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História Universo em Desequilíbrio - De volta a realidade


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 52 - De volta a realidade


A mudança foi súbita. Num minuto atrás, ela se sentia feliz como nunca. Depois tudo mudou e só o que ela queria era gritar e chorar de raiva e tristeza.

- Vamos, não podemos perder tempo. – Ele chamou mais uma vez.  Ela deu um passo para trás e falou com a voz chorosa.
- Ainda não, por favor! Deixa eu ficar mais um pouquinho!
- Lamento, mas aqui não é o seu lugar.

As lágrimas começaram a correr pelo seu rosto. Mesmo sabendo que precisava ir embora um dia, Mônica não esperava que ia acontecer de repente e não estava preparada para ir tão cedo. Não antes do Cebola alternativo lhe pedir em namoro.

- Seu Paradoxo, me dá mais um dia, só mais um dia! O Cebola daqui vai me pedir em namoro!
- Isso é algo que ele deve resolver com o seu duplo, não com você.
- Não, eu não quero ir!
- Sinto muito, mocinha.

Ela começou a chorar mais ainda, sem acreditar no que estava acontecendo. Logo agora que tudo estava indo tão bem, ela se via obrigada a deixar aquele mundo e voltar para sua antiga vida de garota marrenta, dentuça, pobre e eternamente enrolada por um Cebola complicado e cheio de neuras.

- Eu quero trocar de lugar com ela, não tem jeito?

Paradoxo espantou-se com a pergunta e respondeu com pesar.

- Seu duplo não conseguiria viver e ser feliz no mundo original. Não é a realidade dela. Além do mais, essa vida não é sua.
- Mas eu a criei!
- Criou para ser usufruída por outra pessoa. Desde o início você sabia disso.
- Não é justo!
- Menina, continuar vivendo aqui seria como roubar a vida que pertence a outra pessoa.
- Ela pode ficar com a minha, eu não ligo!
- Seu outro eu não está preparado para viver no mundo original.  
- Ela se vira!
- Por favor, seja razoável! Está disposta a fazer sua felicidade em cima da infelicidade de outra pessoa? Quer mesmo roubar a vida dela desse jeito?

Seu pranto redobrou e Mônica se sentia dilacerada por dentro. Não, ela não queria ir embora. Seu coração não queria se separar do Cebola alternativo. Foi ela quem o conquistou, não era justo deixar que outra pessoa ficasse com ele, ainda que ela fosse o seu duplo.

- Eu não quero separar do Cebola!
- Há um Cebola no seu mundo, não há?
- Não é a mesma coisa. Eles podem parecer fisicamente, mas não são os mesmos!
- Entendo... você se apegou ao Cebola daqui, não foi? Bem, vai ter que lidar com isso de outra forma. Não há como você trocar de lugar com seu duplo, isso não irá acontecer. Sinto muito.

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- Puxa, já acabou? – Zé Luis falou surpreso quando a tela ficou totalmente escura, indicando que a transmissão havia acabado.
- Parece que sim. – Astronauta respondeu.
(Xabéu) – E agora, o que irá acontecer?
(Astronauta) – Suponho que ele irá buscar a Mônica naquele mundo e trazê-la de volta.

Magali ficou animada.

- Ah, que bom! Ainda bem que isso terminou, que sufoco!
(Cascão) – Caramba, eu queria muito saber como o meu duplo ficou. Será que ele vai conseguir namorar a Cascuda de lá?
- E a outra Magali? Ai, tomara que ela fique bem!

Cebola ouvia tudo em silêncio. Então realmente acabou e em breve Mônica ia voltar para eles. Ele sentia ao mesmo tempo feliz e receoso. Como iam ficar as coisas entre eles depois de tudo aquilo? Talvez ela até resolvesse lhe dar mais valor e parasse de ser tão chata. Por que não? Sem seu duplo por perto, ela teria somente a ele e não ia cometer a loucura de perdê-lo por causa dos seus ataques de ciúmes.

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Mônica chorava desesperadamente e Paradoxo tentava argumentar apelando para o bom senso dela.

- Menina, seja razoável. Você não quer voltar para seus amigos?
- M-meus amigos? – ela parou um pouco de chorar e lembrou da Magali, Cascão e dos outros amigos no mundo original. Seu coração ainda sentia saudade deles, assim como dos seus pais originais.

