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História Universo em conflito - Segredos descobertos


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 46 - Segredos descobertos


Os quatro estavam na diretoria e não mostravam nenhum medo. Boris olhava para eles já sentindo os cabelos branquearem aos poucos. Ser diretor de colégio era mesmo uma droga!

- Olha, vocês sabem que agitação e perturbação da ordem é contra as regras, não sabem? – falou com a voz desanimada e sem convicção. Cebola percebeu isso e retrucou.

- Agredir os alunos é crime. – ele estendeu o celular e mostrou a gravação que alguém tinha feito e enviado para ele.

Boris suspirou, fechou os olhos e por fim acabou cedendo.

- A organização está uma bagunça. As ramificações da Vinha começaram a apodrecer e cair. Nem sei como ficaremos.

Os quatro ficaram surpresos e Cebola disse.

- Nós não vamos mais aceitar essas regras absurdas e vamos formar um grêmio estudantil. Não importa se a Vinha proibiu, as suas regras não podem estar acima da lei.

- Vá em frente e faça isso mesmo. Incentive os alunos a se rebelarem. A organização enfraqueceu muito com a morte do Sr. Malacai e o sumiço dos membros do conselho. É a chance de vocês.

Mais uma vez eles ficaram sem saber o que dizer.

- Não vai suspender a gente? – Mônica quis saber.

- Não. Continuem com seus planos, só não destruam o patrimônio da escola.

Eles saíram da diretoria mal acreditando que tinham se safado do castigo. Aquilo deu aos outros alunos mais coragem. Cebola foi para a sala com a ideia do grêmio estudantil amadurecendo em sua cabeça.

- Vocês não foram suspensos? – Luca perguntou tão surpreso quanto os outros.

- Não. Acho que o diretor também tá cansado disso tudo. – Magali respondeu.

- É a nossa chance. – Cebola disse e repetiu o que o diretor tinha lhe falado. – Eles enfraqueceram bastante, então não podemos deixar passar.

Os outros alunos se reuniram ao redor dos quatro.

- Acha mesmo que podemos fazer isso? – Marina quis saber e Mônica respondeu.

- Podemos. Eles estão desorganizados, tá tudo uma bagunça. Denise falou que já estão se revoltando em outras escolas. Temos que fazer a nossa parte também. Se todo mundo se unir, eles não terão chance.

- A Mônica tá certa. – Cebola voltou a falar. – É agora ou nunca, gente! Se não fizermos nada e eles se reorganizarem de novo, podemos não ter outra chance!

Gradualmente os outros foram concordando. Se quisessem ficar livres daquelas regras, teriam que se unir e protestar. Juntos, eles eram muito mais fortes.

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- Ei, abaixa o volume senão os vizinhos vão escutar! - Manezinho repreendeu.

- Olha isso, parece que todo mundo já tá sabendo que a Vinha ficou ao Deus dará! – Toni disse ignorando a reprimenda do amigo.

- Povo tá revoltando geral mesmo! Será que vai adiantar alguma coisa?

- Tomara que sim! Se continuar desse jeito, você vai poder voltar pra casa em pouco tempo.

Manezinho vibrou com a notícia, pois sentia muita falta de casa e dos seus pais. Já Toni precisava esperar, já que tinha medo de ser encontrado pela Agnes.

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Cebola voltava para casa fazendo planos e também com uma duvida que martelava em sua cabeça. Dava para ver que Boris não era a favor da organização e isso ficou claro quando ele os incentivou a lutar por seus direitos.

Ele tinha em sua casa dois rapazes que fugiram da Vinha e não sabia o que fazer com eles. Não dava para mantê-los ali para sempre, mas ele tinha medo de deixá-los voltar para casa e serem capturados novamente.

“Eu bem que podia ter contado pra ele. Não, peraí! É do Boris que eu tô falando!” no mundo original ele teve uma chance de mudar de vida e fazer a coisa certa, mas desperdiçou. De jeito nenhum ele iria confiar nesse sujeito. Por outro lado... o Boris alternativo parecia ser diferente. Ele não conseguia se decidir.

