1. Spirit Fanfics >
  2. Unbreakable >
  3. .um beijo pode curar alma e corpo.

História Unbreakable - .um beijo pode curar alma e corpo.


Escrita por: LovePizzaS2

Notas do Autor


Hello meus lindos e lindas❤

Vou explicar o motivo do meu sumiço: voltei para o hospital. Meus pontos abriram, mas já estou bem, não há porque se preocupar.

Deixei a one de Natal para alguém postar por mim, e espero que tenham gostado.

Aqui vai o capítulo mais que demorado, boa leitura e espero que gostem❤

P.S: eu sei que não respondi AINDA os comentários do último capítulo, mas estarei respondendo todos amanhã se tudo der certo.

Capítulo 54 - .um beijo pode curar alma e corpo.


Fanfic / Fanfiction Unbreakable - .um beijo pode curar alma e corpo.

Escócia - 1824

Como Fundadora e dona da Comissão, Dawn já havia passado um bom tempo em muitos períodos de tempo diferentes e isso explicava seu guarda roupas muito diversificado.

Mas ela particularmente odiava qualquer roupa que lhe obrigasse a usar um corpete. Aquele vestido apenas servia para deixá-la com mais raiva enquanto a aguardava na imensa sala de estar.

Ela tinha uma espécie de identidade falsa para lidar com situações como aquela. Duquesa Amélie Markov, viúva e rica. Ela não podia sair por aí dizendo que era dona de uma organização temporal que mata pessoas. Markov, como Tatiana Markov, mãe biológica de Vanya. Ela só usava em situações de extrema necessidade.

Bufou pela milésima vez tentando puxar o decote para cima para cobrir um pouco mais do busto e falhou.

A grande mansão de um Lorde inglês que havia se mudado recentemente para a Escócia. 

Seu tio Ben adorava romances de época e os dois costumavam ler juntos uma dezena deles. Como uma garotinha sonhadora ela sempre quis colocar aqueles vestidos longos e apertados e se casar com algum conde muito elegante e romântico. 

Mas esse homens eram raridade na vida real, a grande maioria eram homens escrotos, machistas e com síndrome de superioridade. Que desilusão. 

Assim que o tal Henry Gustav surgiu na porta da sala ela soube que ele era um desses homens detestáveis. Nenhum homem decente sorriria daquela forma lasciva para uma desconhecida.

Ele se aproximou dela quando Dawn se levantou.

– Senhorita Amélie Markov – ele disse olhando diretamente para o decote dela quando tomou a mão dela e beijou. Dawn puxou a mão de volta rapidamente e sorriu com irritação.

– Senhora – ela corrigiu afiada – Sou viúva.

– É tão jovem...

– Não tanto quanto aparento – ela disse se afastando dele alguns passos e tirando as luvas, fazendo questão de deixar o anel de esmeralda na mão esquerda muito visível. O homem o olhou com certa decepção e Dawn sorriu.

– Quero ser rápida, Sr. Gustav – ela disse – Vim aqui pois ouvi na cidade que pegou um homem roubando em suas terras.

O rosto do homem se desfigurou em desgosto e irritação.

– Sim – disse ele erguendo a cabeça – Acredita que ele estava comendo do meu pomar? Não se pode mais nem ter paz em nossa própria terra, a senhora acredita em um...

– Onde ele está? – Dawn cortou o homem sem se importar com a etiqueta. Henry franziu a testa confuso por um ladrão ser mais interessante do que ele para aquela garota.

– No meu celeiro...

Dawn estreitou os olhos, cerrou os punhos e olhou nos olhos do homem da forma mais fria.

– Me leve até ele – ela disse com um falso sorriso – Agora.

03 de setembro de 2006

– Você viu o Diego? – perguntou Vanya, talvez fosse a quinta vez que Allison ouvia aquela pergunta na última meia hora. A garota se sentou na cama e fechou a revista para olhar a irmã.

– Assim como eu disse há uns cinco minutos – disse Allison – Não, Vanya. 

