História UnKiss Me - Suga BTS - 6 meses - Conquistando o topo do mundo

- Sério? – me viro pra ele com a maior cara de cética do universo.

Yoongi balança a cabeça em afirmativa sem me encarar.

- Mas você detesta esses lugares...

- Eu não detesto – cruza os braços – Sou apenas completamente indiferente. Não é o pior lugar do mundo, mas também não é o meu preferido.

- E o que estamos fazendo aqui?

- Sei que você adora esses parques desde pequena. Ficava toda animada toda vez que seu pai fazia algum evento beneficente nesses lugares e tentava me arrastar pra roda gigante a todo custo.

Eu deveria ficar envergonhada por aquele fato, mas na verdade me sinto extremamente feliz por ele se lembrar daqueles detalhes. Yoongi lembrava de mim. Tento ao máximo não abrir nenhum esboço de sorriso.

- Vem! – me puxa pelo braço – Não te trouxe aqui pra ficar parada na entrada.

Me arrasta até a bilheteria e ignorando algumas pessoas na fila se dirige até o guichê que tinha acabado de liberar. Troca algumas palavras com a atendente, depois se vira para mim:

- Preciso do seu RG – estende a mão.

Estranho seu pedido, mas mesmo assim pego minha carteira no bolso da blusa e assim que retiro o documento lhe entrego. Presto atenção na atendente enquanto ela confere tudo, depois ela se curva inúmeras vezes e eu dou risada. Yoongi agradece e pega as duas entradas pra me empurrar até as catracas agora.

- Pra que isso?

- Eu disse pra ela que você ia ter uma reunião com os administradores em nome do seu pai.

- Se aproveitando do meu nome...

- Alguém tem que aproveitar, não é? – exibi seu sorriso irônico e eu o acompanho com uma risada de verdade – E então... quer ir onde primeiro?

Obviamente aponto para a montanha russa mais próxima, recebendo um rolar de olhos de Yoongi seguido por um sorriso discreto que não passou despercebido por mim.

(...)

- Ai meu cabelo! – reclamo, mas estava rindo muito ao sair da terceira montanha russa. Minhas pernas estavam bambas – Não vim preparada pra isso. Vou ficar com um ninho de rato na cabeça.

- Usa um chapéu e fica tudo certo – ele passa uma mão pelos próprios cabelos finos praticamente inalterados e depois recoloca seu boné.

Por incrível que pareça Yoongi ria comigo. Ele estava rindo durante todo o passeio.

- Ei... você está rindo – eu e a minha boca grande que não aguenta ficar fechada.

Me arrependo de dizer aquilo no instante em que volto a me calar.

- Não se acostuma – responde com o costumeiro sarcasmo.

Damos dois passos em silêncio.

- Você gritou feito uma garotinha o tempo todo – me zoa e eu o olho de cenho franzido.

- Estranho seria se eu tivesse gritado feito a voz do mortal kombat anunciando um fatality – ele estreita os olhos e sorri pra mim – Eu sou uma garota, Yoongi.

- Ta bom... ponto pra você nessa rodada. Agora quero ir naquele barco que não faz nada.

- Ah não, sempre passo mal nesse brinquedo – faço uma careta.

- A gente vai ter que ir em todos. 

- O carrossel quase não tem fila...

- A gente vai ter que ir em quase todos – se corrige prontamente.

- Se é pra mim vomitar prefiro comer primeiro. Assim vou ter pelo menos o que colocar pra fora.

Yoongi logo me agarra pelo braço mais uma vez e me conduz até o restaurante/barraquinha/stand de comida mais próximo. Eu estava dopada ou ele estava fazendo quase todas as minhas vontades? Aquilo só acontecia na minha imaginação mais louca. Ou ele tinha feito alguma coisa ou ele queria alguma coisa... talvez os dois. Era melhor pensar em todas as possibilidades, mas a felicidadezinha insistente dentro do peito não ia embora. Afinal, eu era nova nessas coisas de “não me iludir”.

Eu peço um hambúrguer, refrigerante e batata frita como qualquer pessoa normal de 18 anos, enquanto Yoongi pede seu monte de carne como sempre. Quando vou pegar a carteira pra pagar pelo menos a minha parte, ele me impede.

- Eu pago – diz simplesmente, sem me olhar.

Cada vez mais estranho.

O tempo todo que esperamos pelos nossos pedidos eu passo admirando suas expressões e trejeitos cheios de swag. Aparentemente estava tudo normal, era o mesmo Min Yoongi de sempre. Relativamente sério, indiferente, sonolento e distante, mas tinha alguma coisa diferente. Eu só não sabia o que.

- Toma – tira o boné que estava usando e coloca na minha cabeça – Esconde esse cabelo.

