História Uma Nova Chance - RETA FINAL - Capítulo 31 - Incertezas

Desde que se mudou, America costumava passar as férias de inverno na casa de sua família. A residência se localizava em bom bairro de Carolina, bem longe de sua antiga casa. Era grande e aconchegante e, depois de tanto tempo, era quase como o seu segundo lar. Lena também tinha uma casa nas proximidades, o que intensificou a convivência entre as famílias que permaneceram unidas mesmo depois da morte de Aspen. Passar o Natal com as avós fazia deste feriado o mais esperado por suas filhas; aquele seria o primeiro sem Audrey.

America estacionou em frente à casa, se preparando para as palavras de Magda e para a conversa que teria com May. Caminhou ao lado de Amberly carregando as pequenas malas e sentindo a neve em seu rosto. O que antes era um lindo gramado verde em dias ensolarados, havia se transformado em um travesseiro branco. Espessas camadas de neve fofa encobriam o solo, fazendo as botas de America e Amberly afundarem a cada passo, deixando um rastro de pegadas do carro até a porta de entrada da casa.

Antes que America pudesse bater, a porta se abriu e Magda se pôs para fora, abrindo um largo sorriso e envolvendo America em um abraço.

— Querida, pensei que vocês fossem chegar só no fim do dia!

As duas não planejavam sair de casa tão cedo, mas conseguiram um voo antecipado e um carro alugado. Não passava das duas da tarde. Magda soltou a filha e foi espremer a neta em seu abraço, que nem se incomodou com a vó apertando suas bochechas, fazia muito tempo que não se viam.

Depois de todos os cumprimentos, as três entraram.

— Coloquem essas malas ali no canto — Magda instruiu, indicando o espaço ao lado do sofá. — Venham comer alguma coisa, duvido que a comida do avião seja melhor do que a minha.

Sentada à mesa da cozinha, America percebeu o silêncio na casa e perguntou.

— Onde está May?

— Saiu de manhã, foi resolver algumas coisas do trabalho, deve voltar antes de escurecer. Precisa falar com ela? — Magda especulou.

— Preciso — America respondeu.

Amberly quase engasgou com um pedaço de bolo. Temendo que virasse o assunto da conversa no meio das duas, se levantou no mesmo segundo, lavou seu prato e se despediu dizendo que iria arrumar suas coisas no quarto de hóspedes que sempre era reservado a ela e à irmã nos feriados que passavam em Carolina.

Assim que ouviu a neta no andar de cima, Magda afastou seu prato e perguntou, cruzando os braços sobre o busto:

— Vai me contar o que aconteceu lá?

— Mãe, eu...

— Só me diga pelo amor de Deus que você não voou no pescoço do rei — perguntou, se recordando da raiva que a filha tinha da família real. Embora soubesse que America nunca deixara de amar Maxon, isso não significava que ela não guardasse rancor pela escolha que ele fez.

America largou o garfo e encolheu os ombros, ruborizando. Ela tinha se lançado ao pescoço do rei, mas não da forma que Magda imaginava.

— É claro que não, mãe — assegurou. — Nós apenas conversamos.

Magda soltou os braços sobre o colo e especulou:

— Imagino que tenha contado tudo à Audrey, ela não parecia tão surpresa quando aquela garota cretina abriu a boca no Jornal Oficial.

America assentiu, baixando os olhos para as mãos apoiadas sobre a mesa, inspecionando as unhas e tentando encontrar uma forma de contar tudo para a mãe sem, bem, contar tudo.

Pareceu mais sensato amenizar a gravidade do ataque rebelde e deixar de lado a parte em que ela e Maxon ficaram presos, sozinhos, em um abrigo a noite toda. Ela sabia que suas filhas seriam as últimas a espalhar a história. Seu segredo estava seguro. Entretanto, estava implícito na expressão de sua mãe que Magda entendera o que ela quisera dizer com “nos reconciliamos”.

— Amberly e eu já estávamos em casa quando assistimos ao Jornal Oficial, Audrey ainda estava muito brava com toda a história e eu confrontei Amberly para saber porque ela não estava com raiva de mim por ter mentido, afinal, ela tinha o direito — disse America. — Então ela me disse que já sabia de tudo.

Magda se retesou no assento, surpresa com a revelação.

— Amberly e May armaram tudo isso — America explicou. — Amber começou a desconfiar de tudo há alguns meses e May confirmou a história toda. Depois disso ela fez a cabeça da irmã para se inscreverem no concurso e, bem, o resto acabou acontecendo — completou, sentindo-se cansada de repente. Falar aquilo tudo em voz alta fazia parecer ainda maior a bagunça que se tornara sua vida.

Sua mãe precisou de alguns instantes para processar o que ouviu, mas antes que o silêncio se instalasse por completo ela disse, lançando um olhar terno para a filha:

— Eu disse a você centenas de vezes que era errado esconder essa história. Sei que May não deveria ter passado por cima da sua decisão e imagino que é por isso queira tanto falar com ela, mas não brigue com a sua irmã. — Antes que a America pudesse interrompê-la, Magda acrescentou: — Nós todos vimos como você mudou e o quanto você sofreu e se doou para cuidar das minhas netas e hoje elas são duas lindas mulheres.

Magda se aproximou da filha e tomou sua mão.

— Depois de tudo que aconteceu eu espero que você encare isso como uma segunda chance, America. Você é minha filha e eu a conheço como ninguém, sei que nunca deixou de amá-lo, mas também sei o quanto você é teimosa e vai acabar inventando mil e um empecilhos entre você e ele.

America balançou a cabeça, secando os olhos.

— Eu sei, é que está tudo tão confuso... — confessou, passando a mão pelos cabelos, inquieta. — Eu não posso simplesmente aparecer lá e pedi-lo em casamento. Maxon é o rei. O que as pessoas vão pensar?

— Você disse a ele que voltaria, não disse?

— Disse, mas agora já não tenho tanta certeza — admitiu. — Não sei o quanto Maxon está disposto a recomeçar. Muita coisa mudou e nós dois estamos tão diferentes... Cada um tem a sua vida e claramente Maxon não pode abandonar a dele. Não sei se consigo jogar tudo para o alto e me mudar para Angeles.  Aceitar uma vida ao lado de Maxon e se tornar rainha seria como jogar tudo o que eu construí nos últimos vinte anos no lixo. Quando era jovem não tinha tanto a perder, mas agora teria que abandonar minha casa, Celeste, meu emprego, colegas de trabalho... teria que deixar toda a minha vida para trás e...

— America! — Magda exclamou, contendo as mãos da filha que gesticulavam freneticamente no ar. — Se acalme, você está pensando demais, querida! Está sofrendo por algo que ainda nem aconteceu e complicando demais as coisas. Vocês se reencontraram apenas uma vez, precisam conversar para decidir como resolver a situação — continuou. — Você vai saber o que a fará mais feliz. Ser uma Dois em Clermont ou uma rainha em Angeles.

— Falando desse jeito me faz parecer uma boba — America resmungou.

— Mas você é mesmo — sua mãe retrucou, sorrindo.

America riu, sentindo-se mais leve ao colocar todas suas incertezas para fora.