A Número Sete bufou pronta para sair do quarto, mas Allison rapidamente jogou a revista de lado e cruzou as pernas na cama com um sorrisinho.

– Hey, espera – Vanya se virou para ver a irmã dar tapinhas no colchão à sua frente com um olhar muito interessado – Senta aqui.

Vanya fechou a porta e andou até ela.

– Quer conversar sobre o quê? – Vanya perguntou se sentando de frente para Allison que esperou com olhos atentos e muito curiosos, servindo apenas para deixar Vanya mais ansiosa e curiosa.

A negra se inclinou para a frente.

– Ben disse... – ela começou. 

– Não foi nada disso – Vanya interviu, bochechas vermelhas e olhos grande e esbugalhados.

– Então porque você está vermelinha como uma pimenta? – Allison ergueu uma sobrancelha provocativa.

– Não fizemos nada – disse Vanya num sussurro com medo que as paredes tivesse ouvidos – Nada.

Allison estreitou os olhos desconfiada.

– Ben viu o que então? – ela perguntou.

– Cinco e eu nos beijando – disse Vanya – Foi só isso.

– Estava em cima dele – Allison acusou.

– Isso é só um detalhe – Vanya se defendeu.

– Um detalhe muito comprometedor – Allison disse.

– Tá, mas... Não aconteceu absolutamente nada – disse Vanya.

– Porquê não? – Allison parecia quase ofendida. Vanya franziu a testa se perguntando se Allison alguma vez na vida já teve juízo.

– Não podemos fazer isso ainda – disse Vanya ajeitando a saia – Eu não quero machucar ele ou qualquer outra pessoa no processo, sabe que ainda não tenho controle. Ontem foi um deslize, não vai se repetir.

Allison respirou fundo e encarou a irmã em um silêncio quase perturbador. Vanya ainda tinha as bochechas rosadas e brincava com o tecido da saia distraída. Se tinha algo que a Número Três sabia era ler as pessoas e entender exatamente onde estava a raiz do problema.

Precisou de pouco mais de trinta segundos para chegar à uma conclusão. 

– Você está com medo – Allison disse num sussurro muito conclusivo. Vanya fez uma careta confusa.

– Foi o que acabei de dizer – ela respondeu.

– Não dos seus poderes – Allison bufou dando pulinhos para chegar mais perto – De... fazer!

Vanya fez um típico beicinho de quem não queria admitir e não podia negar, o que para Allison bastava para uma longa conversa de garotas.

– Olha eu li muitos livros sobre isso – sussurou a Rumor como se fosse o seu maior segredo.

– Sei como funciona na teoria – disse Vanya igualmente baixo – Mas na prática é outra coisa.

– Não é muito diferente – disse Allison dando de ombros. Vanya arregalou os olhos instantaneamente. 

– Você e Luther já...

– Não! – Allison negou mais alto do que pretendia e tapou a boca. Ambas esperaram alguns segundos, como ninguém apareceu resolveram continuar a conversa – Não, Vanya. Nunca fiz isso, mas eu vejo filmes.

– Está roubando as fitas do Klaus? – Vanya pareceu ainda mais horrorizada e Allison suspirou esfregando os olhos.

– Não – disse Allison – Me escuta, tem filmes de romance onde as pessoas fazem isso, normalmente a cena não é muito detalhada e explícita, mas dá pra ter noção. 

– Sexo é perigoso, já pesquisei – disse Vanya – Mesmo com todas essas coisas contraceptivas ainda tem uma porcentagem de chance de falhar. E se falhar comigo, Allison?? Papai vai me enterrar no quintal!

– Não vai falhar, confia em mim – disse Allison – É muito raro.

Vanya não confiou muito.

– Vamos falar com a mamãe – disse Allison – Ela deve saber esse tipo de coisa mais do que nós, pode nos explicar direitinho.

– E se ela contar ao papai que perguntamos isso? – perguntou Vanya. Allison estalou a língua com desdém. 

