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História Unidos Pelo Caos - Nunca Se Afaste De Mim


Escrita por: Monique_Dixon

Notas do Autor


Ola minha lindas leitoras!
O cap demorou muito mais do que eu previra.
Meu computador queimou a fonte e como ja estava dando pau a algum tempo, eu comprei um novo, então até formatar, instalar programas, e tudo mais, acabou atrasando o cap.
Mas como eu havia dito eu Nunca vou abandonar a fic
Obrigada a todas que continuam acompanhando a Fic e que não a abandonaram
Vamos dedicar este cap a todas que comentaram e em especial a ** ~Ray_Duff** ApequenaDoHoran**~YasminLago1**~I_love_horan **~thais16 que favoritou a Fic
Obrigada meninas e
Boa Leitura:

Capítulo 36 - Nunca Se Afaste De Mim


–Estranho, não? Que o Governador não tenha tentado outro ataque. –disse-me Leander puxando assunto certo dia.

Estávamos eu e ele, sentados no pátio. Eu esfregava uma bota minha com um escovão enquanto ele me fazia companhia. Sorte a minha que Le não tenha levado a serio as ameaças de Daryl sobre se afastar de mim. Desde a última briga, onde Daryl bateu nele, que os dois não tem se falado. Daryl não gostava de minha aproximação com Le, mas desde quando eu precisava da opinião dele para fazer as coisas?

–Não sei... –respondi erguendo os olhos para ele com a testa franzida por causa da claridade do sol. –Tudo isso é muito estranho. Rick não falou nada sobre o que aconteceu naquela reunião que teve com o dito-cujo. Ele, Daryl e Hershel tem andado estranhos. Até mesmo o panaca do Merle não tem se comportado como um imbecil nesse ultimo tempo.

Eu voltei minha atenção para a bota e continuei a esfrega-la.

–Mas acho que se fosse algo muito ruim, Daryl teria me contado. –eu acrescentei mais para mim mesma do que para ele.

–Será? –Leander deixou pairar no ar. Ele evitou me encarar quando olhei para ele com a sobrancelha arqueada.

–O que quer dizer? –perguntei.

–Bem, Emi. Não sei se sou a pessoa mais indicada para dizer alguma coisa sobre isso... –ele falou parecendo muito constrangido como se soubesse de algo e estivesse como receio de me contar.

–Le... no que você está pensando? –eu insisti de maneira controlada, pois não queria pressioná-lo.

–Nada em especifico. –ele falou depressa demais. –Só acho que o Daryl não parece o tipo de pessoa em quem você pode confiar... quero dizer, você não sabe nada sobre o passado dele... se nós usarmos o irmão dele como exemplo...

–Não diga bobagens Le. Eu confio no Daryl e sei que ele confia em mim e isso já me basta. –respondi amigavelmente sorrindo para ele que de repente parecia desconfortável e mal humorado. Não dei muita atenção, pois a meu ver, Leander estava era com medo de Daryl e nada mais que isso, Afinal, Daryl botava medo em qualquer um.

Leander não respondeu, ao invés disso levantou-se de súbito e disse que precisava ver a Carol. Aquilo era um pouco estranho, mas não inusitado. Nos últimos dias os dois têm conversado com bastante frequência, não que isso seja de minha conta, é claro.

Ele se afastou e eu voltei a minha atenção a bota; como estava suja. Mas também andar por todo aquele barro num dia de chuva não daria outra. Outra pessoa se aproximou e sentou-se no mesmo local que Leander deixara. Como achei que fosse Daryl, nem ergui a cabeça. Eu e o caipira andávamos hostis um com o outro desde que eu o vira com Carol na ultima noite.

–É, você realmente sabe como fazer meu irmão perder a cabeça, não é Pequena? –era Merle com sua desagradável presunção na voz. –Olha que nem mesmo eu consigo isso com frequência...

–O que você quer? Veio me dar os parabéns? –eu perguntei fechando a cara. Odiava a presença de Merle. Era como se o Merle fosse a copia de tudo que eu não gostava no Daryl e um pouco mais.

–Calma aí, Pequena... que modos são esses? –ele devolveu as gargalhadas. –Eu só vim lhe perguntar se viu a Michonne por aí?

–Michonne? Você está procurando por ela? –eu arregalei os olhos, surpresa. –Vocês dois são como cão e gato... Por que quer ver ela?

–Rick pediu para nós dois fazermos um servicinho na cidade. –ele respondeu evasivo.