Em casa tudo estava silencioso como sempre e Cebola deu um forte espirro. Era o sinal para que Manezinho saísse do quarto. Toni veio junto parecendo um tanto sem jeito por estar dependendo dos favores do Cobaia a quem espancou durante anos.

- Tudo tranquilo aqui?

- Tranquilo. – Manezinho respondeu. – O Toni também fugiu da Vinha.

- A Denise me falou lá na escola. Rapaz, você passou o maior aperto!

Como não queria lembrar de coisas desagradáveis, ele perguntou.

- Como andam as coisas lá na escola? – Cebola contou tudo o que tinha acontecido naquele dia.

- E foi isso, gente. Nós vamos montar um grêmio estudantil pra fazer valer nossos direitos. A organização tá uma bagunça e nós vamos aproveitar.

- E a Denise? Ela se meteu em confusão?

- Não, ela tá bem. Ela queria vir pra cá, mas eu falei que não pega bem uma garota sozinha com três caras e ela desistiu.

- Melhor assim. – falou bem desanimado. – Não quero que ela arrume problemas por minha causa.

Cebola deu um sorrisinho.

- Aprenda uma coisa sobre a Denise: ela só faz o que dá na telha. Nem tente fazê-la mudar de ideia porque não rola.

- Garota mais difícil essa! – o outro ralhou e Cebola viu que tinha carinho no seu jeito de falar.

Os dois foram ver televisão e ele foi cuidar do almoço pensando em como era estranho ver Toni e Denise apaixonados. No mundo original isso nem chegava perto de ser uma possibilidade.

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Agnes passou perto da casa do Cebola de carro, andando lentamente para estudar bem o local. As portas estavam fechadas e ela não viu nenhum sinal do morador. Mas as sombras garantiram que aquele rapaz idiota estava escondido ali e isso era suficiente para ela.

“Nessa noite você terá muitos pesadelos.” Ela pensou e foi embora, pois não podia agir durante o dia. Penha tinha lhe falado mais de uma vez para não fazer nada por enquanto.

- Quando ela voltar, você poderrá fazer o que quiser. Antes disso, é melhor ter cuidado. Não se preocupe, ele não irrá à parte alguma.

Normalmente Agnes ouvia a Penha, mas não daquela vez. Sempre que se lembrava daquele soco, seu sangue fervia e a vontade de acabar com aquele maldito da pior maneira possível chegava a ser dolorosa. Ela não ia conseguir esperar alguns dias para sua vingança, tinha que ser o mais rápido possível. De preferência naquela noite mesmo.

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Em sua casa, Mônica pesquisava no computador sobre como montar um grêmio estudantil. Ela reuniu as informações principais e imprimiu tudo.

- É... acho que isso vai dar.

- Caramba, tem coisa demais. – Magali reclamou.

- O Cebola vai estudar tudo isso e amanhã vamos conversar com os outros alunos pra montar o grêmio.

- A gente vai lá agora?

- Vamos sim, temos que agir bem depressa ou pode não dar tempo.

As duas foram para a casa do Cebola e conversavam pelo caminho. Magali estava feliz porque o namoro dela com o Cascão ia muito bem.

- Poxa, nem acredito que eu tinha um cara tão legal perto de mim por tanto tempo e nem percebi!

- Antes tarde do que nunca, né?

- E você com o Cebola?

Seu rosto entristeceu.

- Até agora nada. Ele olha, sorri, é gentil, carinhoso... mas pedir em namoro que é bom mesmo, necas.

- Então faça isso você, ué! Se eu fosse esperar pela boa vontade do Cascão, esse namoro não ia sair nunca.

Ela sorriu e balançou a cabeça.

- Nosso caso é diferente. Ele não tá pronto pra isso agora e eu não quero forçar.

- Credo, que complicado!