– Papai não tem como ficar sabendo – disse ela com convicção – Isso é a coisa mais normal do universo, vai acontecer em algum momento, mana. E não é como se o mundo fosse acabar se você e o Cinco fizerem isso.

Escócia - 1824

Ele já sentia seus sentidos falharem. O cheiro e o gosto de sangue o faziam querer vomitar, seus pulsos queimavam com a dor das amarras, as costas ardiam e latejavam. Era difícil se manter de pé amarrado daquela forma.

Mas seus olhos ainda conseguiam avistar tudo a sua volta mesmo que ele estivesse quase inconsciente. Olhando o chão ele avistou um feixe de luz quando a porta do celeiro foi aberta. Tentou juntar forças para endireitar a postura com medo de ser ferido novamente, mas mal conseguiu erguer a cabeça. 

A barra de vestido vermelho foi a primeira coisa que ele viu, seus olhos conseguiram se erguer suficiente até que ele visse o rosto da garota que acompanhava seu carrasco.

Ele sussurrou o nome dela apesar de mal passar de um mover dos lábios. Os olhos verdes dela se enxeram de agonia e ela travou a mandíbula com fúria visível.

– O que fez com ele? – ela rosnou na direção do homem.

– O que fazemos com ladrões imundos nas minhas terras – foi a resposta fria e rígida, os olhos dela irradiaram uma fúria homicida quando ela olhou para ele. Diego piscou algumas vezes, torcendo para que não fosse outra alucinação. 

Um vento forte fez a porta do celeiro bater com força, assustando o lorde poucos segundos antes de ele ser lançado no ar contra a parede de madeira do galpão.

– Repita – disse ela com um sorrisinho que assustaria o próprio Diabo. Henry sentia-se sufocando, os olhos arregalados enquanto se debatia com pavor ainda preso longe do chão como se algo estivesse o agarrando pelo pescoço – Se tiver coragem, é claro.

– Bruxa... – o homem sussurrou cada vez mais em pânico. 

– Dawn – Diego conseguiu chamar, ela apenas o olhou com o canto dos olhos antes de dar mais um passo na direção do homem desesperado.

– Escute o que digo, Lorde Henry Gustav – ela cuspiu as palavras – Se eu souber que está usando seus chicotes para punir pessoas aqui novamente, não serei tão piedosa.

– Senhora...

– Eu não permiti que falasse – Dawn rosnou, os olhos cada vez mais cintilantes de forma que o homem empalidecia e estremecia de medo – Agora vai rastejar de joelhos e pedir perdão ao meu amigo. Depois eu pagarei em dobro o que ele tirou das suas terras, e espero que não nos vejamos mais.

Henry assentiu desesperado. Dawn apenas deu as costas e ele desmoronou no chão como um fantoche enquanto ela andava até as ferramentas em um canto do celeiro. Mesmo fraquejando, ele usou todas as forças para rastejar até onde Diego estava amarrado, olhou nos olhos dele em pânico e em seguida colou a testa no chão.

– Me perdoe senhor – disse com a voz trêmula, as mãos estremeciam assim como ele por inteiro quando as estendeu e tocou os pés do rapaz – Me perdoe.

Dawn apreciou a cena com a cabeça erguida por algum tempo ao andar até perto deles com uma foice na mão. 

– Basta – disse ela – De pé, e saia daqui. Enviarei alguém para lhe pagar a dívida...

– Não é preciso – Henry gaguejou se virando para ela e encarado a ferramenta em pânico – Não quero um centavo, apenas me deixe viver.

Dawn revirou os olhos e fez com que as portas se abrissem com um sopro de vento.

– Não vou te matar – disse ela apontando a porta – Saia.

Mais que apressado e cambaleando o lorde se colocou de pé e saiu correndo o mais rápido que suas pernas fracas permitiram, Dawn aguardou que estivesse longe para se aproximar de Diego, toda a raiva e a postura imponente dela pareciam ter sumido e dado lugar ao pavor. Parecia uma garota assustada e temerosa quando golpeou a corda e a rompeu, e o segurou para que ele não caísse no chão. 

