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História Universo em conflito - Coração indeciso


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 35 - Coração indeciso


Finalmente chegou o momento que Cebola tanto esperava: o dia em que Rosália colocou suas coisas num caminhão de mudança e foi embora. Ele procurou ser gentil mostrando que não havia nenhum rancor. Ela também parecia ter feito as pazes com ele embora não morresse de amores. Tudo foi bem tranqüilo até.

Mas quando o caminhão virou a esquina levando aquela mulher e suas quinquilharias cafonas, ele pulou, deu socos no ar e até dançou. Livre enfim!

E para sua alegria, ela tinha deixado algum dinheiro para que ele pudesse pintar a casa como uma forma de compensá-lo pelo tempo ruim que passou em suas mãos. Mas também deixou aquele abajur horroroso que chegava a doer os seus olhos.

- Eu não vou levar isso de jeito nenhum. Pode jogar fora se quiser.

- Ué, mas ele não é seu?

- Ganhei no bingo, de jeito nenhum eu compraria essa coisa.

Ele deu de ombros e deixou aquilo num canto para dar um destino depois. Como queria economizar, ele decidiu pintar sozinho. Cascão e Antenor se ofereceram para ajudar, o que foi muito bem vindo. Uma semana depois, eles estavam pintando a casa após todos os móveis dela terem sido retirados.

Felizmente Rosália tinha cuidado bem da casa, sobrando pouca coisa para arrumar além da pintura. Assim ele podia economizar para comprar algum móvel ou eletrodoméstico caso fosse necessário.

- Hora do almoço! – Lurdinha anunciou entrando na casa. O imóvel estava vazio, com o chão coberto de jornal e havia cheiro de tinta fresca no ar. - Nossa, está ficando uma beleza

- Pintura é comigo mesmo! – Antenor se vangloriou orgulhoso do seu trabalho. Quando soube que Cascão ia ajudar a pintar a casa, ele se ofereceu para ajudar também. Era uma forma de agradecer pelo bem que Cebola estava fazendo ao seu filho. Lurdinha também agradecia fornecendo refeições para ele e o inquilino e o deixando lavar a roupa na sua casa até que todo o serviço fosse terminado.

Eles foram almoçar e comeram com apetite enquanto falavam sobre o serviço que ainda faltava.

- Eu não sei como estão os móveis, acho que deve ter estragado um bocado de coisa lá no porão. – Cebola falou após uma garfada de arroz com feijão e bife.

- O porão não tem umidade pelo que vi. – Antenor disse. – E tudo parece ter sido bem guardado. Talvez os produtos eletrônicos possam dar algum problema, mas acho que os móveis estão bem. Quando o seu quarto ficar pronto, vamos montar a sua cama.

A idéia foi bem recebida. Rosália tinha levado tudo o que era dela, inclusive os móveis do quarto que era do Rômulo. Cebola teve que voltar a dormir num colchonete no porão até que tudo fosse terminado. Era trabalhoso, mas estava valendo a pena. Enquanto comia, ele foi fazendo um planejamento de como ia administrar a casa até chegar a hora de destrocar com o duplo. Ele precisava cuidar muito bem de tudo para mostrar aos parentes que era responsável. E até que aquela experiência estava sendo bem proveitosa. Ele levaria anos para aprender no mundo original o que estava aprendendo ali em poucos meses e ia voltar mais maduro e experiente.

Quando terminaram o almoço, eles voltaram ao serviço. Ao terminar de pintar uma parede, Cebola passou para a próxima e olhou pela janela. Era impressão sua ou o céu estava mais desbotado ainda? As notícias que tinha ouvido nos últimos dias lhe diziam que a situação estava piorando.

Era preciso agir logo.

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Magali estava ajudando Mônica a conseguir algumas coisas bonitas para por na casa do Cebola. A amiga parecia muito empolgada e era com muito custo que ela conseguia acompanhar. Não dava para ficar feliz depois da conversa que teve com Denise sobre o Cascão ainda gostar da Cascuda. Estranho, ele sempre falou em desapegar e seguir em frente. Nunca tinha mencionado o desejo de voltar com a ex-namorada. Será que ele não confiou nela o suficiente para lhe contar esse segredo?

Ou talvez ainda tivesse medo de que ela ficasse de marcação com a Cascuda como antes. Ela tinha mudado, mas ele continuava lhe vendo como a valentona de antes e isso a magoava.