- Eu te agradeceria se não fosse pela sua ironia tocante. 

Ajusto o boné na minha cabeça antes de pegar minha bandeja e seguir com ele pra uma mesa. Assim que nos sentamos eu ataco meu lanche, morrendo de fome. Precisava repor minhas energias e forças se quisesse aguentar todos os outros brinquedos que Yoongi me obrigaria a ir. Ao contrario de mim ele comia com toda a calma do mundo. Certas vezes parava e olhava as coisas a nossa volta. Parecia meio inerte.

- O que foi? – não resisto e pergunto.

- Nada, só pensando...

- Hmm... ta ai uma coisa fascinante – rio baixo encarando meu prato. Ele não ia querer falar nada comigo.

- As vezes meus pensamentos são completamente alheios ao ambiente ao meu redor. Geralmente quando vejo pessoas assim – faz um gesto amplo com a mão, indicando ninguém em especial. Ele tava falando da situação, pessoas se divertindo – ao invés de me sentir da mesma maneira, me sinto melancólico.

- Por quê?

- Não sei... eu tenho a idade da maioria das pessoas aqui, que provavelmente estão se divertindo e tirando um dia de folga de um trabalho, estudo ou sei lá... – suspira – Eu tenho 23 anos e sinto como se estivesse esperando minha vida finalmente começar.

E assim, do nada, ele trás a tona em mim tudo o que eu queria reprimir ao máximo. Minha paixão unilateral aperta meu coração e eu sinto a melancolia que ele citou. Hesito um pouco antes de respondê-lo.

- Você trabalha. Sei o quanto se esforça pra conseguir o que tanto quer. Tigrão você não é como essas outras pessoas. Todo mundo aqui segue um fluxo, o caminho mais fácil, o caminho seguro. Estudos e um trabalho normal que odeiam. Você trabalha muito pra conquistar seus sonhos.

Cruza os braços apoiando-os sobre a mesa. Da um sorrisinho singelo, mas completamente sem humor. Não estava nada convencido por minhas palavras. Claro que Yoongi já sabia de tudo aquilo que eu disse. Palavras não mudavam o fato de que sua realidade não era nada do que ele queria que fosse. Eu o entendia, talvez um pouco mais do que ele mesmo.

- As vezes parece que eu tomei todas as decisões erradas.

- Acho que todo gênio se sente assim antes de fazer alguma coisa brilhante.

Por impulso eu arrasto minha mão pelo tampo da mesa, afim de alcançar e afagar seu braço, mas me refreio no meio do caminho e passo a brincar com os guardanapos no meio da mesa. Não era um boa ideia afastá-lo agora que ele finalmente estava falando comigo.

(...)

Nós já tínhamos ido na maioria dos brinquedos do parque, mais uma vez na montanha russa de looping e como esperado passei mal no maldito barco. Pelo menos não cheguei a vomitar. Yoongi como o cavalheiro que era, ria muito da minha cara e ao mesmo tempo me consolava com tapinhas nas costas. Eu por outro lado, queria matá-lo ao mesmo tempo em que sentia que estava me apaixonando um pouco mais conforme o dia ia embora.

- Você está melhor? – pergunta sorrindo de canto.

Andávamos lado a lado entre algumas daquelas barraquinhas de jogos. A noite se aproximando rapidamente. Naquela altura achei que ele já teria enjoado de tudo aquilo a tempos e estaria com sua melhor cara de tédio querendo ir embora.

- Estou bem. O enjoo já passou – umedeço os lábios rapidamente e assim que ajeito o boné na minha cabeça reconheço um casal em uma das barracas – Ah não! Vamos sair daqui...

- O que foi? – segura meu braço antes que eu dê meia volta.

- Aquele filho de um dos sócios do meu pai. Yesung, lembra? – tento esconder meu rosto – Arrogante...

- ... que sempre se metia onde não era chamado – Yoongi completa, olhando Yesung diretamente – Eu lembro.

- Vamos tigrão, antes que ele nos veja – mais uma vez tento dar meia volta, mas pra minha surpresa ele segura minha mão.

- Ele já nos viu – e entrelaça nossos dedos.

Eu fico imóvel, olhando fixamente Yesung vir em nossa direção. Nenhum pouco preocupada com aquele idiota. Meu marido estava segurando minha mão.

- Julia e Yoongi – comenta sorridente – Não vejo vocês desde o casamento. Tirou ela do circulo social também Yoongi?

Nem um “como vai” antes de começar a despejar suas farpas. Olho diretamente pra Yoongi, sabendo o quanto aquelas coisas poderiam afetá-lo. Ele não foi quase preso a toa. Bom, eu era educada e precisava manter a paz.

