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História Uma ressaca de nove meses. - Teia de mentiras - Parte 1


Escrita por: MaryAckerman

Capítulo 50 - Teia de mentiras - Parte 1


Voltar para casa após a conversa que tive com Ryudoshel é perturbador. Saber que Ária, minha mãe biológica que supostamente pelo que a sociedade impõe, deveria me amar mas me odeia, não doía tanto agora depois de alguns anos de terapia. Porém, quando ele apareceu mesmo que inconscientemente, no fundo da minha mente eu desejava que o relacionamento entre nós fosse bom e saudável.

Mas a vida é a droga de uma cobra traiçoeira e quando eu pensava que as coisas finalmente estavam bem, meu pai biológico surge querendo extorquir meu dinheiro apenas porque sua mulher o largou após descobrir a traição antes do casamento. Ryudoshel pode mesmo é apodrecer pelos cantos das ruas.

O elevador para no sétimo andar e quando as portas se abrem Mael me segura pelo cotovelo, já são quase nove da noite e eu me sinto exausta e com saudade dos meus filhos. Durante o dia eu já tinha chorado o suficiente para agora estar dopada e não sinto nada, não sinto fome ou vontade de chorar e gritar, é apenas um cansaço físico e mental.

Sinceramente, talvez eu nunca superasse o medo de que certas pessoas entram na minha vida apenas para tentar usufruir de todo o trabalho que tenho.

– Você quer que eu entre junto com você? – Mael questiona e eu balanço a cabeça, já havia atazanado ele o dia inteiro o fazendo de meu ombro para o choro. 

– Vá descansar ou curtir sua noite com a Nerobasta, eu estou bem.

– Certeza? 

– Absoluta. – Respondi e fico na ponta dos pés beijando-lhe na bochecha, meu primo sorri e eu tiro do bolso da blusa a chave do apartamento trinta e três.

A luz da sala está acesa e Hawk sentado no corredor para os quartos, ele vem correndo até mim e cheira a barra dos meus jeans furiosamente depois que descalço meus sapatos, esfrego seus flancos e deixo a chave no aparador antes de seguir para dentro do apartamento. As luzes da cozinha estão apagadas e somente a led da sanca da sala está acesa deixando o ambiente um pouco mais escuro, Meliodas está com Nicholas e Alice com as cabeças em seus ombros e ele troca o peso do corpo de uma perna para a outra enquanto canta uma música que não conheço mas fica óbvio que é russa.

Fico observando os três por um longo tempo e ele apenas me percebe ali quando vira o corpo para a direção da porta, Meliodas pula e xinga baixinho antes de sorrir torto.

– Hey, babe. Como você está? 

– Exausta.

– Vou colocá-los no berço e já te encontro no quarto.

Balanço a cabeça e vou para o quarto primeiro, preciso urgentemente de um banho quente e sossego. Assim que entro no banheiro ponho a banheira para encher e enfio as roupas que usei no cesto de roupas sujas, demora cerca de dez minutos para Meliodas entrar no cômodo e ele beija minha têmpora assim que se debruça sobre a porcelana morna da banheira.

– Como foi? – Ele pergunta baixinho e desliza as mãos por meus ombros massageando a área.

– Horrível. Ele tentou me extorquir. – Murmuro e a massagem para por alguns segundos e eu ouço a respiração dele sair trêmula. – Aparentemente a esposa dele pegou ele procurando fotos minhas na internet e achou que eu era a amante dele, quando ela soube que na verdade sou a filha bastarda dele ela pediu separação, ficou com o hotel quase todo o dinheiro dele e a filha.

– Canalha. – Meliodas grunhe e eu suspiro olhando para ele por cima do ombro.

 – Eu mandei ele sumir da minha vida, não darei dinheiro para ele e sequer assistência.

– Está certa, amor. – Ele beijou minha bochecha e eu sorri.

– E como foi o dia com eles?

– Eles acabaram com o estoque de leite, sujaram fraldas e choraram até quase enlouquecer Hawk e eu. 

Rio alto e ele finge estremecer em horror mas o sorriso torto contesta tudo que tinha acabado de falar.

– Eu vou pedir comida pra gente. 

Meliodas se levanta e eu afundo na banheira agora cheia de água morna e espuma do sabonete líquido que eu tinha colocado na hora de encher, esfrego o sabonete no  meu corpo e enxaguo rápido. Enrolada no roupão que estava pendurado atrás da porta eu vou até o closet e pego a camisola longa de cetim que ele havia me dado há poucos dias, pelo aquecedor ligado o apartamento está quentinho e eu entro no quarto dos gêmeos para verificar ambos. 