- Algum problema? – Mônica perguntou ao ver que ela não estava no clima para compras.

- É... umas coisas, nada de mais.

- Hum... tá bom, não vou ficar insistindo. Quando quiser conversar é só me chamar, viu?

- Valeu.

Ela não estava confortável para falar sobre isso, pelo menos não por enquanto. Além do mais, Cascão tinha feito sua escolha, então de que adiantava ficar remexendo naquele assunto?

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A casa do Cebola não era a única que estava passando por mudanças. Por um instante ele chegou a pensar que tinha entrado na casa errada, mas a dúvida dissipou logo ao lembrar de que eles não tinham vizinhos próximos.

- A-Agnes! O que você está fazendo???

Era como se todos os pedreiros da cidade estivessem reunidos naquela casa. Eles quebravam, faziam reparos, pintavam, modificavam e tudo o que se podia imaginar.

- Estou reformando a casa, o que mais poderia ser? Ei! Tomem cuidado com essa cerâmica! – ela virou-se de repente para dois pedreiros e voltou a falar com o irmão. – O que acha? Está bagunçado, eu sei, mas depois ficará lindo!

- O que você fez com a mobília antiga?

- Vendi. O que não pode ser vendido, eu joguei fora.

Ele a olhou com os olhos parados e a boca aberta.

- O que foi? Por acaso você queria ficar com toda aquela velharia? Ah, Boris, por favor! Você odiava aquelas coisas tanto quanto eu.

- Eram dos nossos pais! Você devia ter conservado suas coisas ao menos por um tempo e...

- Eu vivi a minha vida inteira cercada por coisas antiquadas e feias. Agora quero uma casa bonita e moderna. Acredita que eu comprei uma geladeira duplex? Também comprei um forno de microondas e um home theater está a caminho.

Aquilo era absurdo demais para ele digerir.

- Você não devia ter feito isso sem me consultar. Essa casa também é minha, esqueceu?

- Você já tem sua própria casa que nossos pais te deram. Ela vale mais do que essa porque é mais nova e muito bem localizada.

- Mas... – ele ficou sem como argumentar, já que a irmã tinha falado a verdade. Ainda assim ele não se conformava por ela ter se desfeito dos objetos pessoais dos seus pais.

- Eu guardei as fotos da família, se é isso que te preocupa. Pode levar se quiser. Agora se me der licença, tenho que comandar essa reforma.

- O Sr. Malacai já sabe disso?

Ela deu de ombros.

- Não me interessa. A casa é minha e eu faço o que quiser com ela.

Por um instante ele pensou que a irmã tinha enlouquecido. Como ela tinha coragem de desdenhar da autoridade do Sr. Malacai daquele jeito?

- Quando ele souber...

Agnes foi atender ao chamado de um pedreiro que queria consultá-la sobre algo. Antes de sair do cômodo, ela falou.

- Ele não terá tempo para me incomodar por causa disso, fique tranqüilo.

Ela saiu dali deixando-o atordoado com tudo aquilo. Por que ela parecia tão segura de que Sr. Malacai não ia criar problemas? Um arrepio desagradável percorreu seu corpo. Por um instante ele pensou que havia um coração naquele peito, mas provavelmente era só um buraco negro. Ela não lamentava nem um pouco a morte dos pais, talvez estivesse até feliz. Pensar assim o fez sentir nojo dela e de toda a organização, por isso ele só pegou a caixa com as fotos de família e saiu dali rapidamente.

“Até que seria bom se aquele garoto e os amigos dele conseguissem dar um jeito nessa barreira.” Foi seu último pensamento antes de ligar o carro e sair daquele lugar que lhe trazia lembranças tão tristes.

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Era noite e Cebola olhava em volta feliz com o trabalho daquele dia. A casa estava toda pintada e dentro de dois dias ele ia poder tirar os moveis do porão. O inquilino já tinha jantado a comida que ele trouxe da casa do Cascão e estava em seu quarto jogando no computador. Felizmente ele não estava incomodado com a reforma porque tudo o que precisava estava no quarto, a roupa estava sendo lavada e as refeições continuavam sendo servidas como sempre.

Após trancar toda a casa, ele foi ao porão se preparar para dormir e viu que alguém o esperava. Ele não se assustou.

- Saudações, rapaz. – Paradoxo o cumprimentou.

- Tava mesmo querendo falar com você.

- Pela sua expressão, imagino que tenha descoberto mais alguma coisa. – ele falou esperançoso.