Mônica também achava complicado, mas entendia que se declarar para o Cebola poderia criar uma situação desagradável entre ambos. Ela não sabia dizer muito bem que sensação era aquela, talvez fosse intuição feminina ou algo parecido. Mas sabia que o rapaz não estava pronto no momento. Quando estivesse, ele ia tomar a iniciativa com certeza. Enquanto isso, ela não importava de esperar, ainda que não pretendesse ficar sentada para sempre aguardando a iniciativa dele. Se ele não quisesse ou demorasse muito, ela ia seguir em frente sem pensar duas vezes.

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Manezinho foi jogar no computador, que mesmo sendo antigo dava para rodar bons jogos. Isso deu ao Toni a chance de entregar o papel que Sr. Malacai tinha lhe dado.

- Ele falou que você ia entender isso.

Cebola leu o papel e seu rosto se iluminou.

- Rapaz, era disso que eu tava precisando! – Ele arredou o rack da televisão e removeu um fundo falso que tinha feito. Ali dentro tinha a chave de ossos, as penas e os papéis que conseguiu no dia da invasão.

Ele colocou os papéis sobre a mesa e foi comparando com os códigos do papel que Sr. Malacai lhe enviou.

- Que é isso?

- São coisas que eu peguei do cofre do Sr. Malacai.

- Eu não sabia que ele guardava isso!

- Ele guardava muitos segredos, pode acreditar. Nesse papel tem a tradução pra esse código doido que ele deve ter inventado. Mas vem cá, ele te deu mesmo isso?

Toni tirou do bolso o relógio que o velho tinha lhe dado e contemplou com um olhar triste.

- Foi sua última vontade. Ele disse que tinha cometido um erro terrível, mas foi para proteger a todos de um mal maior, só não falou do quê exatamente.

- A Serpente. – Cebola respondeu matando a charada.

- Serpente? Que serpente?

Ele tentou explicar brevemente do que se tratava e Toni oscilava entre acreditar e não acreditar. Era difícil aceitar aquelas coisas após viver a vida inteira sem acreditar no sobrenatural.

O ex-valentão foi se recolher para tentar dormir e Cebola continuou na sala tentando entender toda aquela trama.

No mundo original, os membros da Casa de Aclépio queriam abrir um portal para ligar o mundo original ao inferior. Será que eles tentaram fazer isso no alternativo? Não havia como saber, ele só pode especular. Talvez Sr. Malacai tenha conseguido abrir o portal, viu o perigo que isso poderia trazer ao mundo e mudou de ideia. E por garantia, bloqueou o sobrenatural achando que isso ia manter todos protegidos, o que não aconteceu.

Ele começou a traduzir alguns trechos dos papéis que tinha encontrado no cofre, mas aquilo era trabalhoso.

- Melhor pedir ajuda pro pessoal. Com quatro vai ser mais fácil.

Pouco depois, Mônica e Magali chegaram com os vários papéis e anotações que Mônica tinha feito para a criação do grêmio para que ele pudesse estudar mais tarde. Cascão chegou em seguida. Ele deu um papel para cada um, com uma cópia da tradução daqueles códigos.

- Eu aposto que isso aqui é muito importante, então temos que traduzir. Pode ser uma boa pista.

Depois que eles foram embora, ele foi estudar sobre a criação do grêmio, organizou bem todas as informações e a noite foi dormir tranquilo e feliz em saber que tudo estava bem encaminhado.

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Eram mais de uma da manhã quando Agnes estacionou em frente a casa do Cebola. Tudo estava escuro e silencioso, numa noite quente e abafada. A mulher conseguiu entrar pelo portão da frente, que o idiota deixou destrancado, e deu a volta pela casa procurando sentir a energia do moleque. Com muita concentração, ela parou debaixo da janela do quarto onde ele dormia. Havia outra pessoa, mas isso não a interessou.

- Muito bem, minhas queridas sombras. Façam sua parte.

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Toni virava de um lado para outro sem conseguir dormir. Ele alternava entre momentos de sono e vigília, com alguns pesadelos lhe atormentando.