– Você...

– Fica quieto – ela disse o abraçando com a desculpa de ampará-lo. Os dois caíram de joelhos e Diego deixou a cabeça pender no ombro dela. Dawn engoliu seco ao sentir o sangue quente dele contra suas mãos, ele gemeu com a dor nas feridas – Preciso te levar pra casa.

– Achei que fosse morrer aqui – ele disse com um sorrisinho presunçoso que Dawn não viu, ela mantinha todo seu auto controle para não beijá-lo ali mesmo.

– Eu nunca deixaria – ela sussurrou contra a pele do ombro dele. Diego já havia estado perto da morte mais vezes do que podia contar, mas aquela foi a primeira vez que escapou se sentindo realmente sortudo.

Escritório da Comissão

– Precisa parar de se mexer, senão vai doer mais ainda – Dawn ralhou pelo que Diego acreditava ser a trigésima vez. Ele apertou com mais força o braço do sofá e ela levou mais uma vez o pano até os cortes em suas costas mordendo o lábio a cada vez que ele gemia de dor.

– Não disse que podia me curar com seus...aaaa... poderes? – ele perguntou.

– Sim – disse ela – Mas preciso limpar primeiro. Tenha isso como sua punição por ser tão desmiolado.

– Você deve estar querendo me matar, não é? – ele arriscou fazendo uma careta quando ela encostou nas feridas.

– Estou pensando em fazer uma dezena de coisas com você agora – ela disse levando o pano até a vasilha e molhando mais uma vez – Mas te matar não é uma delas.

– Eu fui um pouco idiota em... – ele gemeu – Em pegar a maleta sem saber como funcionava.

– Um pouco idiota– ela repetiu com sarcasmo.

– Muito idiota – ele corrigiu.

– Ainda não entendi como deixou ele te pegar – disse ela.

– Faziam dias que eu não comia, estava morrendo de fome – disse ele – Roubei um pão em uma padaria na cidade e foi tudo que consegui... depois se passaram uns quatro dias. O desespero me levou a ser idiota.

– Você não precisa estar desesperado para ser idiota – ela disse num resmungo, Diego decidiu ignorar.

– Não consegui escapar quando os empregados dele me agarraram – disse Diego – Nunca mais reclamo do meu século..aaaai!

– O que você pretendia afinal? – ela perguntou constatando que o próximo corte talvez fosse o mais difícil de limpar.

Diego relutou, um pouco pela dor e um pouco pelo constrangimento de como aquilo poderia soar, mas ele sabia que não poderia simplesmente deixar de respondê-la.

– Queria te ver – ele disse, em seguida gritou quando Dawn apertou o pano forte demais contra um corte. Ela afastou de imediato.

– Desculpa – disse ela no mesmo instante. Respirou fundo e tentou não soar nada sentimental – Porquê diabos você ia querer me ver?

– Eu sei que isso pode soar estranho – disse ele – Mas você está me deixando louco.

Dawn agradeceu por ele estar de costas e não poder ver seu sorriso involuntário.

– Nem me conhece – ela disse.

– Exatamente por isso – Diego falou – Você salvou todos nós naquele dia na missão.

– Você também me salvou – disse ela – Duas vezes.

– Estamos quites – ele brincou. Ela riu. Algum tempo se passou, o silêncio sendo preenchido pelo som do pano sendo torcido na vasilha, Diego olhou sobre o ombro, os olhos da garota fixos nas feridas como se doesse nela mesma – Porquê? 

Ela o olhou e Diego virou para a frente de imediato.

– O quê? – Dawn franziu a testa.

– Porquê salvou a gente aquele dia?–  ele disse – E porquê foi me salvar hoje?

– Pelo mesmo motivo que você seus irmãos arriscam suas vidas naquelas missões – disse Dawn – Porquê é o certo.

– Não faz sentido – ele sussurrou. 