Aquilo fez com que ela entendesse que não podia mesmo viver ali. Apesar de ter amigos, não era a mesma coisa e por mais que tivesse tudo, sempre ia faltar um pedaço de si mesma que tinha ficado no outro mundo. Com o tempo, ela ia acabar se arrependendo daquela escolha já que para ficar ali, seria preciso também roubar o lugar de outra pessoa que não ia conseguir se adaptar tão bem ao seu mundo. Ainda assim, era doloroso demais ter que partir sem ter feito tudo o que queria.

- O que vai acontecer comigo quando eu voltar?
- Você vai voltar a ser como era antes.
- Quer dizer dentuça, nervosa, brigona e com um ouriço morto no lugar dos cabelos?
- Hã... sim.
- Por que não posso continuar com esse corpo?
- Porque é o corpo do seu duplo.
- E as coisas que eu sei?
- As coisas que ELA sabe, você quer dizer.
- Então eu vou esquecer tudo?

Paradoxo procurou ser paciente ao ver como aquela moça estava sofrendo.

- Você não estudou piano e as outras coisas. Foi ela. Então isso vai ficar nas memórias dela. Quando for embora, você irá se lembrar do que viveu e aprendeu aqui, mas as memórias passadas do seu duplo ficarão no cérebro dela.
- E ela vai lembrar de mim?
- Não. No momento, ela está adormecida. Quando as duas se separarem, ela não se lembrará de nada. Será melhor assim.
- Puxa, eu queria tanto continuar lembrando das coisas que ela aprendeu!
- Sem ter estudado e nem se esforçado? Isso seria como colher algo que você não plantou. Achei que você não gostasse de coisas que viessem sem trabalho.
- E não gosto, mas...
- Não tem “mas”. Você é geneticamente igual ao seu duplo, então tudo o que ela aprendeu você também poderá aprender caso queira.
- Só que leva tempo...
- Pelo que sei, preguiçosa você não é. Agora vamos? Nós temos que separar as duas e te levar de volta antes que a Terra original comece a ficar com problemas pela sua falta.
- Tá bom, que droga! Queria pelo menos ter me despedido do Cebola!
- Você já se despediu dele!
- Eu não sabia que aquela ia ser a última vez!
- Assim são as pessoas. Elas nunca sabem que as coisas podem mudar num segundo e por isso não aproveitam a vida como deveriam. Agora vamos. Calma, prometo que não vai doer nada!

Ainda chorando, Mônica ficou quieta enquanto Paradoxo acionou o relógio. Aquela eletricidade que percorreu seu corpo ficou mais intensa e ela sentiu algo sendo tirado de dentro das suas entranhas. Pelo menos não tinha doído nada, conforme Paradoxo tinha prometido. Quando abriu os olhos, ela viu uma garota flutuando ao lado dele. Seus olhos estavam fechados e ela parecia estar numa espécie de transe.

- Essa é a outra eu? Puxa, é tão bonita!
- Bem, acabou. Precisamos colocá-la de volta na cama. Quer fazer as honras?

Mônica a segurou cuidadosamente nos braços e a levou para a cama, ajeitou as cobertas e alisou suavemente seus cabelos.

- Boa sorte, viu? Cuida bem do Cebola. – Ela sussurrou com cuidado para não acordá-la  levantou-se dali ainda com o coração partido.

Quando voltou para perto de Paradoxo, ela se deu conta de que estava com sua mochila sobre os ombros, estava usando as mesmas roupas e ao passar a língua nos dentes, viu que tinha voltado a ser dentuça. Todo o resto do seu corpo deve ter voltado ao normal e ela se sentia esquisita consigo mesma.

- Está na hora. Não se preocupe, tudo ficará bem. – Ele acionou o relógio e num piscar de olhos, ela se viu no meio de um tornado elétrico, o mesmo que a tinha levado para aquele mundo. Tudo girava ao seu redor e um barulho estrondoso ecoava por todos os lados. Aos poucos, seu corpo foi descendo a medida que o tornado ia diminuindo de intensidade.

