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História U.N.l - Automatic Stop


Escrita por: bandolins

Notas do Autor


Música: Automatic Stop - The strokes

Capítulo 7 - Automatic Stop


Fanfic / Fanfiction U.N.l - Automatic Stop

Espere, eu vou te dar um tempo

Eu não sou seu amigo

Eu nunca fui

LONDRES, NOVEMBRO DE 2013

Terminei de revisar as roupas dos meninos, incluindo as de Ashton. Dei um jeito de Luke ficar por perto o tempo inteiro a fim de evitar que certo baterista se aproximasse demais.

Eu estava fazendo o meu melhor para disfarçar, mas aquele breve momento no quarto de Ashton mexeu profundamente comigo. Agora eu só conseguia pensar nas mãos dele sobre a minha pele, na sensação de seus lábios acariciando minha nuca. Argh!

E eu que estava indo tão bem em esquecer a noite em que nos conhecemos.

– Vamos pessoal, a van já chegou. – Calum chamou parado ao pé da porta.

Nós estávamos prestes a ir ao estúdio, onde Feldy tinha alguns anúncios a fazer.

– Estou quase pronto, esperem por mim! – Ashton gritou lá de cima.

Tateei meus bolsos procurando meu celular e não o encontrei.

– Droga.

– O que foi? – Calum me olhou preocupado.

– Acho que esqueci meu celular no seu quarto.

– Vai lá buscar.

– Tem certeza que você não quer ir? Não quero invadir seu espaço. – eu disse, abominando a ideia de esbarrar com Ashton lá em cima.

Calum estreitou os olhos me julgando.

– Tá de brincadeira? Você acabou de vasculhar todas as minhas coisas, decidindo o que era legal ou não e agora está me falando em invasão de privacidade? Deixa de preguiça e vai pegar esse celular, mulher.

Bufei e subi os degraus da forma mais sorrateira e veloz que pude. Entrei no quarto de Calum, que ficava em frente ao de Ashton, e logo encontrei meu celular largado sobre a escrivaninha. Agradeci aos céus e dei meia volta com a intenção de sair dali o quanto antes, contudo, tive que me esconder atrás da porta ao ver Ashton no corredor.

– Hey, baby. – ouvi sua voz dizer – Estou feliz que você ligou, mas infelizmente não posso falar agora.

Pisquei atônita, imaginando com quem ele estava falando.

– Eu sei, também sinto sua falta. Mal posso esperar para voltar pra casa, pra você. – ele garantiu em um tom de voz afetuoso e eu quis vomitar.

Que filho da puta.

– O que é isso, Lauren? – ele riu ao telefone – Claro que não estou com nenhuma garota. É coisa da banda e eu realmente preciso ir antes que a gente se atrase. Mais tarde eu te ligo, okay?

Apertei o celular com força entre meus dedos, contudo o que eu queria mesmo era atirá-lo na cabeça daquele infeliz.

– Tudo bem, tudo bem, eu prometo, mas agora tenho que ir. Claro que eu não vou esquecer você. Não seja boba! É só que as coisas têm sido muito corridas com a banda. – garantiu com um suspiro – Eu sempre penso em você não importa onde eu esteja. Não se preocupe, logo, logo estou de volta e você não vai mais ter que dormir sozinha, okay? – a voz dele soava doce como o mel – Eu sei, bom poder ouvir sua voz também. A gente se fala em breve. Manda um abraço pra todo mundo. Te amo, bye!

Escutei os passos de Ashton descendo as escadas e fechei os olhos dando um chute na parede.

É Sophia, o garoto simpático que te ajudou a escalar leões não passa de mais um cretino, falei para mim mesma.

Ouvi-lo se derretendo por outra garota me chateou de uma forma que eu nem acreditava ser capaz. Mesmo que não houvesse nada de concreto acontecendo entre a gente, eu me sentia estranhamente traída e decepcionada.

Eu me sentia usada.

Mas por que eu estava surpresa? Era óbvio que um cara como ele teria alguém esperando na Austrália, ou só Deus sabe onde mais.

Ainda assim, não pude evitar ficar mal. Por alguma razão absurda eu esperava que Ashton fosse um tipo diferente.

Eu estava com raiva dele, mas principalmente raiva de mim por me deixar levar por toda sua gentileza, simpatia e aquelas malditas covinhas. A essa altura eu já deveria ter aprendido minha lição, tipos como Ashton Irwin são os mais perigosos que existem.