– Um dia talvez faça – Dawn disse concluindo que os ferimentos estavam limpos. Jogou o pano na vasilha e secou as mãos na saia de armação. O vestido havia sido jogando em um canto e tudo que restava eram as anáguas e o corpete. Era incrível como mesmo as roupas debaixo eram horrivelmente quentes e desconfortáveis – Pode se virar.

– Não tem nada na frente – Diego gemeu ao se esforçar para virar no sofá, seu corpo todo estava fraco e dolorido. Ele parou quando estava completamente de frente para Dawn – Ele só bateu nas costas.

– Está tudo limpo, posso usar meus poderes pra te curar...

– Como fez aquele dia? – Diego indagou olhando nos olhos dela, Dawn assentiu muito séria.

– Mas não posso te livrar das cicatrizes – ela disse.

– Uma a mais, uma a menos – ele deu de ombros, os olhos fundos e o cansaço visível em seus olhos. Diego se aproximou mais até que seus joelhos se tocassem. Ele sorriu divertido – Talvez seja difícil achar uma namorada agora.

Dawn revirou os olhos.

– A maioria das garotas gostam dos caras que brincam com perigo, você vai ficar bem – ela disse. Diego riu.

– Se você diz – ele deu de ombros novamente.

– Ótimo – ela disse engolindo seco. Por uma infelicidade acabou olhando para os lábios dele. Ela não conseguia ser muito convincente na atuação de indiferença, não estando tão perto. 

Diego percebeu, e se aproximou mais. Mas Dawn franziu a testa ao recordar que ele não lembrava dela. Não havia motivos para ele querer beijá-la.

– O que está fazendo? – ela sussurrou. Ele não se moveu, continuou ali tão perto que era quase torturante. Diego piscou algumas vezes confuso.

– Disse que ia me curar – ele falou perdido – Pensei que tinha...

– Ah – ela desviou o olhar com nervosismo e Diego recuou se sentindo um tanto quanto idiota – Aquilo... eu estava com pressa. Era o jeito mais rápido.

– Ah – ele abaixou a cabeça constrangido e engoliu seco como se tivesse acabado de ser socado no estômago – Claro... me perdoa eu...

– Não – ela disse sabendo que o coração estava batendo semelhante as asas de um beija-flor – Eu não deveria ter feito aquilo sem pedir permissão, me desculpa.

Diego sorriu, aquele tipo de sorriso que a deixava sem ar e sem chão. 

– Não deveria se desculpar por ter me livrado de três semanas inteiras de ataduras e repouso – ele disse. Dawn riu, as covinhas se ressaltaram em suas bochechas e Diego estreitou os olhos por um momento acompanhando o movimento dos lábios da garota.

Dawn o olhou de uma forma como jamais alguém havia o olhado. Não sabia ao certo o que significava, mas aquele olhar moveu algo dentro dele de forma tão repentina que quase o assustou.

– Está com pressa hoje? – ele perguntou, indagando a si mesmo sobre quão besta aquela pergunta parecia. Dawn abriu a boca, ele acreditou que negaria de primeira, mas ela não disse nada. 

Ela se aproximou dele já deixando o mundo sem som algum para si mesma além do som do coração dele. Aumentando de volume até se transformar dentro dela.

Quando tocou os lábios de Diego com os seus da forma mais tímida o rapaz sentiu aquela energia tomar seu corpo todo como um choque e atravessar até seus ferimentos. Ele sentiu quando os cortes começaram a fechar, sentiu a dor sendo levada embora.

Mas não pareceu suficiente. Ele estava em busca de algo, algo que não estava naquela faísca de poder que ela jogou em seu corpo.

Diego se inclinou mais para a frente e aprofundou o beijo ao abocanhar os lábios de Dawn. Ela resistiu por meros milissegundos antes de permitir que ele a beijasse de verdade, o poder dela se apagou, mas a sensação permaneceu com ele.

Ele podia ver sua mente rebuscando e exibindo para ele todos os sonhos nos quais ela havia aparecido, mesmo que muito breve, às vezes apenas um segundo, mas ela estava lá.

Ela acendeu algo dentro dele.

