Marco:
Ver Paolla daquele jeito acabou comigo, era demais aquilo, seu olhar pra mim era como se dilacerassem meu coração, era de estranhamento, como se nunca tivesse me visto.
— Cade meu pai? Ele sabe o que aconteceu? — Ela diz e volta a me olhar com estranheza.
— Sabe me dizer seu nome completo? Nome da sua mãe, seu pai, onde mora...— Gabi pergunta com a voz trêmula.
— Caroline Paolla Oliveira da Silva. Minha mãe chama Áurea e meu pai, Bento. Moro em Manaus com meu pai e não faço a menor ideia de onde eu to e nem quem são vocês!
— Tudo bem, calma. Meu nome é Gabriela, eu sou enfermeira daqui. Eu vou chamar o Hugo, ele vai pedir uma TC do seu crânio e depois veremos o que vamos fazer. Mas antes eu vou lhe dizer três palavras e quero que você repita elas pra mim agora e depois quando eu voltar, sim?
— Tá...
— Vamos lá: casa, carro, avião.
— Casa, carro, avião. — Ela repete embora parece não ter entendido nada. Eu também não entendi.
— Muito bem. Com licença.
— Pra que isso? — Sussurro para ela antes que deixe o quarto.
— Eu quero saber se o cérebro ainda processa novas memórias. Alguns pacientes, além de perder a memória retrógrada, ou seja tudo o que aconteceu antes do trauma, também esquece de tudo o que acontece depois, o cérebro já não é capaz de processar novas memórias e eles acabam vivendo um eterno presente, as vezes a memória se apaga em alguns minutos ou algumas horas, no dia seguinte... Depende.
Ela sai e eu permaneço em estado de choque.
— E você, quem é? — Ela pergunta depois de alguns segundos.
— Eu sou seu marido, Paolla! Marco! Nos casamos no começo de dois mil e sete.
— Não, você não é! — Ela diz em tom assustado. — Eu não sou casada, é impossível, eu nem... Te conheço.
—Você sofreu um acidente e por isso nao está se lembrando, mas nos moramos em um condomínio fechado aqui em São Paulo, e você precisa se lembrar disso!
— Para...— Ela diz com a voz embargada.
— Você é enfermeira do trauma e trabalha aqui, aquela mulher que saiu agora é sua melhor amiga e o cara que sofreu o acidente junto com você também é! Paolla, olha pra mim, me escuta... Você só morou com seu pai até os cinco anos, depois ele faleceu e você...
— Cala a boca!! Cala boca, eu não quero ouvir mais nada, me deixa em paz! Sai daqui!!— Ela grita e os aparelhos começam a apitar e ela começa a dar sinais de falta de ar. Entro em desespero.
— Paolla, Paolla!!!— Começo a tentar fazer alguma coisa e Gabi e o doutor entram apressados.
— Sai, sai, sai!!— Ela diz e me retira da sala enquanto Hugo cuidava dela.
— O que aconteceu?— Pergunto, atordoado.
— Taquicardia. — Ela diz e depois de um tempo, Paolla já estava estável.
( . . . )
Paolla foi levada para a tomografia e os resultados confirmaram o dano na parte do cérebro que era responsável pela memória e personalidade, e isso poderia ser passageiro ou não.
— Cade ela, Gabi? Ela vai se lembrar de tudo não vai? — Pergunto me levantando assim que a vejo.
Ela suspira e segura minha mão.
— Talvez sim, talvez não... Ela está conversando com uma psicóloga agora, está irritada, confusa, com medo... — Ela diz calmamente.
— Fui eu, não foi? Eu me descontrolei e acabei enchendo ela de informações, ela ficou irritada e por isso teve aquele episódio...
— É, você exagerou um pouco. Mas eu devia ter ficado lá, não tinha como você saber, é a sua esposa, vocês estão juntos há anos e de repente tudo se apagou, pra ela é como se nunca tivesse existido, sua última lembrança é da época em que tinha cinco anos e tudo o que veio depois disso foi apagado. É um choque tanto pra você, quanto pra ela... É como se ela tivesse dormido com cinco anos e acordado hoje, com sua vida toda feita e ela sem saber de nada, ela não se conhece, Marco, sabe o próprio nome mas não sabe quem é, está rodeada de desconhecidos que sabem coisas sobre ela que ela desconhece e isso dá medo, eu nem imagino como ela deve estar...— Ela diz com voz calma.
— Eu sei... Eu posso ve-la? Eu preciso ver como ela está.— Peço e mesmo receosa, Gabi assente e me leva até o quarto.
Paolla estava no leito ainda e conversava com uma moça e tinha sua mãe ao seu lado, eu não podia ouvi-las, mas ela chorava muito à cada palavra que uma delas dizia.
— Meu amor, eu...
— Tira ele daqui!!... — Paolla grita, assustando a todos.— Tira esse homem daqui! Eu não quero ve-lo aqui, tira ele daquii!!!
— Paolla...— Tento dizer qualquer coisa mas ela me encara com raiva.
— Eu odeio você!!
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