–E eu acredito nessa historia. –rebati cética e irônica.

–Você viu o não, boneca? –ele insistiu.

–Não. Não vi.

Merle então se levantou arrumando o cós da calça e depois espreguiçou os braços. Ele estava mudado. Mais quieto que o normal. Não tinha mais tantas piadinhas sacanas e sem graça para nos insultar. Ele abaixou os olhos sérios para mim e algo em sua expressão me fez ter um péssimo pressentimento.

–Cuida do meu maninho... –ele me recomendou e então começou a falar mais para si mesmo do que para mim. – Eu não estarei aqui para protegê-lo sempre... Aquele ótario sente algo por você que eu jamais vou entender na vida. Não desperdice isso.

Então saiu. Realmente aquele dia estava estranho. Na verdade, depois daquela reunião com o maldito Governador todos tem se comportados estranhos, mas nada se comparava ao Merle agora. O que ele queira dizer com “cuide do meu maninho” parecia mais uma despedida do que um concelho. Um calafrio na minha espinha me manteve alerta. E o que ele queria com Michonne?

–Merle! –eu o chamei, mas ele já tinha desaparecido dentro do interior da prisão.

 

* * *

Daryl:

 

Já fazia um bom tempo que eu procurava por Merle e nenhum sinal dele em toda a prisão. Tudo bem que ele estava se comportando diferente por causa da falta de drogas tanto que até rasgara inúmeros colchões atrás de baseado, mas sumir de vez?

Então aquela conversa que tive com Rick e Hershel me veio à mente. Rick havia nos dito se entregássemos a Michonne o Governador nos deixaria em paz. Eu havia sido contra, mas Merle foi a favor e desde então tem se comportado de maneira esquisita. No fim Rick acabou ouvindo a voz da razão e desistiu do plano.

–Achou ele? –Rick me perguntou. Ele também estava procurando pelo Merle.

–Não. –respondi balançando a cabeça então uma ideia me ocorreu. –Sabe, eu acho que ele sequestrou a Michonne. Ele estava dizendo coisas como você ser covarde e não ter coragem para isso...

Rick passou as mãos pelos cabelos, frustrado.

–Eu vou atrás deles. Eles devem estar perto. O Merle não pegou nenhum carro.

–Não. Deixa que eu vou. Ele é meu irmão, vai me ouvir. Eu trago os dois em segurança. –e quando parecia que Rick ia protestar eu acrescentei. –Você tem sua família aqui, cuide dela.

–Você também tem uma família aqui... –Rick respondeu. Eu ergui meus olhos para ele sem entender.

–A Emily. Ela é sua família agora, não é? –Rick me perguntou sério.

Eu demorei a responder. Nunca tinha pensado nisso e agora que Rick colocava as coisas desta maneira, percebi que ele tinha razão.

–Eh. –respondi indiferente não deixando transparecer as duvidas que me surgiram naquele momento. Não queira admitir mais aquelas palavras me fizeram um grande efeito, só não descobri se foi bom ou ruim. Eu peguei minha besta e coloquei-a no ombro. –Cuida da Emi e não fale nada para ela. Não quero preocupa-la.

–Certo. –Rick assentiu.

–Estaremos de volta antes mesmo que ela perceba. –eu tentei esboçar um sorriso, mas saber que eu ia sair para resolver um problema sem poder me despedir dela me deixava inquieto.

Dei as costas a Rick e peguei minha moto e sai para o pátio. De lá, portão a fora, segui pela estrada. Quando Emily se desse conta, eu já estaria voltando. Pelo menos era isso que eu esperava. Afinal não queria preocupa-la.

 

* * *

Emily:

 

 

“Rick teve uma reunião com o Governador...”

“O Governador havia dado uma ‘trégua’ a prisão...”

“Todos agindo de forma estranha...”

“Mele procurando por Michonne...”

“Merle e Michonne sumiram...”

Meus pensamentos não paravam de trabalhar nas inúmeras informações. Não fazia sentido... determinada em encontrar a verdade naquilo tudo fui atrás de Daryl. Não sabia como aborda-lo, mas eu arrancaria a verdade dele de uma vez por todas.

–... Carol. –eu parei de súbito.

Como Daryl parecia ter sumido da face da terra naquele momento, eu fui procura-lo no único lugar que ainda não tinha olhado: nossa cela. Mas para minha surpresa quase me choquei com alguém que estava lá dentro.

Era Carol.

Ela estava com algumas peças de roupas nas mãos.

