todos nascem, crescem e no fim deixam de existir, mas qual o motivo? Não importa o que você tenha feito ou não, todos acabam do mesmo jeito. Agora essa passagem temporária de cerca de 80 anos chamada ‘vida’, vale realmente a pena? Não é tudo mais fácil adiar para o final?
PARABÉNS! Parabenizo a todos vocês, seres humanos, que conseguem viver aqui, que conseguem ter amor correspondido, que conseguem o que querem, que não tem medo de rirem e de te zoarem que nem um cachorro sujo, parabéns a vocês cretinos imundos que acabaram comigo e agora vivem como se nada tivesse acontecido, parabéns cretinos. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. PARABÉNS. Agora queria ver vocês viverem da posição que eu estou, e não a qual vocês estão, por que na situação que vocês estão, está muito fácil.
MAS PARA MIM JÁ DEU! Já deu.
Eu não consigo arranjar namorada porque sou um pedaço de merda!
Eu não consigo conviver com todo mundo porque sou um pedaço de merda!
Eu não irei continuar minha vida, pois sou um pedaço de merda!
Me perdoem meus pais. Eu não queria que vocês sofressem com isso. Me desculpe família.
Me desculpe por não ter dado a chance para vocês me ajudarem, mas minha mente já está feita e muda-la vocês não conseguiriam. Pensem pelo lado bom, nunca estive tão feliz quanto estou agora ao pensar em finalmente sair desse buraco. O meu melhor presente de aniversário, uma forca! Feliz aniversário para mim!
A minha vela está pela metade, mas está na hora de apagar o fogo.
É minha deixa.”



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