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História O segredo de Madeleine - Piano com Leigh


Escrita por: senhoritolinx

Notas do Autor


Olá minhas lindezes desse Brasil ♡
Como vocês estão?

bom, sei que passei do dia previsto de postagem, mas como eu estava terminando de escrever mais um capítulo da fanfic, resolvi postar os dois juntos (tanto o daqui, quanto o do Nyah) e foi por isso que eu demorei. Maaaaas, o que importa é que aqui estamos, não é meixxxxxmo?

Capítulo inteiramente contemplativo e filosófico, HUHUHUHU

Espero que gostem ♡
Beijitos e buona lettura

Capítulo 25 - Piano com Leigh


A atenção de Ágatha foi atraída para a porta, no instante em que o barulho metálico das chaves sendo colocadas na lingueta pode ser ouvido por ela. Saiu do sofá em atropelos, terminando de fechar seu roupão no corpo e enfiando os pés em suas pantufas com pressa, quando viu a porta sendo empurrada.

Parou todas as ações que fazia no instante em que a silhueta da sobrinha adentrou a sala. Os olhos de Ágatha se abriram em uma surpresa, recebendo os carregados de Madeleine, que abriu um sorriso fraco e cansado, fazendo as bochechas, marcadas pela maquiagem borrada, formar pequenas covinhas.

Não foi preciso que palavras fossem ditas, a mulher se adiantou na direção de Mad, a acolhendo em um abraço forte e sentiu o rosto da sobrinha se afundar em seu ombro e as mãos que seguraram seu roupão pelas costas.

— Eu… — Madeleine murmurou, enterrando o rosto no ombro da tia, deixando que sua voz fosse abafada pelo corpo da outra.

— Shiiii — Sentiu os braços da mais velha lhe apertarem com força. — Não precisa dizer nada.

Ela a acolheu dentro de seus braços, afundando a sobrinha em seu calor, encostando o nariz em sua testa, enquanto um novo choro era derramado por ela.

Ágatha permaneceu em silêncio e amparou a cabeça da sobrinha com sua mão, deslizando-a por seus cabelos, contemplando os fios castanhos, tão característico de sua família. Sorriu fracamente e beijou a testa da sobrinha, escorando o queixo sobre ela, encarando o teto do apartamento delas.

— Você foi muito corajosa, querida.

O vento que entrou pela janela agitou as cortinas da sala, quando Lysandre entrou no apartamento. A luz, que vinha dos postes na rua, atravessava o tecido fino e perolado e clareava parcialmente o cômodo tomado pela escuridão, tornando-o deprimente.

Suspirou, encostando a porta e a trancando com cuidado.

Não ousou olhar para o lado, no instante em que voltou, caminhando pelo corredor escuro. Percebeu que a porta do quarto estava fechada e não apresentava nenhum indício de luz sob ela, o que significava que Leigh deveria estar dormindo.

Foi inevitável o suspiro seguinte.

Lysandre subiu suas mãos pelo rosto, indo em direção aos cabelos alvos, levando os fios de sua franja entre os dedos para o topo de sua cabeça, fazendo-o parar no meio de seu trajeto. Ele fechou os olhos, inspirando fundo e soltou o ar lentamente, deixando que seus pensamentos fossem ventilados com aquela simples inspiração.

A conversa que ele e Madeleine tiveram segundos atrás, permanecia, intacta, dentro de sua memória. Essa, que tantas vezes o irritara por falhar em momentos em que lhe era tão necessária, insistia em lhe castigar com sua presença, quando, por puro egoísmo seu, queria perdê-la.

Terminou o trajeto de seus dedos, penteando seus fios nesse movimento, erguendo a cabeça minimamente, sentindo o ar entrar dentro de si. E abriu os olhos, a cabeça ainda escorada pelas mãos, encarando o teto.

Seu peito era tomado de inúmeras emoções. Sabia que naquela noite a insônia o visitaria, faria morada dentro dele e se tornaria sua companheira. Ela, junto à todos os pensamentos que pareciam também querer se estabelecer dentro de sua mente.

Voltou a encarar o corredor, vendo a penumbra à sua frente e desceu seus dedos, decidindo continuar naquele rumo. E empurrou a porta, encontrando seu companheiro de insônias. O piano estava ali, estancado no centro do cômodo, banhado pela pouca luz que entrava pelos vidros da varanda.

As cortinas que cobriam a outra porta estavam fechadas e os poucos raios lunares que conseguiam atravessá-las, tornavam a penumbra ainda mais carregada. Lysandre deu um passo, fechando novamente a porta.