- Andamos ocupados ultimamente – exibo meu melhor sorriso amarelo – Como vão as coisas Yesung?

- Bem mais monótonas depois que você salvou Min Yoongi do desastre que era a vida dele – ri colocando as mãos nos bolsos da sua calça de marca – Ainda na mesma com seus pais não é rebelde sem causa? – provoca  descaradamente - Eles evitam mencionar seu nome em qualquer evento.

Aperto a mão de Yoongi na minha ao senti-lo minimamente alterado e levo minha mão livre ao seu braço, acariciando-o devagar sobre o tecido da sua blusa de moletom.

- Que vocês continuem vivendo sua hipocrisia – Yoongi ao invés de prolongar aquele assunto, decide se manter frio sobre tudo – Eu prometi levar minha esposa na roda gigante antes de ir embora, então...

Agora o meu sorriso era completamente sincero.

- Seu pai vai gostar de saber que eu os encontrei Julia. Vou avisar que seu marido ainda não conseguiu arruinar sua vida...

- Sua amiga ta te esperando ali – aponto pra garota que o acompanhava antes – vai antes que o cara do lado roube ela de você.

- Poderia ser você no lugar dela Julinha – pisca pra mim e eu acho que fiquei enjoada de novo.

- Nem se você fosse bonito Yesung.

Dessa vez Yoongi ri sonoramente e nós caminhamos pra longe dali, indo direto pra fila da roda gigante. Mesmo se controlando bastante, eu sabia que as palavras daquele garoto tinham incomodado ele. O silêncio se instala entre nós dois, mas não vem acompanhado de nenhum desconforto. Pelo contrário, eu queria que ele soubesse que poderia se apoiar em mim se precisasse. Mas diferente de mim, Yoongi não era muito do tipo que gostava de palavras óbvias de incentivo jogadas em momentos como aquele. Ele era mais daqueles que sofria sozinho. Forte e auto-suficiente pra sua suportar sua própria dor. 

Quando chega nossa vez conseguimos uma cabine só pra nós dois. O céu totalmente escuro agora deixava tudo ainda mais bonito. Era meu lugar favorito de todos, meu próprio topo do mundo no meio da cidade. Me debruço um pouco na janela pequena da cabine que estava aberta e sinto meus olhos brilharem admirando as luzes. 

Uma volta vagarosa inteira... Yoongi para ao meu lado... duas voltas vagarosas inteiras... eu fico perdida e distraída... três voltas vagarosas inteiras... e uma parada bem no lugar mais alto da roda. Eu me viro pra ele, exibindo meu sorriso enorme de criança. Então ele simplesmente aperta minha bochecha.

Inclinando a cabeça pro lado, não seguro mais minha curiosidade de saber o que estava tão diferente.

- Por que você está sendo tão legal comigo tigrão?

Ele dá de ombros e desvia seu olhar.

- Você não teve uma lua de mel...

Aquilo era uma lua de mel ou era um encontro? Mais perguntas do que respostas. Min Yoongi e seus mistérios. O caminho mais fácil era ignorar toda e qualquer lógica quando se tratava dele. Levaria uma vida inteira para decifrá-lo. E eu que achava que era boa nisso... completamente enganada. Volto a me debruçar pela janela.

- Sabe... – chama minha atenção de novo – seria uma pena desperdiçar essa vista...

Se aproxima ao deixar a frase morrer em seus lábios, passa um dos braços ao redor dos meus ombros e me puxa pra perto do seu corpo gentilmente. Meu coração de adolescente já acelerava sem minha permissão. Eu só tenho tempo de espalmar minhas mãos em seu peito antes que ele me beije. Não era um sonho, eram os lábios macios dele nos meus de novo. E dessa vez não tinha desculpa, nós dois estávamos conscientes. Enquanto nossas línguas se moviam devagar ele me envolve completamente nos braços e eu aperto sua blusa entre meus dedos. Eu suspiro em êxtase durante o beijo e logo em seguida ele quebra nosso contato me dando um selinho demorado. Infelizmente não dura muito.

Passamos segundos com os narizes próximos e de olhos fechados, sem nos mover ou desfazer qualquer contato.

Mas como sempre minha boca grande...

- Por que você...

- Cala a boca menininha – me interrompe com sua voz baixa, grave e sexy. Rapidamente tira o boné da minha cabeça e volta a me beijar. Dessa vez com um pouco mais de intensidade, me calando literalmente.

Subo minhas mãos pelos seus ombros e enlaço seu pescoço. A roda gigante volta a se mover vagarosamente pra completar seu percurso. Ao me afastar do meu “topo do mundo” eu começo a acreditar que sonhos se realizam.