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História Unbroken (temporariamente em edição) - Je t'aime


Escrita por: DELPH

Notas do Autor


{FANFIC EM EDIÇÃO}

Capítulo 8 - Je t'aime


Fanfic / Fanfiction Unbroken (temporariamente em edição) - Je t'aime

Uma semana depois....

E mais uma vez eu me via naquela posição de vulnerabilidade, dessa vez por um abandono que nenhum dos lados poderia levar a culpa. Levanto meus olhos através das minhas pernas e pelo espelho consigo enxergar apenas reflexo de uma garota fraca, sentada na beirada da cama com as pernas encolhidas e envolvidas pelos seus braços, a cabeça apoiada nos joelhos e um olhar cansado, sem brilho. Hoje era dia 24 de dezembro mais especificadamente 2:25 da madrugada, mais cedo Krystal havia me acordado para ver os primeiros flocos de neve a cair  na cidade desde o inverno anterior, ela via e até mesmo entendia o meu estado e tentava me confortar de qualquer maneira, mas pra mim estava sendo difícil, tudo parecia conspirar contra, seu celular tocando constantemente sem alguma notícia ou informação, a lingerie de tule no canto da gaveta me trazendo lembranças a cada minuto e até mesmo aquele aroma floral que parecia nunca deixar o quarto. 

Suzan mantinha-se calada desde então, não era algo do tipo que Suzan costumava fazer em situações como essa, mas por momento ela estava preferindo se manter submersa por seus problemas profissionais buscando afastar este tipo de problema capaz de afetar sua vida emocional.  Após todos estes sete dias de dúvidas eu estava determinada a ir atrás de respostas, já era hora de acabar com todo aquele suspense, eu sabia que precisaria enfrentar Suzan para ter Delphine de volta nem que fosse só por um momento. 

Então sinto meus olhos ficarem mais pesados e a brisa gelada do inverno passa a ficar menos perceptível, ainda conseguia me sentir feliz por essa situação não estar tirando meu sono, e se ainda não havia acontecido era devido a esperança que eu mantinha de reencontrar Delphine, sã e salva, eu não conseguia imaginar que Siobhan fosse fazer algo de tão ruim sendo tão próxima de Delphine, isso se essa maternidade for real. Então levo minha cabeça ao travesseiro e cubro meu corpo encolhido com um fino edredom e de repente tudo escurece e uma tranquilidade toma conta do meu corpo.

(…)

Acordo cedo. O som melódico e infinito de sinos vindo da rua estava mais para um desfavor a comunidade suburbana de Toronto. Normalmente essa carreata se passava nesse período afim de alertar que a véspera de natal havia chegado e com ela toda a sua magia. 

Eu não sabia como agir diante ao natal, nos últimos dias eu me sentia apenas como uma noite chuvosa esperando o sol. Os acontecimentos ruins pareciam ter mais impacto sobre as boas conquistas e isso me deixava preocupada com o meu estado emocional.

Foi então que Krystal entrou sem uma prévia permissão em meu quarto, carregava em suas mãos uma caixa média e uma pilha de papéis coloridos empilhados como se fossem uma agenda. Ao receber a inesperada visita levo rapidamente o fino edredom sobre meus seios e acendo a luminária a minha esquerda.

— Ahn…desculpa entrar de surpresa — fala Krystal preocupada — Você está bem?

— Estou sim, apenas estive pensativa.

— Você sabe que se precisar eu estou bem aqui — Krystal senta ao meu lado na cama e leva sua mão por cima da minha. — Tinha uma carta pra você nas correspondências.

Krystal então tira do meio do monte de cartas uma carta amarelada, feita em papel ecológico semelhante a aquelas cartas feitas nos séculos passados. A pequena carta não havia remetentes, na parte externa apenas estava escrito meu nome em letra cursiva com uma caneta preta. Assim que Krystal deixa o quarto, levanto e abro cuidadosamente a carta em minhas mãos.

