História Uma semana com a babá - Prólogo

O cheiro do café invadiu os quartos no andar de cima da casa. Changkyun deixou seu urso de pelúcia sobre a cama e tentou acordar o irmão que dormia na cama ao lado, com um pijama idêntico ao seu. Chacoalhou o mais velho que apenas resmungou qualquer coisa e virou-se para o lado oposto.

Ele desceu as escadas devagar e chegou na cozinha onde Kihyun já ajeitava a mesa para a primeira refeição do dia.

— Bom dia, Omma ! - o mais novo disse simpático.

Foi a primeira vez naquele dia que o rapaz de cabelo rosa sorriu. Os filhos haviam se tornado a única coisa boa de sua vida.

Shownu ajeitou sua gravata e saiu de seu quarto, passando pelo banheiro onde Wonho se olhava no espelho e ajeitava o cabelo milimetricamente.

O rapaz era o único filho que ele tinha fora do casamento, mas foi criado com os outros como se fosse um dos filhos legítimos de Kihyun, que nunca o havia deixar faltar nada.

— Vamos, o café já está pronto. - disse batendo na porta e seguindo para o quarto dos mais velhos. — Hyungwon, vai se atrasar novamente !

Disse acendendo a luz e fazendo o filho se espreguiçar sonolento. Os dois irmãos dividiam tudo desde pequeno, desde os brinquedos, o quarto, e até a hora do banho. Mesmo entrando na adolescência ainda se mantinham unidos.

O appa ainda passou no quarto dos mais novos, pegando Jooheon no colo e o levando escada abaixo até a cozinha.

— Todo dia é a mesma coisa ! Essas crianças precisam dormir mais cedo. - fala colocando o filho na cadeira.

— Coloque-os para dormir mais cedo então. - Kihyun diz servindo café numa xícara.

— Eu já trabalho fora o dia todo, você deveria cuidar melhor deles. 

— Não fale como se eu não trabalhasse o dia todo aqui dentro dessa casa ! - ele retruca tentando controlar o tom de voz.

Jooheon e Changkyun apenas observavam enquanto tomavam seu leite com chocolate em suas canecas de super heróis.

— Eles já estão discutindo de novo ? - Hyungwon comenta enquanto terminava de vestir seu uniforme.

— Essa fase vai passar, Hyung. - Wonho diz tocando o rosto dele. — Não fique preocupado, está bem ? - ele diz sorrindo e o outro espelha, entrelaçando os dedos para descerem as escadas.

A família estava reunida a mesa, enquanto o celular de Shownu vibrava insistente em suas mãos, os irmãos mais novos apostavam quem comeria mais depressa e Kihyun ignorava tudo a sua volta, concentrado na bebida quente á sua frente.

— Subam, escovem os dentes e rápido pois já estamos atrasados. - o patriarca ordenou e os quatro obedeceram depressa.

Não demorou para todos estarem no carro, e Shownu os deixou na escola antes de seguir para seu escritório, onde passaria o resto da tarde alternando a temperatura de seu corpo com o ar gelado e os cafés quentes.

Depois de meio expediente, ele se jogou na cadeira e afrouxou a gravata, massageando as têmporas e observando a foto no porta-retrato sobre sua mesa. Sentia falta daquele sorriso tão espontâneo de Kihyun, sentia falta das conversas, dos momentos onde estavam apenas os dois, ainda jovens, contra o mundo.

Mas quando se é jovem a cabeça é outra. A maturidade chega, as responsabilidades aumentam, a família cresce e o estresse te sufoca. Ele não reclamava de ter tido filhos, não se arrependia nem mesmo das noites loucas no início de toda aquela crise na qual em uma delas acabou gerando Wonho, mas se arrependia sempre do sofrimento que tudo aquilo causou em Kihyun, em ter cuidado do primeiro filho que sequer era dele, pelo menos não biologicamente.

Era incrível como ele cuidava daquele pequeno bebê, como o protegia e o amava. Shownu certamente não merecia ter casado com alguém tão maravilhoso. Queria tanto consertar as coisas e criar uma família, que acabaram por ter Hyungwon. Anos depois, com as crianças um pouco crescidas, Jooheon viria para relembrá-los de como é ter que trocar fraldas e fazer mamadeiras, e por fim Changkyun também preencheria a casa com toda sua bagunça.

Mas a vida de casado sempre cai em rotina, o estresse assombra como um fantasma. O trabalho, as contas, as reclamações de Kihyun e os problemas dos meninos na escola. Shownu sabia que seu casamento escorregava por suas mãos e ele não estava fazendo nada para salvá-lo.

O homem observou as fotos por mais uns minutos e pegou o telefone, fazendo a primeira ligação.

— Senhor Swan ? - ele fez uma pausa esperando a resposta do chefe. — Bom, eu vou tirar minhas férias que estão acumuladas. - fez outra pausa. ­— Sabe que é um direito que eu tenho, e preciso usar.

O homem levou alguns instantes para concordar, e enfim pode agradecê-lo e encerrar a ligação. Estava se sentindo mais leve, fez uma pesquisa rápida na internet e ligou para uma agência de viagens, comprando um pacote.

Ligou ainda para uma agência de babás, e nem notou o quão rápido aquele dia havia passado. Saiu do escritório feliz, e parou em frente a escola onde os quatro filhos o esperavam.

— Appa, olha só o que eu capturei ! - Changkyun entrou no carro com uma garrafinha.

— Sabe que sua mãe não quer esses insetos em casa, não é ? 

— Mas Appa, eu sou um cientista ! - ele falou ajeitando os óculos.

— Aposto que Jooheon não quer entrar por que está com medo dessa coisa. - disse observando os filhos mais velhos tentando convencer o menor a entrar no carro, enquanto ele apenas balançava a cabeça e tinha os bracinhos cruzados.

— Jooheon é um medroso. - ele riu divertido.

— Devolve isso onde você achou. - o homem ordenou saindo do carro e andando de mãos dadas com o pequeno, que soltou o bichinho em meio a reclamações.

Quando voltaram para o carro os outros três já tinham ocupado seus lugares, e assim que chegaram em casa, os mais novos subiram as escadas correndo para jogar vídeo-game.

— O que foi isso no seu rosto, Hyungwon ? - Kihyun perguntou ao ver os mais velhos.

— Não é nada, Omma. - ele respondeu com um sorriso.

— Estão implicando com você na escola de novo ? 

— Foi apenas um acidente na educação física, está tudo bem. — Wonho interveio, e apesar de Kihyun não acreditar, preferiu deixar como estava.

Observou os meninos subirem as escadas e se virou para fazer a janta, mas encontrou o corpo de Shownu próximo ao seu. Os braços fortes o envolveram e ele encarou o rosto do homem de perto. Já fazia tanto tempo que não se tocavam que não estava mais acostumado com aqueles contatos, e chegava a ser estranho.

— Amanhã vamos viajar. - a voz dele era calma.

— Vi-viajar ? - ele perguntou espantado.

— Só nós dois. - o homem disse sorrindo.

— Como só nós dois ? Do que está falando ? 

— Eu tirei umas férias para nós dois. Já comprei o pacote e já contratei uma babá.

— Babá ? Nossos filhos não podem ficar sozinhos com estranhos e ...

Shownu sorriu, acariciando o rosto do menor. 

— Ainda confia em mim ? - perguntou sem esperar por uma resposta, e selou os lábios com os dele.