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História Unbreakable - .os pesadelos na vida real.


Escrita por: LovePizzaS2

Notas do Autor


Boa leitura😍

Capítulo 35 - .os pesadelos na vida real.


Fanfic / Fanfiction Unbreakable - .os pesadelos na vida real.

Em algum lugar do tempo

Ela acreditava em magia. Acreditava com todas as forças que piratas desbravavam os mares naquele momento, brigando com monstros marinhos e resgatando donzelas em perigo. 

Acreditava também que havia um príncipe esperando por ela em algum lugar, para que ela o salvasse e então ela o beijaria. E seu pai provavelmente ficaria furioso e bateria nele. Mas depois os dois se casariam e teriam um unicórnio chamado Klaus – afinal ela também acreditava que seu tio Klaus era um unicórnio e ninguém era capaz de lhe tirar isso da cabeça   e viveria feliz para sempre lutando com monstros e vencendo homens maus.

Mas não acreditava no Papai Noel ou na Fada do Dente, pois segundo ela era um absurdo: todos sabiam que era o tio Ben quem trazia os presentes e era o papai que colocava a nota de cinco dólares debaixo do travesseiro.

Ela ergueu a espada de brinquedo tão alto quanto conseguia na direção do enorme urso de pelúcia com um tapa olho. 

– Se renda ou ou implore pela sua vida! – gritou ela. Uma figura pequena de seis anos de idade, com cabelos bagunçados e chapéu de pirata. Usava um tutu de ballet azul sobre o pijama rosa. Porquê se ela era a capitã podia usar o que queria, não é mesmo? 

– Acho que você vai ter que derrotar o Sr. Muffin amanhã, capitã – a voz que interrompeu o momento mais importante de sua batalha para salvar o príncipe  (um leão de pelúcia quase maior que ela) das garras do terrível vilão. 

Ela encarou o homem, parado na porta do quarto de braços cruzados recostado no batente da porta com um sorriso. Ainda usava as roupas do trabalho, havia tirado a gravata e o paletó, ficando com a camisa azul de botões. 

– Papai, eu já disse que o nome dele é Capitão Esmaga Crânios – ela declarou estufando o peito. Ele sacudiu a cabeça com um suspiro anotando mentalmente que seria muito sensato não deixá-la mais passar uma tarde com Klaus. Os bichos de pelúcia sempre ganhavam nomes medonhos depois disso – Eu não sei o que é crânios, mas o tio Klaus me disse que era um nome de gente muito malvada.

– Sei tio Klaus não sabe de nada – disse ele torcendo o nariz em uma careta enquanto colocava as mãos nos bolsos da calça – Aposto que Capitão Muffin é muito mais assustador. Eu fico horrorizado só de ouvir.

Ela encarou o urso vilão por alguns segundos pensativa. Em seguida deu de ombros e o olhou.

– Vou ter que perguntar pra mamãe – disse ela. Ele riu.

– Amanhã – disse ele atravessando para dentro do quarto e a erguendo do chão com facilidade. A garotinha riu quando o pai a girou no ar pelo quarto, até a colocar na cama já arrumada. Ele a ajudou a se livrar do tutu de ballet e em seguida começou a ajeitar tudo para que ela deitasse e se sentou ao lado dela.

– Você vai ter que me contar uma história – ela pediu – A mamãe contou da última vez. É você agora.

Ele negou.

– Hora de dormir, Dawn. Está tarde e amanhã vamos acordar bem cedo – ele disse. Ela fez um beicinho. Era irresistível, e ele se sentia um frouxo por jamais conseguir dizer não para ela – Só uma, entendido?

Ela assentiu freneticamente e empolgada enquanto deslizava para baixo dos cobertores enquanto ele a ajudava a se ajeitar até que estivesse bem confortável.