- Toni... – o som de um murmúrio fez com que ele abrisse os olhos depressa.

Ele estava no quarto que era da irmã do Cebola. Manezinho dormia na cama enquanto ele ocupava um colchonete. O rapaz sentou-se com os ouvidos apurados e ouviu o murmúrio novamente. Alguém o chamava do lado de fora.

Tomando cuidado para não acordar o colega de quarto, ele foi até a janela que estava aberta por causa do calor e viu que tinha alguém lá em baixo. Só dava para ver uma silhueta entre as sombras que ele reconheceu muito bem.

“O que essa doida tá fazendo aqui?” ele pensou não acreditando que Denise fosse capaz de andar pelas ruas de madrugada e ir até ele. No que ela estava pensando?

- Toni... – a voz chamou de novo e ela parecia aflita. Pensando assim, ele saiu do quarto e foi até o quintal para se encontrar com ela.

Como estava escuro, ele só pôde ver o contorno do seu corpo e das marias-chiquinhas.

- O que você tá fazendo aqui, sua maluca? – ele ralhou em voz baixa e não houve nenhuma resposta.

A sombra se desfez como fumaça, fazendo-o recuar assustado. Duas mãos frias seguraram seu pescoço por trás e tudo ficou escuro.  

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De cima do telhado, ele viu o que tinha acontecido e não pode fazer nada, pois não tinha permissão para interferir em assuntos humanos.

- Droga, o que eu vou fazer? Ela vai matá-lo!

Dona Morte tinha lhe dado a tarefa de proteger aquele rapaz e ele falhou. Um gosto ruim invadiu sua boca. Era a segunda vez em que tinha falhado na tarefa de proteger as pessoas. Não podia haver uma terceira e ele tomou uma decisão drástica.

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Ela nunca esteve tão linda. Seus cabelos sedosos balançavam suavemente, o vestido vermelho cobria seu corpo como se fossem pétalas de rosa e aquele perfume delicioso que ela exalava, juntamente com o cheiro da sua pele, o deixava maluco. Seus olhos brilhavam cheios de amor e ternura.

- Ah, Cê! Eu tava morrendo de saudades! Eu sempre te amei, sempre! Só fiquei com o DC porque achei que você não me amasse!

- Mas é claro que eu te amo! De todo coração! Mô, você me perdoa? Eu sei que fui um tosco e pisei na bola, mas vou fazer de tudo pra consertar meus erros!

- Claro que te perdoo, meu amor! Eu só quero ficar com você!

Ela abraçou o seu pescoço e ele envolveu sua cintura com os braços se deliciando com o calor do corpo dela junto ao seu. Mônica lhe ofereceu os lábios rosados e levemente úmidos e ele fechou os olhos pronto para saboreá-los após tanto tempo quando sentiu algo sacudindo seu corpo com força.

- Ei, acorda! Vamos, não temos muito tempo!

Em um momento ele estava flutuando nas nuvens. Em outro, sentiu seu corpo sendo arremessado contra um chão frio de concreto. Ele acordou se debatendo e olhando ao redor sem entender nada.

- Hein? Cadê a Mônica? Poxa, a gente tava fazendo as pazes e...

- Deixa disso, era só um sonho. Você tem uma emergência agora!

Cebola olhou para o intruso e viu que não era Toni ou Manezinho. Rapidamente acendeu a luz e arregalou os olhos ao ver de quem se tratava.

- Pindarolas, é mesmo você?

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Chegando em casa, ela o arrastou para o porão e amarrou seus pulsos com uma corda bem forte, assim como seus pés. Só deixou sua boca livre para que pudesse se deleitar com o som dos seus gritos.

- Pronto, seu desgraçado! Agora você vai sofrer nas minhas mãos!

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Diante dele estava um rapaz loiro com os cabelos cortados curtos escondidos sob o capuz da blusa e ele estava todo vestido de preto. Até suas asas eram bem negras como as de um corvo. Uma grande cicatriz atravessava seu rosto, começando sob o olho direito, atravessando os lábios e terminando no queixo. Mesmo assim ele não ficou assustado, pois sabia quem era.