Ele se afastou para respirar, Dawn abriu os olhos e os dois ficaram paralisados enquanto tomavam fôlego. 

Diego queria sentir de novo, por isso não esperou muito antes de beijá-la novamente, desta vez de forma mais sedenta. Ele se inclinou sobre ela e a beijou novamente. Ela se apoiou nos cotovelos para não deitar completamente.

Dawn correspondeu e para ela tudo parecia perfeito, pelo menos até a realidade a atingir como um trem carregado. Ela o empurrou com cuidado.

Diego não escondeu sua confusão quando ela fez isso, voltou devagar ao seu lugar enquanto Dawn se erguia. 

– Não – ela disse sentindo a palavra doer no seu íntimo. 

– Por quê? – Diego perguntou ainda retomando o fôlego. 

– Porque você queria que eu fosse outra pessoa – ela sussurrou condoída. Diego não compreendeu e ainda estava muito confuso quando ela se levantou – Descanse um pouco, amanhã te levo pra casa.

Ela se levantou e atravessou o escritórios muito devagar. Diego a olhou até que ela sumisse em uma porta e a fechasse lentamente. Ele tocou as próprias costas, sentiu o relevo de uma cicatriz sobre a pele.

Sem feridas, sem dor. Mas algo ainda o estava machucando, e ele não sabia o que era.

●♢●♢●♢●♢●

– Acorda – ele deu um salto quando sentiu o cutucão forte em suas costelas. Se sentou assustado e esfregou os olhos olhando em volta. Ainda no escritório da Comissão. Ele olhou a garota que lhe estendia uma xícara fumegante – Bom dia, fugitivo.

– Que horas são? – ele perguntou atordoado demais para conseguir pegar o copo. Dawn olhou no relógio de pulso.

– Aqui são dez e quinze – disse ela – Levanta, tem roupas limpas no banheiro. Pode tomar um banho e se preparar que vou te servir o café da manhã antes de te levar pra casa.

– Disse que me responderia... – ele bocejou tomando a xícara das mãos dela – Que responderia minhas perguntas.

– É, posso fazer isso – disse ela dando as costas. Era muito difícil se segurar para não saltar de um lado a outro o tempo todo, andar gastava muito tempo – Se arrume logo e venha até a cozinha.

Diego obedeceu. Sentir a água quente relaxando seus músculos o fez ver o valor de um bom banho. Pequenas ferroadas onde agora haviam apenas cicatrizes das feridas o fizeram recordar da noite anterior.

Ele a beijou. Uma completa desconhecida foi capaz de fazê-lo sentir algo diferente de tudo. O beijo de Vanya não o fez sentir aquilo. Vanya, a garota por quem ele estava apaixonado há quatro anos não tocou tão fundo como Dawn.

Devia haver alguma explicação científica. Hormônios, cansaço... qualquer coisa.

Assim que terminou o banho, olhou a si mesmo no vidro embaçado do espelho. Cinco tinha razão, ele não se achava uma pessoa digna de ser amada. Ele olhava a si mesmo, com aquela cicatriz na lateral da cabeça o recordando de que ele adquiriu aquilo matando. Nas missões sangrentas e tenebrosas que Reginald o mandava.

Ele não passava disso: um assassino com síndrome de herói. Acreditando que salvar vidas lavaria o sangue de suas mãos, mas estava errado.

Aquela fagulha que Dawn acendeu nele na noite anterior o fez lembrar de como era fraco quando sentimentos estavam em jogo. Como alguém poderia amá-lo e aceitá-lo se nem ele o fazia?

Diego deu as costas para o espelho, transtornado. Ele terminou de se vestir e saiu, não levando muito tempo para encontrar a cozinha, apenas seguindo o cheiro delicioso das panquecas.

Lá estava Dawn, a poderosa Fundadora, com o cabelo preso em um rabo de cavalo desengonçado, com um avental florido e farinha na bochecha cantarolando junto com o rádio.

O balcão repleto com biscoitos, bolos, torradas e um bule com café quente e fresco.