- Descobri sim, escuta só.

Quando Boris tinha lhe falado sobre barreira entre o problema e a solução, Cebola lembrou-se de algo que Magali tinha falado no dia em que Penha saiu do seu corpo para assombrar a festa de Halloween da escola. Segundo ela, o tecido que separava o mundo material do espiritual ficava mais fino no das bruxas. Com isso, ele pensou no que aconteceria se esse tecido ficasse grosso demais e daí tirou a resposta que estava procurando.

- Uma barreira separando a Terra do mundo espiritual? Hã... você sabe que eu sou um cientista, não sabe?

- Você até parece o Dr. Stravos, que não acreditava em sobrenatural de jeito nenhum!

- Aquilo que vocês chamam de sobrenatural são apenas coisas para as quais ainda não existe explicação.

- Tá, que seja. De qualquer forma, essas coisas “para as quais ainda não existe explicação” não estão acontecendo nesse mundo. O Nimbus não consegue fazer mágica nenhuma, Viviane e Creuzodete morreram, a centopéia falante não apareceu pro Feio, Sarah não tem poder pra ler as cartas, a Magali não vira bruxa quando a gente fala a frase desbloqueio e aqui não tem os filhos de Umbra.

Paradoxo compreendeu. Fenômenos que tinham acontecido no mundo original não estavam acontecendo no alternativo.

- Alguma coisa tá bloqueando o sobrenatural nesse mundo e é isso que tá causando o desequilíbrio.

- De que forma a falta do sobrenatural causa esse desequilíbrio?

- Aí você me pegou, só sei que essa barreira tá forte demais. Então se for possível, sei lá afinar essa barreira...

- Teoricamente o desequilíbrio acabaria. Sim, entendo. E como você pretende fazer isso? Sabe ao menos o que teria alterado essa barreira?

- Saber ao certo eu não sei não, mas aposto que a Vinha tem algo a ver com isso.

O mais velho coçou o queixo.

- Por que eles fariam esse tipo de coisa? Eles também são afetados pela crise global.

- Não sei, vai ver eles queriam causar essa crise pra depois resolver tudo e ficar como heróis. Seria muito mais fácil conseguir o controle sobre o país desse jeito. É só um palpite.

- E como você pretende remover essa barreira?

- Nem faço idéia... – ele respondeu desanimado, pois nem mesmo sabia onde ficava essa barreira. – Mas eu ainda quero entrar na sede da organização. Você já deu um jeito nisso?

- Eu estou cuidando desse assunto, não se preocupe. Nos vemos no futuro.

Ele desapareceu dali e Cebola foi dormir sentindo-se mais animado. Ele nem fazia idéia de como resolver aquilo, mas pelo menos tinha esperança. Antes de dormir, ele foi relembrando os bons momentos que passou com a turma, especialmente a Mônica original. Como ele estava com saudades!

Era por causa dela que ele suportava tudo aquilo. Será que Paradoxo ia ter condições de cumprir sua promessa e ajudá-lo? Ele precisava daquela esperança para seguir em frente.

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Cascuda lamentou não poder se produzir toda, pois as regras do colégio eram muito rígidas. Céus, até perfume era proibido! O jeito foi se armar com o seu melhor sorriso e partir para o ataque.

- Oi Cascão! – falou com a voz adocicada, deixando o rapaz meio abobalhado.

- Er... oi...

- Você podia me dar uma ajudinha aqui? A porta do meu armário emperrou e as meninas não conseguiram abrir. 

- Tranqüilo.

A porta do armário nem estava tão difícil assim de abrir e ele desconfiou de que ela só queria mesmo puxar assunto.

- Ah, obrigada! Nossa, você ficou tão forte!

O rosto dele corou.

- Vem, vamos pra sala senão um inspetor vai pegar no nosso pé.

Eles foram juntos e conversando. Na verdade, Cascuda falava e ele só respondia.

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Na sala de aula, Magali revisava uma matéria com a Mônica quando viu os dois entrando e conversando como velhos amigos ou talvez algo mais. Ela abaixou a cabeça rapidamente para não demonstrar seu desagrado e continuou a ler o livro. Mas Mônica percebeu o que tinha acontecido.

- Ué, por que o Cascão tá andando com a Cascuda?

- Ela ainda gosta dele e parece que ele também.

- Ele te falou isso?

- A Denise falou.

- Ué, a Denise tá conversando com você agora?