Mas antes que sua mente maquinasse alguma história repleta de reviravoltas e com um desfecho fantabuloso, os olhos dele foram atraídos para o brilho sobre o peito dela. Cinco esticou o braço e franziu a testa ao segurar o pingente de sol entre os dedos.

– Onde conseguiu isso? – ele indagou.

Dawn abriu um largo sorriso ao pegá-lo da mão do pai entre seus dedos pequenos e gorduchos.

– O vovô me deu – ela disse orgulhosa alisando o presente que havia ganhado depois de um longo final de semana passado na mansão da Umbrella. Cinco não deixou nenhum momento de encarar aquele sol dourado no pescoço da filha com total surpresa e espanto – Ontem depois do jantar, quando a vovó Grace me colocou na cama.

– Porquê? – Cinco perguntou apesar de imaginar que uma garotinha de quatro anos não saberia ler as intenções de um velho.

Ela respirou fundo abaixando os olhinhos esverdeados e brilhantes para encarar o pingente.

– Pra mandar os pesadelos embora – ela disse. Em seguida olhou em volta como se alguém espreitasse pelas paredes do quarto – Chega mais perto.

Ele obedeceu no mesmo instante, sentindo as mãos dela se agarrarem a sua nuca e então Dawn sussurrou em seu ouvido.

– Ele disse que era de uma pessoa que ele amou muito, muito, muito – disse ela – E que só podia dar pra alguém que ele amasse do mesmo tamanho. 

Ele continuava com aquela expressão pensativa no rosto. Não que duvidasse que seu pai sentisse um afeto imenso pela "Pequena 12" como a chamava, mas aquilo parecia ir além de uma mera admiração pela garotinha.

– Quando me deu ele disse que enquanto eu tivesse isso os pesadelos não iam chegar perto porque saberiam que ele e vocês estariam comigo e eles morrem de medo da Umbrella Academy – disse ela – Como a luz do sol mandando o escuro embora. E eu segurei ele bem forte antes de dormir.

– E funcionou? – ele perguntou com um sorriso carregado de preocupação. 

Os pesadelos dela haviam se tornado mais frequentes, mais profundos e isso os preocupava a ponto de tirar o sono. 

Ela acordava aos gritos, chorava e tremia, muitas vezes se urinava relatando que podia sentir as pessoas más a machucando. E levavam horas para acalmá-la.

Cinco se via despertando a cada meia hora para checar se ela estava dormindo bem, Vanya por sua vez se pegava sentando na poltrona ao lado da cama dela e a observava até o sol bater na janela. Uma maratona quase diária.

E por essa razão, todos os meses ela passava uma semana inteira na Mansão Hargreeves e Reginald a monitorava, estudava e buscava a fonte daquelas imagens horríveis que a mente da menina projetava.

Mortes sangrentas, explosões, pessoas querendo machucá-la. Não podia ser normal, não para uma garotinha de seis anos que passava as manhãs inteiras assistindo My Little Poney.

Ela assentiu com um sorriso aliviado.

– Ontem eu sonhei com um lugar muito bonito – disse ela desenhando círculos na mão dele – Acho que o que o vovô me deu mesmo um amuleto mágico, não acha papai?

Ele alargou um sorriso para aquela que era a razão de sua vida. Aquele pequeno rostinho carregado de inocência que ele queria proteger de toda a maldade que ela via nos pesadelos. Ele desejava que ela tivesse uma vida livre de batalhas, de lutas por sobrevivência, livre do jogo que ele e Vanya precisaram jogar por muitos anos. Mas o poder que corria nas veias dela era quase uma garantia de que ele não poderia protegê-la em seus braços para sempre. 

– É claro meu amor – ele disse levando a mão dela aos lábios e beijando. Dawn sorriu, os pequenos olhinhos esverdeados se fechando devagar, pesando. Ela bocejou.