Seu peito parecia pequeno demais para abarcar tudo que sentia. Dentro de si, a confusão e efusão de emoções corroía seu juízo por completo. Não entendia os sentimentos que entalavam em sua garganta, eram vastos, multicolores, mistos. Feito um quadro abstrato de Pollock. Eram todos arremessados contra ele sem piedade e compaixão, atingindo-o sem dá-lo a oportunidade de revidar.

Sua testa se desprendeu da madeira, como se, em um momento de iluminação, tudo parecesse claro. E Lysandre virou o rosto, vendo o piano atrás de si. Parecia lhe lançar um olhar sedutor, carregado de malícia, atraindo os anseios e desejos dele para si. Sua mão saiu da madeira, levando-o em direção ao instrumento. Começou a desabotoar o colete, até a peça se afrouxar sobre ele, mas isso não foi o suficiente para deixá-lo livre.

Era demais para ele.

Ele retirou o colete, colocando-o sobre o piano e desabotoou os pulsos de suas mangas, permanecendo com os olhos sobre seu companheiro. Sentiu o botão esfregar em seus dedos de relance, afrouxando o tecido e o fazendo despencar sobre seu braço. Os outros dedos vieram segundos depois, arregaçando-o à altura de seus cotovelos, repetindo a ação com a outra.

Sua mão veio certeira sobre as teclas e fez o som daquelas notas se expandir pelo recinto com a força com que seus dedos as pressionaram. Mais uma vez. E de novo, até sentir a dor que a pressão que seus dedos nelas provocavam. Tão logo, a outra mão acompanhou a primeira, tocando com tanta violência quanto a primeira.

Sentia as teclas afundarem sob seus dedos e o alívio que isso lhe trazia. Continuou a pressionar as notas e acordes, não poupando seus dedos da brutalidade e nem seus sentimentos de sua intensidade, deixando seu corpo se entregar a eles. Trouxe o joelho sobre o banco, se inclinando parcialmente sobre o piano, fazendo os cabelos virem junto com o corpo.

As lembranças das palavras de Madeleine persistiam com a tarefa de lhe atormentar. Como um filme mudo projetado em sua memória, os lábios dela se moviam, formando aquelas frases que Lysandre nunca, em nenhuma hipótese, cogitaria. Estupro. Gravidez. Violência.

Como alguém poderia chegar a tal ato? Ele nunca entenderia. Se não conseguia imaginar alguém tocando em Madeleine, como pensaria em um homem a tocando sem permissão? Isso o corrompia. Um ser vil e sem escrúpulos, mesquinho, egoísta, eram esses o adjetivos que conseguia emitir sobre ele. Julgava-o sem precedentes. Logo ele, que sempre tentara ponderar todas as situações. Mas não havia perdão. Não haveria, não para ele.

Um universo parecia separá-lo da dor de Madeleine. Sentia-a, compreendia, mas nunca entenderia o que essa dor significava para ela. Havia nascido homem, em uma família de, predominantemente, homens e isso, o colocava, de alguma maneira, longe do significado profundo de uma violação.

Se a simples intromissão em seu bloco de notas era o suficiente para que ele se irritasse profundamente, infinitamente deveria ser a de um corpo. Um corpo. E o que era um corpo para ele? Sagrado? Profano? A simples representação corpórea de uma manifestação interior? Ou pó? Qual era o valor dele para que outros se achassem no direito de tomá-lo sem precedentes desta maneira?

O som do choro de Mad ainda ecoava em sua cabeça. O corpo, que muitas vezes havia, sim, desejado, era arredio, amedrontado, frágil. Como os sentimentos dela. Os que ela havia declarado a ele nessa mesma noite. Feito um animal encurralado, era assim que ela se apresentou a ele.

As palavras chaves, sofridas, poucas e silenciosas de Mad acompanhavam-o. Junto a incompreensão que seu coração parecia insistir em assumir: como? Como aquele homem, que Lysandre se quer conhecia, mas matava, desde já, sua existência, havia sido capaz de se sentir dono dela? Como havia sido capaz de torná-la posse de seus prazeres, objeto de sua ganância e refém de seus desejos? Como? Não era ele quem a deveria proteger? Não ele quem devia guardá-la como a si próprio? Como, então, ele havia sido capaz de torná-la assim?

Seus dedos começaram a correr pelo piano, formando uma melodia audível e tensa. Apertava as teclas com toda a força que não sabia ter. O som, rebelde e sem harmonia, aos poucos se tornava uma canção. Batia suas mãos pelo teclado, deixando que suas emoções escorressem por ele sem qualquer limitação.