- É, acho que ela quer fazer as pazes ou algo assim. Aí ela falou que a Cascuda tá pensando em voltar pro Cascão e que ele também gosta dela...

- Peraí... ela te falou isso na mesma hora em que veio tentando fazer as pazes? – Magali levantou a cabeça.

- É... Por quê?

O professor chegou na sala e não deu para conversar mais. Quando teve uma chance, ela mandou um bilhete para o Cebola contando o que tinha acontecido.

Cebola leu o papel e o escondeu rapidamente. Não levou nem dez segundos para ele perceber que Denise fez aquilo de propósito. Mônica já tinha lhe falado que ela não queria fazer as pazes porque não conseguia esquecer o que Magali tinha lhe feito. Ele mesmo tentou conversar com ela várias vezes e não teve sucesso. Conhecendo Denise como ele conhecia, era bem capaz de ela estar tentando se vingar de alguma forma.

“Peraí... se a Denise quer se vingar empurrando o Cascão pra Cascuda, é porque ela percebeu que a Magali gosta dele. Haha, ele tem que saber disso!”

Seu objetivo era manter os quatro unidos. Se voltasse com a Cascuda, essa união poderia se quebrar um pouco porque ele ia ter que passar mais tempo com a namorada. No mundo original não tinha problema porque o laço entre eles sempre foi forte, mas no mundo alternativo era preciso tomar cuidado. Mais tarde ele pretendia ter uma conversa com o Cascão.

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Não foi tão prazeiroso quanto ela pensou porque Magali sempre foi boa em esconder as emoções, mas ainda assim Denise vibrava ao imaginar como aquela esquelética devia estar sofrendo por dentro. O próximo passo era ajudar Cascuda a fisgar o rapaz de vez.

Enquanto isso, ela pensava em Antônio que não lhe dirigia a palavra a bastante tempo porque sempre tinha um inspetor chato de olho. Ou ele não queria mesmo falar com ela? Bem, aquilo não deveria importar porque ela jamais iria querer alguma coisa com aquele neandertal. Ou não? Claro que não, que absurdo! Se bem que ele parecia tão mudado! Muito diferente do antigo cão de guarda da Magali que só conseguia falar algumas frases simples e socar as pessoas.

Ele estava mais civilizado, controlado e parecia ter um bom futuro pela frente. Por outro lado, trabalhava numa instituição onde os homens não passavam de trastes machistas e era bem provável que ele também fosse igual. De jeito nenhum ela ia querer alguém assim na sua vida. E pensando bem, alguém como ele jamais iria querer ficar com ela, então os dois estavam empatados.

Tirando o fato de ainda querer saber notícias do Manezinho, ela decidiu que não ia mais se preocupar com ele.

Uma pena o coração pensar diferente.

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A reforma estava indo bem e dentro do prazo, uma vez que não encontraram nenhum imprevisto. A fachada era o que demandava mais tempo porque precisava mexer um pouco na estrutura, mas a parte interna estava bem adiantada. Alguns quartos já estavam prontos para receber os móveis, assim como os banheiros.

Rosália estava arrumando um quarto de hóspede com roupa de cama nova e enfeites que Agnes tinha comprado. Tudo estava limpo, colorido e com cheiro de novo. Ainda estava bem longe das suas preferências, mas ela achou que estava bem melhor que antes.

Ela ainda queria deixar o emprego, mas decidiu levar por mais um tempo. Tudo era mais fácil sem aqueles dois velhos neuróticos lhe fazendo limpar a mesma coisa três ou quatro vezes. Agnes ainda lhe dava medo, mas ela não ficava em casa o dia inteiro. 

- Como está indo, Rosália? – Agnes perguntou entrando no quarto de hóspedes.

- Está quase pronto, só falta colocar toalhas limpas no banheiro, sabonete e papel higiênico também.

Ela foi conferir o serviço e ficou satisfeita. Tudo estava pronto para receber uma pessoa muito importante que ia chegar dentro de alguns dias.

- Quando terminar, eu preciso que você também limpe a suíte principal para receber os móveis amanhã. E preciso que me ajude a desembalar algumas coisas também.

- Sim senhorita.

Agnes saiu do quarto e Rosália suspirou de alívio. O que tinha naquela mulher que lhe deixava daquele jeito?