Meu coração aquece no peito quando vejo meus filhos dormindo tão tranquilos em seus berços que por alguns minutos apenas cheiro o cabelo deles e beijo suas cabeças, enquanto internamente me sinto feliz e aliviada de ter rompido aquele ciclo de genitores ruins que tive. O momento entre nós é interrompido pelos latidos de Hawk e eu ligo a babá eletrônica e saio com o extensor dela na mão, ao chegar na cozinha não consigo segurar o riso com o que vejo.

Fazia meses desde a última vez que Meliodas e eu havíamos saído para jantar sozinhos e agora com os bebês pequenos tínhamos receio de deixá-los com nossos pais. Mas aparentemente ele havia dado um jeito. A luz da sanca da pia agora estava acesa deixando meia luz na cozinha e a mesa de vidro está arrumada para dois, com direito à velas e pizza de frango com catupiri como jantar.

– Vamos, não ria, é o máximo que eu consigo ajeitar tendo meia hora para preparar um jantar para nós.

– Está ótimo, Meliodas. – Digo e deixo sobre a ilha de mármore a extensão da babá e me sento na cadeira que ele havia puxado para mim, eu espero ele se sentar e pego a taça pela metade de vinho. – É uma pena que não posso beber.

– Na verdade pode, essa é uma das vantagens de ter um irmão obstetra. – Meliodas sorriu. – Zel disse que é apenas uma taça e duas horas até dar mamar para os bebês e se bem os conheço temos quatro horas até o chororô começar.

O loiro pega sua própria taça e brindamos silenciosamente, ele espera que eu tome o primeiro gole e é como encontrar minha oásis após tanto tempo sem por nada alcoólico na boca. O doce da uva fermentada agrada o paladar e só consigo perceber o álcool graças ao ardor leve que permanece na garganta, eu suspiro em contentamento e Meliodas sorri.

– Bom?

– Maravilhoso.

– É vinho envelhecido, tem cinco anos essa safra.

– Onde comprou?

– Estava na adega da boate, trouxe do País de Gales quando fui visitar e simplesmente esqueci lá esse tempo todo.

Eu tomo mais um pouco e meu estômago que não recebia comida há horas se rebela contra o vinho e eu tenho uma leve queimação lembrando-me que estou com fome. A pizza ainda está quente e nós dois comemos em silêncio, ambos alimentando Hawk com as beiradas da pizza para mantê-lo quieto.

– Eu tenho uma história engraçada sobre porre de vinho. – Meliodas comenta após enfiar o último prato na lava-louças, ele ajeita a postura e volta a se sentar trazendo consigo a garrafa, ele completa minha taça e pisca antes de virar mais um pouco na sua. 

– Diga-me.

– Quando Zel e eu chegamos na Escócia por muito tempo nossas refeições eram fast-food e álcool, até que um dia ele passou mal e descobrimos que o nível de colesterol dele estava alto e tinha anemia também, nós passamos muito tempo comendo coisas saudáveis que nos obrigou a aprender a cozinhar também. Um dia depois de quatro meses sem beber nada alcoólico, eu comprei um vinho doce e de safra envelhecida e Zel e eu acabamos com ela. – Meliodas fez careta e eu comecei a rir conforme ele suspirou dramaticamente. – Eu não sei porque diabos passei a falar alemão quando estava bêbado e eu jurava que nunca mais ia falar russo novamente.

Eu deixei minha taça sobre a mesa e apoiei meu estômago cheio enquanto ria, Meliodas riu também e quando parei enxugando as lágrimas ele sorriu.

– Você é fluente?

– Bom, o vinho me deixou praticamente um mestre em misturar ambas as línguas, mas sou.

– Eu bêbada uma vez liguei para meu ex. – Resmunguei. – Quem dera soubesse alemão.

Betrunkener Wahnsinn, Schatz* 

Eu sorri e pisquei para ele terminando o vinho que ele havia me servido, coloquei nossas taças dentro da pia e Meliodas abraçou minha cintura.

– Como se sente agora?

– Talvez levemente bêbada.

Ele ri e me puxa pela mão até a sala, onde a televisão está conectada no aplicativo de música, ele põe a música para tocar e embora eu não entenda uma palavra da letra o ritmo é contagiante e eu o deixo me guiar para dançar. Me expressar fisicamente nunca foi minha praia, mas o teor alcoólico do vinho que tínhamos bebido mais o calor do aquecedor ligado no apartamento me deixa levemente mais descontraída e eu deixo Meliodas me ensinar a dança.