- Ângelo? Caramba, é você mesmo? – apesar do visual diferente, Cebola pôde reconhecer o amigo de infância, o anjo que sempre protegeu ele e o resto da turma. – Por que você tá assim? Cara, foi você quem me salvou do...

- Não temos tempo pra explicações. – o outro cortou. - Toni foi raptado pela mulher que suga as pessoas.

Aquilo fez com que Cebola acordasse de vez.

- Como isso foi acontecer? O que eu faço agora? Pensa, vamos, pensa!

Cebola andava em círculos pelo quarto sem saber o que fazer. O mais lógico seria correr para a casa da Agnes e salvar o Toni.

- Droga, de bicicleta eu vou levar uma eternidade pra chegar até lá.

- Não seja por isso, eu te levo. Vai dar trabalho, mas será rápido.

Ele foi trocar de roupa o mais depressa possível, com medo de que sozinho não fosse capaz de salvar seu amigo e naquela hora bateu o arrependimento por não ter falado nada ao Boris.

- O Boris, é isso! – ele falou após amarrar o cadarço dos tênis.

- O que tem ele?

Ele pegou um cartão que o diretor tinha lhe dado certa vez discou seu numero rapidamente torcendo para que o homem atendesse.

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Boris já estava no terceiro sono quando o telefone tocou fazendo-o pular da cama. Céus, mais um problema com a Vinha? Será que ele não podia dormir em paz ao menos uma vez?

- Alô... – falou com a voz embargada de sono.

- Sr. Boris? Aqui é o Cebola! – uma voz desesperada falou no outro lado da linha deixando-o em alerta.

- Cebola? O que está acontecendo?

- A Agnes raptou o Toni!

Aquilo não fez sentido algum.

- Como é que é?

- É isso mesmo! – ele falou brevemente sobre Toni e Manezinho estarem escondidos em sua casa. – Ele viu ela matando o Sr. Malacai e ficou com medo, daí escondeu aqui em casa!

Seu cérebro travou com tantas revelações bombásticas de uma vez só. Então foi sua irmã quem matou o Sr. Malacai e os dois seguranças? Era ela a responsável pelo mal da múmia que matou inúmeras pessoas? Aquilo só podia ser um pesadelo!

- Sr. Boris? Ainda tá aí? Olha, a gente precisa correr senão ela vai acabar com ele!

- Para onde você acha que ela o levou?

- Ela deve ter ido pra casa dela mesmo. Precisamos correr senão vai ser tarde! PelamordeDeus, chama a polícia!

- Está bem, vou tomar providências agora mesmo!

Ele desligou o telefone e se vestiu em tempo recorde enquanto fazia outra ligação para o delegado. O caso era de extrema urgência.

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Toni acordou tonto e com dor de cabeça. O local estava escuro e ele sentia muito frio. Ao tentar se mexer, viu que suas mãos e pés estavam amarrados com força.

- Vejo que meu hóspede acordou. Confortável?

Ele deu um grito ao ver quem estava diante dele com um sorriso sádico e os olhos brilhando de um jeito insano.

- Pode gritar o quanto quiser. Essa casa fica isolada e não temos vizinhos próximos.

- Onde eu estou? Me solta!

- Você cometeu um erro muito grande, rapaz. Se tivesse colaborado, teria morrido de um jeito rápido e quase indolor. Agora vai morrer bem devagar e da pior maneira possível. Não terei nenhuma piedade!

Ele olhou ao redor e viu que ela tinha reunido vários apetrechos e um era mais assustador que o outro. Não adiantou se debater, gritar ou ameaçar. Agnes ajoelhou no chão para escolher seu primeiro brinquedo e parecia não ter nenhuma pressa.

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- Estamos chegando! – Cebola falou aliviado.

- Ainda bem, porque eu já não aguento mais! – Ângelo arfou exausto por ter que carregar todo aquele peso extra num mundo que sugava suas energias. – O que você vai fazer?