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Ele deu uma última olhada na Magali antes de sair com a Cascuda. Por que ela estava agindo tão friamente com ele naquele dia? Eles mal tinham conversado e a moça parecia evitar sua companhia. Será que seu último banho tinha perdido a validade? Mas não fazia nem dois dias!

- Ei, vamos? – Cascuda chamou e ele acabou seguindo com o coração apertado. Talvez Magali nem gostasse dele no fim das contas.

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Ela fingiu estar procurando algo na mochila só para não ver o Cascão indo embora com a Cascuda. Que diabos, por que aquilo a incomodava tanto? Não era para ela desejar a felicidade do seu melhor amigo? Após tantos anos atrapalhando a vida dele, nada mais justo do que querer que ele conseguisse colocá-la nos eixos de novo, certo? Então por que seu coração doía? De onde vinha aquela tristeza? E que sentimento estranho era aquele? Parecia uma mistura do medo de perder com uma sensação de estar sendo deixada de lado.

Mas é claro que ela não ia deixar que ninguém notasse nada. Ela podia não ser mais a valentona do colégio, mas ainda tinha que zelar por sua imagem de garota forte e destemida.

- Ei, Magali, espera! – Mônica lhe chamou correndo em sua direção.

- Ué, sua mãe não veio te buscar?

- Ela tá esperando a gente. Você não quer almoçar lá em casa?

Como seus pais trabalhavam durante o dia, Magali tinha que almoçar sozinha, o que era bem chato além da comida requentada. Por isso aceitou o convite da amiga.

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- Você quer tomar sorvete? – Cascão perguntou meio sem jeito e Cascuda fez uma careta.

- Ih, credo! Sorvete não! Vamos só tomar um refresco, senão eu não almoço lá em casa.

Eles foram à lanchonete e Cascão pediu um suco para os dois. Enquanto bebiam, ele resolveu perguntar.

- Hã... tudo bem a gente ficar aqui? O seu namorado pode não gostar...

- Liga não que aquele ali só preocupa com a sorveteria do pai.

- “Aquele ali”? O namoro de vocês não anda legal não, né?

Ela suspirou.

- Não mesmo. Quer dizer, ele é romântico, carinhoso, bem legal, tranqüilo... mas sei lá, sinto que falta alguma coisa. E ele também só fica me dando sorvete, não agüento nem o cheiro mais!

O rapaz não entendeu lá muita coisa. Será que as garotas nunca estavam satisfeitas?

- Mas e você? Como tá lá no time? O treinador vai mesmo te deixar jogar no próximo campeonato? – O rosto dele se iluminou.

- Vai sim, ele tá muito empolgado comigo, só que não demonstra.

- Ah, ele é assim mesmo. O importante é que você vai fazer bonito e ganhar a taça pro colégio.

- Peraí, também não é pra tanto. Mas até que seria legal ganhar mesmo...

Cascão se sentia meio estranho. Parte dele estava feliz pela atenção que recebia da ex-namorada. Mas outra parte parecia bem triste ao lembrar que Magali sequer notou quando os dois saíram juntos do colégio. Será mesmo que ela não importava com ele?

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- Poxa, então foi pra isso que você me chamou pra almoçar? – Magali perguntou com a cara de quem tinha comido jiló estragado.

- Claro que não. Mas eu percebi que você anda olhando diferente pro Cascão a vários dias.

- Diferente como assim?

- Não sei dizer, tipo... seus olhos brilham, seu rosto fica corado, você sorri que nem uma boba...

- Tá me estranhando?

- Ué, o que tem? Quando a gente gosta de alguém, isso é normal!

Se ainda estivesse na sua fase de valentona, Magali teria jogado o prato na cara da Mônica. Mas ela não gostava de desperdiçar comida e também tinha deixado o passado briguento para trás.

- Por que essa cara? Tô falando mentira por acaso? É claro que você gosta do Cascão!

- Mas... mas... eu nem tinha percebido... quer dizer, eu gosto de andar com ele, a gente ri junto, conversa bastante, ele me entende, eu entendo ele... mas não tinha me tocado que... que...

- Que você gosta dele mais do que como amigo.

Ela pousou o garfo sobre o prato e ficou de cabeça baixa e com o rosto queimando.

- Sua boba, não precisa ficar assim! É normal gostar de alguém. Você também tem um coração, viu?

- E daí? Ninguém garante que ele sente o mesmo por mim.

- E ninguém garante que ele não sente. Como vai saber se não tentar? Se quer saber, acho que ele gosta de você sim, só que você nunca deu bola. 

