História Unidos Pelo Caos - Eu Vou Com Shane

Capítulo 10 – Eu Vou Com Shane

Quando finalmente parei para tomar folego olhei ao redor...

Não havia nenhum sinal de zumbie...

Não havia nenhum sinal de Daryl nem dos outros...

– Puta que pariu!!! – exclamei pondo as mãos na cabeça e girando no mesmo lugar.

Eu estava perdida.

– Droga! – eu exclamei andando de um lado para o outro. – Droga!

Eu ergui minha cabeça e olhei ao meu redor. Eu estava dentro de uma clareira muito pequena e inúmeras arvores me rodeavam por todos os lados.

– Daryl! – eu gritei. – Andrea! Glenn!

Mas não obtive resposta. A floresta continuava terminantemente silenciosa. Eu havia deixado à faca que Rick me dera cair pelo caminho e agora estava além de sozinha... Desarmada.

Comecei a caminhar lentamente olhando para todos os cantos tentando lembrar-me de algum ponto de referência que me fizesse lembrar o caminho de volta, mas por mais que eu me esforçasse não conseguia me lembrar da passagem pelo qual eu viera.

Então, aos meus ouvidos, chegou um som detestável e desprezível. Em meio a engasgos e espasmos vinham se arrastando por entre as arvores os dois zumbies que eu tentara despistar, mas parecia que o meu cheiro os atraiu para a trilha certa. Eu me escondi atrás de uma árvore particularmente grossa e observei pela fresta.

Os dois zumbies se arrastavam lentamente, mas ao mesmo tempo atentos a qualquer movimento. Uma mão agarrou-me por trás e me derrubou no chão coberto de folhas. Eu me apavorei, era um dos zumbies... em seguida subiu em cima de mim pronto para me abocanhar. Eu juntando minha força tentei afasta-lo mantendo sua boca longe de mim. De relance vi que, para minha sorte, o segundo zumbie havia se enganchado em um galho de árvore e agora tentava inutilmente se libertar.

Eu estava nas portas do inferno novamente...

Como em nome de Deus uma pessoa podia ser exposta a tantos perigos em um único dia?

Se eu estava viva até agora foi só por causa dele... Daryl salvara minha vida. Se eu estava viva até agora foi por causa do caipira. Mas como ele mesmo havia dito ao enfiar a faca em meu cinto “nem sempre estaria ao meu lado para salvar minha vida o tempo todo.”.

Espere um momento!

A faca!

Isso mesmo! Daryl não estava ali, mas com certeza salvaria minha vida... De novo.

Eu segurei o zumbie pelo pescoço com uma mão e com a outra eu tateei meu cinto em busca da faca, quando encontrei a cravei com toda força na cabeça.

O sangue esguichou sobre mim ao sentir seu corpo desmoronar inerte sobre o meu. Eu descansei meus braços, porém, não tive tempo de respirar aliviada; o segundo zumbie se soltara finalmente do galho e agora avançava em minha direção.

Eu não tinha muito tempo...

Eu joguei o cadáver para o lado e me levantei em tempo de enfiar a faca na cabeça dele também. Quando o zumbie caiu no chão eu me afastei até bater com as costas em uma árvore e escorreguei para o chão envolvendo minhas pernas com os braços e desatei a chorar... eu ainda estava em choque com o que eu havia feito. Eu conseguira lutar sozinha pela primeira vez. Assim como eu devia ter feito com meus pais...

Eu ouvi passos novamente e levantei meu rosto.

Quando o vi, uma felicidade sem precedentes explodiu dentro de mim e eu me levantei ainda chorando, mas ao mesmo tempo sorrindo e o abracei. Pelo ombro de Daryl pude visualizar Andrea e Glenn tão atordoados quando ele. Eu senti suas mãos envolverem minhas costas quando retribuiu o abraço.

– O que aconteceu aqui? Por que você fugiu? – Andrea perguntou como se fosse fazer um sermão.

Daryl me afastou dele para poder me analisar.

