História Unintentionally Love - Herdeira do clã

 Meu estado estava lamentável, mas nada comparado a ontem quando cheguei da caçada. Senti minhas bochechas queimarem quando Soushi sorriu para mim, por sorte meu rosto ainda estava com um pouco de sangue, então acho que ninguém notou.

- Fico lisonjeada por receber tal elogio de vossa majestade e seu acompanhante.- respondi me recompondo. Karlheinz soltou um risinho pelo nariz e deu um gole no champanhe.

- Sem formalidades querida, ignore seus pais.- pediu dando de ombros. Relaxei a postura de imediato e lhe lancei um sorriso de orelha a orelha.

- Fico feliz que você veio me visitar!- disse indo até ele.

- Você?- exclamou Marie incrédula.

- Chegou a muito tempo?- perguntei ignorando a, assim como Karlheinz pediu. Senti uma aura assustadora quando passei por ela e me sentei ao lado de Soushi.

- Eu diria que faz umas meia hora.- respondeu olhando o relógio de bolso. - Mas isso não importa, parece que você andou meio ocupada..- disse me analisando de cima a baixo.

- Ahh, isso?- perguntei fitando o estado do meu vestido. - Algumas criadas me deixaram irritada e eu… eu perdi o controle. Sinto muito.- falei afundando as mãos na saia do vestido. Karlheinz era como um membro da minha família, mas um que eu goste. Ele me ensinou muitas coisas, principalmente a como me controlar quando fico brava e quero destruir tudo. Me descontrolei tão facilmente que provavelmente chegou a ser um insulto aos ensinamentos dele.

- Não se preocupe, fatalidades acontecem e criados são substituíveis.- respondeu num tom calmo. - Então, já que você está melhor do que eu esperava, vamos direto ao ponto. Este cavalheiro ao seu lado, também é um de meus alunos. Soushi Miketsukami.

Encarei Soushi com surpresa, então ele sorriu de canto para mim.

- Como esperado de alguém como você, ter aprendizes para passar seu conhecimento adiante é importante, acho.- comentei tentando parecer o menos confusa possível.

- Soushi é fruto de um clã rígido e exigente, como o esperado de seres tão fortes e fascinantes. À alguns dias eu fui chamado para uma reunião no clã Miketsukami, o líder me surpreendeu quando disse que já estava pensando em ter mais herdeiros.- Karlheinz repousou a taça vazia na mesa de cristal de centro, e me encarou com o olhar esperançoso, provavelmente deduziu que eu já tinha entendido. E realmente, não precisava ouvir o resto da história.

- Não me diga que..

- O líder do clã Miketsukami me implorou de joelhos para que eu conseguisse uma noiva digna.- falou sério. - Quero que você seja essa noiva, Ririchiyo.- suas palavras foram rápidas, me atingiram como uma flecha e eu fiquei por algum tempo submersa em meus pensamentos agitados.

Encarei Soushi e ele estava com uma expressão neutra, me observando como se já soubesse a resposta. Meu estômago começou a doer como se estivessem dando pancadas. Eu não vou ser dele. Por mais que Soushi me cause sensações boas, isso não significa que quero ser grudada a ele pelo resto da minha eternidade.

- Não!- respondi firme.

- Não?- perguntou Karlheinz com um sorriso divertido.

- Já não basta meus pais me controlando e me tratando como um objeto, agora quer que eu me case e viva o resto da minha existência na sombra de um vampiro que eu sequer conheço?

- Bom..- Karlheinz tamborilou os dedos apoiados no colo. - Como eu já a conheço muito bem, estava esperando esse tipo de resposta. Ouça tudo com muita atenção antes de tirar suas próprias conclusões, pode ser?- assenti com a cabeça e ele continuou. - Obviamente quero que você fique com Soushi, não existe melhor pretendente para ambos, acredite. Mas, não é algo que tem de ser planejado de imediato. Primeiramente vou deixar que Soushi visite a mansão quando quiser, assim vocês podem conversar e se conhecer melhor. Em breve irei solicitar um jantar formal para que acertamos todos os detalhes do que estou planejando.

