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História Uma segunda chance - Duodécimo


Escrita por: makkachin

Capítulo 12 - Duodécimo


2015

Derek arrumou todo o seu calendário com a ajuda de Erica até que ele finalmente conseguiu organizar a sua semana para poder ficar com seus horários o mais livre possível a fim de gravar com Stiles. Ele nem pensou muito se deveria ou não fazer aquilo, ele só pensou em arrumar o tempo e se atirou nas gravações.

Nada tinha ficado exatamente resolvido entre os dois. Eles já sabiam um pouco sobre o outro, Stiles sabia sobre o passado de Derek, pelo menos parte dele, e Derek sabia algo de Stiles também. Eles estavam no mesmo caminho, percorrendo o mesmo chão. Agora era só hora de seguir em frente.

Assim que Stiles chegou a gravadora naquela manhã, Erica já comunicou Derek. Ele instruiu ela a mandar Stiles para um dos estúdios de gravação, A Capela. Cada estúdio na Hale Records tinha um nome diferente, principalmente por causa da sua forma. Esse em questão era um pequeno estúdio sem cabines separadas, apenas uma sala para todos os instrumentos, o que relembrava uma pequena capela, onde todos ficam perto uns dos outros. Neste mesmo estúdio algumas das paredes tinham uma manta diferente da espuma protetora, ajudando a reverberação a ser única, o que dava aquela impressão de que sempre haveria um eco diferente no lugar.

Derek tinha escolhido aquele estúdio em especial por sentir que a música de Stiles iria se dar melhor nele, sem falar que ele não teria que usar a reverberação digital para a música de Stiles, já que o natural sempre seria mais bonito.

Não que eles já fossem começar a gravar agora, mas é preciso fazer testes e ensaios, ver como a configuração do som funciona para cada música, estudar como as coisas vão acontecer, sem falar na possibilidade de trabalhar ao lado de Stiles. Derek queria aquilo mais do que tudo.

Assim que ele se dirigiu para o estúdio, deixando sua sala para trás, Derek respirou fundo, tentando se preparar. Ele abriu a porta e viu Stiles já dentro da grande cabine. Um dos produtores auxiliares de Derek estava ali do outro lado, junto à mesa de mixagem, mas logo Derek dispensou ele.

Ele queria trabalhar com Stiles, e se pudesse fazer tudo sozinho seria melhor.

Quem sabe aquela não era a decisão mais sensata, mas Derek queria fazer aquilo que seu coração pedia.

Stiles olhou para ele por trás do vidro que os separava com um pouco de surpresa ao ver o produtor saindo de sala e deixando eles dois sozinhos. Derek olhou de volta para Stiles por um instante, mas virou sua cabeça e checou alguns controles da mesa antes de criar coragem para ir para a cabine de gravação.

O dedilhar nas cordas do violão de Stiles o recebeu.

“Oi,” disse Derek. Stiles parou de tocar, deixando um buraco no ar onde o som estava antes.

“Oi,” a resposta foi curta, mas sem animosidade.

“Eu pedi pra trabalhar com você, sozinho,” Derek falou, já deixando claro suas intenções. “Se houver algum problema com isso, é só você me dizer.”

Stiles olhou para ele por um momento, com se estivesse pensando.

“Se você não tem nenhum problema em trabalhar comigo, então eu não tenho nenhum em trabalhar com você.” A resposta parecia ser boa o bastante.

Derek assentiu.

“Eu quero ver o que você tem pra me mostrar aqui. O nosso objetivo é escolher as quatro faixas que vão compor o EP e trabalhar da melhor forma para convergir elas pra um foco só. Eu acho até que a gente pode pensar em focar em várias frentes, pois eu ouvi as várias músicas que você tem de originais, e eu gostei delas. Eu não vejo problema em trabalhar com dois ou até três discos diferentes, todos EPs claro.”

“Eu não sei se eu teria dinheiro para conseguir pagar por toda essa produção,” Stiles falou. Ele parecia encantado com a ideia de poder gravar mais, mas ficou claro no seu rosto o desapontamento em não poder pagar por aquilo.