Peguei um travesseiro na cama de Calum e o apertei com força, enterrando minha cara nele para abafar um grito de revolta.

– Tudo bem, se recomponha. – eu disse a mim mesma – Você é uma diva, você não precisa disso. Ele é só mais um garoto idiota.

Passei a mão pelos cabelos me ajeitando e fui encontrar o restante dos meninos.

– Vamos, Sophie! Só falta você. – Calum apressou e eu corri para alcança-los.

Lutei por um lugar ao lado de Calum na van e fiz o meu melhor para ignorar Ashton, que estava sentado a minha frente. Eu não suportava ter que olhar para ele sem ser acometida por uma louca vontade de tocar fogo em seu cabelo.

Coloquei meus óculos escuros e fones de ouvido, evitando participar de qualquer conversa. Os meninos brincavam e faziam bagunça como sempre, e até gravaram uma mensagem em vídeo para as fãs. Iniciativa de Ashton é claro, aquele falsiane.

Era como se eu estivesse vivendo um horrendo déjà vu e eu sabia muito bem quem me fizera sentir desse jeito antes. Anos se passaram desde que tal garoto sacaneou comigo, mas agora que eu pensava no assunto, eu conseguia ver mais semelhanças do que gostaria entre Ashton e Tomaz – o primeiro e único garoto pelo qual me apaixonei.

Assim como Ashton, Tomaz era aquele menino do colégio que era legal com todo mundo, sempre simpático e divertido, deixando todas as garotas da escola suspirando por ele nos corredores.

Eu tinha completado dezessete e estava no último ano do Ensino Médio, nós éramos da mesma turma e eu cansei de receber pela janela bilhetes apaixonados das meninas mais novas, direcionados a ele.

Como eu era rotulada a nerd da turma, a maioria dos meninos não me dava atenção, mas eu estava muito bem com isso. Todos eles eram idiotas mesmo. Não era como se eu vivesse com a cara enfiada nos livros, mas eu sempre fui curiosa e tinha facilidade em aprender as coisas. Como eu vinha de colégio particular, já era motivo para as pessoas pegarem no meu pé. Entretanto, eu estava muito bem com a minha turma de “perdedores” no fundo da sala. Nós fazíamos nossa própria bagunça, matávamos algumas aulas, ríamos das meninas exageradamente maquiadas desfilando nos corredores e, é claro, de garotos como Tomaz.

Tudo mudou quando o encontrei por acaso em um festival de rock no final de semana. Trocamos algumas palavras sem muito valor, como dois semi-desconhecidos fariam, mas eu notei que ele viu algo diferente em mim naquele dia. Talvez porque era a primeira vez que Tomaz me via sem o uniforme escolar, talvez porque estava chovendo e meu cabelo estava solto pra variar ou talvez porque eu estava muito feliz por estar no show de uma das minhas bandas preferidas, que, inesperadamente também era uma das preferidas dele.

O fato é que no dia seguinte ele sentou ao meu lado na prova de biologia e me pediu a resposta da primeira questão. Eu já estava acostumada com pedidos como aquele dos outros alunos, mas o que me espantou foi que, depois de receber a resposta da primeira pergunta, Tomaz muito audaciosamente passou a prova dele para a minha mesa, me oferecendo as respostas de todas as outras.

Não vou negar, eu estava perplexa por ele ter um cérebro funcional dentro daquela cabecinha mal penteada. Todas as respostas estavam certas.

A partir desse dia nós começamos a passar algum tempo juntos, pelo simples fato de ele chegar e sentar descaradamente ao meu lado, puxando conversa. Ele era legal comigo e com meus amigos, nos conseguia convites para todas as festas do colégio, ainda que nós terminássemos não aparecendo em nenhuma. Dia após dia ele estava lá, todo fofo, despretensioso e charmoso, chegava a dar uma dor. Eu finalmente conseguia ver porque todas as meninas suspiravam por ele.

Tomaz era uma boa pessoa, concluí, e por mais que eu quisesse negar, ele era bonito. Demorou, mas ele derrubou minhas barreiras uma a uma e acabou me vencendo. Confesso que foi legal me sentir escolhida e andar de mãos dadas pelo colégio, mesmo com toda a atenção que nós atraíamos.

Meus amigos sempre me disseram que eu era muito fria e não demonstrava meus sentimentos, o que era verdade. Por mais que eu gostasse de Tomaz, eu não conseguia me entregar de vez, meu instinto de autopreservação e medo de me magoar sempre foram maiores.