– Acho que não vou conseguir ouvir a história hoje papai – ela disse decepcionada. Cinco anotou mentalmente que pediria a Vanya para ligar para o pai na manhã seguinte e agradecer. Afinal ele tinha certeza que não conseguiria conter algum discurso emotivo se o fizesse, e de forma alguma acabaria uma ligação para Reginald com lágrimas nos olhos e dizendo "eu te amo, pai". Não, aquilo ia além da sua boa vontade.

– Amanhã eu te conto no café da manhã – ele disse ainda acariciando os cabelos dela. Ela assentiu e ele se inclinou assim que os olhos dela se fecharam por completo, depositando um beijo na bochecha da filha – Eu amo você, meu solzinho.

5 de abril de 2019

– Eu sabia que aquele desgraçado não ia deixar barato – a voz de Diego a chamou de suas recordações e jogou a Fundadora de volta no mundo real. Ela piscou algumas vezes e fez um careta – Ele fez uma proposta, o Cinco negou e ele não gostou.

– Não foi o vovô – Dawn interrompeu chamando a atenção de todos, nervosos, ainda sonolentos e famintos pelo café da manhã interrompido – Passou no rádio ontem, ele foi em uma convenção russa de tecnologia... Reginald está fora da cidade.

– Então está dizendo que foi aquele Ben emo das trevas e os outros passarinhos malucos? – Klaus perguntou.

– Com toda a certeza – disse ela afrouxando a cinta – Os gatos saem e os ratos fazem a festa. São um bando de encrenqueiros muito bem treinados pra fazer confusão. Se levaram o meu pai é porque querem algo de vocês.

– Mas o que poderiam querer da gente? – Vanya indagou. Ela mal havia falado até o momento, parecia imersa em uma espécie de raiva contida apenas pela ressaca terrível.

– Pelo que conheço deles – ela arregalou os olhos – É um jogo, para irem até lá. Assim que passarem pela porta eles brincam com a mente de vocês e depois matam sem pensar duas vezes.

Eles todos franziram as testas.

– Mas eles não são heróis? – indagou Luther.

–Mas nas horas vagas se divertem com os vilões – disse Dawn dando de ombros e cruzando os braços – E não sei se entenderam ainda mas vocês são os vilões na mente distorcida deles.

Klaus bufou jogando a cabeça para trás na cadeira onde estava sentado com os pés sobre a mesa. Allison percebeu e empurrou os pés dele recebendo um revirar de olhos do Seánce.

– E o que vamos fazer? – Luther perguntou. Todos se amontoavam de um lado da mesa olhando para a mulher parada do outro lado.

Dawn rebuscou o colar que deveria estar ali, mas tudo que seus dedos manchados de sangue encontraram foi a pele do pescoço. Ela engoliu seco ao lembrar de mais esse detalhe: o Diego de treze anos tinha agora uma jóia que Reginald guardava como um tesouro precioso, e se visse aquilo com o filho, ela teria uma dor de cabeça daquelas.

– Vocês vão ficar bem aqui – disse ela – E eu vou buscar meu pai.

– Vou com você – disse Vanya tentando se controlar já que o nervosismo a dominava por completo. A cabeça latejava e ela queria vomitar cada gota de whisky que havia bebido na madrugada.

– Não, mãe – Dawn suavizou a voz e encarou sua mãe com ternura – Olhem... isso é algo delicado, vocês não conhecem a Sparrow como eu conheço.

– Você não pode ir sozinha – disse Allison espalmando a mão sobre a mesa – Não vamos deixar.

Os demais assentiram em concordância e a fizeram recordar que estava lidando com a família mais teimosa e unida da história. Dawn bufou apoiando ambas as mãos na mesa e se inclinando.

– Ninguém pode saber quem são meus pais – ela explicou – Só vocês e o Herb sabem. Se mais alguém descobrir vamos estar colocando um alvo nas costas dos dois e eu não quero isso.

– É só a gente não mencionar isso e tá tranquilo – disse Klaus.

– É quase impossível não deixar nenhuma pista se algum de vocês estiver comigo – disse Dawn negando – Vou ir e negociar com eles.

