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História Uma Outra Estação - Capítulo 07: Waffles ou algo assim


Escrita por: Natt_Evans

Capítulo 8 - Capítulo 07: Waffles ou algo assim


 

Depois da minha primeira noite com Uruha, as coisas entre a gente foram por um caminho que eu inicialmente não esperava.

A verdade é que Uruha parecia um daqueles caras que não se apegam a ninguém, então eu julguei que aquela seria nossa primeira e última transa. Essa ideia se confirmou ainda mais, quando ao acordar no dia seguinte, ele não estava mais dormindo na minha cama, muito menos em qualquer outra parte do apartamento que eu dividia com Aoi.

Eu até achei isso bom, porque me poupava daquela interação constrangedora do dia seguinte pós noite de sexo selvagem, assim com essa redundância mesmo.

Foi uma noite incrível e tudo mais, mas eu não era idiota de ficar idealizando algo além daquilo. O resto do dia eu nem me dei ao trabalho de pensar em Uruha, foi um sábado como outro qualquer: passei a manhã vendo filmes, terminei um projeto da faculdade e a noite deixei Yuu me levar em um bar onde quase todo mundo da nossa faculdade ia, mesmo que eu não curtisse muito beber.

Em resumo, uma noite tranquila e nem cheguei a comprar cocaína, só tinha tomado uns drinks leves. Antes das duas da manhã já estávamos em casa.

E não, eu não tinha a menor esperança de que Kouyou aparecesse no bar.

Então imagine só a minha surpresa, quando no domingo de manhã, por volta das nove horas, o interfone do apartamento tocou e era ninguém menos que Uruha?

A minha primeira reação foi pensar: Mas que porra ele estava fazendo em um domingo de manhã no meu prédio?

A segunda foi dizer:

- O que você quer aqui a essa hora? – O que era basicamente uma repetição do meu primeiro pensamento.

- Nossa! – Ele disse, de um jeito que ficava evidente que estava rindo. – Você é desses que acorda de mau humor, chibi?

- Olha... – pensei em pedir para ele parar mais uma vez com aquela história de chibi. Mas provavelmente não ia levar a lugar algum. – Você veio ver o Yuu? – Talvez ele tivesse combinado algo com Aoi e eu nem soubesse.

- Hein? Não, por que eu viria até aqui a essa hora ver o Yuu? – Ele perguntou e eu só pude pensar: Qual era a droga do problema desse cara? – Você já tomou café da manhã?

Sério? Quem é que aparece na sua casa em um domingo de manhã para saber se você já tomou café da manhã? Fiquei tão confuso com a pergunta, que quando vi já estava respondendo:

- Não, ainda não.

- Ótimo, desce aí que eu vou te levar pra tomar café da manhã.

Por um instante eu achei que não tivesse escutado direito. Ou talvez eu tivesse ido parar subitamente em um daqueles filmes americanos de comédia romântica, sem que ninguém me avisasse. Então, foi bastante sensato da minha parte dizer pelo interfone:

- Como é que é?

- Desce logo, Takanori. Estou morrendo de fome e o lugar que eu conheço só serve café da manhã até às dez.

Pensei em mandar ele ir sozinho e parar de me perturbar àquela hora da manhã, mas então minha mente resolveu me lembrar a noite de sexta, quando Uruha me beijou e todas as coisas indecentes que ele me disse e fez comigo.

Em seguida eu já estava dizendo para ele esperar dez minutos, que eu ia trocar de roupa e descer.

Eu me arrumei o mais rápido que pude, o que foi praticamente um recorde da minha parte. Mas por fim, lá estava eu, descendo pelo elevador de calça jeans, camisa preta em gola v, um casaco roxo e botas na altura do tornozelo.

Quando abri o portão de entrada e ganhei a rua, vi Uruha em cima da sua moto e já fui logo dizendo:

- Não vou andar nisso de novo com você! – Afinal eu queria muito continuar vivo.

Mas Uruha riu e mesmo assim me jogou o capacete reserva.

- Prometo não correr muito – ele disse, colocando o próprio capacete e esperando que eu subisse.