Contudo, o Ensino Médio estava chegando ao fim, todos estávamos com as emoções à flor da pele e não havia um garoto mais apaixonado, paciente e persistente que Tomaz.

No último dia de aula ele entrou na sala tocando uma música romântica brega ao violão. Ele não sabia tocar, mas aprendera aquela música apenas pra me impressionar.

As coisas que os meninos fazem para levar uma mulher pra cama.

O fato é que depois de conseguir o que queria Tomaz simplesmente desapareceu. Não atendia minhas ligações ou respondia minhas mensagens e, como eu não era muito de insistir, passei duas semanas no escuro me perguntando o que tinha feito de errado.

Quando ele finalmente apareceu, disse que nós precisávamos conversar sobre o que tinha acontecido. Ele falava como se fosse um acidente ele ter ficado no meu pé por meses e explicou que não poderíamos mais ficar juntos porque ele tinha uma namorada fora do colégio.

Eu poderia ter gritado e batido nele, xingado até sua terceira geração, porém contei até dez e engoli minha raiva calada, colocando o orgulho em primeiro lugar. Eu já era conhecida por ser fria mesmo, então nunca iria deixar que ele me visse sofrer.

Esse foi o primeiro e único fora que levei na vida, porque desde então eu sempre sou a primeira a pular do barco. Meus instintos de preservação se mostraram certos no fim das contas e hoje sei que é apenas uma questão de tempo antes que um cara sacaneie com você.

Principalmente se ele não souber tocar violão.

Aí estava Ashton, que não me deixava mentir. Suspirei pesado trincando os dentes. Eu odiava lembrar quão patética fui e como estava prestes a fazer papel de trouxa de novo.

– Sophia, você está bem? – Pink perguntou quando chegamos ao estúdio.

Eu estava tão inerte em meus pensamentos que a viagem não passou de um borrão.

– Estou sim, por quê?

– Você está mais calada do que o normal, eu fiz algo que te chateou? Se sim, eu sinto muito.

Sorri fraco diante da preocupação dele.

– Eu estou bem, Mike. Não se preocupe, você não fez nada de errado.

Ele me estudou por um instante e depois sorriu aliviado passando o braço ao redor dos meus ombros.

– Okay, então. Vamos entrar.

No estúdio Michael e Ashton discutiram sobre a música nova que eles tinham feito. Ashton tinha adorado, porém Michael tinha odiado. Feldy, Luke e Calum esperavam os dois se decidirem para finalmente escutarem a música, mas Pink se recusava veementemente a tocá-la.

Eu só observava de longe enquanto ele muito indelicadamente cortava os argumentos de Ashton. Sei que isso não é uma luta, mas eu estava torcendo pra Michael ganhar.

– Que seja. Eu toco a maldita música! – Ashton bufou erguendo as mãos para o alto.

Deixei escapar uma risada maligna e Ashton me olhou incomodado.

– Desculpe. – foi tudo o que eu disse, mas eu estava me divertindo secretamente.

Ele era o baterista e não teria como mostrar a música com batuques e tambores. Eu estava tão pronta para testemunhar a derrota dele ao tentar cantar e principalmente ao tentar tocar essa música.

Ashton pegou o violão e sentou-se no sofá com a postura de quem sabia exatamente o que estava fazendo. E para o meu completo espanto, ele sabia.

O garoto começou a formar acordes e acertar as cordas com maestria e meu queixo caiu porque no fim das contas ele tocava tão bem quanto os outros meninos, quem sabe até melhor!

Me movi na cadeira, inquieta. Ele era o maldito baterista, pra que arrasar no violão desse jeito?! Desde o dia em que conheci Ashton eu torcia pra que aqueles dedos longos e maravilhosos soubessem acertar alguns acordes na guitarra. Obviamente, a última coisa que eu queria agora era mais um motivo para gostar dele, mas eu estava amando.

A música era divertida, cheia de “hey hey’s” e a letra falava sobre alguma garota com cuecas da American Apparel. Para completar, a voz de Ashton era afinada e ele sabia como usá-la, o que me deixou questionando porque ele não cantava na banda.

A música acabou e eu estava chateada por ter gostado.

– Vocês estão loucos? Nós temos um hit de sucesso aqui! – Feldy alegou com um sorriso imenso, batendo nas costas de Ashton com vigor.

– Tá falando sério? Você gostou? Você prestou atenção na letra? – Pink murmurou incrédulo.

– Eu não gostei, eu amei! – Feldy gargalhou, segurando o rosto de Michael com as duas mãos e plantando um beijo em sua testa. – Parabéns, meninos. Bom trabalho. Muito bom trabalho.