– Você está bem? – ele me perguntou. Eu assenti com a cabeça. – Você matou os dois, sozinha?

– Sim... graças a você. – Eu respondi-lhe mostrando a faca.

Daryl assentiu em silencio. Parecia preocupado, mas se estava ou não ele não disse nada.

– Temos que procurar a Sophia. – Glenn disse quebrando aquele momento tenso entre nós. De repente nos lembramos do verdadeiro motivo para estarmos no meio daquela mata.

– É vamos voltar a pro... – Começou Andreia, mas emudeceu-se ao ouvirmos um disparo de arma. Ela nos olhou assustada. – O que foi isso?!

– Eu acho que encontraram a Sophia. – Eu respondi. Então nós corremos em direção ao tiro e vimos Rick e Shane debruçados sobre Carl.

– Oh meu Deus! – eu exclamei me abaixando para Carl e analisando seu ferimento.

– Emily, por favor, salva ele. Você é enfermeira, salva ele. – Rick falou desesperado olhando para mim súplice.

– Rick... não dá aqui. Ele tomou um tiro à gente tem que levar ele para a estrada.

Enquanto discutíamos os prós e contras, um homem gorducho e redondo apareceu com uma doze na mão. Andreia, Daryl e Glenn apontaram as facas para ele.

– Oh santo Deus! O que eu fiz? – ele disse ao ver a cena.

Então ele disse que morava em uma fazenda que era muito próxima do local e que o dono era médico. Rick não pensou duas vezes e pegou Carl no colo.

– Emily vem com a gente. – Eu assenti, ainda estava atordoada pelo tiro que Carl levara e faria tudo que estivesse em meu alcance para ajudá-lo.

Rick começou a correr sem parar atrás do homem, Shane mandou os outros voltarem para a estrada e avisar os outros e em seguida também correu atrás do Rick. Eu me virei para Daryl.

– Você vem comigo? – perguntei.

Ele olhou para minha roupa e meu rosto cheio de sangue de zumbie e confirmou com a cabeça. Nos pusemos a correr atrás dos outros.

Ao sairmos da floresta nos deparamos com uma fazenda grande e corremos para lá. Uma mulher de cabelos curtos ao nos ver correu para dentro as casas e voltou depois acompanhada de um homem idoso de cabelos brancos.

– Ele foi mordido? –  Foi a primeira coisa que perguntou.

– Não! Ele foi baleado pelo seu amigo! – Rick respondeu.

Então o homem mandou que a gente entrasse na casa e começou a dar ordens nas pessoas que moravam ali, solicitando coisas como analgésicos e toalhas brancas.

Rick depositou Carl em uma cama e o médico analisou o ferimento.

– Vou precisar de ajuda... – disse ele.

– Eu ajudo! – respondi. – Sou enfermeira.

– Ótimo. – Ele respondeu. – Vou precisar de você... agora os outros saiam do quarto por favor.

Eu observei Daryl sair do quarto atrás de Rick e Shane. Ele ainda olhou para mim como se quisesse dizer “vai dar certo”.

Ficamos trancados cerca de meia hora tirando os estilhaços da bala. Quando saímos da sala, descobri que Shane já ido chamar os outros que agora estavam acampados lá fora. Lori estava junto de Rick em prantos e Rick estava pálido, pois o fizeram doar sangue. Daryl estava parado ao sopé da porta com os braços cruzados.

– Como ele está?! – Rick perguntou para nós.

– Bem, mas ainda tem muitos estilhaços e precisaremos fazer uma cirurgia se não ele morre. O problema é que precisamos de um respirador, ataduras e equipamentos cirúrgicos que não temos aqui em casa.

– E onde podemos buscar tudo isso? – Lori perguntou.

– No hospital da escola tem tudo que precisamos... – Hershel disse. – Mas o local está tomado, tem muitos zumbie por lá.

– Eu vou até lá. – disse Shane se oferecendo para ir à missão que parecia ser suicida. – Eu não sei onde é então se puderem me dar um mapa.