Aquele choro era uma canção insistente e horrenda, que retornava a cada instante com a força de um tufão dentro de si. Ele não conseguia entender. Por mais que seus pensamentos buscassem as mais extraordinárias desculpas, nada poderia justificar a crueldade a qual Madeleine foi submetida. Ele não sabia como havia acontecido e nem quando, mas não era necessário, não. 

Era inadmissível, pérfido demais.

A franja de Lysandre foi lançada para trás em um movimento brusco e indelicado, quando sentiu o clímax daquela canção. Uma por uma, as notas iam desenhando os acordes.

Eram como os acordes de seu coração.

Seu desejo poderia ser destrutivo, ameaçador, agressivo. De repente, sentia-se como o violador.

Poderia ter sido ele, poderia ser qualquer outro.

Cegos. Incontroláveis, vorazes.

Somente o vislumbre de algum dia ter tratado Madeleine feito esse ser que a despojou dessa maneira, deixava-o atônito. A queria, a desejava. Seus instintos, próprios de um garoto de 17 anos, perturbavam-o feito predadores ao redor de sua caça e o faziam crer que poderia ter castigado Madeleine com eles.

Mas...

Fechou os olhos, saindo da realidade ao seu redor e pendeu a cabeça para trás, deixando os fios platinados caírem sobre seus ombros.

Não era isso que sua mãe havia lhe ensinado. Nem o que presenciava dentro de sua casa. Seu pai não havia sido assim, nem tampouco Leigh e ele também não seria. Seus desejos não seriam desculpas para qualquer falta de caráter. Nada poderia servir de justificativa para isso. Nas poucas conversas que manteve com seu pai nesses poucos anos, George sempre lhe explicara sobre seu verdadeiro papel de homem no mundo. Não somente com palavras, mas com a própria vida.

Sempre vira o cuidado com que o pai tratava Josiane e a maneira como valorizava seus trabalhos, esforços e pensamentos. Mesmo que ela tivesse escolhido ser dona de casa por toda a vida, isso não a tornava, de maneira alguma, uma espécie de posse, mas, antes, apoio. Eva havia saído das costelas de Adão. Insistentemente ouvira esse discurso de tantos ambientes e bocas, entretanto fora George quem lhe ensinou o que isso significava.

A mulher, dizia ele, não porque lhe era inferior ou lhe servia, antes, era seu esteio, a guardadora dos sentimentos mais profundos dele.

Lysandre sentiu o ar correr com velocidade por seus pulmões e sua respiração acompanhava-o com destreza, fazendo-o arfar. Mas não era o suficiente para que a melodia morresse entre suas mãos.

Seus pais...

Não havia ainda pensado como contaria sobre Madeleine para eles. Nem mesmo havia lhes dito sobre o sentimento que nutria por ela. Como dizer sobre sua gravidez? Ele não conseguia conceber tal ideia. Nem em seus mais profundos delírios, imaginaria algo dessa magnitude. Sentia-se como José. Aquele que sua mãe, inúmeras vezes, havia lhe contado a história.

O jovem que, prometido a Maria, deparou-se com uma gravidez inexplicável e que o próprio sabia não ser dele. Por conhecer a índole da própria noiva, ao mesmo tempo em que não compreendia aquele mistério, resolvera abandoná-la para que toda a culpa recaísse sobre ele, evitando que ela fosse apedrejada como adúltera.

Até que a intervenção divina, através de um sonho, o fizera compreender tudo o que estava acontecendo. Maria tinha sido escolhida para ser a mãe de Jesus e tudo não passava de uma obrigada divina.

Agora, aqui estava Lysandre.

Com o diferencial de que, ao contrário do desfecho miraculoso e messiânico, havia o passado horrendo e massacrante de Mad. Ao contrário de José, ele sabia de onde viera o filho, apesar de não compreender tamanha atrocidade.

As palavras dela vinham e retornavam dentro da cabeça de Lysandre, feito uma assombração longínqua, surreal, inacreditável. Aquilo não poderia ser real. Mas era. Madeleine não teria motivos para mentir e se o fizesse, por que o teria feito com algo tão destrutivo quanto isso?

Ele podia não ter desconfiado, mas era verdade. E precisava se convencer disso. Era real. Ele existia. E estava dentro dela. E estava ali. E estivera ali durante toda aquela conversa.

Isso o deixava perturbado.