– Que merda. – Michael murmurou sem acreditar.

– Eu gostei. Gostei bastante. – Luke se pronunciou – Não sei por que você falava tão mal dela.

– OBRIGADO! – Ashton falou incisivo. – Eu disse que ele estava exagerando.

– Não quero ser apressado, mas com uns ajustes aqui e ali e os arranjos certos... Vocês já tem seu primeiro single. – Feldy garantiu.

– O que você acha, Cal? – Pink quis saber.

– Cara, é divertida e estranha. Parece com a gente. Eu acho que o Feldy tá certo, pode ser uma boa música pra começar a divulgar o CD. Meu voto é sim.

– YEAH, VITÓRIA! – Ashton gritou levantando os braços.

Feldy e Ashton começaram a falar sobre o que poderia ser feito na música e Michael parecia disposto a tentar aceitar a mesma.

– Hey Calum. – chamei baixinho.

– Oi? – ele me atendeu com as sobrancelhas exageradamente erguidas.

– Porque o Ashton não canta na banda?

Calum fez careta, mas a resposta veio depressa.

– Ele não quer.

– Por quê?

– Por que não pergunta a ele?

– Porque eu estou perguntando a você.

Calum revirou os olhos.

– Sei lá. Ele definitivamente gosta de cantar, mas vive dizendo que não quer estragar as músicas. Além do mais ficaria difícil pra ele cantar nos shows sendo o baterista.

– Isso não tem pé nem cabeça. Coloquem um microfone na bateria. Ele deveria cantar mais.

– Por que não diz isso a ele? Tenho certeza que ele iria te escutar.

– Por que ele me...

– Hey, Ash – Calum chamou e eu bati no ombro dele mandando-o calar a boca, mas fui ignorada – Sophia acha que você canta bem pra caramba e disse que você deveria pegar mais solos na banda.

Um sorriso infantil se espalhou nos lábios de Ashton e seus olhos faiscaram na minha direção.

– Você realmente disse isso? – perguntou esperançoso.

– Yep. Ela disse que estaria na primeira fila do nosso show tirando o sutiã e atirando-o em cima de você caso te ouvisse cantar no palco.

– Cala a boca! – protestei batendo em Calum, com mais força dessa vez. – Eu não disse isso.

– Droga. Eu já estava disposto a pegar um solo apenas pra ver isso acontecer. – Ashton provocou.

– Nos seus sonhos. – resmunguei sentindo minhas bochechas queimarem – Só falei que sua voz era legal e você deveria cantar mais. – admiti a contra gosto.

– Awn, obrigado, Sophia. Isso é muito gentil.

– Que seja. – bufei.

Calum ainda me paga por isso.

– Hoje é um dia cheio de boas notícias, estão prontos pra mais uma? – Feldy perguntou, sem precisar de incentivo para continuar – Vocês vão fazer dois shows na Koko antes de voltarmos pra Califórnia!

Houve um instante de silêncio e em seguida a gritaria dominou o estúdio. Os meninos saíram pulando, gritando e se abraçando como se comemorassem uma final de Copa do Mundo.

– Cara, isso é incrível! – Pink disse.

– Eu já estava sentindo falta de tocar. – Luke suspirou saudoso. – E a Koko é fantástica, isso vai ser incrível!

– É, mas ela é imensa. – Calum observou receoso – Vocês acham que a gente consegue encher a casa?

– Claro que conseguem. A base de fãs de vocês aqui é enorme. – Feldy assegurou.

– Nós temos que fazer uma twitcam e avisar aos nossos fãs do Reino Unido. – Ashton pontuou duas vezes mais animado do que o de costume – Essas são grandes novidades! Eles vão ficar tão felizes!

Revirei os olhos e girei na cadeira pegando meu notebook na mochila, era minha vez de trabalhar. Durante o resto da tarde, enquanto os meninos faziam música, eu respondi alguns e-mails de solicitação de peças que eu tinha feito para Gavin, fiz pesquisa de tendências e vasculhei lojas online a fim de encontrar roupas para o figurino da 5SOS que coubessem no orçamento que me foi dado.

– Hey, Sophia, nós vamos para um pub aqui perto comemorar. Quer vir com a gente? – Feldy chamou.

– Er, não sei se é uma boa ideia. – eu disse, mas eu bem que estava precisando de uma cerveja.