"Cosima

A cada dia sem você, meus dias parecem ficar mais cinzas. Mas ainda me pego abraçada naquele vestido de cetin procurando reviver cada um daqueles nossos bons momentos, é como se naquele tecido vermelho eu conseguisse sentir todo o seu amor bem diante dos meus dedos e então eu consigo ficar feliz por alguns minutos. Ele é meu principal alicerce nesse momento, toda vez que toco nele eu lembro de você, a única que me motiva a continuar correndo atrás dos meus objetivos. Sim, é você que me faz querer conhecer muito mais que a mim mesma, você me faz querer viver intensamente! Então quero que saiba que estou mantendo minha promessa de mesmo estando longe, estar próxima a você. Quando você menos esperar eu estarei ao seu lado, construindo a minha vida junto a sua.

Je t'aime

Delphine Cormier."

Consigo ouvir Delphine recitando cada uma daquelas palavras e de repente um conforto corre em meu corpo e eu me sinto dentro de um abraço quente e reconfortante. Sento sobre a cama e cruzo minhas pernas em borboleta, por um momento todas aquelas palavras ressurgem em minha mente, um extenso sorriso preenche meu rosto e logo em seguida lágrimas de felicidade escorrem pelas minhas bochechas. Pelo espelho consigo ver a mais pura expressão de tranquilidade em cada músculo do meu corpo, eu sentia que aquela breve carta havia tirado um bom peso dos meus ombros, saber que Delphine estava bem era uma grande conquista.

Depois daquela surpresa inesperada, todo aquele desânimo parecia se esvair lentamente como areia numa ampulheta, me levanto animada, corro para o banho e visto uma roupa de cores vibrantes, em reflexo ao meu estado emocional.

Chegando ao Dyad, a minha até então parceira de laboratório, Gracie Johanssen, nem se quer me cumprimenta ao me ver. Gracie se movimentava freneticamente de um lado para o outro, aparentava estar claramente aflita com alguma coisa, em cima da mesa havia em emaranhado de papéis e no computador havia os dados de uma garotinha, provavelmente uma das nossas cobaias, Kirah Menning.

— Kirah? Você não me falou sobre ela. — pergunto após checar os dados no computador e não encontrar nenhuma informação.

— Kirah é uma das nossas principais pacientes. Ontem a noite sofreu um grave acidente após atravessar a rua sozinha em uma movimentada avenida de Salvador, no Brasil. — Gracie explicava o acontecido sem ao menos desviar os olhos dos papéis. — Kirah perdeu muito sangue, e como o sangue dela é nulo, um dos mais raros do mundo, precisou ser encaminhada as pressas para cá durante a madrugada. — Retomou.

— Caramba! Que irresponsabilidade com uma criança tão nova. — afirmo.

Grace vira-se em minha direção, em suas mãos carrega uma bandeja com 3 bolsas de sangue, deduzo que seja para Kirah.

— Esse sangue é difícil de encontrar, mas também não é impossível. — Afirma Gracie. — Passamos uma madrugada atrás, mas encontramos.

— Pensei que Delphine havia sido a doadora.

— Não, Cosima. Delphine sumiu a algum tempo, pois nunca soube lidar com os próprios problemas. — Disse Gracie com sarcasmo — Ainda bem que temos outras fontes, por que se dependesse dela…

Falava Gracie demostrando desgosto por Delphine, e então todas aquelas coisas que Delphine havia dito sobre Gracie naquela noite começavam a fazer sentido.

— Estaríamos na mesma. Afinal, Delphine não é uma zona de livre mineração... mas claro, ela tem um coração gigante, faria essa caridade. — Digo. — Mas se preferir encerramos o assunto por aqui, já que falar de Delphine deixa você desconfortável.

Gracie então vira em minha direção e leva as mãos na cintura. Ela ri e então começa a mover a cabeça de um lado para o outro em negação.

— Cosima, eu não estou interessada na sua namorada... ou sabe-se lá o que é — riu — Mas acho que é obrigação de uma mãe, doar sangue a uma filha.

Solto impulsivamente uma gargalhada alta, o que Gracie falava nem tinha sentido. Mas Grace continuava imóvel, sem demonstrar um pingo de ironia, então a ficha começa a cair.

— Estou falando isso pra você entender o porque características como essa batem. — Fala — É só juntar as peças Cosima... e começar cobrar transparência por parte dela.

— Eu não vou acreditar em você, você nunca teve consideração por ela, não me impressiona você criar teorias para me afastar de Delphine.