- Sei lá, qualquer coisa pra distraí-la até a polícia chegar.

- Você sabe do que ela é capaz de fazer, não sabe? – perguntou quando os dois pousaram desajeitadamente.

- Ela não pode me matar porque tenho a marca de IOR. Isso deve resolver. Droga, a porta tá trancada!

Ângelo deu um jeito de abrir a porta e os dois entraram na casa, que estava escura e silenciosa.

- Eles devem estar no porão, vamos. – um grito chamou a atenção deles. Era Toni. Agnes já tinha começado.

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Duas viaturas da polícia corriam em direção à casa de Agnes. Boris os seguia com seu carro e estava muito apreensivo. Se ela era mesmo responsável pelo mal da múmia, o pobre rapaz não tinha muito tempo.

Como aquilo era possível? Parte dele não queria acreditar de jeito nenhum que sua irmã tinha sido responsável pela morte do Sr. Malacai e de tantas outras pessoas. Ela podia não ser a pessoa mais doce e gentil do mundo, mas seria capaz de matar alguém? E por que estava fazendo aquilo?

Em sua memória, veio a imagem de uma garotinha com tranças nos cabelos admirando os pássaros nas gaiolas e sorrindo com o seu canto. Agnes amava ouvir os pássaros cantarem e aos quinze anos teve esse prazer negado pelos seus pais. Uma coisa ele tinha que admitir: a criação dela foi bem mais severa do que a sua. Seus pais sempre foram muito mais rígidos com ela, com mais regras e castigos piores em caso de alguma falta. Por ser homem, Boris sempre teve mais liberdade.

“Isso não é desculpa para matar as pessoas desse jeito. Não, espera! Ainda não tem nada confirmado! Aquele rapaz deve ter cometido algum engano, é isso!” em estado de negação, ele imaginou que Toni tinha apenas a chamado para pedir ajuda e ela o levou para casa. Cebola é que interpretou de forma errada e ele esperava esclarecer tudo aquilo em breve.

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Toni gritou de novo sob risos de Agnes, que estava adorando aquela nova brincadeira.

- Isso, grite bastante! Quero te ver sofrendo!

- Me mata logo de uma vez, sua louca!

- Não espere tal generosidade de mim, rapaz. – ela o fez gritar outra vez. – Uma energia tão deliciosa como a sua é para ser apreciada aos poucos.- outro grito saiu dele - Vou me alimentar de você o máximo que puder. – mais gritos. – E depois jogarei os restos fora.

Toni nunca desejou tanto morrer em sua vida. Aquilo era pior do que os tempos que passou no colégio militar e aquela criatura psicopata estava só começando.

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A porta do porão estava aberta e Cebola correu escada abaixo com Ângelo atrás dele. O porão estava iluminado com a luz de várias luminárias a pilha e ele viu o que ela estava fazendo com o coitado.

- Solta ele agora mesmo! – ele gritou e logo se arrependeu por ter desperdiçado o elemento surpresa.

Agnes parou o que estava fazendo e fuzilou o rapaz com os olhos.

- Vá embora daqui agora! Isso não é da sua conta!

- Só vou se meu amigo for junto!

Ela deu uma risada que doeu os ouvidos do Cebola e até os de Ângelo.

- Amigo? Não foi ele quem te espancou durante vários anos? Você devia estar me agradecendo por acabar com a raça dele!

Cebola foi descendo as escadas e continuou falando na esperança de distraí-la tempo o suficiente para Boris chegar com a polícia.

- Eu jamais iria querer isso pra ninguém, tá legal? Você é um monstro, sei muito bem o que faz com as pessoas! – ele apontou para os objetos que estavam no fundo do porão. – Você matou o meu primo, sua assassina!

- Vai embora. É sua última chance! Vá! – Agnes rosnou com a voz meio esquisita e o rosto desfigurado pelo ódio.