Por fim, tudo acabou e seus pés tocaram o chão. Três vozes diferentes a chamaram.

- Mônica!

Ela olhou e viu na sua frente Magali, Cascão e Cebola. Eles estavam na mesma rua onde tudo tinha começado, olhando para os lados tão confusos quanto ela. Como eles tinham ido parar ali tão depressa? O tornado foi embora, deixando o céu limpo novamente como se nada tivesse acontecido.

- Mô, você tá bem? Fala alguma coisa, amiga! – sua garganta apertou e ela viu que se falasse algo, ia chorar desoladamente. Magali entendeu tudo e a abraçou com força.
- Bem vinda de volta. – Cascão falou tentando animá-la e deu uma cotovelada no Cebola para que ele falasse alguma coisa. O Careca tomou coragem e perguntou.
- Você tá bem?

Ela fez que sim com a cabeça e depois disse olhando o relógio.

- Melhor a gente correr pra não chegar atrasado na escola.

Antes que alguém falasse alguma coisa, ela saiu dali e passou direto pelo Cebola sem nem olhar em sua direção. Não, ela não conseguia encará-lo depois de tudo o que tinha acontecido naquele mundo. Não conseguia e nem queria também.

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Na nave Hoshi, Zé Luis estudava os instrumentos e viu satisfeito que a distorção ao redor da Terra havia acabado. Apesar de maluco, o plano daquele Paradoxo tinha funcionado de verdade.

- Parece que as coisas voltaram aos seus lugares, comandante.
- Ainda bem. Acho que agora não teremos mais surpresas.
(Xabéu) – Será que eles irão ficar bem?  Confesso que fiquei meio preocupada quando eles desapareceram daqui tão de repente.
(Zé Luis) – Eles voltaram para a Terra, no instante depois de o tornado ter aparecido. Então tudo voltou ao normal mesmo e o tempo irá seguir o seu curso.

Astronauta coçou o queixo e falou admirado.

- É impressionante como aquele sujeito consegue manipular tão bem o tempo. A propósito... como andam as coisas no universo alternativo? Alferes, sintonize o mundo paralelo.
- Sim, comandante. Deixa eu ver... como é?
- Algum problema?
- As coordenadas desse universo desapareceram! Como pode isso?
- Não acredito! Isso só pode ser coisa daquele cientista maluco!
(Xabéu) – Por que ele teria feito isso?
- Apenas para ser irritante, não há outra explicação! – ele falou frustrado por não poder continuar acompanhando os acontecimentos na outra realidade.

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Do lado de fora da nave, Paradoxo dava risadas.

- Ah, comandante! Não sabe que a curiosidade matou o gato? Não há por que ficar espiando esse mundo. Bem, bem... meu trabalho aqui acabou. acho que vou dar uma olhadinha nos outros universos por aí, deve ter muita coisa interessante para ver e fazer.

Dito isso, ele acionou o relógio e desapareceu dali rumo a novas aventuras. Para alguém como ele, era impossível ficar entediado.

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- Tchau Mônica! – Marina se despediu e foi embora de braços dados com Franja. Cascuda saiu dali abraçada com Cascão, como dois pombinhos apaixonados.

Ela até achou graça quando os dois passaram perto do filho do sorveteiro e Cascão o encarou, apontando os dois dedos para seus olhos e depois apontando o indicador para o rapaz, dando a entender que estava de olho nele.

- Cascão, você deu pra implicar com ele agora? – Sua namorada o repreendeu.
- Qualé, eu tô ligado que aquele panaca anda se engraçando pro seu lado!
- Deixa de ser bobo! – ela falou se fingindo de zangada, mas no fundo estava toda derretida por vê-lo sentindo ciúmes daquele jeito.
- Bobo nada, aquele ali não vai me passar pra trás de jeito nenhum!

Logo depois, passaram por ela Quim e Magali.

- Mô, o Quim me chamou para comer uns docinhos lá na padoca do seu Manuel. Você quer ir?
- Não, hoje eu vou direto pra casa, tá?
- Tá bom. Te cuida, amiga!