– Podemos manter um segredo – declarou Diego.

– Essa não é a questão – disse Dawn massageando as têmporas com os olhos fechados – Luther é emotivo demais, Klaus faz piadinhas demais, minha mãe pode explodir tudo se acabar se estressando e eu garanto que essa visita vai ser bem estressante. O que me deixa como opções mais sensatas: Allison ou Diego. Isso se eu levar algum de vocês. 

– Vamos os dois – disse Allison.

– Não, vocês não entenderam – disse Dawn se jogando na cadeira. O sono estava começando a atingir e ela desconfiava que precisaria de muito café e um banho gelado para aguentar o dia – Quando entrarmos na mansão eles vão me testar. Me conhecem e sabem que eu raramente me envolvo pessoalmente com as coisas, já vão desconfiar que tem algo mais no instante que eu pisar lá.

– E você vai ter que fingir que são apenas negócios – Diego compreendeu pensativo – Não pode deixar eles notarem que Cinco é mais que um funcionário.

Dawn sacudiu a cabeça em afirmativa e em seguida olhou os demais esperando que tivessem entendido.

– Eles vão me testar – ela repetiu – E eu preciso ter certeza que não vou hesitar ou vacilar um olhar que seja se colocarem uma faca na garganta de vocês. 

– Eu vou com você – disse Diego decidido cruzando os braços. Dawn abriu a boca prestes a lançar uma rajada de motivos pelos quais aquilo era estupidez, mas ele a interrompeu – Deixe tentarem enfiar uma faca no meu pescoço, cariño, eu vou enfiar duas no...

– Diego! – Klaus disse alto suficiente para que todos o encarassem confusos antes de ele levar a mão ao peito de uma forma dramática – Sem palavrões na frente da nossa sobrinha!

Dawn revirou os olhos.

– Muito bem, eu espero não precisar brigar – disse ela se colocando de pé – Se meus planos derem certo vamos sair ilesos.

– Qual a probabilidade de dar errado? – Luther quis saber. Dawn sacudiu a cabeça devagar de um lado a outro torcendo a boca para baixo. 

– Em média 99,9% – foi a resposta nada a animadora. Luther entreabriu os lábios assustado enquanto Vanya sentia arrepios percorrerem seu corpo todo. Dawn deu as costas – Vou limpar todo o sangue e depois me preparar pra entrar no ninho das cobras.

– Pensei que eram pardais – Klaus disse.

– Você me entendeu – a mulher rosnou antes de desaparecer em um feixe de luz azulada. Todos encararam o lugar de onde ela havia sumido e em seguida trocaram olhares. Dawn parecia uma pilha de nervos, e sabendo que tinha o gênio terrível de Cinco, nenhum deles ia ousar contrariar qualquer que fossem as ordens que ela desse assim que voltasse.

●♢●♢●♢●♢●

Eles andavam apressados. A calçada repleta de pessoas transitando e Diego ainda se recuperava da náusea de ser teletransportado com ela.

– Você vai ficar calado e me deixar falar – disse Dawn ao se esquivar de um homem na calçada e esbarrar em Diego no processo, lembrando que o latino a acompanhava – Lembre da história: te contratei por causa da Lila e porque suas habilidades são bem úteis, e como Cinco já tinha um histórico impecável, acreditei que você fosse ser uma boa aposta.

– Porque estamos indo falar com meu pai se você pode entrar e sair da mansão literalmente em um piscar de olhos? – Diego indagou.

– Porque o vovô e eu temos uma certa parceria, com uma porção de desconfiança de ambas as partes, mas funciona – declarou ela – Eu forneço informações e ele me fornece dinheiro. O maior patrocinador da Comissão. Dialogar é o mais sensato, até porque nem imagino onde estejam escondendo ele e aquela casa é enorme. Levaria horas, e não temos esse tempo.

Diego bufou.