Ele mistura valsa de casamento com salsa e eu me vejo rindo alto quando piso na barra da minha camisola e só não caio porque ele me segurou pela cintura.

– Caindo de amores, babe? – Perguntou e eu bufei e ri baixinho quando ele me beijou ainda me segurando para não cair.

– Talvez. – Respondi e ajeitei minha roupa quando fiquei de pé novamente, o suor deixou o cetim grudado na minha pele e ele me observou com um sorriso de canto.

– Você está maravilhosa. 

Ruborizo e empurro meu cabelo por cima do ombro e o sigo até a cozinha para beber água, Meliodas me entrega uma garrafa de água e empurra a franja colada na testa para cima.

– Está na hora de cortar o cabelo. – Murmuro e ele acena positivamente, ficamos alguns minutos em silêncio recuperando o fôlego e ele deixa a garrafa dele sobre a pia.

– Semana que vem é aniversário da minha mãe e King disse que o da Diane é no dia do natal. 

– Isso mesmo.

– Podíamos ir para Brighton essa semana o que acha? 

– Vai ser ótimo, vou conversar com a Margaret e com a Elaine para ser uma festa surpresa para elas.

Meliodas sorriu abertamente e eu me debrucei na bancada gelada de mármore.

– Obrigada por me distrair.

O loiro piscou e inclinou-se para frente beijando-me na boca.

– Não precisa agradecer, Ellie.

O momento entre nós é quebrado pelo choro agudo que rompe na extensão da babá eletrônica e Meliodas choraminga alto inclinando-se para trás.

– Acho que eles têm um um timing perfeito para saber o momento que as coisas entre nós pode esquentar. – Rio de sua reclamação. 

– Você não os conhece tão bem, só faz uma hora que eles dormiram. – Respondi. – Minha vez de cuidar deles.


(•••)


– As malas estão no carro e o Hawk já está na casinha de transporte. – A porta do quarto se abre e Meliodas entra, a chave do carro está quase caindo do bolso de sua calça e ele carrega os cadeirões dos bebês. – Ban e Elaine devem chegar daqui a pouco para irmos para Brighton.

– King e Diane? 

– King tem um ensaio para fotografar daqui uma hora e a Diane vai junto com ele. Nossos pais irão a noite e a Verônica, Griamor e Gilthunder só entrarão de férias depois de amanhã. Baltra vai levar Margaret no carro junto.

– Tudo bem. – Murmuro e pego Alice que eu havia terminado de trocar a roupa, ela está muito bem acordada e Meliodas sorri para ela quando eu a coloco no cadeirão. 

– Bom dia meu amor. – Ele murmura e ela sorri pequeno mostrando as gengivas inchadas. Eu coloco Nicholas no outro cadeirão e coloco a touca de tricô que Margaret havia dado para eles, ambos estão enrolados em seus cobertores de touca e eu estico o corpo e arrumo minha blusa gola alta.

– Vamos levá-los para o carro. – Digo e entrego para ele o cadeirão de Alice enquanto levo do seu irmão, sorrio quando Nicholas permanece me olhando curioso, seus olhos que até pouco tempo eram azuis cinza como de todos os bebês estão ficando azuis esverdeados e os de Alice são azuis intensos como os meus.

Sobra para mim fechar a porta do apartamento já que Meliodas fica encarregado de levar nossa filha e Hawk na caixa de transporte.

– Quando chegarmos em Brighton ainda temos que ir fazer compra. – Meliodas diz quando entramos no elevador e eu concordo.

Leva alguns minutos para irmos até o estacionamento do subsolo e cerca de dez até ele conseguir colocar nossos filhos no suporte do cadeirão de transporte e Hawk enfia o focinho na grade da caixa assim que nos acomodamos nos bancos da frente. Quando saímos do estacionamento Ban e Elaine já nos esperam no carro deles estacionado no meio-fio e Meliodas para o nosso carro ao lado do deles.

– Está tudo certo? – Ele pergunta e Elaine acena.

– Guie o caminho. – Ban responde e eu fecho o vidro para parar o ar frio que está entrando no carro, Meliodas arranca e eu me espreguiço olhando pelo retrovisor nossos amigos nos seguindo.

– Eu acho que a Elaine está esperando um menino. – O loiro diz de repente e eu olho confusa para ele.

– Por quê? 

– Suposição.

– Eu acho que é menina. – Respondo – Será bom ter uma companhia de outra menina para Alice.