Magali foi embora e Mônica ficou ali por um tempo olhando seus amigos que iam embora também. Vários dias tinham passado e ela ainda não tinha se acostumado com eles de novo, que coisa estranha! Titi estava bem vivo e dando de cima da Aninha. Sempre que o olhava, ela sentia arrepios desagradáveis ao lembrar da imagem dele inerte dentro do caixão coberto por cravos brancos e amarelos.

DC era o mesmo de sempre, não agindo mais como um idiota que pegava no seu pé. Jeremias não namorava a Aninha e nem era o capitão do time de futebol. Isa estava gordinha como sempre e não fazia parte da panelinha de Carmem. Nem ela, nem Maria Melo e nem a Irene. Elas não eram mais as patricinhas mais chatas do colégio.

Daquela vez, era Denise quem andava com Carmem e as duas viviam circulando pelo shopping do Limoeiro. Cascão tomava banho com mais freqüência, era um rapaz alegre e namorava a Cascuda.

Também estava difícil para ela se acostuma com Magali novamente. Sua amiga agora estava meiga novamente, com seus cabelos compridos e sempre gentil com todos.

E, claro, havia o Cebola original. Alguns dias tinham se passado e ela não conseguia voltar a falar com ele novamente. E ele também não parecia fazer muita questão de procurá-la. Será que ele só estava respeitando seu espaço ou não queria mesmo falar com ela? Aquilo não interessava muito e ela não ficou triste com aquele distanciamento.

Foi só pensar nele que ela o viu andando com a Irene no outro lado da rua. Eles andavam apenas como dois amigos enquanto a loira conversava sobre qualquer coisa, ele a olhou com um sorrisinho no rosto, como se estivesse lhe desafiando a fazer algo. Ela apenas virou o rosto para o outro lado e continuou seu caminho.

- Vixe, o carequinha tá com a piriguete da Irene! – Denise falou do lado dela.
- E daí? Deixa eles.

Denise a segurou pelos ombros e lhe sacudiu com força.

- Quem é você e o que fez com a Mônica?
- Ai, pára com isso?
- Sobe, entidade, sobe! Sai daí que esse corpo não te pertence!
- Sua doida, eu tô bem!
- Você tá bem vendo o Cebola com outra? Meu mundo caiu!

Denise saiu dali correndo e Mônica sabia que ela ia postar aquela fofoca em seu blog e não conseguiu segurar uma risada. Não importava em qual mundo ela estava. Denise seria sempre Denise.

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Enquanto andava, Cebola ia olhado para trás e não entendeu por que a Mônica estava rindo daquele jeito logo após tê-lo visto passeando com a Irene. Pelo visto, seu plano de fazê-la reagir e ir atrás dele não estava dando certo.

- Algum problema, Cebola?
- Heim? Claro que não. Você estava dizendo?

Ela voltou a falar e ele continuou imerso em seus pensamentos sem prestar atenção em nada. Se Mônica não se alterou nem mesmo quando o viu junto com um dos seus maiores desafetos, era porque alguma coisa estava muito errada e ele percebeu que precisava fazer algo imediatamente.  

Assim que levou Irene para casa dela, ele correu para a floricultura do bairro e comprou três botões de rosas. Certo, a situação estava ficando crítica. Do contrário que ele tinha pensado, ela não correu atrás dele e não parecia fazer a menor questão da sua presença. Talvez ter passado tanto tempo no outro mundo pudesse ter abalado os sentimentos dela.

Pelo que ele sabia, Magali tinha lhe contado que eles viram tudo o que se passou na realidade alternativa e mesmo assim ela não pareceu incomodada em saber que ele a viu beijando outro garoto e nem se preocupou em ir atrás dele para lhe dar explicações. Aquilo, mais o fato de ela vê-lo com a Irene e não esboçar nenhuma reação, era um sinal claro e óbvio de que ela estava lhe escapando como areia entre os dedos.

Talvez toda aquela experiência tivesse deixado-a cansada de tanto esperá-lo. Então ele viu que não tinha jeito. Ou a pedia em namoro, ou a perdia para sempre. Embora não quisesse dar aquele passo ainda, Cebola sabia que precisava fazer aquele pequeno sacrifício de abrir mão do seu desejo de derrotá-la. Ou pelo menos adiar aquilo para o futuro. Não era o que ele queria, mas não tinha outro jeito.   
 

 



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