– Então além de proteger linhas temporais, dilacerar inimigos e curar desordeiros – Diego disse arrancando um pequeno susto dela ao se apoiar no balcão para olhar para ela do outro lado – Você também cozinha.

Ela sorriu colocando mais uma panqueca na pilha.

– Aprendi com meu pai – ela disse – Minha mãe era um desastre na cozinha, então ele aprendeu. Era muito bom, nada superava suas tortas de peru.

– Fala deles no passado – Diego observou. Dawn engoliu seco, suspirou e desligou o fogo.

– É... eles morreram – disse ela agarrando o prato e se aproximando de Diego. Ele se sentou em um dos banquinhos e ela colocou as panquecas junto às demais coisas.

– Eu sinto muito – disse ele ressentido. Dawn abriu um breve sorriso antes de puxar uma xícara e encher de café até quase transbordar. 

– Pode começar – disse ela lhe estendendo o bule – Faça suas perguntas e eu vejo se posso responder todas.

Diego franziu a testa pensativo. De tantas perguntas sua mente agora parecia vazia.

– De onde você é? – ele começou, buscando tempo para analisar as perguntas mais importantes. Dawn pensou por um tempo.

– Nasci nos Estados Unidos – disse ela.

– Seu sobrenome é francês – Diego disse.

– Meu pai era francês e minha mãe era russa – disse ela levando a xícara à boca – Mas os dois viviam na América do Norte.

Ele assentiu compreensivo. 

– O que é a Comissão exatamente? – ele indagou. Dawn bebeu um gole e suspirou.

– Basicamente uma organização temporal com o fim de salvar o mundo da destruição iminente – ela deu de ombros.

– Está falando do Apocalipse? Onde Cinco ficou por... quarenta e cinco anos? – Diego perguntou e Dawn assentiu.

– Quero evitar que aconteça – disse ela.

– Matando? – ele fez uma careta. 

– É a lei da vida – disse ela – Matemática simples. Se uma centena de pessoas tiver que morrer pra salvar bilhões... Não é difícil de decidir.

– Isso não torna menos errado – ele disse – Cinco disse que muitos eram inocentes.

– Não existe essa coisa de inocentes, Diego – disse ela – São só pessoas, fazendo qualquer merda necessária pra sobreviver. Ninguém é inocente. O que muitos chamam de "pecado" é somente humanidade. Errar, trair, mentir, matar, roubar. 

– E você não se sente mal? Pelas vidas que tira? – Diego perguntou.

Dawn respirou fundo.

– Muito – disse ela – Não tem como lavar o sangue das mãos, por isso precisa aprender a conviver com isso. Saber que sou uma assassina e nada no mundo jamais vai ser capaz de mudar isso. 

– Se orgulha de matar? – ele disse horrorizado.

– Eu me odeio por isso – ela respondeu prontamente – Mas nem todos nascem em uma família normal e comum. Não pessoas como nós.

– Seus pais...

– Eram como você – disse ela – Como eu. E por isso não só eles mas eu também vivia sob constante ameaça de morte. Enquanto algumas crianças aprendiam a andar de bicicleta eu aprendia a usar um revólver. Não porque meus pais eram malucos, mas porque sabiam que chegaria o dia que eu precisaria me virar sozinha. É isso que somos e sempre seremos.

– Sozinhos? – Diego sugeriu e  a olhou – A solidão é algum efeito colateral.

Dawn olhou para a janela. Podia ver os galhos das árvores sacudindo com o vento, respirou fundo e deu de ombros.

– Só se você deixar – disse ela – Como eu fiz.

Diego só então pareceu notar o anel no dedo dela. Esmeralda brilhante se destacando no anel prata como os olhos dela se destacavam em qualquer ambiente. Ele sentiu uma espécie de pavor se apossar de todo seu corpo.

– Você é casada? – tentou evitar o choque no tom de voz, mas foi impossível. Dawn fez uma careta.

– Não! – ela disparou – Porque pensa isso?

Ele puxou a mão dela sem se conter e alisou o anel. Dawn entreabriu os lábios e desviou o olhar.