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- É aqui. Vamos depressa! – Boris falou aos policiais assim que chegaram. A porta da frente estava aberta, o que ele estranhou logo de cara.

- Fique aqui fora. – um dos policiais falou e os outros sacaram as armas e entraram na casa.

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Cebola chegou mais perto.

- Ele vai comigo e ponto final.

- Não se atreva! Eu vou acabar com você também!

- Quero ver você tentar. – Cebola lhe mostrou a marca de IOR. – Você sabe que não pode fazer nada comigo enquanto eu tiver isso.

- Posso ir atrás dos seus amigos, especialmente da ex-valentona! Você não tem ideia de como a energia dela é deliciosa!

Aquilo sim o intimidou, mas ele decidiu não recuar.

- Eles estão protegidos também. – o rapaz blefou, pois não sabia ate que ponto os talismãs que tinha feito eram capazes de protegê-los. – Você nem tente encostar o dedo neles, senão acabo com a sua raça!

- Miserável! – Agnes avançou para cima dele com um objeto pontudo em sua mão. Ângelo, que estava invisível, segurou o braço dela fazendo-a perder o equilíbrio.

Aquilo foi suficiente para que Cebola se desviasse e corresse para ajudar Toni.

- Saia de perto dele!

- Então vem me fazer sair, vem! – o rapaz gritou enquanto desfazia rapidamente os nós das cordas.

Agnes perdeu o controle e tentou agarrar Cebola pelo pescoço. O rapaz caiu para trás junto com ela tentando se libertar. O objeto pontudo caiu no chão e ela apertava seu pescoço tentando sugar sua energia. Foi em vão, já que a marca de IOR o protegia bem. Não havia como matá-lo.

- Me solta, sua doida! – O rapaz gritou empurrando o rosto dela para longe com uma das mãos e segurando seu braço com outra. Agnes gritava, se debatia e xingava feito uma louca.

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Os gritos foram difíceis de ignorar e os policiais logo correram para o porão, já que a porta estava aberta. Eles logo ficaram espantados com aquele lugar esquisito e mais ainda quando viram uma mulher lutando com um rapaz enquanto outro se debatia amarrado por cordas. Aquilo não tinha nada de normal.

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Cebola estava com dificuldade para conter Agnes, que apesar de não ter muito forte parecia descontrolada. Ela queria Toni de qualquer jeito e nada ia fazê-la desistir. Ou quase nada.

- Pare agora mesmo! – eles ouviram uma voz gritar e Cebola ficou feliz ao saber que estavam a salvo.

- Socorro! Essa doida tá atacando a gente! – o rapaz gritou e os policiais desceram as escadas rapidamente. Só assim Agnes o soltou.

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Assim que viu cinco policiais armados descendo a escada do porão, Agnes recuperou o controle e viu o tamanho da besteira que tinha feito.

- Mãos para cima! Agora! – um deles ordenou e ela recuou alguns passos.

- Senhores, isso não passa de um mal entendido... – ela tentou ganhar tempo esperando que eles chegassem mais perto. No entanto, aquele rapaz miserável pareceu ter percebido suas intenções e gritou.

- Cuidado, ela vai atacar vocês! Não cheguem perto!

Ela se concentrou o máximo que pode, mas sentiu uma tontura desagradável e seu poder teve pouco efeito sobre os policiais. Era como se algo a impedisse de usar o seu poder de sugar as pessoas.

- Agnes! O que está acontecendo? – ela ouviu Boris gritando do alto da escada.

- Afastem-se de mim! Vão embora! – gritou sentindo medo, pois ir presa era a última coisa que ela queria.

- Calma, ninguém aqui vai te machucar! – Boris desceu a escada lentamente falando palavras idiotas de conforto que não a comoveram nem um pouco.

A mulher recuou mais para o fundo do porão, pois Boris e os policiais cercavam o caminho que levava até a escada. Mentalmente, ela suplicou.

- Sombras, me ajudem! Se eu for presa, tudo estará perdido! Por favor, eu imploro!