— As evidências estão bem debaixo do seu nariz. Ela não é a coitadinha que aparenta ser. E cá entre nós, eu duvido muito que esse seu sumiço repentino não tenha sido proposital. — Diz Gracie já pondo fim ao assunto — Por favor, Cosima, repõe as bolsas de sangue da Kirah no leito 24. Sabe como fazer isso?

— Você é podre, Gracie. — Digo ao me retirar daquele ambiente.

Gracie, diferente de Delphine, era astuta, nenhuma especulação traria problemas se caso fosse dita de forma gentil. No entanto, nesse caso, Gracie era o único problema, e Delphine nunca hesitou em afirmar isso. Mesmo todas as acusações sendo verdadeiras, era obrigação principalmente minha de desconfiar das intenções por trás dos fatos.

Percorri com pressa o extenso caminho entre o laboratório e os leitos, sentia uma breve angústia ao tentar compreender ou minimamente absorver toda aquela história um tanto quanto confusa. Foi quando abri aquela porta colorida dos leitos da ala infantil, naquele momento eu senti que a história tinha um enredo bem mais amplo do que estavam me revelando. Kirah possuía traços totalmente semelhantes aos de Delphine, como se as duas estivessem sido esculpidas pelo mesmo artista.

— Titia, quando vão me levar pra casa? — Perguntou Kirah.

— Assim que os médicos decidirem que você não está mais dodói.— Kirah então eleva os lábios pra frente fazendo biquinho. — E posso contar um segredo? — sussurro. — Me disseram que vai ser logo, logo.

A garotinha não hesitou em abrir um enorme sorriso no rosto. Para uma criança que sofreu um acidente na gravidade que ne foi informado, Kirah era uma tremenda sortuda que estava tendo um quadro incomum de recuperação. Foi então que sai do leito, e ao dar uma leve espiada pra trás, reparei que os olhos da garotinha discretamente começaram a ser cobertos por lágrimas. Tomei em minhas mãos a bandeja vazia e com um sorriso acanhado fechei a porta, percorrendo o restante do caminho de cabeça baixa e pensativa, muito pensativa até chegar ao laboratório.

Ao erguer o olhar, uma mulher muito semelhante a Delphine aparece em minha frente. Movimentava-se em gestos cautelosos sobre a porta, a mulher observava minunciosamente cada movimento daquele ambiente como se fosse uma câmera de segurança e em seu rosto carregava uma expressão vazia de um misto de raiva e decepção.

Eu tentava manter meus olhos atentos e fixados naquela mulher, procurando entender o que estava acontecendo mas principalmente tomando cuidado com qualquer ato involuntário que ela pudesse cometer contra mim. É quando ela olha assustada em minha direção e vira a cabeça, como se eu não estivesse ali, bem na sua frente.

As portas do elevador se abrem devagar e logo surge Gracie com uma pilha desordenada de papéis em seus braços, perambulando desatenta em minha direção. A mulher na porta do laboratório permanecia na mesma postura, como se soubesse que algo muito perigoso aconteceria ali naquele momento. Foi quando Gracie entrou no laboratório e então foi surpreendida pela visita inesperada.

— Aurora? Por que está aqui? — Falou Gracie. Agora era perceptível o nervosismo em sua voz, presumi que estava envolvida em algo muito sério, tanto ela, quanto Delphine.

— Oi de novo, Gracie! — respondeu Aurora com cínismo. — Eu avisei que voltaria. — Sorriu.

Tudo aquilo já estava indo de mal a pior, mas em um curto espaço de tempo tudo se intensificou. Aurora levou a mão sobre o bolso traseiro daquele seu jeans preto, onde tirou uma pequena arma de fogo e, antes que eu pudesse tomar alguma atitude contra, Aurora pegou impulso e golpeou brutalmente com a arma o rosto de Grace. Grace imediatamente despencou no chão, não conseguiu nem ao menos uma chance de reagir contra Aurora, e nem ousaria, visto que naquela situação ela estava em desvantagem.

— Se tentar interferir outra vez na nossa biologia eu mato você. É nossos corpos, nossos limites. — Disse Aurora.

Fechando as mãos em punhos, Aurora encarou Gracie sobre o chão e atirou em sua perna antes de sair correndo pela porta dos fundos. Fui atrás, se alguém sabia do real paradeiro de Delphine essa pessoa era Aurora. Ela andava incansavelmente sobre aqueles corredores, tinha tanta pressa que mal percebeu que eu a seguia. Foi então que entramos no banco de trás do carro preto. Mal eu sabia que aquilo mudaria minha vida pra sempre.