Otis olhou para Shane e disse que iria junto, pois afinal ele era o responsável de tudo aquilo.

– Mas vocês nem sabe que produtos são esses? – Lori perguntou com lágrimas nos olhos.

– Eu sei... – eu respondi dando um passo a frente. – Eu vou junto.

– O quê?! – Daryl que até então não havia se manifestado falou entrando na sala.

– Eu vou junto. – Eu repeti para ele. – Eu conheço os equipamentos de que precisamos e não adianta mandar o Shane lá se ele for trazer coisa errada. Não temos tempo.

– Você não vai lá! – ele disse veemente como se sua palavra fosse lei pondo um ponto final no assunto.

– Meu filho está ferido, Daryl. Ela tem que ir... O Shane vai junto e... – Lori tentou argumentar olhando suplicante para mim.

– O Shane? Eu tô nem aí para o Shane. Se acontecer alguma coisa lá não é ele quem vai proteger a Emily! – Daryl disse irritado. Não estava dando certa aquela conversa. Eu não entendia o porquê de Daryl está me protegendo, mas não importava o que ele dissesse, eu iria junto.

– Shane vai preparar as coisas eu já vou. – Eu disse para ele. – Daryl pode me acompanhar até lá fora?

Ele não respondeu, mas me seguiu de má vontade. Nós caminhamos até um canto reservado.

– Por que você está fazendo isso? Ficar bancando a boazinha? Você ouviu o que ele disse lá está tomado de zumbies!

– O Shane vai junto e vai me proteger... – eu tentei argumentar, mas ele não queria me ouvir. Daryl me segurou pelo ombro e me encarou.

– Não vá.

Eu olhei para seus olhos azuis e lutei internamente para ignorar suas palavras. Daryl me pedindo para não ir era no mínimo notável.

– Não me impeça, Daryl. O Carl precisa de mim. – Eu respondi desviando de seus olhos e andando em direção a casa.

– Se você for não conte comigo para mais nada! – eu ainda pude ouvir ele gritar, embora aquelas palavras me atingiram de uma forma inexplicável eu continuei a caminhar até o grupo que já estavam fazendo os preparativos para a nossa saída.

Eu peguei uma mochila e coloquei algumas coisas dentro dela. Peguei a faca que Daryl me dera e a limpei. Tirei a blusa ensanguentada e troquei por uma camisa preta.

Quando estávamos prontos, Shane me chamou para entrar no carro. Eu me despedi dos outros e segui em direção ao carro.

– Emily.

Eu olhei para trás e vi Daryl caminhar em minha direção com a besta na mão.

– O que você quer? – eu perguntei.

Ele caminhou até chegar mais perto antes de falar.

– Você não vai mesmo pensar no que eu disse?

– Não. – Respondi sem encara-lo.

– É uma teimosa mesmo! – ele exclamou ainda não conformado com minha decisão. – Eu vou com você então.

– Não. Você não vai. Eu não vou deixar. – Eu respondi séria. É claro que eu não ia deixa-lo ir comigo. – Eu já disse que estarei protegida, eu ficarei menos preocupada se souber que ficou alguém aqui para cuidar do grupo... O Rick não está muito bem.

– Então leve isso com você. – disse ele tirando um revólver do bolso e me entregando. – Sabe usar, não é?

Eu sorri para ele pegando a arma e colocando– a no bolso da blusa.

– Eu sei destravar a arma. – Eu respondi lembrando-me do dia em que ele me ensinou a usar uma arma.

– Não faça nada que eu não faria. – Ele respondeu virando-se para sair. Eu coloquei a mão em seu ombro e ele parou. Eu me aproximei dele e nas pontas dos pés e beijei seu rosto. Agora não me perguntem por que eu fiz aquilo, na verdade nem eu mesma sabia por diabos havia feito aquilo. – Até mais caipira... – eu disse brincando com ele.

– Até patricinha. – Ele respondeu sorrindo, porém não houve ironia e nem raiva. Daryl só estava sendo ele mesmo.