– Porque será que não estou surpreso que você e meu pai trabalhem juntos – ele resmungou. Ela parou bruscamente e se virou, forçando ele a recuar um passo.

– Mas ele não pode desconfiar nem por um segundo que o Cinco e a Vanya são meus pais – ela instruiu – Ninguém pode, Diego. Comprende?

Ele estreitou os olhos, carregado de uma desconfiança que a deixou quase irritada. 

– Por quê? – ele perguntou.

– Porque eu tenho inimigos, miolo mole – disse Dawn com um sorrisinho cínico – Sabe quantas pessoas tentariam matar os dois se soubessem? Sem falar que a Sparrow mataria meu pai no mesmo instante se soubesse que isso apagaria minha existência...

Ela fez uma gesto exagerado de explosão com as mãos que fez ele erguer uma sobrancelha.

– Boom! Catástrofe temporal – disse ela – E voltamos a linha do tempo original com sequelas irreparáveis. 

Diego franziu a testa. Linha do tempo original. Talvez fosse algo tão insignificante que nem merecia ser mencionado, mas lhe chamou a atenção despertando uma pulga atrás da orelha.

– O que é a linha do tempo original? – perguntou ele. Dawn revirou os olhos e deu as costas voltando a andar pela calçada com pressa de se livrar do assunto – E porque seria tão horrível voltar pra ela?

– Você faz perguntas demais – ela disse tentando se afastar dele, mas Diego permaneceu parado e puxou o braço dela a fazendo se virar com um olhar furioso que fez o medo depontar pelo corpo todo do Kraken. Mas ele não demonstrouApenas temeu que ela farejasse o medo ou algo parecido.

– Me solta – ela abriu um sorriso que poderia muito bem ser a máscara de quem planejava sua morte – Por favor.

– Não até você me responder – ele disse.

– Eu normalmente teria partido sua mão em duas – ela disse entredentes – Mas por você ser da família fui educada... e não vou pedir de novo.

Diego bufou e a soltou por ter muito amor a própria vida. Dawn deu as costas e ele precisou apertar o passo para acompanhá-la.

– Talvez não tivesse tantos inimigos se não fosse uma assassina temporal que debocha do livre arbítrio das pessoas – ele alfinetou mudando de assunto muito satisfeito. Não recebeu nada além de um olhar mortal e frio de Dawn.

– Acha que eu sinto prazer em matar? – ela desafiou. Diego fingiu pensar e em seguida assentiu.

– É, acho que se torna isso uma profissão é porque você deve gostar muito – ele disse. Ela riu com sarcasmo e olhou em volta buscando se distrair da vontade de enforcá-lo.

– Você não sabe nada sobre mim – ela disse com a voz tão afiada que deveria ter cortado qualquer que fosse o ar de desafio dele.

– Sei que você esconde coisas – disse ele estreitando os olhos na direção dela de forma ameaçadora.

– Você acha que eu escondo coisas – Dawn retrucou – Foi tão manipulado e ludibriado na sua vida que é incapaz de imaginar que alguém não tenha segundas intenções e que te ajude simplesmente por se importar com você. 

Ela fez uma pausa para tomar fôlego.

 – Não somos inocentes ou vítimas. Somos apenas isso: pessoas tentando sobreviver. Sem heróis ou vilões. E se quisermos continuar sobrevivendo precisamos tomar decisões difíceis – continuou – Você teve suas decisões difíceis, meus pais tiveram, Klaus, Allison... todo mundo. E eu também tive, Diego. A Comissão não foi uma opção pra mim, um passatempo divertido. 

Ele a encarou por um bom tempo. Analisando o rosto tão parecido com o de Vanya, tão cheio de soberba como o de Cinco, mas ao mesmo tempo completamente diferente deles. Única da sua forma perigosa e mortal. Dawn era algo feito pelos dois, mas moldada por algo diferente. 