– É uma boa ideia sim. – ele garantiu me abraçando pelos ombros – Vamos, a primeira rodada é por minha conta.

– Sendo assim, não posso recusar.

O pub estava bem movimentado por ser happy hour. Conseguimos uma mesa grande e os meninos logo estavam pedindo hambúrgueres, batata frita e refrigerante. Pedi uma porção, mas quando a comida chegou eu já sabia que não conseguiria comer aquilo tudo.

O que eu queria mesmo era beber.

Além da 5SOS e de Feldy, uma turma do estúdio nos acompanhou. Eu estava trocando mensagens com Layla, tentando convencê-la a passar aqui para tomar algumas comigo, enquanto simultaneamente a atualizava nos acontecimentos do dia.

– Você tem certeza que está bem? – Mike me perguntou antes de dar outra mordida no hambúrguer.

Bloqueei o celular com medo que ele tivesse visto o conteúdo na tela, mas ele parecia alheio ao que eu estava escrevendo, apenas me encarava com seus olhos verdes e a testa franzida de preocupação.

– Aham. – garanti acenando energicamente com a cabeça.

– Então me mostre um sorriso. – ele pediu.

Mostrei meus dentes no sorriso mais artificial e sem graça da face da terra e Michael soltou uma gargalhada estridente.

– Isso foi horrível! – ele disse entre risos. – Nunca mais faça isso, por favor.

Dei de ombros e, aproveitando que a garçonete estava de passagem, pedi mais uma cerveja.

– Você ainda vai comer isso? – Luke perguntou, apontando para o meu prato quase cheio.

– Não, eu não aguento mais. Inclusive se algum de vocês quiser... – não tive tempo de terminar a frase e Luke já estava trocando o meu prato com o dele. – Você vai aguentar comer tudo isso? – perguntei incrédula, esse era o segundo prato dele.

Luke me lançou um olhar de “bitch, please”, enquanto colocava uma porção de batatas na boca.

– Okay, deixa pra lá. Muito obrigada, então.

– Eu quem agradeço. – ele disse contente.

Algum tempo depois Layla disse que não poderia vir e eu me sentia a própria alcóolatra, terminando minha terceira pint em plenas seis horas da tarde. Pelo menos Feldy e o pessoal do estúdio também estavam bebendo.

Fui ao bar pedir uma água e, por mais que eu olhasse obstinadamente para frente, senti uma figura loira de um metro e oitenta se encostar ao meu lado. Eu nem precisava olhar para saber quem era.

– Hey gatinha, posso te pagar uma bebida? – Ashton perguntou com um sorriso de moleque nos lábios, seu tom de voz brincalhão.

– Você pode ir para o inferno. – respondi seca.

– Posso saber o porquê disso? – ele perguntou genuinamente esperando uma resposta enquanto eu saía do bar, deixando um Ashton absolutamente confuso para trás.

Marchei até o banheiro feminino, o único lugar aonde ele não poderia me seguir e apoiei minhas mãos na pia, encarando o reflexo no espelho.

Duas garotas entraram no banheiro, cheias de risos e segredinhos.

– OMG! Você tem certeza? – a ruiva perguntou à morena.

– Tenho sim! Fui ao show deles com a minha prima no começo do ano. Eles são até famosinhos.

– Quantos seguidores no twitter?

– Ah, amiga, aí você já quer demais.

– Hum... Se eles forem famosos mesmo, até que vale a pena investir. Imagina quantos likes uma selfie na cama iria receber?

As duas riram e começaram a retocar a maquiagem, enquanto eu fazia uma careta enojada.

– Eu acho que vou investir no de cabelo rosa. – a ruiva anunciou quando terminou de passar batom.

– Ugh! Ele é o mais feio, amiga. – a morena protestou.

– Eu sei. É por isso mesmo que ele deve ser o mais fácil de pegar. – a ruiva disse e as duas começaram a gargalhar como hienas do demônio.

– Eles são seres humanos você sabia? – falei em uma voz dura e controlada, exterminando-as com o olhar.

– E você, quem é? – a ruiva perguntou com tom superior e cara de desprezo.

– Ai, amiga, não puxa briga. Deixa a Madre Teresa aí.  – falou a morena, arrastando a outra pra fora do banheiro.

Ah, mas só por cima do meu cadáver elas vão colocar as garras no meu precioso Pink. Saí a todo vapor e as encontrei conversando com Mike perto do bar.

Que periguetes rápidas no gatilho.

– Nós somos as maiores fãs da banda de vocês! – a ruiva garantiu sorridente, tocando no braço de Michael.

