História Unpredictable - Novo diretor de futebol

Eu adoraria saber o porquê de Gabriel estar sempre atrás de mim desse jeito, pois era impossível ser apenas coincidências do destino. Tudo bem que ele já morava em Leeds um pouco antes de eu vir, mas mesmo assim, desde quando ele trabalhava na área futebolística? Nunca na vida, mas tudo bem, quem sabe era um sonho dele que eu não conhecia...

- Olá Gabriel, que notícia boa... Que nos ajude a prosperar essa temporada – e o cumprimentei.

- Você sempre muito fina, Mary, muito obrigado, espero poder contribuir o máximo – disse Gabriel, sorrindo.

Sorri de volta e fui para a recepção, não queria criar muita intimidade. Por mais que Gabriel pareça ter mudado, não há como esquecer o que ele já me fez. Às vezes me pergunto se uma pessoa que já cometeu um estupro possa realmente mudar, porque é algo completamente doentio. Mas, ainda acharei uma resposta para isso.

Rolei as fotos do instagram e dei de cara com uma foto dos meninos do Chelsea, Rafa, William e Oscar, que saudade eu sentia deles, das festinhas, das brincadeiras nos treinos, das concentrações. É engraçado como as nossas vidas dão várias reviravoltas, e que nós temos que saber viver intensamente o presente, porque é algo que pode não voltar mais. E é por isso que eu tenho tentado viver com intensidade tudo aqui em Leeds, porque em um piscar de olhos eu vou estar dando a luz e logo depois de volta ao Chelsea, e todo o meu tempo passado aqui será esquecido posteriormente se eu não fizer valer a pena.

E nessas reflexões decidi ligar pra Rafa.

- Olá.

- Ei meu amor, tá tudo bem? Você quase nunca liga. – e riu.

- Tá tudo bem, eu só senti saudade.

- Aw. Como estão as coisas aí?

- Estão bem, tô na concentração pro jogo de amanhã contra o Everton.

- Como é seu quarto aí?

- Na verdade, eu não sei – e ri – ainda não fui, assim que eu entrar te mando foto.

- Haha, tudo bem. Saí com os moleques hoje, foi bem divertido.

- Ah que bom, tem que se divertir mesmo.

- E você?

- Só treino e agora a concentração mesmo, mas tô tranquila, tá tudo bem.

- Ah, então ok.

- Enfim, acho que vou para o meu quarto então.

- Não se esqueça de me mandar as fotinhas para eu ver.

- Pode deixar – e sorri – até mais.

- Até.

Desliguei, por mais que não estivéssemos naquela intimidade de um casal, estávamos bem, mesmo com o meu tempo pedido, mesmo com tudo que estava a acontecer.

 Fui rumo ao salão de convenções, já que os jogadores estavam lá jogando Fifa, só para conversar e fazer um pouquinho o social, eu gostava de estar próxima a eles para que tivessem mais liberdade comigo durante os treinos, tudo em busca do melhor para o time.

Depois disso, fui para o meu quarto, tirei a foto que Rafa pediste e deitei na cama. Fiquei rolando as fotos do instagram, os tweets do twitter, e as publicações do facebook. Quase nunca há postagens de Fernando, mas parece que ele apelou mesmo. Não havia nada, e ele já estava em casa. Aquilo me fazia imaginar barbaridades, mas sei que não posso prender o meu pensamento a ele, era errado, era a pior coisa já existente.

Tomei um dos calmantes que o médico receitou caso fosse urgente, e me arrumei para dormir, afinal, amanhã era um jogo importante para o Leeds, já que era contra o Everton, que estava no top 5 da Premier League.

***

Acordei com indisposição, contras da gravidez, mas apenas tomei um remédio e fui tomar o café da manhã. Já lá, sentei-me em uma mesa e Luke apareceu.

- Luke, que saudade – e o abracei.

- Olá Mary, finalmente tive condições de retornar, já que eu estava afastado por causa da minha mãe né.

- E aí? Ela melhorou?