– Podemos tentar outro bebê. – Ele me olha de soslaio e eu finjo arrepiar. 

– Se você parir na próxima, quem sabe.

Ele gargalha sonoramente e balança a cabeça para os lados.

– Okay, não falaremos sobre isso por um longo tempo.

O aquecedor ligado e o som ligado em volume baixo deixa um clima tranquilo dentro do carro e a viagem de uma hora até a cidade costeira parece ser ainda mais rápida, no caminho Ban ligou para Meliodas e ambos decidiram que era melhor deixar Elaine, eu e os bebês em casa e irem somente eles no supermercado.

Eu observo Meliodas entrar na área dos condomínios defronte ao mar e ele sorri ladino depois de quinze minutos que tínhamos entrado na área particular. 

– Chegamos. – O loiro comenta e desliga o carro, eu observo a casa que tínhamos estacionado em frente e assovio alto.

– Isso tem relação com o tempo que ficou na Rússia? – Pergunto e ele pisca surpreso antes de sorrir torto. 

– Se eu disser que sim vai pirar?

– Talvez.

– Então não. – Ele ri e descemos do veículo, eu abro a porta traseira do lado direito e tiro Alice e a caixa de transporte de Hawk e agradeço quando Elaine vem até mim e pega o cachorro.

– Venham, está frio demais aqui fora. – Ban acena para que nós entremos e ele carrega as malas dos dois para dentro.

Meliodas já havia entrado, o portal social branco está aberto e eu entro primeiro pasma com o imóvel. O portão tranca assim que Ban o empurra e Elaine solta Hawk para correr pelo terreno.

– Está com suas chaves, Ellie? – Meliodas questiona virando-se para me ver e eu aceno tirando-a do bolso da minha blusa. – Ótimo, faça-nos as honras.

Eu sorrio para ele e agradeço quando ele pega o cadeirão de Alice e alivia imediatamente o ardor no meu ombro, a chave dourada entra facilmente na tranca e eu giro duas vezes até destrancar e empurro a porta de madeira envernizada revelando a sala ampla com as paredes pintadas de branco, os sofás de couro preto estão presos em L e há duas poltronas em frente ao painel da televisão de 62 polegadas.

– Eu comprei ela para você. – Ele diz referindo-se a casa e eu suspiro alto. 

– Meliodas, isso é… incrível! Obrigada! – Inclino-me e beijo ele com carinho, atrás de nós ouço Ban limpar a garganta e Meliodas se afasta. 

– Você é um porre, Ban. 

Nós quatro rimos e ele finge estar ofendido.

– Vamos, temos que ir fazer compras e logo os outros chegarão.

– Certo, aproveite a casa garotas.

Meliodas deixa os gêmeos no chão próximo ao sofá e eu os vejo sair antes de me virar para a Elaine, eu sorrio quando percebo que ela já ganhou alguns quilos, a cintura está redonda e a barriga que antes ela não tinha está mais evidente.

– Meliodas me disse que tem cinco quartos. Vamos escolher os nossos. – Digo e ela sorri, com os bebês no colo nós subimos para o primeiro andar da casa e Elaine com Alice no colo empurra a primeira porta do lado esquerdo do corredor. 

– Eu vou ficar com esse. Vocês deveriam ficar com o último do corredor. 

Concordo e sigo até o último cômodo, para minha surpresa o quarto tem vista direto para o mar e para a piscina nos fundos do terreno.

– Ellie, o último andar é uma sauna e jacuzzi. – Elaine empurra a porta do quarto e parece maravilhada. – Você precisa ver.

– Eu já vou. – Sorrio e pesco o celular do meu bolso quando o mesmo vibra com mensagens chegando, estranho quando leio uma pela barra de notificação e clico na foto de Zeldris.


Temos problemas grandes.

Meu irmão está por perto?


Aquilo gela meu estômago e eu o respondo imediatamente.


Ele saiu com o Ban, já estamos em Brighton e vocês onde eso?


Londres ainda, infelizmente um problema enorme acabou de cair no meu consultório.


O que é?


Madeleine mentiu para nós.


Meu coração parece bater na garganta e eu olho para cima quando Alice começa a chorar alto e eu ouço Elaine chamar por mim.

– Já vou! – Exclamo e guardo o celular no bolso da calça.

O que diabos Zeldris estava querendo dizer?





Notas Finais


Demorei dias para voltar a escrever, socorro!
Quem aí tem idéia do que a Madeleine escondeu deles?

Betrunkener Wahnsinn, Schatz = Loucuras de bêbado, querida.


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