— Delphine? E… Shay? — Digo ao ver Shay tirando com pressa sua mão das pernas de Delphine. Delphine me olhava do banco do carona com certa culpa, como se estivesse procurando as palavras certas para se expressar.

—  Cosima... — Disse Delphine em quase um sussurro. Ao me ver o seu olhar ficou pesado e então as lágrimas desceram sobre a maçã do seu rosto. Há... lágrimas de crocodilo. Eu nem sabia mais se a Delphine que eu havia conhecido era real.

— Não precisa se desculpar, o erro foi meu por ter confiado tanto em você.— E então nada mais foi dito. Eu precisava acordar e perceber que tudo não passava  de um sonho, mas infelizmente era a realidade.

POV DELPHINE

Correr riscos nem sempre é fácil, porém é necessário. Sentar e esperar por justiça  não é a solução para quem perdeu tudo e procura o quanto antes um recomeço.

A uma semana atrás Cosima estava deitada em meu peito, planejávamos em nossas cabeças um futuro lindo e duradouro, mas agora estava tudo acabado.

(FLASHBACK)

 Abro meus olhos pela primeira vez após ser dopada por Siobhan, imediatamente aquela luz do pôr-do-sol invade meus olhos em uma intensidade avassaladora, levo meus dedos até o rosto tentando conter toda aquela luminosidade, sem ter sucesso com isso.

Então as portas do galpão ao meu lado se abrem num estrondo muito forte e logo vozes distantes surgem. Palavras eram ditas com total brutalidade, não havia distinções, assim como não me restavam dúvidas que ali estava ocorrendo algo muito sério.

— "Por quê a trouxe? Este não é o lugar dela."

— "Eu estou seguindo regras. Não vê o que está acontecendo na cidade?"

— "Siobhan, eu não suportaria passar por isso de novo. Você não aprendeu com tudo o que aconteceu, eu estou fragilizada, e-eu não posso…"

Então, como da água pro vinho, o meu vazio interior se transformou em emoção quando a vi. Após todos esses anos de espera, Aurora estava ali, a poucos passos de mim. 

Tê-la ali, só enfatizava o quão semelhante de mim e das outras clones ela continuava. Seu cabelo loiro permanecia amarrotado em um rabo de cavalo baixo e levemente bagunçado, como costumava usar quando éramos criança. Aurora raramente sorria ou expressava qualquer sentimento, mas por algum motivo, desta vez algo havia mudado. Parecia recuada em ter minha presença ali, e estranhamente seus olhos estavam cheio de lágrimas, aparentemente não de emoção, mas sim de medo.

— Aurora… — Estendo meus braços em sua direção e então Aurora se encaixa em mim com tamanha fragilidade — Você está bem?  Como é bom te ter aqui, esperei tanto por isso. — Digo ao olhar fixamente em seu rosto, enxugando delicadamente suas lágrimas com o polegar.

— Eu te amo, irmã. — Dizia Aurora ao acariciar com carinho a lateral do meu rosto. — Eu escolhi me manter distante pra sua própria segurança. Eu sou uma bomba relógio Delphine. — Aurora riu em meio a lágrimas.

— Não, Aurora, não. Você é a parte de mim que eu procuro a anos. — Então essas palavras escapam da minha boca e eu me sinto mais aliviada ao perceber que aquilo era real. — E eu sempre soube que isso aconteceria, você é uma sobrevivente Aurora. Você é quase intocável, coragem e resistência sempre foram suas características mais marcantes.

Foi então que seu rosto começou a ruborizar, seus lábios se comprimiram em curtos espasmos e rapidamente o pálido da sua pele foi substituído por um vermelho intenso. Imediatamente comecei a me questionar se aquela reação raivosa teria sido desencadeada por alguma coisa que eu tenha falado, mas antes que eu pudesse me desculpar, Aurora fecha as mãos em punhos, acerta sua perna com uma pancada e entra em uma crise chorosa. Siobhan vê de longe a cena e corre em nossa direção levando seus braços em torno do ombro de Aurora enquanto sussurrava continuamente que estava tudo bem.