Não sabia como se mover diante do xeque que Madeleine pareceu dar no tabuleiro de sua vida. Estava apaixonado, muito, e sentia que poderia dar a vida por ela, mas...? Lysandre se sentia pequeno diante de todo o destino que parecia enveredá-la. Era apenas um garoto de 17 anos, preocupado entre a escolha de um curso e os estudos necessários para alcançá-lo. Enquanto Madeleine cambaleava entre a possibilidade de criar ou não um filho.

Tocava com ainda mais vigor, tornando aquela música forte e ressonante, forçando seus ritmos, sons e delineados.

Se sentia impotente diante de todas as aflições dela. Inexperiente, até. Como atender às necessidades de Madeleine? Como ser o homem que talvez ela necessitasse nesse momento? Como não lhe aborrecer com seus desejos e vontades? Como assumir esse filho que estaria presente seja fisicamente ou nas lembranças? Como?

Ele não sabia como alcançar Madeleine. E se sentia diminuído pelo passado que a castigava, junto à sua força e resiliência com que ela demonstrava ao vê-la enfrentá-lo. Não sabia se seria o suficiente para ela.

Sentia o que se passava no coração daquele homem ao saber da gravidez de Maria. Era desconhecimento, insuficiência, medo. Dor.

E agora, era, ele mesmo, José.

Madeleine saiu do banheiro, terminando de secar os fios, encontrando a tia preparando sua cama. Ágatha olhou para a sobrinha assim que ouviu seus passos pelo carpete do quarto.

— Está ouvindo? — Perguntou, instantes depois.

A garota parou, deixando os fios molhados penderem pela toalha, que amparava as ondas castanhas junto da mão de Mad. Os primeiros acordes ecoaram pelo silêncio que ambas fizeram, fazendo-a encarar a tia com um rosto espantado.

— Lys... — Ela disse em um sussurro e se adiantou para a varanda, abrindo a porta de sua sacada, sendo alcançada pela canção antes de entrar nela.

Ficou, no batente mesmo, escutando a melodia que chegava, abafada, nos seus ouvidos. Seu coração começou a bater tão rápido quanto os dedilhados dos acordes, sentindo toda a inquietação dos dedos, dos sons, do próprio vitoriano.

— Ele está… Ele, — Sussurrou para si mesma, tentando captar o que ele lhe comunicava com tanta confusão.

Então sentiu as mãos de Ágatha sobre seus ombros, a fazendo olhar para a tia.

— Não acha melhor deixá-lo sozinho? — Ela abriu um sorriso acalentador e brincalhão em sua direção, fazendo Mad abaixar a cabeça.

Segurou com força a armação do batente, ficando em silêncio por alguns segundos antes de suspirar.

— Tem razão. — Ágatha viu quando seus dedos se soltaram do metal, antes de dar um passo atrás, sendo seguida por Mad e fechar a porta, escorregando a cortina pelos trilhos, ainda olhando, pela transparência dela, a sacada do apartamento do vitoriano.

— Lysandre? — Leigh empurrou a porta da biblioteca, franzindo o cenho ao se deparar com a figura do mais novo defronte ao piano.

Havia sido despertado pelo barulho incessante que acontecia no cômodo ao lado. Ocupou alguns segundos, até a consciência certificar de que aquele som era o de um piano e seus ouvidos conseguirem identificar, com clareza, cada acorde dedilhado.

Não eram raras as noites em que acordara sendo surpreendido por Lysandre, mas algo estava diferente nesta em particular.

Segundos de uma luta interna e inquietante se travou dentro de Leigh, até se render à sua preocupação de irmão mais velho e se levantar, calçando os chinelos, puxando o robe, pendurado nos ganchos da porta, antes de sair do quarto.

Ele podia sentir, pelos dedilhados nervosos e ansiosos, que o irmão parecia atônito. E isto era algo raro. Leigh nem se recordava quando havia sido a última vez em que vira Lysandre agitado dessa forma. Já o havia presenciado triste, abatido, hesitante, contente. Mas, assim? Não. Compreendia que, assim como ele, o irmão preferia o silêncio em momentos feito esse, porém, não conseguiria retornar ao sono sem checar se Lysandre precisava de algum apoio.

Aliás, Leigh sabia que, justamente por serem tão parecidos, talvez compreendesse, como ninguém, as necessidades do mais novo nesse momento.

— Lysandre? — Diante de um novo silêncio, entrou na biblioteca. — Lyze? — Ele usou o apelido de quando eram crianças ao ver que o outro não se manifestou ao seu chamado.

O vocativo despertou o coração do mais novo, que voltou o rosto para trás, permitindo que Leigh visse o rosto desgastado pela preocupação dele, retornando para o piano novamente.