–O... o que faz aqui?-eu a perguntei surpresa e sem querer, um pouco ríspida.

–Olá Emily. –ela sorriu para mim como se invadir a minha cela fosse à coisa mais normal do mundo. –Eu só vim pegar umas roupas do Daryl para lavar... vou aproveitar que o sol está lindo hoje.

–O-OK. –respondi bobamente. Parecia que as palavras me fugiram da mente. Eu não sabia se agradecia ela ou a mandava ir embora da cela.

Carol parecia radiante demais. Era como se estivesse satisfeita com alguma coisa. Como algo que ela almejasse muito tivesse acontecido. Ela se curvou para uma blusa que caíra no chão.

–Ah... Essa é a minha favorita! O Daryl fica tão bem nessa camisa... –ela suspirou abrindo um enorme sorriso. –Você não acha?

–Sim... eh... –respondi ainda tentando entender onde Carol queria chegar com tudo aquilo. –Você viu o Daryl por aí?

–Não. –ela respondeu distraída enquanto escolhia mais algumas peças de roupas. –Sabe como ele é... só faz o que lhe dá na telha. Eu também precisava falar como ele. Daryl ia me ajudar a arrumar as grades do fundo.

Eu a observei em silencio. Carol finalmente pegara tudo que precisava e saiu da cela sem dizer nenhuma palavra. Ainda sorria e quando deu as costas começou a assobiar uma musica.

Eu também saí da cela e fui atrás da segunda pessoa que poderia me esclarecer alguma coisa. Rick estava guardando algumas armas dentro de uma bolsa. Eram tantas que quase não tinha espaço para que eu pisasse. Ele e Michonne outo dia, tinham ido a uma cidadezinha atrás de armamento e acabaram achando a minha de ouro das armas.

–Rick eu quero falar com você e não adianta mentir para mim. O que está acontecendo com você, o Merle e o Hershel? E cadê o Daryl?

Rick franziu a testa fazendo seus olhos azuis se estreitarem severamente. Seu maxilar enrijeceu como mármore. Então ele levou a mão à cabeça e alisou os cabelos. O mesmo gesto que sempre fazia quando tinha algo muito serio para contar.

–Nada, Emi... o Daryl deve estar por aí, não sei... –ele começou a falar, mas parou diante de meu olhar assassino.

–Rick, você não me engana. Eu sei quando está preocupado. Eu o conheço bem assim como todos aqui dentro.

Rick virou-se para o outro lado evitando me encarar. Parecia travar uma batalha interna onde um lado queria me contar algo e o outro lado não deixava. Por fim, ele relaxou os ombros e se virou para mim. Sua expressão parecia muito cansada como se tivesse envelhecido muitos anos de uma única vez.

–Você tem razão Emily. Tem algo que eu não contei a você e nem ao pessoal... –ele falou como estivesse se desculpando.

–O que você escondeu?

Imediatamente mudei meu tom de voz para algo que eu julgava ser “compreensivo”, mas que Rick deve ter julgado como “acusatório”, pois arregalou os olhos brilhantes para mim.

–Venha... eu preciso falar isso para todo mundo reunido. –Rick então pegou meu braço e me levou junto com ele para o pátio.

Chamou todos os sobreviventes da prisão para que fizessem uma roda em volta dele. Rick subiu em um banquinho de madeira e respirou fundo. As pessoas se aproximaram com expressões tão confusas quanto a minha. Reparei que os únicos que não estavam presentes eram Daryl, Michonne e Merle.

–Quando me encontrei com o Governador... ele me ofereceu um acordo. Ele disse que nos deixaria em paz se estregássemos a Michonne... –Rick confessou. Maggie e Glenn exclamaram baixinho. Eu arregalei os olhos. -...e eu ia fazer isso para nos manter a salvo...-Rick fez outra pausa, mais longa que a primeira -Mas eu mudei de ideia e agora o Merle pegou a Michonne e o Daryl foi atrás dele e eu não sei se é tarde demais...

“Eu errei!” ele exaltou “ em não contar pra vocês! Sinto muito...”

Rick continuou a falar, cada vez mais alto, mas eu já não prestava mais atenção. Minha cabeça estava a mil naquele momento. Tudo estava explicado. O fato de Merle estar atrás de Michonne, o sumiço dos dois e o pior: Daryl foi atrás dele e sozinho. Eu me distanciei do grupo sem que ninguém notasse minha ausência e fui até a sala onde eu encontrara Rick. Peguei um rifle e duas pistolas. Quando me virei para sair choquei-me com alguém. Ergui meu rosto a tempo de ver que era Leander.