A luz das luminárias apagou de repente, vários gritos foram ouvidos e uma arma até disparou. Agnes, que conhecia bem o local, foi até a outra saída do porão e saiu rapidamente, passando o trinco na porta.

Felizmente para ela, seu carro estava estacionado em frente a casa e não havia nenhum policial nas viaturas. Ela deu partida e saiu dali chiando os pneus.

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Foi uma grande confusão até Cebola conseguir tirar o celular do bolso e acender a lanterna. Isso deu aos policiais um pouco de luz.

- Ela fugiu, vão rápido! – um dos policiais gritou e eles saíram em disparada atrás dela.

Somente Boris e outro policial ficaram com os rapazes. O homem encontrou uma das luminárias, sacudiu, deu uns tapas e ela acendeu novamente dando mais luz ao local. 

- Vocês estão bem? –perguntou enquanto Cebola terminava de desatar as cordas que prendiam o Toni.

- Eu tô, mas ele tá ferido.

- Céus, eu não acredito que ela fez isso!

Toni tinha vários ferimentos feios no peito e no abdome e estava muito abalado.

- Fique calmo, rapaz. Vamos te levar ao hospital. Vem.

Eles o levaram até o andar de cima e o colocou num dos sofás. Boris foi procurar por produtos de primeiros socorros e Cebola ficou com ele fazendo companhia. O policial que ficou estava no porão examinando o lugar.

- Fica tranquilo que agora vai tudo ficar bem.

- Ela ainda virá atrás de mim. – Toni falou visivelmente apavorado.

- O Boris vai te proteger. Droga, devia ter pensado nisso antes, mas tive medo porque não confiava nele.

Boris voltou com algumas ataduras que tinha encontrado na despensa.

- Minha irmã não tinha nenhum kit de primeiros socorros, mas acho que isso vai ajudar até a ambulância chegar.

Enquanto enfaixava os ferimentos com a ajuda do Cebola, o policial foi até a sala com o rosto branco e olhar assustado.

- O senhor precisa ver isso! É uma loucura! 

Cebola sabia do que se tratava, por isso ficou na sala cuidando de Toni enquanto Boris desceu até o porão junto com o policial. Com a saída dos dois, Ângelo pode reaparecer.

- Poxa, obrigado pela ajuda! – Cebola agradeceu.

Toni olhava para ele com os olhos esbugalhados como se estivesse vendo uma assombração apesar de nunca ter acreditado nesse tipo de coisa. Cebola tentou tranquilizá-lo.

- Fica frio que ele é gente boa e nos ajudou muito.

- Mas... mas... o que ele é? Um anjo de verdade? – Ângelo deu um sorriso fraco.

- Emissário da morte, mas não se preocupe. Não chegou sua hora. Eu preciso ir, fiquei muito fraco depois de enfrentar aquela mulher. A gente se fala depois.

- Beleza. E valeu mesmo, por tudo!

Ângelo desapareceu dali sob o olhar espantado de Toni. Depois do que viu nos últimos dias, ele já não duvidava de mais nada.

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Boris não conseguia acreditar no que estava vendo diante de si. No fundo do porão, numa espécie de altar bizarro, ele viu inúmeros objetos. Chaves, chinelos, sapatos, carteiras, bonés, muitos anéis, pulseiras e diversos tipos de acessórios. Também havia chaveiros, canetas, celulares, óculos, relógios, algumas peças de roupas e vários outros objetos que ele nem conseguiu contar dada a grande quantidade.

- O que significa tudo isso? – ele perguntou segurando uma carteira.

- Melhor não tocar, senhor. Podem ser provas.

- Sim, me desculpe. – Ele colocou a carteira de volta e um objeto em especial chamou sua atenção. – Isso... era do Sr. Malacai!

Eles olharam para uma bengala encostada num canto e com isso também viram outros objetos. Eram diversos relógios de bolso com o Símbolo da casa de Asclépio que todos os membros do conselho tinham.

Tudo ficou claro para ele. Não dava mais para negar.



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