- Como você sabe disso?

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- E como você tem andado com a... Magali?

- Hã... bem... a gente fez as pazes, conversamos bastante e estamos de boa com o passado. Agora tá tranqüilo.

- Deve estar mesmo, vocês sempre andam juntos.

- É legal andar com ela.

- Por acaso ela tá te tratando bem agora? Eu lembro de como era antigamente e não achava nada legal.

- Quê? Não, tá tudo bem agora! Ela mudou e não me trata mais daquele jeito não.

- É, não nego que ela tá mais tranqüila agora e não incomoda ninguém...

- Viu só? Ela é super gente boa, só não teve a chance de mostrar isso.

- Ainda não sei... a Mônica tá tentando, mas as meninas continuam assim de lado com ela sabe? Especialmente a Denise.

- Poxa, vocês podiam dar uma chance pra Magali. Tá, ela fez muita coisa errada no passado, mas agora tá tentando ser diferente. Todo mundo tem direito de mudar e ter uma segunda chance, não tem?

Cascuda deu de ombros.

- É... tem... – não que ela não quisesse que Magali fizesse parte da turma, não era isso. Só lhe incomodava o fato de Cascão ser muito ligado a ela, ainda que não houvesse nada entre eles. Isso podia atrapalhar um provável namoro.

- A Magali é muito legal, é alegre, divertida, engraçada... a gente ri das mesmas coisas, conta piada, é muito bacana mesmo.

- Ahã. – Cascuda foi ouvindo e respondendo com monossílabos a medida que Cascão foi elogiando a amiga. Ela não queria fazê-lo parar para não ser grosseira, mas também não estava gostando daquilo. Pelo visto ele gostava mesmo daquela magrela. Hora de jogar mais pesado.

- Fico feliz que agora vocês sejam bons amigos. – ela deu ênfase na última palavra.

- Bons amigos. – ele repetiu um tanto amargo.

- Agora cada um de vocês pode seguir sua vida, não é? Ela segue a dela e você segue a sua.

- ...

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- Se você gosta do Cascão, é melhor fazer alguma coisa logo porque agora a Cascuda também tá de olho nele.

- Como é? Tá achando que eu vou sair por aí brigando por causa de um garoto? Eu mudei, mas não fiquei burra não!

- Ei, calma! Não é pra você brigar com a Cascuda, nunca falei isso. Mas talvez você devesse conversar com o Cascão pra ele saber como você se sente.

- Justo agora que a Cascuda também tá dando de cima? Aí ele vai pensar que eu só tô fazendo isso pra ele não ficar com ela!

- O Cascão sabe que você não é dessas coisas. E puxa, você sempre lutou pelo que queria, não é?

A outra ficou sem jeito.

- Você nunca fugiu da luta. Por que justo agora vai fraquejar? Se vocês se gostam, então tem mais é que tentar.

- Mas a Cascuda...

- É o Cascão quem decide. Mas ainda assim você precisa tentar. Se não der, paciência. Você só não pode é ficar aí triste da vida porque teve medo de tentar.

- Ainda não sei... quer dizer, mesmo que o Cascão goste mesmo de mim, se a gente ficar junto vai dar problema com a Cascuda e com o resto das meninas...

Mônica já tinha pensado naquela possibilidade. Droga, por que justamente agora Cascuda resolveu que queria ficar com o Cascão? Eles ficaram anos sem se falar, mas agora que tudo na vida dele estava indo bem, ela resolveu aparecer?

- Se o Cascão quiser ficar com você, a Cascuda vai ter que ser madura pra entender isso.

Magali tinha suas dúvidas, mas ficou pensando que talvez fosse bom arriscar. Mônica estava certa, ela não podia fugir da luta assim tão facilmente. Ela nunca foi disso.

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Quando se despediram, Cascuda deu na sua bochecha beijo molhado e cheio de segundas intenções que ele percebeu muito bem. Ela tinha deixado bem claro que não estava feliz com o namoro e ele achou que se tomasse uma atitude, ela ia dar um chute no namorado para ficar com ele.

Mas era isso que ele queria? Apesar de ainda esta balançado por causa da ex-namorada, seu coração também batia mais forte pela Magali e ele não sabia o que fazer, em qual das duas investir.

“Eu vou falar com o Cebola. Caramba, devia ter pensado nisso antes!” Cebola era o único amigo com quem ele podia conversar, nada mais lógico do que pedir conselho para ele.



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