– Obrigado. É muito legal da parte de vocês. – Michael agradecia com um meio sorriso.

– Aonde vocês vão depois daqui? – a garota perguntou sinuosa, jogando os cabelos para o lado.

– Para casa! – me intrometi na conversa, me aconchegando ao lado de Pink, meus braços envolvendo sua cintura.

– Sophie! – Mike sorriu surpreso com minha aparição e passou um braço ao redor dos meus ombros em um movimento natural – Olha, essas são Alex e Bianca, acabei de conhecê-las. Elas são fãs da banda. – ele disse inocente.

– Hum, e são mesmo? – perguntei irônica.

As garotas se entreolharam levemente constrangidas. A ruiva lançou um olhar de pura inveja para a minha mão em volta da cintura de Mike e eu aproveitei a deixa para encostar minha cabeça no peito dele. Ela estava tendo a impressão errada e eu estava adorando isso.

Tive que me segurar para não rir.

– Hey, Mike, preciso conversar com você, se não se importa. – falei casualmente, vendo o pavor faiscar nos olhos da ruiva.

– Claro. – ele me disse e depois virou para as meninas. – Foi um prazer conhece-las!

Michael teve o ímpeto de sair para abraça-las, mas eu mantive meus braços firmes ao redor da sua cintura. Ao sentir os movimentos limitados, Pink acabou desajeitadamente desistindo do abraço.

– A gente se vê. – ele disse e eu suspirei aliviada.

Pink estava a salvo.

Antes que nós saíssemos Ashton surgiu do nada, para estragar tudo.

– Oh, vocês são fãs da nossa banda? Venham aqui me dar um abraço! – ele disse empolgado e eu revirei os olhos.

Que ótima hora para derramar sua simpatia, Falsiane, que ótima hora.

As periguetes se animaram e eu assisti enquanto elas se atiravam em cima de Ashton. Uma de cada vez e então, as duas ao mesmo tempo. A ruiva se apoiava no braço dele toda vez que ria, até que a morena puxou o decote para baixo, pedindo para Ash autografar seu busto siliconado. Elas estavam praticamente se estapeando para ver quem chamava mais atenção.

Chegava a ser constrangedor como, de um minuto para o outro, era como se Michael nem estivesse ali.

– Wow. Tá bem, você tem uma caneta? – Ash riu um pouco, tentando não olhar diretamente para os seios da morena, mas estava difícil com ela praticamente esfregando-os na cara dele.

– Eu também quero assinar alguns peitos. – Mike gemeu como uma criança que ficou sem doce.

– Desculpe, estou guardando esse outro lado para o Luke. – a morena disse com uma falsa decepção.

– Tá então. – ele murmurou – O que você queria falar, Sophie?

Dei um passo para o lado com Michael, mas eu estava seriamente dividida entre tirá-lo dali e tentar intervir antes que elas fizessem Ashton de jantar.

– Quer saber, por que você não pega uma cerveja pra gente e eu te encontro na mesa? – sugeri – E não fique triste, vou dar um jeito de compensá-lo por isso.

Pink parou de andar e piscou algumas vezes, atônito.

– Você vai me mostrar seus peitos? – ele perguntou incrédulo.

– Claro que não, seu idiota! – bati no braço dele e ele riu. – É melhor correr com a minha cerveja depois dessa.

Mike assentiu e foi para o bar.

Voltei minha atenção para Ashton que ainda estava se trocando com as periguetes. Eu sabia que não deveria ficar com raiva dele por dar atenção a elas, principalmente porque ele não sabia que elas não eram fãs de verdade. Mas ele estava consciente de que elas estavam tirando proveito da situação e estava gostando disso.

– Nós vamos fazer um show na Koko no fim do mês. – ele dizia, transbordando charme – Vocês vão?

– Ashton... – comecei.

– Agora não Sophia. – ele cortou rápido. – Estou falando com as meninas aqui.

– É Sophia, ele é todo nosso agora. – a ruiva disse vitoriosa – Você pode ficar com o Mickey.

– Mike. – bufei corrigindo.

– Tanto faz. – ela murmurou virando-se para Ashton – Você pode tirar uma foto beijando meu rosto?

– Claro. – ele concordou de imediato.

Suspirei constando que aquilo não era mesmo da minha conta. Ele era grande o suficiente para se virar sozinho e diferenciar uma biscate de uma fã. Se Ashton estava ali era porque queria.

Tendo isso em mente, voltei para a nossa mesa.