- Sim, acho que foi só um susto mesmo, mas mesmo assim está sendo acompanhada pelos médicos em alguns exames.

- Tá certinho.

- E as coisas por aqui, como estão?

- Precisamos vencer hoje – e ri – Acho que o Leeds tem grandes chances de tentar uma posição boa no campeonato, ou pelo menos uma FA Cup ou Capital One Cup.

- Também acho que temos potencial para isso! Aqui, Rowsler pediu pra dizer que sairemos daqui às 10 rumo a Liverpool, apesar do jogo só ser às 16. Vou avisar ao resto da turma.

- Tudo bem Luke – e dei um beijo em sua bochecha enquanto me deliciava com pães de queijo. As cozinheiras do Leeds eram umas fofas, tinham o cuidado e a consideração de preparar os pratos preferidos de cada um na medida do possível.

Voltei ao quarto para pegar minhas coisas e parti para o ônibus do Leeds rumo ao aeroporto para pegarmos um avião fretado para Liverpool.

***

Chegamos cedo e fomos para o hotel colocar as malas e também almoçar. Já no restaurante, estava passando o jogo do Liverpool, era contra o Chelsea. Era estranho o fato de que eu sentia o clima pesado naquele jogo, no time azul, sem nem estar lá. E eu realmente esperava estar equivocada da minha intuição.

O jogo estava no início, logo nenhum dos times havia feito nenhuma substituição ainda. O que me fez estranhar a escalação de Mourinho, que havia colocado Mikel no lugar de William, que estava ausente por causa da morte da mãe. Pior, Rafa não estava jogando. E nem Fernando, porque estava machucado. E Rafael estava com aquela pose sempre linda e marrenta no banco, quando os torcedores do Liverpool começaram a cantar ao ritmo de Hey Jude “Na na na na na na na na na na na, Rafa...”, que sorri, bate palmas e agradece o carinho da torcida red. É exótico pensar que os reds gostam tanto de Rafa, do mesmo modo que odeiam Fernando, pelo fato de Rafa ter saído pelo clube, e Fernando, digamos, pelo dinheiro. Eu que fui e sou muito próxima a Fernando sei que não foi bem assim, porque o Liverpool mentiu uma lesão curada no joelho de Fer, o que o compromete até hoje, mas a torcida não vê isso, e nem acredita nisso.

Dito e feito, apareceu Fernando no camarote e no telão, já que não podia jogar. Pra mim foi um alívio, pois fazia tempos que eu não tinha notícias dele, mas ao mesmo tempo, foi ruim porque a torcida red começou a vaiá-lo. Parece que isso nunca terá fim, e isso o deixa bastante chateado.

O primeiro tempo acabara 0 a 0 e Mourinho com aquela petulância e arrogância toda desceu direto para o vestiário sem nem conceder entrevistas. Se isso não era indício de crise, então não sei o que seria.

José Mourinho não mexera no time e o segundo tempo tinha início. E logo no começo o Liverpool fizera dois gols, os dois do menino Coutinho, como ele brilhava lindamente essa temporada, realmente merecia um espaço na seleção brasileira.

Depois disso, ele finalmente decide colocar Rafa, que dá uma bela assistência para Oscar fazer o 2x1. Mas infelizmente o jogo terminou assim.

Nas entrevistas, Rafa sempre muito simpático em relação ao Liverpool:

- Jogar pelo Chelsea é uma alegria pra mim, assim consigo definir, não consigo definir quando joguei pelo Liverpool, é sem palavras, é algo quase transcendente... não falo isso desrespeitando o Chelsea porque amo vestir a camisa azul, é um clube gigante, mas fica difícil ter alegrias jogando contra um clube que significa pra você e ainda mais quando o técnico não sabe conduzir as coisas.

Logo depois disso, cheguei à conclusão que realmente havia um conflito entre José Mourinho e o time. Até porque Oscar chegou a me ligar logo após o jogo para dizer sobre isso, que já não estava dando certo e querendo saber se eu poderia interferir em algo. Tudo bem, eu poderia dizer a Roman, mas não sei se era o adequado ainda mais levando em conta que eu estava em Leeds. Apenas disse que Abramovich não era bobo nem sonso – e realmente não é – e que logo logo haveria um novo técnico.