– Não acredito que Cinco e Vanya tenham te criado para a matança – Diego disse percebendo uma leve faísca de hesitação nela. Bem no ponto.

Ela engoliu seco e respirou fundo tentando não demonstrar nervosismo.

– Meu pai me ensinou a matar – disse ela dando de ombros – Minha mãe me ensinou a não fazer isso até que seja a única opção. Eu não nasci pra ser uma assassina, vocês também não. Mas não somos como as outras pessoas, Diego. Não podemos comprar uma casinha de bonecas e viver uma fantasia de vida normal. Pessoas como nós lutam pra sobreviver, porque sempre tem alguém na nossa cola com uma arma nas nossas cabeças. 

Ela olhou no fundo dos olhos dele de uma forma que ele não sabia identificar. Parecia medo, receio, e ele pensou que talvez ela fosse assombrada por alguma memória, mas ela continuava falando como se fosse uma conselheira.

– Alguns de nós precisam continuar lutando mesmo feridos, não é? – disse Dawn – É isso que a Umbrella Academy é: um bando de sobreviventes de merda esperando a próxima desgraça vir e arrancar qualquer gota de felicidade e normalidade.

Ela olhou em volta mais uma vez desconfortável por estar entre tantas pessoas.

– Eu sei que seu complexo de herói fica apitando e mandando você me salvar como faz com todo mundo – disse Dawn olhando para o outro lado da rua – Mas eu não sou uma donzela em perigo, então guarde sua energia para o que vamos enfrentar na mansão. 

E ao dizer isso ela deu as costas e voltou a andar. Enquanto Diego permaneceu parado por alguns segundos antes de bufar. Cinco e Vanya precisavam ensinar aquela mulher a responder perguntas de um jeito que não lhe deixasse com mais dúvidas.

– E o que vamos enfrentar? – perguntou ele. Finalmente algo que não a irritou, pois a expressão irritada se suavizou e ela relaxou os ombros.

– O maior problema são Um e Dois – ela disse com um suspiro – Ben e Lilith. Os cães de guarda do vovô e as almas mais depravadas do universo. Tenho quase cem por cento de certeza que eles são responsáveis por isso.

– Eu tenho a plena certeza de que não gosto de nenhum dos dois – declarou o latino – E olha que ele é meu irmão. 

Ele não é seu irmão – Dawn disse – Esse Ben te mataria sem hesitar e por isso você tem que agir da mesma forma. Ben e Lilith são como o rei e a rainha do tabuleiro, os outros são só os peões submissos, se amansarmos os dois, estamos livres. 

Eles avistaram a mansão se estendendo diante deles e ela parou o forçando a fazer o mesmo. Ela estava nervosa e talvez até mesmo temerosa apesar de não demonstrar quando respirou fundo.

– Eu sei que você odeia mentira, mas se quisermos sair vivos com o meu pai – ela explicou – Preciso que concorde com tudo que eu disser. Absolutamente tudo, não hesite, não pareça confuso, apenas haja como se tudo fosse a mais pura verdade. 

Ele assentiu dando uma olhada na casa.

– O que vamos fazer exatamente? – ele perguntou. 

– Vamos entrar no jogo deles – disse Dawn – A Sparrow é mais esperta do que você imagina, qualquer passo em falso e estamos mortos. Estamos em desvantagem porque somos dois contra seis e aquele cubo bizarro. 

– Você poderia me explicar um pouco mais do seu plano antes que eu entre com você em um trem desgovernado? – ele perguntou ao abrir o portão dando uma leve olhada no pardal moldado no metal com total repulsa.

– Só fica perto de mim, não fala muito e age como se não estivesse morrendo de medo que tudo vai dar certo – disse ela ao passar pelo portão e começar a subir os degraus com Diego em seu encalço. 