– O que está acontecendo ali? – Luke perguntou assim que me sentei.

Olhei bem a tempo de ver Ashton se aproximando para beijar a bochecha da morena e ela virando o rosto no último instante, fazendo com que ele a beijasse nos lábios. Ela riu alto e ele corou na mesma hora.

– Ela não me deixou assinar os peitos dela. – Mike choramingou fazendo os outros meninos rirem.

Ele colocou as cervejas na mesa enquanto os meninos continuavam a provoca-lo a respeito.

Peitos, com ênfase em seus formatos e tamanhos, foram o único tema na mesa pelos minutos que se seguiram e eu, muito participativa, não deixei de dar minha opinião no assunto. Até que os meninos começaram a avaliar os meus e eu tive que encerrar a conversa.

– Eu tenho idade para ser a mãe de vocês, me respeitem. – eu disse cruzando os braços, ligeiramente envergonhada e eles caíram na gargalhada.

Meia hora depois, nós estávamos conversando sobre sonhos esquisitos, ETs e fantasmas. Calum tinha certeza que uma alma habitava a casa ao lado da deles e os outros meninos pegavam no pé dele por causa disso. Tive que defender Calum nessa, uma vez que eu até que acreditava na existência de coisas sobrenaturais. Discutíamos teorias e possibilidades quando Ashton voltou à mesa. Ele me encarou esperando que eu o olhasse de volta, mas eu fingi não ver.

– Hey Sophia, pode me acompanhar um instante? Eu quero falar com você. – Ashton chamou sério, parado em frente à mesa.

– Uuuui, alguém está em apuros. – Calum riu.

– Cuidado, Sophia, eu acho que Ashton vai te colocar de castigo. – Mike completou.

Em outro momento eu não teria me levantado, mas Ashton estava tão perigosamente sério que eu achei melhor não protestar.

Parei ao seu lado e ele colocou uma mão na base das minhas costas, me escoltando para fora do pub sem dizer uma palavra. Eu nunca o vira tão tenso, calado e sério.

Eu estava com medo.

 – O que foi agora? – perguntei cruzando os braços e erguendo o queixo, não deixando meu nervosismo transparecer.

– Qual o seu problema? – ele perguntou de uma vez, as sobrancelhas unidas em frustração.

– Meu problema? – me fiz de desentendida.

– Sim. Uma hora nós estamos bem e, do nada, você começa a ser rude e a me mandar pro inferno. Eu realmente não entendo. A impressão que você passa às vezes é de que não suporta ficar perto de mim.

– E eu não suporto. Satisfeito agora?

Ashton se inclinou para deixar o rosto à altura do meu e me encarou por um instante. A mágoa lampejou em seu olhar até que ele sacudiu a cabeça soltando um riso incrédulo.

– Você não está falando sério. – ele disse – Eu sei que você gosta de mim, só está se esforçando muito para não gostar.

Meu queixo caiu em como tão facilmente ele conseguia me ler.

Eu odiava isso.

– É mesmo? – retruquei sarcástica – E de onde você tirou essa ideia?

– Pelo jeito que você me olha. – à medida que as palavras escapavam de seus lábios, Ashton se movia lentamente em minha direção. – Pelo modo como você reage quando eu me aproximo.

Eu estava prestes a recuar, mas eu não queria que ele percebesse o efeito devastador que tinha sobre mim, então apenas mantive os braços cruzados junto ao meu peito e tentei não me mover conforme o rosto dele se aproximava do meu, seu hálito quente soprando a última frase de forma sedutora em meu ouvido.

– Pelo jeito que você se derreteu em minhas mãos mais cedo.

Foi o que bastou para libertar borboletas em meu estômago. A lembrança fez com que eu fechasse os olhos suspirando pesado, colocando uma mão sobre seu peito. Eu estava prestes a agarrar sua nuca e puxar seus lábios para os meus, quando lembrei Ashton ao telefone com sua namorada.

A memória cortou o clima para mim, me deixando triste e irritada outra vez. Usei a raiva para sair do transe e empurrá-lo, colocando distância entre nós de forma discreta, porém efetiva.

– Bom você ter tocado no assunto. – eu disse sedutoramente enquanto uma ideia passava pela minha cabeça.

Os olhos de Ashton estavam fixos em meus lábios e ele engoliu em seco quando eu me reaproximei, ficando na ponta dos pés. Apoiei uma mão em seu ombro enquanto a outra se afundava em seu cabelo e eu puxei seu rosto para perto do meu como se fosse beijá-lo, mas ao invés disso desviei no último segundo, roçando meu nariz lentamente pelo seu maxilar.