— Sente-se mal? — Escorou a porta, se voltando para a figura deprimente do irmão.

Seus dedos corriam com tanta insistência sobre o teclado, que Leigh conseguia perceber como aqueles movimentos refletiam nos cabelos alvos do irmão, fazendo-os balançar ante a exasperação dele.

A melodia não estancava. Era feito uma ferida que latejava, sangrando. Parou, hesitante, pensando se aquele olhar lhe pedia privacidade. Não sabia como proceder, nem se mover. Mas seu instinto o empurrava para fora de seus medos, levando-o a Lysandre.

Continuou seu trajeto, se aproximando do piano, vendo como o irmão tocava aquela canção e pôs a mão sobre o tampo do instrumento, soltando um suspiro que chamou a atenção do mais novo a si. Os olhos bicolores vieram sobre ele, deixando com que Leigh os vasculhasse por inteiros e vesse neles a dor que tão silenciosamente eram expressados.

A melodia falhou, quando, tomado pelo susto, Lysandre errou a sequência, ao receber Leigh no teclado. O mais novo o encarou confuso e estranho, mesmo que os dedos não cessassem a canção e compreendeu, quando, tocando também nas teclas daquele piano, Leigh começou a seguir os acordes que ele havia composto.

Lysandre não tirou os olhos dele, não entendendo as atitudes do outro e recebeu os olhares negros do irmão, acompanhado de um sorriso aconchegante. Viu quando ele voltou a olhar para o piano, acompanhando suas mãos em um silêncio contemplativo.

O mais novo fechou os olhos, pendendo a cabeça para frente, em um sorriso mínimo.

E variadas lembranças de momentos como esse retornaram em sua mente. A começar pelo apelido com o qual o havia chamado instantes antes, que surgiu entre eles porque Leigh, em sua língua de criança, não conseguia pronunciar seu nome quando ambos eram bebês.

O irmão sempre esteve ao seu lado, fosse nos momentos mais simplórios, como uma simples tempestade de verão, mas que aterrorizava o pequeno Lysandre nas noites da fazenda, ou, em sua decisão de se mudar do interior e viver na cidade junto dele.

O peito dele foi tomado por uma sensação de aconchego, como se algo grandioso tivesse sido compreendido por ele.

Ele não precisava decidir tudo sozinho. Não com Leigh ao seu lado. Não com toda sua família ao seu lado. Ele não precisaria estar. Eles sempre havia estado e sempre estariam, independente das escolhas dele. Seus pais confiavam nele e o apoiavam, mesmo nos mais absurdos desejos. Não tinha porque se esconder deles.

Olhou novamente para o irmão mais velho, vendo-o mergulhar na melodia tal como ele, acrescentando algumas notas que, em seu desespero, havia esquecido e trazendo um tom novo para aquela canção.

Não importa a situação em que ele se encontrasse, sempre, em qualquer hipótese, poderia confiar neles. Talvez ele fosse impotente diante do que acontecia. Ou mesmo, pequeno demais para resolver os problemas de Madeleine, mas nunca estaria só. Nunca, desamparado. Lysandre poderia não saber como prosseguir, mas havia entendido: teria sempre alguém que o pudesse ensinar.

Leigh virou o rosto em sua direção, mantendo o sorriso acolhedor, enquanto acompanhava sua canção nos dedilhados do piano. E Lysandre acabou por se render, devolvendo o sorriso ao irmão.

Mad ouviu quando a música que ressoava do outro lado de sua parede pareceu sofrer uma interferência, quebrando o ritmo de antes. E focou sua atenção, quando, inesperadamente, retornou, com ainda mais força, porém, diferente.

Pareciam as mesmas notas e acordes, mas algo havia mudado. Pareciam que novas mãos haviam tomado parte daquela dor, que se exprimia pela canção e contornava suas nuances, tornando-a menos pesarosa.

Leigh.

Foi o que processou em seguida e acabou por sorrir, ao pensar que talvez o irmão pudesse estar com Lysandre. Ela se virou na cama, na direção da porta da varanda e contemplou a penumbra do quarto, ouvindo a canção, que se tornava, a cada acorde, suave. Suspirou em rendição, fechando os olhos, sem abandonar o sorriso que tomava seu rosto e, sem perceber o ponto em que estava a música, adormeceu.

 


Notas Finais


E então? Que me dizem? :)
Bom, se quiserem mergulhar nos feelings que eu mergulhei para escrever, escutem essa música aqui: https://youtu.be/6Ly-OF3rcZw


Nos vemos na próxima semana ;)


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