Ela parou diante da porta e respirou fundo antes de tocar a campainha. Ela ajeitou a roupa enquanto Diego checava se todas as facas estavam bem ao alcance. Quando a porta abriu porém, se aprumaram e olharam para a figura asiática à sua frente. Uma mulher, de cabelos lisos e pretos bem aparados em um corte contornando o rosto. Ela empinou o nariz olhando para os dois.

– Devo admitir que não esperávamos que fosse você a vir aqui – disse a mulher lançando um olhar a Diego, o analisando dos pés a cabeça.

– Vai nos convidar pra entrar, Yumi ou ficar engolindo meu secretário com os olhos? – Dawn abriu um sorrisinho ameaçador. Yumi bufou e abriu passagem estendendo o braço em um convite.

Os dois passaram pela porta se deparando com o hall de entrada da casa. Um homem negro e alto, muito encorpado estava parado diante das escadas com as mãos nos bolsos. Ele abriu um sorrisinho condescente assim que Diego e Dawn pararam na entrada.

– Dawn Delyon – disse ele obrigando Diego a fazer um esforço para não franzir o cenho para o sobrenome. Era óbvio que ela não poderia usar o Hargreeves.

– Lucas Hargreeves – disse ela – O  seu papai ficaria decepcionado se visse que basta sair de casa por alguns dias e vocês viram as cadelinhas do Ben e da Lilith.

Ele visivelmente não gostou do comentário, o que arrancou um sorriso de Diego, chamando a atenção de Lucas para sua presença ignorada até o momento.

– Cachorrinho novo? – perguntou indicando Diego com o queixo – Se você chama ele abana o rabo?

Diego exibiu os dentes claramente irritado, mas Dawn sequer deu tempo a ele de reagir.

– Não, mas se eu mandar ele morde – Dawn respondeu em um tom que não dava brechas para mais piadinhas. Lucas a contra gosto abaixou a cabeça e deu as costas.

– Vamos logo que eles estão esperando – resmungou. Dawn lançou um olhar a Diego e murmurou um "desculpe" sabendo que com certeza aqueles comentários o irritaram e muito. Ele apenas assentiu e os dois se dirigiram às escadas em silêncio completo.

Ele tentava recordar de cada uma das advertências dela sobre a Sparrow, cada aviso de cuidado que ele deveria seguir para saírem vivos. Quando Lucas se afastou suficiente, ele se inclinou sobre o ombro de Dawn.

– Você parece conhecer eles muito bem – sussurrou. Ela assentiu.

– Longa história, a única coisa que precisa saber é que eles são tão letais quanto minha mãe quando trabalham juntos – sussurrou ela sem desprender os olhos de Lucas que até o momento não havia notado o diálogo dos dois, ou não se importava – Fica perto de mim e tudo vai ficar bem.

Diego bufou recuando um passo quando eles atingiram a porta do escritório de Reginald e Lucas a escancarou sem nem esperar que os dois parassem diante dela. Dawn soltou o ar muito pesadamente e Diego estufou o peito ao avistarem as duas figuras de olhares malignos.

Ben, sentado na poltrona de Reginald como uma espécie de vilão de desenho animado. Sobre a mesa, sentada bem na ponta com as pernas cruzadas de forma a mostrar muito delas estava Lilith com um sorriso pervertido.

Dawn respirou fundo se perguntando se o plano que havia armado funcionaria quando abriu seu sorriso mais desinteressado para o asiático.

 – Sequestrar garotinhos agora virou seu passatempo, Benny? – ela disse. Ele alargou um sorriso muito perverso enquanto a examinava da cabeça aos pés.

– Desde quando você sai do escritório pra botar a mão na massa ao invés de mandar seus Oompa-Loompas temporais? – ele ergueu uma sobrancelha. 

– Desde que você mexeu com o meu melhor empregado – ela disse com tanta naturalidade que Diego chegou a engolir seco se perguntando a quanto tempo ela mentia para ser tão boa nisso. Ela respirou fundo – Vou facilitar as coisas. Me entreguem o Número Cinco e eu não mando essa mansão pelos ares com vocês dentro.