–Onde pensa que vai? –ele me perguntou com severidade.

–Não é de sua conta, Le. –respondi em defesa. Então desviei dele para sair.

–Você vai atrás dele, não é mesmo? –Leander insistiu. Ele se posicionou na porta de modo que não havia como eu atravessa-la. –É perigoso. Você tem que ficar aqui. Esta segura aqui dentro.

–Le... você não entende. Eu tenho que ir atrás do Daryl. Sempre que eu precisei ele veio em meu socorro e eu preciso fazer o mesmo por ele. Me deixe passar.

–Não, Emily! Você não pode ir. –ele rugiu desesperado. -Eu... eu não posso deixa-la ir sozinha.

–Me de um bom motivo. –eu falei para ele.

–Eu... eu amo você, Emi! –ele exclamou para mim e lagrimas saltaram de seus olhos claros. Seus ombros relaxaram e ele parou de segurara a moldura da porta.

Eu estaquei onde estava e o encarei como se fosse a primeira vez que o visse de verdade. Leander me amava? Mas que papo doido era esse que eu ouvia?

–Le... eu não estou entendendo... –eu comecei.

–Faz algum tempo... –ele respondeu pausadamente, como se estivesse pensando na melhor forma de me contar. –Eu não quis te contar por que no fim achei que você já soubesse, mas você só tem olhos para aquele caipira que tanto te trata mal! Veja Emi! Rick admitiu que ele estava por dentro de todo o plano de sequestrar a Michonne e mesmo assim não te contou nada!

Eu ouvia as acusações de Leander sem prestar muita atenção de fato. Ele confessar que me amava me fez retornar ao passado, em todos os momentos em que eu e ele estávamos a sós, nas nossas conversas, o jeito carinhoso como me tratava... Eu era uma burra de não ter reparado nisso antes. Todos deviam ter notado menos eu...

–Você não diz nada... –Leander falou se aproximando ao notar me silencio.

Eu ergui os olhos um pouco estabanada para ele e lhe sorri gentilmente.

–Le, é uma grande surpresa saber disso, mas... eu... não tenho como lhe retribuir da forma como você... como você espera. –eu falei escolhendo as palavras para não magoa-lo. Leander arregalou os olhos, ferido. –Entenda apesar de o Daryl ser tudo aquilo que você diz, apesar de toda a grosseria dele, e da forma rebelde como se comporta eu o amo. Amo muito. Não posso deixa-lo lá fora sozinho. Tenho que ir atrás dele.

Leander sem nada dizer, se afastou frustrado. Seus olhos desfocaram e ele respirou fundo, me fazendo lembrar-me de Shane que sempre fazia isso quando descordava de alguma opinião.

–Eu sei Emi... –ele falou por fim. –Finalmente percebo o que está bem obvio. Não posso força-la a ficar, mas me ofereço para ir como você.

Eu arregalei os olhos surpresa, Le parecia estar abatido, mas ao mesmo tempo, conformado.

–Não precisa, Le. –eu respondi. –Acho que é algo que eu preciso fazer sozinha...

Sem esperar respostas, atravessei a porta e saí em direção aos portões. Eu iria atrás de Daryl. “Le gostava de mim” essas palavras não saiam de minha mente. O que Daryl diria agora se soubesse? Eu tentei afastar os pensamentos de minha mente, havia algo mais importante em que pensar no momento. Havia pelo menos cinco carros estacionados com os para-choques voltados para a saída. A moto de Daryl não estava lá então supus que ele a levou. Decidi-me por fim a pegar a picape vermelha. Pois assim poderia por a moto atrás e antes que alguém desse conta, eu já tinha atravessado o portão e seguido pela estrada principal.

Eu comecei a dirigir pela estrada meio que a cegas. Meus pensamentos a mil por hora. Eu me limitava apenas em encontra-los no meio do caminho, mas em volta e meia, as lembranças de minha conversa com Le voltavam à minha mente. Ele parecia abatido e atenuado.

Calculei mentalmente o período da ausência de Daryl. Fazia uma hora que eu não o via e mais duas que eu não via nem Michonne e nem Merle. “Eles devem estar bem longe a este momento” pensei comigo.