Derek sabia que ele havia juntado dinheiro para poder gravar um disco digital, apenas quatro músicas, o que já era um preço bastante caro para quem não tinha patrocinadores ou um caixa bom. Derek sabia que o trabalho seria bem feito com ele, claro, mas ele sabia também o quanto a gravadora custava para quem queria fazer música ali.

No entanto, ao ouvir a voz de Stiles, Derek tinha tomado aquilo como seu próprio objetivo de trabalho--gravar com o garoto. E ele sabia que não daria o disco de graça para Stiles, mas não haveria problema em fazer acordos ou tentar ao máximo poder trabalhar mais com ele. Claro, boa parte desses desejos tinha se formado antes de todos aqueles problemas, mas agora que as coisas pareciam estar se encaminhando para um lugar melhor, quem sabe eles poderiam pensar em mais possibilidades.

Derek queria se preocupar com o agora, no entanto.

“Eu sei que você tem o dinheiro para a produção do EP. Nós vamos gravar as músicas do seu EP, e eu vou produzir ele com a melhor qualidade, certo? Mas nada impede a gente de tentar mais coisas, de se divertir um pouco por aqui, não?” Derek pediu. Ele não queria apenas trabalhar em quatro músicas e nunca mais ver Stiles.

Stiles mordeu seu lábio.

“Eu não gostaria de atrapalhar seu horário de trabalho,” Stiles falou.

Ah, se ele soubesse.

“Bom, meu horário de trabalho diz que eu devo ficar no estúdio com você, então é isso que eu vou fazer,” Derek falou. E logo emendou. “Pronto para começar com as músicas?”

Stiles ficou mais animado com a menção do seu trabalho, e logo eles puseram suas mãos à obra. Com várias partituras espalhadas pelo chão, Derek e Stiles conversaram sobre as músicas que Stiles tinha em seu repertório, discutindo as melhores para o disco, as que iriam se combinar melhor, as que trabalhariam melhor juntas. Sem falar nas discussões sobre a imagem do trabalho de Stiles.

A cada nova página escrita, Derek via um novo mundo se abrir na frente dele. As músicas do antigo Stiles apareciam na sua cabeça, fazendo ele pensar no seu passado, e claro, comparar os dois. Do mesmo jeito em que eles eram tão parecidos em muitas coisas, no quesito musical havia algo que os separava.

Enquanto o Stiles do passado não tinha nenhum medo de escrever e falar exatamente o que queria, deixar sua mente se soltar, esse Stiles ainda não tinha chegado àquele patamar. Quem sabe ele precisava ainda encontrar seu estilo, encontrar o caminho a seguir. As circunstâncias tinham sido diferentes para o Stiles do passado, vendo sua morte se aproximar cada vez mais. Sem dúvida isso faria uma pessoa se abrir e não deixar nada a segurar.

Quem sabe Derek poderia ajuda esse Stiles também a se soltar mais, a entender mais a si mesmo. Da mesma forma, ele também não queria fazer esse Stiles ser corrompido. Havia uma honestidade pura na música dele, algo tão ingênuo que não podia ser comparado com aquele outro Stiles. E isso os fazia diferente.

Se aquele Stiles não tinha mais medo da sua morte, ou, pelo menos, deixava a sua música livre pelo mundo sem medo do que viria, esse Stiles parecia reverenciar a vida que tinha, mas com um certo medo, sem se arriscar tanto.

Quem sabe Derek poderia segurar a mão dele na hora do pulo.

“Sabe que essa música aqui, Olhos fechados, se encaixa bem com uma ideia recorrente nessas outras duas aqui, Azul e Apenas mais um. Sem falar que a composição delas é mais variada, mostra vários tipos de levada diferente, e também mostra melhor a sua voz. E é isso que a gente tem que projetar.”

Stiles ouvia atentamente enquanto Derek ia falando com ele. Naquele campo, o da produção musical, Derek não precisava sentir medo do que aconteceria por que ele sabia controlar tudo aquilo, e sabia exatamente o que estava fazendo.