Suspirei baixo, ainda em dúvida, mas acabei subindo na moto. Dessa vez, eu mesmo passei os braços por sua cintura e segurei firme.

Uruha perguntou com a voz abafada pelo capacete, se estava tudo bem. Eu respondi que sim e ele deu partida.

E para minha surpresa, ele cumpriu a promessa de não correr muito, o que fez com que andar de moto fosse até um pouquinho agradável. Além do mais, como agora eu não estava apavorado em sofrer um acidente horrível, pude notar algumas coisas que não tinha notado da outra vez.

Para começar, Kouyou é um daqueles caras que você tem vontade de deitar em cima de tão confortáveis que eles são. Era simplesmente bom ficar abraçado a ele daquela forma e com a bochecha colada em suas costas. Além disso eu podia sentir o cheirinho de amaciante vindo da sua camisa, misturado com seu perfume.

Mas não pude aproveitar nada disso por muito tempo, já que menos de cinco minutos depois, ele estacionou a moto em frente ao que parecia ser um restaurante.

Eu desci da moto após tirar o capacete e ele fez o mesmo. Esperei que Uruha prendesse os capacetes na moto e o segui quando ele começou a caminhar para dentro do estabelecimento.

O local era minúsculo e meio escuro. Restaurantes assim eram até meio comuns em Tóquio, mas eu conhecia muito poucos. Já Uruha parecia bem familiarizado com o local e era até engraçado perceber que ele tinha mesmo jeito de quem gostava de lugares como esse.

Sentamos em uma das mesas mais ao fundo e talvez fosse porque o ambiente era pequeno demais, mas achei ele bem cheio para uma manhã de domingo.

Olhei o cardápio e não me surpreendi ao ver que eles ofereciam um típico café da manhã japonês: arroz, omelete, missoshiru, peixe... E acho que algo transpareceu no meu semblante porque Uruha perguntou:

- O que foi?

Eu ergui o rosto para fitá-lo e a expressão dele era de quem estava se divertindo.

- Pensei que você ia me levar pra comer waffles ou algo assim... – confessei, tentando parecer casual, mas devo ter falhado, porque ele riu e perguntou:

- E por que eu te levaria pra comer essas coisas? Eu te disse que a gente ia tomar café da manhã, não lanchar.

Pensei em explicar a ele sobre aquilo de ter me imaginado em uma comedia romântica americana, quando ele falou em café da manhã ao interfone. Aoi costumava dizer que eu era um desses japoneses aficionados pela cultura americana, o que claro, era um enorme exagero da parte dele. Mas para falar a verdade eu tinha mesmo me visto com Uruha comendo waffles ou panquecas em uma daquelas cafeterias bem americanas, onde as garçonetes sempre vestem uniformes amarelo.

E sabe o que é pior? É que eu de fato expliquei tudo isso a Uruha, só não citei a parte da comedia romântica, porque ele provavelmente fugiria pensando que eu era um desses loucos que mal sai com alguém e já começa a planejar o casamento.

- Elas sempre vestem amarelo? – Ele me perguntou, parecendo genuinamente interessado nesse fato, o que me fez sorrir. Normalmente ninguém dava a mínima para essas bobagens que eu falava.

- Quase sempre! Você nunca notou? – Uruha riu baixo.

- Você é mesmo uma graça, chibi. – Eu parei de sorrir na mesma hora, me dando conta de que ele provavelmente estava tirando uma com a minha cara, mas então Uruha levou a mão até o meu rosto e acariciou brevemente. – Acabou sendo uma boa ideia ter ido na droga daquela festa – disse, meio vagamente.

Eu me senti confuso, sem ter a menor ideia do que se passava na cabeça dele. Ele era completamente diferente de todos os caras com quem eu tinha saído. Uruha nunca parecia envergonhado e exalava confiança. Além do mais ele era muito, muito espontâneo, especialmente quando se tratava de toques carinhosos, o que era meio que uma anormalidade para um japonês.

Passei o resto do café da manhã inteiro tentando decifrar aqueles sorrisos dele ou os toques casuais dos seus dedos nos meus braços ou nas costas das minhas mãos. O que eu não conseguia entender naquele momento, e que só passei a entender muito tempo depois, é que Uruha mal se dava conta da forma como agia.