Algo passou a minha frente, muito rápido me fazendo girar o volante com tudo para a esquerda, para desviar. Os pneus cantaram e eu frei com tudo. Era um zumbie. Ele me viu e veio se arrastando até o carro. Eu respirei fundo para me acalmar do susto e depois pisei no acelerador novamente. O carro se pôs a rodar. Agora que o susto passara, eu me perguntava se foi uma boa ideia sair sozinha sem comunicar ninguém.

“Leander os comunicou, tenho certeza.”

Era muito perigoso. Eu olhei para o banco do carona e me certifiquei que as armas estavam certas e em ordem.

Após quase quarenta minutos na estrada, encontrei uma moto parada na beira da rodovia. Eu diminui a velocidade e encostei o carro atrás da moto. Desci do banco do motorista e peguei as armas. O Rifle eu prendi nas costas como se fosse uma mochila, uma pistola coloquei em meu cós da calça e a outra eu levei a mão. Fechei a porta do carro e tirei a chave. Aproximei-me da moto. Era de Daryl. Eu tinha certeza, mas cadê ele?

Sem fazer nenhum ruído caminhei pelas ruas. Havia casas dos dois lados de uma rua estreita demais para passar um carro e entulhada demais para passar qualquer coisa. Carros batidos, corpos, móveis, lixo em geral. De todas as casas apenas uma estava com a porta aberta e foi para ela que eu segui. Daryl devia estar perto. “Será que encontrou Merle e Michonne?” eu me perguntava esperançosa, mas ao mesmo tempo com receio.

Próximo à porta aberta tinha um zumbie que era evidente havia sido abatido há poucas horas. O seu sangue escuro e pastoso ainda escorria pelo chão. Eu empurrei a porta com uma das mãos enquanto coma outra, mantinha a arma na altura do rosto apontada para frente. O assoalho de madeira empoeirada rangeu quando coloquei o primeiro pé dentro da casa. Em meio ao silencio o barulho saiu com estrondo. Andando mais devagar e pisando mais leve que antes, me coloquei para dentro da casa.

Dei poucos passos quando ouvi um barulho de rosnados e grunhidos vindo de uma porta no fim do corredor. Eu caminhei até lá e abri a porta. Um zumbie que estava trancado na sala avançou em mim. Como era um só, eu peguei minha faca e o acertei. Ele caiu no chão com um baque forte fazendo a casa toda tremer.

Vindo da cozinha, ouvi mais passos. Meu sangue congelou. Se na casa tivesse mais zumbies seria difícil dar conta sozinha e depois correr. Eu me virei em direção ao barulho e ergui a pistola.

–Merle? Michonne? –alguém perguntou em voz baixa saindo por outra porta. A luz reincidiu sobre ele e pude então ver seu rosto. Era Daryl.

–Graças a Deus! –exclamei abaixando a arma e correndo para ele. Daryl tinha a besta na mão e me olhava como se mal acreditasse no que estava acontecendo.

Eu me joguei em seus braços e o apertei. Era tão bom estar presa em seus braços novamente. Daryl não me abraçou. Ao invés disso me afastou dele com cara de poucos amigos.

–O que você faz aqui?! –rosnou mau humorado para mim.

–Daryl, eu... eu estava preocupada. –respondi um pouco espantada com sua reação.

–Como soube que eu estaria aqui?! –ele me perguntou ainda muito nervoso.

–Rick nos contou toda a verdade... sobre a Michonne, sobre tudo... –respondi um pouco triste, pois mesmo que estivesse muito contente em vê-lo, estava magoada por ter me escondido tal coisa.

–Bem que o Merle disse que Rick não tinha pulso firme... –ele divagou. Então se lembrando de que eu ainda estava na sua frente, voltou a carga. –Isso não te dá o direito de vi aqui! Que teimosia, garota! Mas que diabo! Quem mais veio com você?

–Ninguém... eu vi sozinha. –respondi cabisbaixa, já me preparando para o bombardeio.

–Porra garota! Você é retardada ou o quê?! Sair sozinha desse jeito! Você acha que está na Disney em um dia de férias! Acorda pra vida! Tem zumbies por toda parte e os homens do Governador estão rondando por aí! E se eles te pegam novamente e se te fazem aquilo de novo e se... –então ele parou de berrar. Seu semblante mudara, parecia que um pensamento ruim lhe veio à mente.

–Ei! Você não tem direito de me cobrar nada! Você mentiu para mim! Eu vim por que estava preocupada como você! –eu rebati apontando o dedo para o peito dele. -Eu quase bati o carro ao atropelar um zumbie e é assim que me trata?! Retardado aqui é seu irmão! Ele acha que o Governador vai nos poupar, ele está muito enganado.