Ashton gemeu frustrado e eu não pude deixar de sorrir ao ver seus pelos se eriçarem.

– Sabia que eu posso te processar por assédio sexual por aquilo, não é? – sussurrei num tom provocativo em seu ouvido.

Ashton enrijeceu diante de mim. Suas mãos encontraram meus ombros e ele me afastou imediatamente, atordoado. Mordi o lábio inferior contendo um sorriso perverso ao ver o quão assustado ele ficou.

Eu posso ser tão ruim quando quero ser.

– Isso não tem graça Sophia. – ele disse passando a mão pelos cabelos nervosamente.

– Eu também não acho engraçado você andar por aí todo convencido, sempre legal demais com todo mundo, tentando ser o centro das atenções. Essa sua fachada de bom moço inocente é tão irritante! Por que você tem que estar sempre todo feliz e animado? – a quantidade de álcool que eu ingeri serviu de combustível para a minha raiva e eu sabia que estava passando dos limites, mas as palavras simplesmente continuavam saltando da minha boca. – E quer saber? É uma pena que a gente tenha se reencontrado. Eu estaria bem melhor se nós não tivéssemos passado daquela noite. Pelo menos eu ainda acreditaria que você era um cara que valia a pena e não apenas mais um idiota cretino!

Ashton piscou boquiaberto. Eu sabia que era injusto ser grossa com ele por uma história que ele nem suspeitava que eu soubesse, mas não pude evitar. Eu estava tão cansada de ser enrolada por caras como ele, caras como Tomaz.

– Você está bêbada e está falando besteira. – ele tentou remediar.

– Eu estou falando a verdade. Você acha que é todo legal e interessante e descolado e que todas as garotas deveriam suspirar por você porque você tem fãs que te amam e uma banda, mas você não é nada além de um rostinho bonito e um sotaque charmoso.

Assisti o maxilar de Ashton enrijecer enquanto ele trincava os dentes. Percebi que ele lutava para se equilibrar entre o orgulho e a mágoa, a raiva e a decepção.

Minhas palavras realmente o pegando de jeito.

– É isso que você pensa de mim? – sua voz soou mais profunda e grave do que o normal.

– Sim, é isso o que eu penso de você. – reafirmei.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e comprimiu os lábios assentindo, os olhos fixos no chão.

– Okay então. Desculpe se eu fiz você se sentir desse jeito. – ele disse de modo fraco, evitando olhar pra mim.

Ashton girou nos calcanhares e voltou ao pub.

Meu coração se apertou ao vê-lo daquele jeito e eu tive que lembrar a mim mesma o cafajeste que se escondia por trás daquela carinha de anjo. Meu celular vibrou no bolso e eu desbloqueei a tela conferindo as notificações. Meus olhos só podiam estar me traindo porque eu era incapaz de acreditar no que lia.

Se eu não achava que esse dia podia ficar pior, ele acabara de ficar.

Tomaz Franklin: Oi Sophia, tudo bom? Quanto tempo não é mesmo? Rsrs Só para dizer que estou indo passar uns dias em Londres e adoraria te ter como guia turística. Você tá morando aí, não é mesmo? A propósito, você está a cada dia mais linda! Mal posso esperar pra te ver. Beijão, saudades.


Notas Finais


Está servida a torta de climão! ~ esse é o momento em que todo mundo fecha a aba e desiste da fic~
MAS NOOOOOO! Não corram ainda, gente! T.T

Sei que a barra pesou nesse capítulo, mas espero que tenha dado pra cada um de vocês digerir sua fatia da torta de climão. O que vocês acham do Ashton tendo uma namorada do outro lado do mundo? Dá pra perdoar ou a Sophia estava certa em cortá-lo com faca tramontina? (se bem que até eu fiquei com dó daqui T.T Ash </3)

E esse Tomaz, cara de pau pouco ou muito?

Mal posso esperar para ouvir de vocês.

ps: próximo capítulo tem ponto de vista do Ashton \o/
ps2: vocês acreditam em ETs e fantasmas? lol
ps3: E signos? Eu estou embarcando pesado nesse lance de astrologia e gostaria de saber: qual o signo de vocês? Qual vocês acham que é o da Sophia?

Beijos, beijos, até o próximo!
~x~

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=6gwbXjHNcwA&list=PLNuXWxrrGky9fFapeJTeRYGEWjD_bph0q&index=58


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