Ele e eu demoramos um tempão para terminar de comer, conversando sobre uma infinidade de coisas, muitas delas sem tanta importância. Como eu já tinha dito antes, Yuu tinha me contado que Kouyou também era de Kanagawa, então era normal a gente conhecer os mesmos lugares, apesar de nunca ter se esbarrado. Mas descobri que a casa dos pais dele ficava apenas a cinco quarteirões da casa dos meus pais e que por muito pouco ele não tinha estudado no mesmo colégio que Aoi e eu.

O que mais lembro desse dia, era como Kouyou ria fácil. Eu até tinha um nome para isso: pessoas de riso frouxo. Eu detestava pessoas de riso frouxo.

Eu adorei isso em Uruha.

Aquele deveria ter sido o primeiro sinal, mas eu nunca fui muito bom com essas coisas e até o momento eu não estava levando nada daquilo muito a sério.

Terminamos de comer, dividimos a conta e subimos novamente em sua moto. Achei que ele fosse me deixar em casa, mas quando ele pegou um caminho diferente, nem questionei para onde estávamos indo.

Uruha me levou a uma praça ao lado de um templo. Eu já conhecia o local, era um pouco perto da faculdade, mas nunca tinha ido em um domingo. Estava cheio de famílias com crianças, então não achei que fosse uma boa ideia, mas ele insistiu. Nunca fui muito chegado em lugares assim. Além do mais eu estava morrendo de vontade de ficar a sós com Uruha e repetir um pouco aquela noite da festa.

Foi só quando ele me mostrou um local onde podíamos alugar umas bicicletas, que eu percebi que algo não estava se encaixando ali.

Veja só, nós tínhamos nos atracados descontroladamente pouco tempo depois de termos nos conhecido. Nada mais natural que eu achasse que era bem isso que iria acontecer, depois daquela história de me levar para tomar café da manhã.

- Hey, Takashima? – Chamei quando ele já pegava uma das bicicletas. – Para que tudo isso?

- Hm? – Ele me olhou confuso, enquanto esperava que eu também pegasse uma das bicicletas. Acabei fazendo isso e caminhei com ela ao lado de Uruha.

- Tomar café da manhã, ir a um parque em uma manhã de domingo, andar de bicicleta...? – Questionei, mas ele ainda parecia confuso. Certo, eu não sabia como dizer para o cara que não precisava ter todo aquele trabalho se ele tinha em mente o mesmo que eu.

- Você não está gostando? Preferia fazer outra coisa? – E pela primeira vez eu vi um pouquinho assim de insegurança nele, o que futuramente eu ia descobrir que era muito raro de acontecer com Uruha.

- É só que... – você pretende chegar aonde com isso? Quis perguntar, mas não consegui ir mais adiante.

- Espera, espera... – ele disse, sorrindo como se tivesse acabado de fazer uma grande descoberta, parou de andar e me olhou, as bicicletas entre a gente. – Você não percebeu que isso é um encontro? – Eu arregalei os olhos e o sorriso dele alargou mais ainda, engolfando-o em sua própria confiança. – É como você disse... o café da manhã, parque, bicicleta... Pensei que tinha deixado bem óbvio.

- Eu não... – tentei dizer, mas por alguma razão que eu desconhecia, parecia que eu tinha perdido a capacidade de forma frases completas.

Não é como se eu nunca tivesse ido a um encontro. Só não fazia o menor sentido com Uruha. Ele não parecia ser esse tipo de cara, entende? Ele havia deixado bem claro que preferia ir logo aos finalmente.

Kouyou riu, já subindo em sua bicicleta e para meu desespero não disse mais nada. Simplesmente começou a pedalar, olhando uma vez para trás para ver se eu o seguia.

Eu subi na bicicleta, vagamente me dando conta do sorriso em meus lábios quando consegui alcançá-lo.