- E o que exatamente você está planejando, Karlheinz?- perguntei séria. Senti o olhar reprovador de Marie sobre mim, e tive de me conter para não tremer de tanta tensão. Chamar o rei pelo nome era considerado desrespeitoso, mas como somos próximos eu já havia me acostumado. Só que Marie não, ela respeitava a formalidade acima de tudo, e exigia que eu fizesse o mesmo.

- Você saberá em breve, Ririchiyo.- Karlheinz se levantou e estendeu a mão para que eu a pegasse. Me levantei e peguei sua mão. Os lábios gelados do rei fizeram cócegas, me presenteando com um beijo. - Preciso ir agora. Voltarei em breve, esteja preparada.

- Vou tentar.- respondi, e antes que eu pudesse me despedir dele ou de Soushi, os dois se teletransportaram.

Me joguei no sofá soltando um suspiro exagerado. Meu pai me encarou com indiferença e depois olhou para trás de mim, com tédio. Provavelmente Marie me fitava como se fosse me comer viva.

- O que você pensa que está fazendo?- perguntou irritada.

- Não estou fazendo nada, Marie.

- Não? Fiquei te aguardando por meia hora para você chegar quase mais suja do que na noite anterior!!- ela deu a volta no sofá e parou na minha frente. - Desrespeitou o rei na frente de seus pais e ainda por cima recusou uma oferta valiosa de união entre clãs!! Tem noção do que você fez?

- Não vou me segurar quando seres inferiores a mim me tratarem de uma forma que eu não goste. Não vou me comportar formalmente sendo que isso não é necessário. E principalmente, não vou passar o resto da minha eternidade com alguém que eu sequer conheço apenas porque você quer uma união entre clãs!- respondi firme. Senti que meus olhos pegavam fogo, meu corpo estava agitado e minha cabeça a mil. A adrenalina de responder e desrespeitar meus pais me invadia de uma forma incomum.

- Vá para o porão! Agora!- rosnou entre os dentes.

É claro que isso aconteceria. Hora do castigo.

…

Eu estava no porão, sem minhas roupas, completamente nu e com os braços e pernas presos por correntes. A adrenalina de pouco tempo atrás ainda me inundava. Os golpes de chicote que Marie me dava mal surtiam efeito. Meu corpo estava quente, como se estivesse anestesiado, eu sentia como se nada pudesse me atingir ou me abalar. Matar criadas por desrespeitarem alguém que eu goste, recusar uma ordem do rei e responder a minha mãe, eu não me arrependia, e essa era a pior parte.

Outro golpe, mas dessa vez no meu rosto. Senti o sangue escorrer quente pelas minhas bochechas, mas não senti dor. Marie estava irritada, e sua raiva só piorou quando eu recebi seus próximos dez golpes com indiferença.

- Você é uma aberração!- gritou descendo o chicote com tudo nas minhas pernas. Elas falharam por um segundo, porém, não senti dor e voltei a encara-la. - Por que você nunca me obedece? Por que é tão impossível para você tentar ser alguém que eu me orgulhe?- perguntou. Minha sonora gargalhada fez eco no porão. Mais uma vez ela desceu os chicotes nas minhas pernas, mas dessa vez com mais força. Cai de joelhos.

- Você não quer que eu te dê orgulho. Você quer que eu te dê algo para se gabar, para se sentir melhor do que já é! E você não merece isso, Marie.- falei me levantando.

- Quem você pensa que é?

Quebrei as correntes com um puxão, Marie me olhou incrédula e soltou o chicote. Ele caiu com um tilindar no chão, e eu a encarei com seriedade.

- Sou Ririchiyo Shirakiin, sangue puro e herdeira do maior clã que já existiu! Não vou baixar minha cabeça para ninguém! Não vou ficar de joelhos perante a ninguém! E principalmente, não vou cumprir ordens que me desagradam!- Marie me encarou surpresa, cerrou os punhos e me lançou um sorriso irritado.

- Então está bem. Siga o seu caminho, e me mostre até onde você vai com essa atitude!- ela me deu as costas e saiu do porão.

 Respirei fundo, embora não precisasse. Meus músculos finalmente começaram doer, os cortes estavam demorando para cicatrizar devido aos espinhos de prata que tinham na ponta do chicote. Me sentei no chão e tombei minha cabeça para trás. Pela primeira vez na vida, tinha ganhado uma briga contra Marie. Estava orgulhosa.