— Neil, por favor, veja se a psicóloga já está no camp. Aurora está tendo outra crise. — Siobhan falava. Então o homem trocou poucas palavras com Aurora e a levou em direção a um pavilhão no lado contrário do galpão.

— Siobhan, eu sinto muito pelo que aconteceu, deve ter sido algo que eu falei sem pensar… — Tentava insistentemente me explicar enquanto lágrimas de culpa caiam sobre meu rosto.

Siobhan sorria com cautela enquanto acariciava a lateral do meu rosto e isso me trouxe curtos flashes da minha infância. Aquele momento me fez anular qualquer sentimento de raiva ou rancor que houvesse surgido anteriormente entre nós.

— Isso não é sua culpa e nunca vai ser, filha. — Senti meus braços arrepiarem quando Siobhan pronunciou a última palavra — Há alguns anos atrás éramos uma família completa, grande parte das suas irmãs ainda viviam aqui… — Siobhan suspirava feliz ao lembrar desse tempo. — Nos escondíamos de toda a perseguição que existia contra as clones Leda e até então achávamos que estávamos seguras aqui. Mas não, dia 19 de abril de 1999, vazaram informações referentes a nossa localização e então todas as 27 irmãs que viviam aqui foram levadas a força em um camburão preto da maldita Neoevolução. Aurora entrou em desespero pois era a líder desse camp, ela foi junto ao camburão e lutou até o fim. Uma pena que todo o esforço tenha sido em vão. No dia seguinte, todas as 27 meninas foram cruelmente massacradas, fizeram com que Aurora assistisse atentamente cada detalhe daquele massacre, impossibilitada de reagir. Eles queriam o sangue das garotas para desenvolver tecnologias retardantes do envelhecimento, mas principalmente, eles queriam se vingar de Aurora, por ter dificultado consideravelmente todo o serviço.

— Isso é tão desumano, onde você estava quando aconteceu essas coisas?

— Estava na cidade. Buscava os insumos para o tratamento das meninas. — De repente flashes de minha conversa com Suzan surgem, então me sinto culpada por nunca ter me interessado em buscar a fonte do tratamento as clones. — No dia seguinte ao sequestro, recebi uma ligação contando do ocorrido e informando a localização de Aurora. Então imediatamente fui as buscas, quando a encontrei no meio daquele campo… — Siobhan deixa as lágrimas caírem antes de conseguir terminar a frase. — Estava exausta, sem esperanças… eu nunca havia visto Aurora naquele estado. Então ela contou tudo, foi extremamente doloroso para todos nós do Camp X. Após esse dia, Aurora desenvolveu um transtorno, transtorno bipolar, desde então, estamos na luta para curá-la. Desde aquele dia, até hoje ela teve um grande progresso, mas essas coisas ainda abalam muito a sua saúde emocional.

— Onde ela está agora? Eu preciso me desculpar e depois partir, não quero ser prejudicial ao seu bem estar. — Digo me sentindo culpada.

— Você não pode ir. — Siobhan se apressou a falar. — Você fica aqui até que Suzan mande novas ordens. Ela acredita que Gracie é uma ameaça a você.

— Que? Vocês não podem fazer isso comigo, eu ainda tenho uma vida... e não estou sobre tutela daquela... — Me contenho. — Ela deveria aprender a lidar sozinha com os próprios problemas, afinal, não foi eu que colocou a Neoevolução nas nossas vidas.

— Você precisa entender que ela só está preocupada com a sua segurança. Foi a forma que ela encontrou de se redimir, te protegendo. — Diz Siobhan. Mal consigo levar uma só palavra a sério.

— Tanto faz. Entenda que agora que eu saio daqui, com ou sem a autorização, apenas pra fazer Suzan e o resto pagar por tudo. — Elevo a voz — Afinal, onde ela está Aurora, eu não vou perder meu tempo com a sua cara de pau. — Sem se preocupar em falar uma palavra, Siobhan aponta para o pavilhão atrás de mim, sigo a direção indicada e logo encontro Aurora.

Aurora se assusta ao me ver, olha cuidadosamente para todos os lados e tira o casaco marrom, me alcançando logo em seguida.

— Veste isso. — Aurora dizia apreensiva.