Assim, terminei de arrumar as minhas coisas e fomos para o estádio do Everton.

***

Já lá, a mesma preparação que Röwsler sempre faz, comigo sempre o auxiliando no que precisa. Não demorou muito para começar a partida.

O time estava tão bem encaixado, tão bem montado que aquilo estava me dando muito orgulho de ver, tudo bem que era um desafio e tanto estar em Leeds e mesmo com tantas coisas acontecendo na minha vida, mas ali eu estava vendo que estava realmente valendo a pena. Ver um time progredir desse modo tão positivo é algo tão gratificante que me fez esquecer o quanto Rafa me faz falta, e o quanto essa ausência de Fernando tem me matado. Eu estava feliz, estava maravilhosamente em paz.

Assim, o nosso time venceu por 2 a 0 o Everton, fora de casa, não havia mais orgulho do que isso. Até que se aproximaram para me entrevistar.

- Olá, Mary Jane, como você se sente após essa bela vitória fora de casa?

- Olá, bom, eu me sinto realizada, porque eu me desafiei a ajudar a salvar esse time e o resultado tá aí, vitórias em casa e fora, é algo muito gratificante porque eu sei o quanto o time está se esforçando para alcançar tais resultados positivos. Nós vamos continuar trabalhando para que essas performances continuem. Muito obrigada.

E saí para o vestiário, os meninos estavam em festa, estávamos entre os 4 primeiros colocados da Premier League, um belíssimo feito para um time que não tem tantos recursos. Cumprimentei-os e chamei um Uber para ir para o hotel, eu estava definitivamente precisando urgentemente de um banho.

Já no hotel, eu entrei no lobby e estava indo rumo à recepção pegar a minha chave, até que dei de com Fernando, que não expressou nenhuma reação a mim, e aquilo me matou instantaneamente por dentro.

Subi para o meu quarto e entrei no chuveiro, não sabia que o Chelsea estaria no mesmo hotel que nós do Leeds, geralmente eles tentam não colocar os times no mesmo local. Mas tudo bem, relevei. Já que Fernando não queria me ver nem pintada de ouro, não sei por que, eu procuraria o resto dos blues mais tarde, e Rafa. Precisava matar as saudades dele.

Troquei de roupa, me arrumei e desci para o hall, onde os jogadores provavelmente estariam. E Rafa estava lá, tão lindo, arrumado e com aquele cabelo comprido e loiro. Era estranho que eu me esquecia como meu marido era a coisa mais linda já existente na face da terra. E como ele estava tão parecido de Fernando. Os dois estavam lado a lado e eu pude notar as diferenças, a principal estava no cabelo, já que Fernando estava com ele curto e naturalmente castanho, enquanto Rafa deixara comprido e loiro, e a outra, claro, nas marcas faciais, Fernando sendo mais velho 10 anos possuía mais rugas, mais traços, mas Rafa era tão parecido com o Nando de 10 anos atrás. Era incrivelmente bizarro eles não terem ligações nenhumas parentais.

Achei que não conseguiria me aproximar de Rafa com Nando do lado, e logo depois do gelo que eu havia levado há uma hora atrás naquele mesmo lobby, mas consegui, cumprimentei Fer educadamente e dei um abraço em Rafa, que logo me chamou para conversarmos em um canto.

- Não sabia que você estava aqui! – dizia Rafa, surpreso e sorrindo.

- Nem eu, na verdade, até que vi Fernando quando cheguei do jogo.

- Como estão as coisas em Leeds? Ganharam mais uma, né?

- Sim, estou muito realizada com o trabalho que estamos fazendo.

- Mas aqui, eu fiquei sabendo de uma coisa e eu já queria te perguntar logo... É verdade que o Gabriel entrou na parte administrativa do Leeds United?