Então dei as costas para ele e comecei a caminhar pela casa. Inacreditável como Daryl podia ser um cabeça dura. Ele ainda ficou bufando nervoso.

–Patricinha maldita! Teimosa do inferno. –resmungou enquanto voltava à cozinha da casa.

–Além de ser um caipira burro ainda é mentiroso... –eu resmunguei do meu canto. Fui até a porta para ver achava alguma pista do paradeiro de Merle ou Michonne, mas tirando o corpo do zumbi morto recentemente, não havia mais nada ali.

Então algo aconteceu: dobrando a esquina da casa, uma multidão de zumbies apareceu de uma única vez. Havia pelo menos uma centena. Eu exclamei alto e uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Estávamos lascados. Eles deviam ter ouvido nossa gritaria.

Uma mão tampou minha boca e me puxou para dentro tão rápido que senti meus pés travarem no degrau da porta. Em seguida fui jogada com tudo no sofá mais próximo onde bati minhas costelas do lado direito. Daryl correu para a porta e a fechou com o maior silencio possível e depois arrastou uma cômoda. Antes que eu terminasse de me erguer do sofá, ele puxou minhas mãos com violência me jogando de barriga no chão e em seguida ele mesmo também se abaixou e ficou de bruços.

–Seu babaca! –sussurrei para ele enquanto esfregava minhas costelas. –Se queria me matar era só me deixar ali na porta.

–Fecha a porra da boca. –ele respondeu rispidamente em um sussurro.

Finalmente ouvimos passos dos zumbies próximos ao sopé da porta. Alguns bateram na porta tentando abri-la. Mas depois de uns cinco minutos já não havia mais nenhum zumbie por perto.

Daryl se levantou e correu para a janela para se certificar que não havia mais nenhum a nos ameaçar. Eu me ergui com dificuldade.

–Poxa, Me ajuda aqui! –eu exclamei quando não havia mais perigo. Ele resmungou, mas não veio. Indignada com sua falta de atenção comigo, exclamei. –Le teria me tratado como uma princesa...

–Peça ajuda dele então! –ele resmungou em voz alta sem dar atenção. –Vamos sair logo daqui! Já ficamos tempo demais.

Daryl prendeu a besta nas costas e puxou a cômoda. Eu tive de me levantar sozinha no fim das contas.

–Anda logo! Mas que lerdeza. –Daryl puxou-me pelo braço e me arrastou para fora da casa sem nenhuma cerimonia. Enquanto seguíamos para o meu carro e sua moto, ele não parou de resmungar por um segundo se quer. –Malcriada! Teimosa! Não obedece nunca...! Devia te manter trancada o tempo todo! Só me causa dor de cabeça!

Colocamos a sua moto na garupa da picape e Daryl assumiu o volante. Eu ainda calada, sentei-me no banco do carona e seguimos viajem por mais alguns quilômetros. Daryl me levou a um lugar onde havia pouquíssimas casas de madeira. Mais parecia uma fazenda a campo aberto.

–A reunião com o Governador foi aqui! –ele comentou parando o carro. –Você fica dentro do carro que eu vou até lá.

–Não! –rebati saindo também.

–Você não vai! Já me causou muitos problemas! Eu quero você aqui e ponto final.

–Cala a boca! Você não manda em mim! Apesar de odiar seu irmão eu gosto da Michonne.

Daryl, finalmente convencido que não tinha mais jeito, me deu as costas e começou a caminhar enquanto puxava uma flecha e a ajustava no arco. Eu peguei minha pistola e o segui decidida.

–Não sei mais o que eu faço com você... –ele falou e desta vez sorriu.

Eu sorri de volta e peguei no seu braço.

–Admite que você me ama, Daryl... e que não vive sem mim... –eu brinquei com ele.

–Cala a boca. –ele me empurrou de leve ao mesmo tempo em que embolsava um sorriso. Depois voltou seu olhar para frente.

Nós dois estacamos. Havia uma dúzia de corpos espalhados pelo chão e foram mortos a pouquíssimo tempo. Eu me curvei para um deles e o examinei. Peguei um graveto no chão e cutuquei os miolos de um deles.

–Eles foram mortos a cerca de trinta a quarenta minutos no máximo. –eu disse para Daryl que se aproximou de mim. –Esse aqui levou um tiro na cabeça.