— Porque isso? O que você está fazendo. Eu vim por outro motivo. Você está bem? — Falava enquanto Aurora insistia que eu usasse seu casaco.

— Vai lá e finge que sou eu. — Não tive ao menos tempo de dizer não, Aurora me empurrou para uma sala, antes que ela fosse embora, me virei e disse

— Aurora, é a sua consulta, eu não posso fazer isso. Eu vim apenas me desculpar.

— Se desculpe assim então. — Então Aurora me empurrou novamente para aquela sala, logo de entrada fui surpreendida por uma mulher jovem sentada sobre a poltrona.

A psicóloga permanecia sentada naquela poltrona de canto, balançava a caneta em sua mão de um lado para o outro como se fosse um passatempo. Foi então que eu entrei na sala, um pouco ofegante e me apressei em me acomodar no sofá em sua frente, tudo o que eu precisava era que aquilo acabasse o quanto antes. Por sua vez, a psicóloga me encarou através da franja que caia sobre o seu olho intensamente verde e nada disse, apenas olhava profundamente em meus olhos esperando que eu falasse algo, o que não aconteceu.

— Então Aurora, como vem se sentindo nessa última semana? — Ela pergunta.

Por mais nervosa que eu estivesse, a mulher conseguia me fazer ficar a vontade ali, a psicóloga tinha um estilo que lembrava bastante o hippie e a sua expressão era totalmente acolhedora. Então a consulta foi tranquila, pensei bem em tudo o que falaria e com isso consegui arrancar muitas informações sobre Aurora e as outras irmãs que viviam por aqui, inclusive como havia se formado o Camp X, que era meio que o esquadrão da Aurora, soube mais sobre os acontecimentos daquela noite que... bem, eu prefiro não lembrar e das demais coisas que minha irmã precisou enfrentar. Tudo aquilo ainda me deixava horrorizada e por um lado eu parabenizava muito Aurora por ser uma sobrevivente e ter forças de seguir em frente depois daquilo.

Alguns minutos depois do primeiro contato, foi hora de dizer tchau, e só eu sabia o quanto eu estava ansiosa por isso.

— Ahn... —  Logo ao me virar em direção a saída a psicóloga limpou a garganta — Na próxima você não precisa fingir que é a Aurora.

Um arrepio percorreu toda minha espinha e minhas pernas travaram imediatamente. Por um curto momento me senti impossibilitada de encarar a mulher que estava serenamente sentada atrás de mim.

— Não era pra você saber. — Me senti uma idiota por achar que estava muito bem me passando por Aurora. No entanto, a mulher pouco se importou, apenas sorriu.

— Meu nome é Shay-Anne, foi um prazer te conhecer.

Shayanne falou com um notável sorriso de canto que me deixou um pouco desconfortável por parecer um flerte, e então eu tive a péssima ideia de usar isso como ponto favorável para a minha fuga.

— Delphine Cormier. Você é de Toronto?

Shayanne me olhou serenamente e sorriu.

— Sim. Por...? —  Respondeu melancólica.

— É sempre bom saber. — Digo, já tendo um plano quase esquematizado em mente.

Então foi assim que as coisas começaram a dar errado, por minhas visitas a psicóloga ficarem mais frequentes, Shayanne se aproximava cada vez mais de mim e cada vez mais meus planos ficavam arriscados. Havia um ponto que eu não media mais os riscos e nem via a quem ia prejudicar, fazia promessas e mais promessas a Shayanne até que conseguisse a convencer de dar um jeito de me tirar dali.

Nas últimas semanas meu passatempo favorito era sair para caminhar cedinho pela floresta e imaginar que Cosima estaria comigo o quanto antes, fazendo muito amor ou muitas loucuras científicas. Cosima havia ficado para trás e eu nem pude me despedir, seu vestido vermelho era o que no momento me fazia sentir mais próxima a ela, além de todo o meu amor.

Foi então que em um certo dia decidi escrever uma breve carta, só para que Cosima soubesse que eu ainda estava aqui, pedi para que Neil a entregasse e assim ele o fez. Também pedi a Neil que me levasse junto, mas ele negou a todos os meus pedidos e disse que a ordem de Suzan e Siobhan ainda era nos proteger e para isso precisaríamos continuar nos escondendo. O que ele não esperava era que esse era apenas o plano B.