– Foi um presente... do meu... tio – ela quase engasgou ao levar a xícara a boca novamente.

– É costume da sua família dar aneis de noivado uns para os outros? – ele ergueu uma sobrancelha desconfiado.

– Você não faz ideia – Dawn disse com um longo suspiro – Eu não tenho um noivo, ou marido. 

– Namorado? – ele sugeriu mordendo um bolinho. Dawn negou – Ótimo.

– Ótimo? – ela franziu a testa.

– Senão eu temeria pela minha vida depois de ontem – disse ele e sorriu. Dawn riu e bebeu mais um gole de café para disfarçar, Diego engoliu seco pensando sobre o que estava prestes a dizer – Você quer sair comigo?

Ela engasgou. Tossiu algumas vezes e tentou voltar a si o mais rápido possível antes de olhá-lo com os olhos lacrimejando pelas tosses.

– O que disse? – perguntou ainda dando tapinhas no próprio peito.

– Não nos conhecemos direito e você salvou minha vida duas vezes – disse ele – Eu só quero que sejamos amigos.

– Me chamando pra um encontro? – ela disse com nervosismo disfarçado de sarcasmo. Ele deu de ombros com um falso ar de inocência ao pegar a própria xícara.

– A menos que esteja com medo de acabar me beijando de novo – ele disse. Dawn sentiu seu corpo congelar.

– Não tenho medo de nada – declarou ela com o nariz empinado.

– Então...

– Então? – ela repetiu começando a se abanar.

– Amanhã a noite na minha cidade? – ele perguntou.

– Sinceramente, Diego – ela disse erguendo a sobrancelha com seu tom arrogante – O que o faz pensar que vou aparecer?

Ele fingiu pensar.

– Acho que o fato de que me curou duas vezes só pra que eu não sentisse dor – disse ele dando de ombros – Isso me faz pensar que se importa mais comigo do que uma simples estranha se importaria. Você não me daria um bolo e correria o risco de ferir meus sentimentos. 

Ela o olhou em silêncio. Maldito fosse, ele estava certo. 

04 de setembro de 2006

Cinco já esperava. Na verdade estava contando com o momento em que aqueles dois passariam pela porta. Mas quando Dawn simplesmente apareceu em seu quarto ele teve de conter a risada diante da carranca que a filha lhe dirigiu.

– Ai está você, trouxe o Diego? – disse sem desviar os olhos do livro – Papai estava quase mandando a polícia atrás dele e tenho certeza que Vanya já ligou para a delegacia.

– Você é um desmiolado?? – Dawn sussurrou saltando até ele e tomando o livro de suas mãos.

– Diego me roubou, o que eu poderia fazer? – Cinco perguntou.

– Não me venha se fazer de desentendido – disse ela apontando para ele – Nós dois sabemos que Diego não roubaria de você sem que notasse.

– Talvez ele esteja melhorando na arte do furto – Cinco deu de ombros.

– Estou falando sério – Dawn jogou o livro sobre a escrivaninha e Cinco se sentou na cama com a testa franzida – Ele foi parar em 1824, foi açoitado e poderia ter morrido.

– Idiota – Cinco resmungou consigo mesmo – Como ele fez isso?

– A pergunta é porque você deixou ele fazer isso – disse Dawn furiosa.

– Queria dar a ele o que Diego queria, não imaginei que ele fosse parar dois séculos atrás – Cinco declarou.

– Mais cuidado com ele – disse Dawn colocando a maleta ao lado dele sobre a cama. Ela lhe olhou nos olhos – A última coisa que preciso agora é de algum de vocês em perigo... só para com essa sua cisma em bancar o cupido, pai. Não preciso da sua ajuda com isso.

E sumiu. Cinco suspirou. É, Dawn estava furiosa... mas aquilo não significava que ele ia parar.


Notas Finais


Quanto mais nos aproximamos do final, mais eu me pergunto o que vou fazer quando acabar😧

Espero que estejam gostando❤

Voltarei assim que puder😍


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...