“Se a gente juntar essas três, dá pra perceber esse tema por trás delas,” Stiles falou, tentativamente. “O problema é que eu não consigo imaginar uma outra faixa que se encaixe bem nelas. Todas as outras são diferentes.”

Derek concordou com sua cabeça.

“Olha, eu dei só uma olhada preliminar, talvez dê pra encontrar outras semelhanças, entende. O que eu não quero é jogar nenhuma das suas músicas fora. O problema é que eu também não quero colocar uma no disco só porque ela tem que ir pra lá,” Derek falou.

Stiles parecia pensativo.

“Eu tenho bastante coisas não finalizadas. E a gente poderia trabalhar nessas por agora e ver se alguma outra música se encaixa mais pro fim?” Stiles falou tentativamente.

Derek sabia muito bem o que significava trabalhar sem todo o seu caminho já definido. Talvez para alguma outra profissão aquilo funcionasse, mas chegar em um estúdio sem tudo planejado nem sempre dava certo. No entanto, ele conseguia ver como Stiles ia de música em música, tentando ver aquela que mais se encaixava na ideia do disco.

Porém ele sabia que nenhuma funcionaria, era uma das coisas que ele simplesmente sabia. Você não trabalha vinte anos da sua vida ao redor de música sem saber o que dava certo e o que não dava. Stiles tinha talento, tinha boa música, e tinha um mercado pronto para ele, artistas indie estavam em alta nos últimos anos. Principalmente aqueles que tinham uma voz distinta e que conseguiam construir um trabalho sólido do começo ao fim dos seus discos.

Artistas de singles eram os mais famosos. O trabalho coeso de um artista menor chamava um público em particular, mas um público de qualidade.

Derek disse tudo aquilo para Stiles, que ficou ainda mais pensativo nas suas músicas.

“Mas você sabe que a gente pode pensar bem nessa quarta faixa. Eu sei que eu estou aqui apressando um pouco você, mas eu quero que você faça um bom trabalho, pois eu quero fazer esse bom trabalho acontecer também. Mesmo sendo apenas uma gravadora, nós temos uma legião de fãs que sempre espera os discos saírem do forno. E eles querem um bom disco feito, por isso que eu também quero um bom disco com suas músicas.”

“Eu sei,” Stiles falou. “Isso só é diferente de tudo que eu vivi. Ser criado com as freiras fazendo música perto de mim, música de igreja, nada tem a ver com o mundo e o mercado da música. Lá elas fazem música por causa de um ideal, para agraciar a divindade delas. No mercado da música nem sempre se faz música por boas razões…”

“Eu não diria que não existem boas razões aqui,” Derek respondeu. “Claro, como você disse, muitas vezes apenas se pensa em vender, em ganhar dinheiro, e não que essa seja uma razão ruim. É uma razão válida, afinal. Mas eu gosto de pensar que em todos os discos que eu trabalhei sempre houve uma razão maior para aquela música ser feita. Seja por um sentimento, um desejo, uma homenagem a alguém. Eu quero que a música signifique alguma coisa.”

“Isso mesmo,” Stiles respondeu animado de novo. “É assim que eu penso. A música sempre foi uma boa parte da minha vida até hoje. E eu não quero acabar usando ela apenas por dinheiro, tanto que eu nem sei se vou ganhar alguma coisa com isso.”

Derek duvidava que ele não fosse se tornar um músico importante. Ali sentados no chão, os dois pareciam crianças perdidas no meio de folhas de papel, mas Derek sentia que ele estava perto de alguém que iria longe. Talvez fosse só um sentimento, mas ele sabia que havia algo dentro de Stiles, alguma coisa que precisava ser vista pelo mundo.

E se aquele Stiles do passado não pode mostrar, esse Stiles tinha que ter essa chance.

Mas Derek não disse nada daquilo para ele. Apenas sorriu.

