História Uma outra Alice - Abaixo a cabeçuda!

Depois de um tempo na enfermaria, Brian me libera para sair. Lysandre ainda não tinha acordado, e eu estava com medo de ele ter entrado em coma ou coisa parecida, mas o corte não foi tão fundo assim. Talvez ele esteja apenas em um sono profundo.

Assim espero...

Vou para o meu quarto arrastada por um guarda e me sento na cama. Eu consegui sentir os olhos de Alice fixos em mim, então me viro para ela e puxo seu cabelo com muita força. Ela grita e morde minha mão, fazendo com que eu me afastasse. Ela destruiu aquilo que eu mais gostava em mim, e agora eu ia acabar com o dela também.

- Do que você mais gosta no seu corpo, Alice? – Pergunto enquanto me levanto e seguro em seu pulso fino. Ela arregala os olhos, e então eu noto como eles são bonitos. – São dos seus olhos tão azuis, pequena Alice? – Com minha outra mão, eu seguro seu rosto pequeno, pressionando o polegar em sua pálpebra. Eu queria muito furá-lo ali mesmo, mas o que seria de mim? Eu seria só mais uma psicótica naquele lugar.

Eu a solto e me viro para o espelho, alisando as madeixas curtas. Meus cabelos estavam um pouco acima do pescoço. Devido ao comprimento, ele armou de um modo assustador. 

O meu rosto se fecha em uma careta e eu me volto para ela outra vez, puxando seus fios loiros e a derrubando da cama. Ela tentou me chutar, mas eu pisei em cima de sua canela. Ela dá um grito de dor, então tampo sua boca com a mão livre. Ela não poderia fazer escândalo ou então viriam para cá.

- Solta! Solta! – Ela grita depois de morder mais uma vez a minha mão.

- Sua monstrinha! Você acabou com o meu cabelo, eu vou destruir o seu! – Um tufo loiro se enrola nos meus dedos, e então eu puxo com toda a força possível. Ouço um estalo alto e o berro da Alice, sorrindo ao ver o bolo de cabelos que consegui arrancar. – Eu poderia fazer isso até você ficar careca, mas você vai fazer muito barulho.

- Por que está fazendo isso comigo? – Ela pergunta com lágrimas nos olhos e uma mão na cabeça.

- Pare de ser falsa, Alice. – Eu me agacho para poder encará-la bem nos olhos. Aqueles olhos frios e manipuladores. – Eu sei que você é uma psicopata de primeira, então sejamos sinceras, você apenas me usou. Nunca me considerou como uma amiga. – Eu abro um sorriso malicioso no mesmo instante que ela. A loira inclina a cabeça para o lado e começa a gargalhar histericamente.

- Ah, Chapeleiro...Sabe do que eu gosto em mim? Do meu cérebro incrivelmente inteligente. Posso ser louca, mas sou extremamente sagaz. Eu tive uma ideia. – Ela se levanta e bate a poeira da barra do vestido vermelho. – Vamos jogar. Quem conseguir tirar aquela cabeçuda do trono primeiro, vence. Fechado? – Ela estende a mão pequenina para mim. Passo a língua nos lábios, sorrindo, e aperto sua mão. O acordo estava com o tempo contando.

***

No dia seguinte, eu me encontrei com Lysandre no refeitório de manhã. Ele estava com uma boa aparência, e agradeceu por ter sido torturado, pois foi a melhor noite de todas desde quando ele chegou aqui.

Eu disse à ele da aposta que Alice fez comigo, e depois de ouvir tudo, ele balançou positivamente a cabeça e sussurrou um “Estou com você” bem no pé do meu ouvido, fazendo com que eu me arrepiasse um pouco. Nossos momentos de privacidade provavelmente demorariam para acontecer novamente.

No fim do café, Valete me chamou para conversar. Ele me chamou para dentro daquela salinha outra vez e me empurrou contra uma prateleira, prendendo meu corpo com o seu. Eu fiquei sem reação, mas depois que ele explicou o motivo da sua ira, eu soltei uma gargalhada e disse “Vamos fazer isso”.

Eu, Brian, Lysandre e Valete estamos agora na sala da diretora. Neuhaus disse que tínhamos feito algo que merecia punição, e me entregou uma arma no meio do caminho. Eu estava pronta para eliminar aquela peste da face da Terra.

- Querido, você está me entregando esses três assim tão fácil? Na maioria das vezes, você é mais...misericordioso. – Ela gesticula rindo. –Então o Chapeleiro aprontou mais uma vez? – Ele se agacha na minha frente, com um sorriso naquele maldito rosto. E então eu tiro a arma de dentro da jaqueta e aperto contra seu peito, disparando sem pensar duas vezes. Ela arregala os olhos e coloca as mãos na ferida. Seus lábios tentam pronunciar algo, mas Neuhaus dá um empurrão de leve em sua cabeça, fazendo com que ela tombasse para trás. Sua última expressão antes de partir foi de pura decepção. Ela não imaginava que seu tão amado rei de copas fosse matá-la com a ajuda de um enfermeiro, do sobrinho e de uma paciente. Neuhaus começa a gargalhar e toma a arma da minha mão. Lysandre e Brian se apressam em preparar o corpo para um enterro silencioso.

Eu estava parada, observando aquela cena toda. Eu tive essa coragem, e isso me assustava um pouco. Eu não pensei duas vezes em disparar contra ela. Eu sou uma assassina.

Claro que você é! Você é a nossa Chaper! Estamos orgulhosos da vossa senhoria!

As vozes infantis gritaram na minha cabeça, mas eu as afasto balançando fortemente a cabeça.

- Muito bem, Chapeleiro. – A voz do homem de tapa-olho terminou com ironia. Ele colocou um sorriso malicioso nos lábios e me puxou para levantar. Suas mãos deslizam para o meu rosto e eu olho nervosa para Lysandre, mas ele estava ocupado demais enrolando a madame no tapete vermelho de sua sala. Vermelho para a Rainha de Copas.

- É-É... – Me afasto um pouco dele, visivelmente envergonhada.

- Chaper, você aceita ser a minha rainha? – Todos o olham de um modo surpreso, até mesmo eu. Do que ele estava falando?

- Ah, eu não...

- Não, não. – Ele me interrompe. – Não como esposa, você é nova demais para mim. Somente como parceira para governar este lugar nojento. Juntos iremos tornar River Side um lugar melhor para os doentes. E então, você aceita? – Eu olho para a janela da sala, e vejo a garotinha de cabelos castanhos. Ela sorriu docemente para mim e fez um sinal positivo com o polegar. Lysandre e Brian também me lançaram sorrisos de aprovação, então eu balanço minha cabeça para cima e para baixo, apertando a mão enluvada dele.

“Eu venci, Alice!”

- Eu aceito.

***

Depois que conseguimos enterrar a cabeçuda, Valete me fez assinar uns papéis que eu nem sequer li e me levou até a sala da diretora. Ele disse que aquela seria a minha sala, e eu poderia decorar do jeito que quisesse. Ele também disse que daria conta dos policiais que fossem até lá, e então tudo aquilo seria renovado para melhor.

- Você fez um acordo com o Valete? – Alice aparece atrás de mim.

- Sim, eu fiz. E você perdeu, loirinha. Agora que estou aqui, você não poderá escapar das minhas investigações. – Digo enquanto coloco um abajur verde na mesinha de canto da minha nova sala.

- Pensei que você fosse mais inteligente, Chapeleiro. Você fez uma péssima escolha.

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