–...Merle... –Daryl falou erguendo o rosto atento à procura do irmão. –Esse cara é um dos homens do Governador. Merle deve tê-lo matado.

Eu me ergui do chão e me afastei do corpo. Nós dois devíamos estar perto, mas era tudo tão estranho. Parecia que uma batalha havia se formado. Todos os corpos que passamos pareciam apresentar os mesmos sinais. Tiro de bala e mortos recentemente. As paredes, os carros... tudo continha furos de bala e no chão, cartuchos espalhados. Houvera uma boa luta ali. E não foi só de pessoas contra zumbies não, mas também de pessoas contra pessoas.

Finalmente encontramos alguns zumbies ainda vivos que se alimentavam dos corpos. Pelo menos três deles. Daryl foi à frente me fazendo ficar mais atrás, afastada. Como Daryl parecia ter melhorado seu humor eu obedeci para não contraria-lo. Ele queria me proteger afinal de contas. Apontou a besta para o mais próximo e acertou uma flecha na sua cabeça. O zumbie caiu por cima de sua comida. Daryl puxou mais uma flecha e se preparou para acertar o segundo zumbie, mas quando o zumbie em questão ergueu a cabeça para fita-lo, eu e Daryl recuamos perplexos. Era Merle. Seus olhos mudaram de cor. Suas roupas manchadas de sangue e sua boca ainda suja do corpo que acabara de devorar. Eu me senti muito mal em ver aquilo. Até ali, eu não tinha visto nenhum dos nossos se transformar em um. Mas, o que mais sofreu com tudo aquilo foi Daryl. Apesar de Merle ser um cretino em vida, não merecia aquele destino do qual se encontrava após a morte.

Eu ia dizer algo para reconforta-lo, mas lagrimas rolaram de meus olhos e minha garganta se contraiu. Daryl estava atônito. Sua boca se encrespou e eu achei que ele fosse chorar também. Merle-zumbie se ergueu do corpo e se aproximou de Daryl. Ele por sua vez empurrou o corpo com as mãos, não parecia querer acertar o irmão. Eu de longe, ergui minha pistola e apontei para Merle-zumbie e aguardei em silencio. Minhas mãos estavam tremulas, mas se Daryl não conseguisse matar o próprio irmão transformado, eu teria que fazer isso por ele.

Daryl o empurrou por mais duas vezes, depois sacou uma faca e se jogou sobre o Merle acertando-o repetidas vezes na cabeça. Eu havia contado umas cinco quando algo desviou minha atenção. Uma mão podre agarrou a mão que eu segurava a arma e me derrubou no chão. Foi tudo tão rápido. Em segundos me vi caída no chão com o zumbie sobre mim. A pistola caíra e eu não conseguia puxar a outra para acerta-lo. Ele pressionava seu corpo mirando meu pescoço, não tive outra escolha se não empurra-lo com as mãos. Isso foi um erro, percebi tarde demais, pois ele se esqueceu do meu pescoço e pegou minha mão mordendo-a.

–Ahhhhhhhh! –gritei desesperada. Senti seus dentes duros e podres perfurar a minha pele arrancando-a fora.

Daryl avançou como um foguete no zumbie e enfiou-lhe a faca no crânio antes de arranca-lo de cima de mim e joga-lo longe. Eu segurei minha mão ensanguentada enquanto gemia de dor. Daryl me ergueu rápido do chão me fazendo sentar.

–Não... você também não... –ele gemeu puxando minha mão contra a luz. –Não posso perder você também...

Eu não respondi. Doía demais. O sangue escorria quente e fino. Um formigamento percorreu toda a extensão da minha mão. Daryl rasgou sua blusa fez um torniquete no meu pulso direito e limpou o ferimento com outro pedaço da blusa.

–Foi só o dedo... –ele exclamou aliviado. Então ergueu o rosto preocupado para mim. –Vou ter que amputa-lo. Aguente firme...

–Sou... sou mais... mais forte do que você... imagina... –respondi tentando sorrir para tranquiliza-lo, mas por dentro eu estava morrendo de medo. Aquilo não podia estar acontecendo comigo. Era tanta dor que eu mal raciocinava direito.

Daryl apoio minha mão no chão de barro e pegou sua faca colocando-a por cima do meu dedo mordido. Com uma pedra que encontrou por ali, deu vários golpes sobre a faca, fazendo-a entrar cada vez mais.

A dor atingiu o seu auge. Meus olhos embasaram e minha visão escureceu. Eu desmaiara.