“É assim que você tem que continuar pensando, Stiles. A música tem que ser alguma coisa que faça bem pra você. Que faça bem pra quem está com você. Ela é uma importante forma de comunicar o que sentimos, como nos comportamos. Sem falar que é um indicativo enorme de como a nossa cabeça está.”

Stiles assentiu.

“Minha música reflete muito como eu estou. Talvez ela seja até sentimental demais.”

“Eu acho que a sua música pode ser ainda mais sentimental, Stiles.” Derek falou e viu Stiles olhar para ele com curiosidade. “Não sentimentalismo barato, drama pelo drama. Mas eu vejo as suas músicas revestidas de uma certa inocência, de uma certa pureza, que não são coisas ruins. Eu acho que são coisas que só refletem que você é. Mas eu consigo ver você indo a lugares mais longínquos, não só para tocar o coração das pessoas, mas para entender quem você é.”

Os dois ficaram em silêncio por um instante.

“Eu quero fazer isso. Tocar o mundo, fazer dele um pouco melhor, mesmo que seja só um pouquinho.”

Derek teve que sorrir para aquelas palavras. Aquilo era uma coisa tão comum de se ver em uma pessoa jovem, algo que um homem como ele jamais sentiria. Na idade de Derek ninguém mais tinha grandes sonhos de mudar o mundo através da música, e quem sabe aquilo era o que estava errado com sua geração. Porém, ele também conseguia ver como o Stiles ainda era guardado do mundo, quando o outro Stiles já tinha visto muitos horrores.

E essa era outra das grandes diferenças entre eles eles.

Sem Derek nem perceber, sua mente estava distanciando os dois aos poucos, colocando eles em perspectiva. Mostrando que o molde deles poderia ser o mesmo, mas por dentro cada um tinha suas vontades, seus desejos. Cada um era uma pessoa completamente independente do outro.

Então o Stiles do presente começou a murmurar suas músicas e dedilhar o violão de novo, e Derek iria ver como eles eram parecidos também. Era impossível não ver como esse Stiles se perdia na música, como deixava seu corpo e sua mente viajarem dentro dela assim como o outro.

Era como se houvesse um mundo de diferenças entre os dois, mas então uma coisa simples colocaria um ao lado do outro de novo.

Derek não sabia mais se o seu coração batia pelo passado ou pelo presente. Uma hora ele sentia uma coisa, uma hora outra. Quem sabe ele também estava perdido nessas diferenças e semelhanças, quem sabe nem ele tinha consciência de até onde iria por Stiles.

Quem sabe ele iria até onde Stiles o deixasse.

Quem sabe ele iria mais longe.

Derek só não queria ter que deixar Stiles para trás.

Ele queria aqueles olhos alegres, animados, especiais, perfeitos sempre olhando para ele.

~*~

1995

Ficou combinado que os dois passariam alguns dias juntos, fazendo música e transformando elas em gravações. Stiles tinha trazido seu violão para o apartamento de Derek, e ele já havia preparado um pequeno estúdio de gravação improvisado. Derek não tinha nem sequer uma mesa de gravação, apenas utilizando-se de ajustes em gravadores simples para fazer o processo acontecer.

Não que tivesse alguma importância. A música iria acontecer mesmo assim.

Stiles estava sentado na cama de Derek murmurando a primeira música. A gravação aconteceu depois que ele fizeram amor por sobre os lençóis. Derek usou apenas uma cueca enquanto Stiles tocava nu. A música era uma das mais simples que Stiles tocava, não utilizando muitos acordes diferentes ou dedilhados especiais. Mas era uma música que fazia a voz dele se libertar.

A segunda música era uma mais sensual. Stiles gravou ela enquanto Derek massageava os pés dele. O garoto quase não conteve o riso por algumas vezes, sem falar na vontade que ele tinha de sempre colocar seus pés perto da virilha de Derek. No entanto, dessa vez eles não se tocaram mais do que isso até o final da gravação.

E no primeiro dia eles fizeram só aquilo.

Pra finalizar, eles se atiraram à cama mais uma vez, prontos para mais uma noite maluca de paixão.

 



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