Ele e Lilith riram em um uníssono quase sincronizado que fez Dawn revirar os olhos. Diego permanecia calado ao lado dela, atento a tudo e tentando decifrar o que a mulher planejava.

– Acha que sou idiota? – Ben tinha um olhar tão arrogante e tão pervertido que causou náuseas em Diego. Aquele não era seu irmão de forma alguma – Seu interesse repentino na Umbrella é meio suspeito, Srta. Delyon.

Ele se levantou levando as mãos as costas. Diego viu Dawn se encolher quase tão discretamente que ele percebeu apenas por estar quase grudado à ela. Ela estava com medo? Porque uma mulher como ela teria medo de Ben? Por mais cruel que aquela versão dele fosse, Dawn ainda era literalmente a criatura mais poderosa da Terra.

Os olhos do latino se estreitaram na direção daquela cópia barata de um dos irmãos que ele mais amava. Ben se aproximou como um felino sob o olhar quase desprezível de Diego.

– São negócios? – perguntou Ben já a poucos metros dos dois. Lilith olhava para Ben quase temerosa. O asiático olhou para Diego – Ele esquenta sua cama e você cuida da familiazinha indefesa dele?

– O que o Diego faz dentro ou fora do meu quarto não te diz respeito, Ben – ela permanecia ali tão inabalável que dava a entender que ela estava acostumada com aquele tipo de negociação. Desviando completamente a atenção de Ben do desespero que espreitava sob os olhos dela. Que ele não notasse a verdade por trás daquelas mentiras.

Ben se aproximou mais e Lilith abaixou a cabeça entreabrindo os lábios quase em pânico quando ele esticou a mão e tocou o rosto de Dawn com a ponta dos dedos. Mais uma vez Diego sentiu ela estremecer violentamente e como um instinto sacou a faca e ergueu pressionando contra a garganta de Ben, agarrando o pulso dele com força e o empurrando para trás. 

Dawn enrijeceu e levou alguns segundos para conseguir conter o pavor que dominou seus olhos. Um passo em falso e Ben deduziria que Diego era mais que um funcionário. Mais alguns pontos ligados e ele desconfiaria que havia algo muito antigo entre ela e a Umbrella inteira.

– Acho que o papai não te ensinou que não se toca numa mulher a menos que ela peça – rosnou o Kraken. Ben apenas sorriu mesmo com uma faca contra a garganta. Continuava sorrindo independente do que dissessem ou fizessem. Ele olhou para Dawn.

– Bravinho seu cão de guarda – disse Ben.

– Vai logo ao assunto – Dawn exigiu – O que vai ser em troca do Número Cinco?

Ben se afastou e Diego abaixou a faca enquanto Lilith pareceu soltar um suspiro aliviado quando Ben andou na direção dela desviando a atenção de Dawn pela primeira vez desde que a mesma pisou na sala.

– Não esperava negociar com você – disse Ben muito tranquilamente ao passar a mão no joelho de Lilith e se virar para os dois – Mas já que estamos aqui, vou ser direto.

Ele se recostou na mesa ainda apertando o joelho da loira.

– Queremos o Arquivo Zero – ele disse. O rosto de Dawn desmanchou aquela expressão de arrogância e foi dominado por algo parecido com temor. Ela cerrou os punhos e Diego se esforçou para não franzir a testa ao olhar para ela. Arquivo Zero.

– Sem chance – ela declarou. Ben deu de ombros despreocupado.

– Então pode dar adeus ao garoto desbocado – ele declarou com total indiferença, como se não estivesse tão ansioso pela troca quanto ela. Ele abriu um sorriso maldoso – Me diga, Dawn. Quanto o Número Cinco vale pra você? 

Dawn engoliu seco mais uma vez tentando encontrar seu colar.

Mas ele não estava ali. E aquilo não era um pesadelo. Era só a merda da sua vida.


Notas Finais


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