Passamos o resto da tarde juntos. Quando cansamos da bicicleta, ficamos um pouco em um banco embaixo de uma árvore, um bando de crianças barulhentas mais adiante. Ele falou sobre seu curso na faculdade e depois contou sobre as guitarras que colecionava desde os dezessete anos. E quando ninguém parecia estar olhando, Uruha inclinou o rosto na minha direção, quase roçando o nariz na minha bochecha. Pensei que ele fosse me beijar, mas ao invés disso ele tocou bem leve o meu joelho com a ponta dos dedos e murmurou:

- Não consegui parar de pensar em você desde aquela festa.

Eu acabei rindo baixo, porque só fazia dois dias que tínhamos nos conhecido naquela festa e Uruha falava como se fosse há bastante tempo, como um típico conquistador.

Me inclinei um pouco para o lado dele e por um instante quis perguntar se era assim como ele dizia, já que Kouyou praticamente tinha fugido do meu apartamento no dia anterior. Mas deixei para lá, sabendo que isso iria no mínimo fazer com que eu parecesse um controlador com altas doses de carência.

- Você não precisa me dizer essas coisas, Takashima – disse, dando de ombros.

Ele deslizou um pouco no banco até que seus ombros ficassem na altura dos meus e então se apoiou de leve contra mim.

- Sabe o que eu acho?

- O quê? – Perguntei, revirando os olhos divertido.

- Que você nunca encontrou alguém como eu. – Acabei rindo, já pronto pra dizer que eu de fato nunca tinha conhecido alguém tão convencido quanto ele, mas então Uruha continuou: - Não desse jeito que você tá pensando aí, como se eu quisesse dizer que sou melhor que os outros.

- Ah não? – Perguntei ainda rindo.

- Não – ele negou e pude ver seus olhos fitando o céu ainda claro, como se pensasse. – Não sei como explicar, ao menos não agora.

- Isso quer dizer que vamos sair mais vezes?

- Com certeza – ele disse e segundos depois acrescentou: – Isso se você quiser também.

Eu ri. Aquele lance de riso frouxo devia ser meio contagiante quando você passava horas com a pessoa.

- Desde que seja divertido – murmurei, dando de ombros mais uma vez.

Uruha virou o rosto, roçando os lábios na minha bochecha ao murmurar:

- Porra, quero muito te beijar agora mesmo.

Eu ri novamente. Qual era a dele de dizer aquelas coisas sempre com um palavrão?

Mas antes que eu tivesse a chance de perguntar sobre isso, Uruha me puxou pela mão e quando dei por mim nós dois estávamos praticamente correndo em direção a saída do parque.

Não sei como exatamente as coisas aconteceram a partir daí. Só lembro de ver uma oportunidade perfeita ao avistar uma daquelas árvores enormes próxima a saída e de ter puxado Uruha para se esconder atrás dela.

Em seguida, como se lesse meus pensamentos, as mãos dele estavam no meu rosto e ele me puxou para um beijo em um desespero gêmeo ao meu. Acho que estávamos no auge de toda adrenalina, como quando você descobre algo muito, muito bom e só quer aproveitar o quanto antes, mesmo sabendo que isso só vai fazer tudo durar menos ainda.

Nunca fiquei tão excitado daquela forma com apenas um beijo.

Depois caminhamos de mãos dadas até a moto de Uruha, ainda meio eufóricos. Eu disse a ele para irmos ao meu apartamento, torcendo secretamente para Aoi não estar em casa. Podia ligar para o celular dele e checar, mas não queria largar Uruha nem para isso. Só queria aproveitar o máximo que desse, convencido que logo, logo tudo aquilo passaria.

Eu era ridiculamente inseguro com essas coisas e não me permitia imaginar que aquela história fosse mais além. Eu tinha certeza que era apenas um momento para Uruha, sua atual diversão ou algo assim.

Mas não foi em nada disso que pensei quando chegamos no meu apartamento, com Uruha já me beijando em uma quase repetição da nossa primeira noite.

E foi intenso, forte e tão cheio de cores, que não podia ser real.

Mas vai ver que esse era o ponto, certo?

Eu estava me jogando em um precipício e nem sabia.


Notas Finais


Algo levinho depois do capítulo anterior.
Espero que tenham gostado :3


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