 

* * *

Daryl:

 

 

Mas que maldição!

Como tudo isso estava acontecendo comigo de uma única vez?

Meu irmão foi transformado... a Michonne sumida... e para piorar tudo Emily foi mordida. Será que eu a salvara a tempo? Espero que sim... Emily era agora a única família que eu tinha. A culpa é toda minha! Eu devia ter-lhe contado desde o começo. Eu sabia como ela era preocupada com qualquer um dentro da prisão. Meu sumiço deve tê-la feito vir correndo atrás de mim assim que soube. E agora ela estava aqui... a dor da mordida somada a dor de ter perdido o dedo fez-na desmaiar. Eu a peguei em meus braços e a levei para dentro do carro. Eu tinha que leva-la de volta para a prisão para ser tratada por Hershel.

Liguei o carro e acelerei. Lagrimas vieram aos meus olhos assim que tomei a rua principal. Ver Merle transformado em um zumbie foi uma das coisas mais horríveis que me aconteceu. Encontra-lo morto com um tiro na cabeça teria sido melhor e menos doloroso. Desviei os olhos da estrada e pousei-os em Emily. Sua cabeça pendia para o lado, colada ao vidro da janela. Sua mão agora contendo quatro dedos, ainda estava com o torniquete preso ao pulso.

“Tomara que eu tenha feito isso a tempo” eu repetia com frequência para mim mesmo. Emi foi à única coisa que me restara depois da morte de Merle.

–Você também não, Emi... –eu falei para mim mesmo voltando a olhara para seu rosto inconsciente.

 

* * *

Emily:

 

 

Algo não estava bem. Minha cabeça doía muito, mas nada se comparava a dor em minha mão direita. Eu senti meu pulso inchado. Sentia meu braço inteiro em total formigamento, mas a dor em minha mão era muito pior que tudo isso. Balancei meus dedos para que a sensibilidade voltasse, mas algo não estava certo. Eu senti meu polegar, meu indicador, meu médio que eu sempre mostrava para Daryl, meu anelar... mas cadê meu mindinho?

Abri os olhos de súbito e me sentei. Eu estava dentro de um carro à plena velocidade. Daryl estava ao meu lado, dirigindo o carro. Uma de suas mãos apontava uma pistola para mim. Ao me ver ele abriu um grande sorriso e abaixou a arma e parou o carro no acostamento.

–Mas... o que está acontecendo? –eu perguntei confusa. Por que Daryl tinha apontado a arma para mim? Por que minha mão doía?

Daryl me tomou em seus braços e me abraçou com muita força. Seus olhos estavam brilhantes e vermelhos. Seu coração acelerado batia contra o meu. Sua respiração estava descompassada.

–Você está bem... –ele sussurrou pondo as mãos por baixo de meus cabelos e beijando minha testa com força.

–Mas... o que aconteceu? –eu perguntei, mas ao olhar para as roupas ensanguentadas de Daryl eu entendi tudo.

Ergui minha mão que tanto doía diante de meus olhos. O meu dedo menor, o mindinho havia sido amputado. Em seu lugar tinha um buraco coberto de sangue.

–Eu tive que fazer isso... –Daryl falou como se se desculpasse. –Emi... eu estou feliz de saber que está bem.

Eu não respondi, estava muito chocada com a perda de uma parte minha. Estava chocada com a morte de Merle.

–Daryl... eu... seu irmão. Eu sinto tanto por isso. –eu falei com a voz fininha lembrando-me de seu irmão. Lagrimas saíram de meus olhos.

Eu e Daryl nos abraçamos com força e juntos, nós choramos em silencio sobre o ombro um do outro. Naquele momento eu me senti mais do que nunca, unida a ele. Como Hershel nos disse certa vez: “unidos pelo caos.”.

Nunca vira Daryl tão vulnerável como naquele momento. Tão frágil tão sensível... eu o puxei contra meu peito e o apertei com mais força.

–Tudo vai melhorar, Daryl... –eu disse quando nos soltamos. Daryl um pouco mais recomposto pegou o volante.

Ele ligou o motor do carro e soltou uma mão do volante pegando a minha.

–Nunca se afaste de mim... –ele pediu com a voz embargada. –Não sei se posso aguentar tudo isso sozinho...

–Você não precisa aguentar tudo sozinho, Daryl, eu não vou me afastar de você... nunca.


Notas Finais


Espero recadinhos de todas que lerem a fic, ajuda muito a escrever mais rapido


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