Foi então que na manhã seguinte fui junto a Aurora na consulta, Siobhan dizia que isso poderia ajudar no desenvolvimento da nossa relação como irmãs. Mas, mais do que isso, pra mim era um refúgio dos olhos de Siobhan, toda aquela proteção já havia chegado em um nível doentio e todos já haviam notado, Inclusive Shayenne. Tendo isso, Shayanne propôs nos ajudar em uma possível fuga, estava disposta a correr o risco de passar por cima de pessoas poderosas, o que realmente me preocupava era o preço a ser cobrado.

Aceitei sem pensar duas vezes, seja o que for, não poderia ser pior do que viver sem o mínimo de autoridade e independência, Aurora, por outro lado, não concordou tão facilmente, tinha dúvidas sobre as reais intenções de Shayenne e de que lado ela estava de fato.

Mas logo uma motivação maior a fez mudar radicalmente de ideia, logo após a consulta, Aurora foi atacada no próprio Camp X por um grupo de homens enviados pelo Dyad após ir recolher as roupas do varal, então foram coletados dela algumas bolsas de sangue, sem a sua permissão.  Ao terminar, os homens apenas disseram “A Gracie vai ficar muito contente com a sua contribuição” , isso bastou para que a  sua decisão final sobre ir a cidade fosse tomada, não teria grandes diferenças entre estar no Camp ou na cidade, já que os  dois não eram mais tão seguros.

E então na manhã seguinte partimos cedo rumo a cidade, saímos escondidas na parte de trás do carro de Shayanne, sem parecer suspeitas, sem avisar ninguém sobre o que iriamos fazer ou onde estaríamos. A viagem foi longa, mas ainda chegamos a tempo do café da manha, foi então que Aurora aproveitou o momento para nos contar o que havia acontecido no dia anterior e nos contar que a sua única motivação por ter deixado o Camp era que já não se sentia segura por lá, o que era verdade, mas de fato ela tinha saído justamente para se vingar de Grace pessoalmente. Isso só ficou claro quando Aurora foi ao banheiro e nos fez espera-la por um tempo superior a 15 minutos, com isso eu soube que algo não estava certo. Aurora não estava mais naquela padaria, ela estava no Dyad que ficava a poucos metros dali buscando vingança pelo acontecido de ontem, eu sentia iisso.

Foi então que Shayenne e eu seguimos as pressas para o instituto, Shayanne sabia mais do que eu o quão perigoso era deixar Aurora sozinha numa situação dessas. No entanto, quando chegamos ao estacionamento do Dyad Shayenne não pareceu dar importância ao que estava acontecendo, por outro lado, a psicóloga levou sua mão direita no corte do meu jeans, seus olhos estavam vidrados e cada vez mais próximos dos meus.

— Por favor, para. — pedi com cautela

No entanto, isso apenas instigou mais Shayenne que ameaçou se levantar e vir pra cima de mim, até que um estrondo forte pode ser ouvido da porta traseira, era Aurora. Aurora entrou no carro vermelha como um pimentão, com a respiração muito ofegante e com um olhar apreensivo, eu mal conseguia identificar se o que eu sentia era preocupação por não ter noção do que havia se passado ou alivio, por conseguir escapar de Shayenne. Foi então que o inesperado aconteceu, em um curto período de tempo outro estrondo pode ser ouvido na porta traseira, Cosima entrou como uma fera e seu olhar foi reto em Shayenne, mais especificamente em sua mão, de repouso no meu jeans.

— Droga! — Sussurrei de forma quase inaudível ao notar que a mão de Shayenne ainda estava sobre minha perna.

— Delphine... E Shay? — Cosima falou com tamanho desdém e isso bastou para que um frio percorresse todo o meu corpo e me deixasse impossibilitada de argumentar qualquer coisa. Shay?... como eu não havia sacado antes? Estava tão cega com meus problemas, tão isolada no meu mundo que mal me dei por conta. E o pior de tudo isso é que sempre fez sentido. Então lágrimas correram sobre meu rosto, me sentia totalmente burra e irresponsável por reviver para a pessoa que eu amo um passado tão infeliz. E não só isso, por piorar consideravelmente tudo, colocar todos os nossos planos por água abaixo. Mas eu te amo...e vou consertar isso.



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