História Untitled - 01 (primeiro)

Eu entrei na sala lentamente assim que o professor me chamou. Meus dedos da mão estavam trêmulos, assim como meus pés. Eu estava em uma velocidade tão mínima que até mesmo o professor ficou irritado com tal incompetência.

— Olá. Eu sou Jeon Jiwoo. — reverenciei-me rapidamente. Não conseguia olhar para a turma direito devido à minha timidez. O professor apontou um lugar para que eu sentasse e fui até onde ele indicou, caminhando e encarando o chão, até me sentar na cadeira. Nenhum daqueles garotos havia ficado surpreso com a chegada de um novo aluno (no caso, eu), o que estranhei, já que na maioria dos colégios quando chega um novo estudante, todos fazem perguntas inúteis ao coitado. Assim que o professor começou a aula, pediu para que a turma pegasse seus livros, iniciando assim, sua aula.

Quando chegou a hora do intervalo, não senti fome alguma, então resolvi andar um pouco para conhecer mais o ambiente onde comecei a estudar. Eu estava descendo as escadas enquanto eu vi um humano sentado em um dos degraus:

— Ei, pode me dar licença? — perguntei e a pessoa, com muita má vontade, chegou para o lado. Desci mais alguns degraus e encarei-o, para que pudesse ver seu rosto. — Bom dia, hyung.

— Oi — respondeu Jungkook, voltando a beber seu refrigerante.

— O que faz sozinho? — perguntei e ele não respondeu. — Não vai responder?

— Não — falou.

— Então... — bufei — Até mais, hyung.

A madame Jisoo disse que seria melhor eu ir para um colégio só para meninos, então eu não pude contestar, até porque não queria ser expulsa do único lugar onde que podia morar, o único problema é que eu sou uma garota.

Sim, uma garota. Eu não tenho aquele negócio feio no meio das minhas pernas.

É ainda meio estranho ter que me referir as pessoas de hyung, noona e ter que fingir que sou um homem também não é muito agradável, ainda mais ter que entrar naqueles banheiros masculinos fedorentos, porém, eu tenho que fazer isso. Agora sobre o fato de eu ser uma menina é complicado, foi apenas um engano e até hoje não sei como não descobriram ainda. Prefiro agir assim, já até me acostumei com isso, então nem ligo muito.

Essa escola onde eu estudo em Busan é uma das mais melhores da Coreia do Sul, e eu que fiz a cabeça de Jisoo para me colocar nela, senão eu tenho a certeza de que eu estaria estudando em um colégio fraco.

Quando chego do colégio, tenho que trabalhar como um dos empregados da casa de Jisoo (isso mesmo, empregado). Segundo ela, “porque isso é uma forma de retribuir tudo o que ela me deu até hoje” e eu não vou mentir, ela está certa. Jisoo fez tanta coisa por mim que eu teria que retribuí-la de alguma forma, mas eu não esperava que teria que ser desse jeito.

As aulas acabaram e acabei me encontrando com o Jungkook no portão principal, corri até ele e o mesmo me encarou feio, logo, bufou e continuou andando, como se eu não existisse. Andei até seu lado e seguimos em direção à nossa casa. Eu olhava para ele, buscando alguma forma de puxar assunto, até que veio:

— Como foi a aula? — perguntei gaguejando, ele continuou andando, até que parou por um momento, depois retornou.

— Foi bem — respondeu frio — E seu primeiro dia?

— Foi bem também! — sorri e ele me encarou estranho, depois da minha animação — Eu só não fiz nenhum amigo...

Ele novamente ficou quieto e continuou andando em linha reta.

— Você... não tem amigos? — perguntei intrometida.

— Por que isso te interessa? — ele disse com um fora.

— Aish, por que está me tratando assim? — falei. — Estou preocupado com você, hyung.

— Não precisa se preocupar comigo. — respondeu. Quando percebi, já estávamos em frente a mansão, Jungkook entrou primeiro, encarei o portão e suspirei. Lá vamos nós.

[...]

— Já é a quinta vez que você quebra algo nessa casa. — Jisoo colocou o seu dedo indicador em frente ao mesmo rosto. — Na próxima eu expulso você daqui. Ouviu?

— Sim, senhora. — assenti reverenciando-me e ela saiu do quarto.

Jisoo mandou eu ir arrumar o quarto de Jungkook, porque estava muito bagunçado. Acabei mexendo em um dos porta-retratos que estava em cima da cômoda e acabei por deixando-o cair no chão. O estrondo foi tão grande, que a madame que estava no outro quarto, conseguiu ouvir.

Coloquei o objeto, agora quebrado, novamente em cima da cômoda e continuei a limpeza do lugar, até que ele abre a porta e me encara.

— Minha mãe te mandou arrumar o meu quarto? — ele cruza os braços e eu assinto — Imaginei, está dispensado por hoje.

— Mas...

— Se ela te perguntar, diz que eu mandei você descansar — falou e apontou para a porta e fui até a sala, avisar sobre o que o Jungkook tinha dito. Assim que cheguei, a madame estava na sala conversando com algumas pessoas: um senhor não tão velho e em seu lado, uma senhora que parecia ter a sua idade. No outro sofá tinha uma menina loira e sorridente, essa sim aparentava ser da minha idade. Eles me encararam e corei, percebendo que tinha que voltar, porém a madame me chamou para mais perto.

— Jiwoo-ya, pode chamar Jungkook aqui? — ela falou. Eu ia contrariar, porém assenti e fui em direção ao quarto dele novamente, bati na porta e ele a abriu.

— Já não disse que...

— Sua mãe está te chamando. — interrompi sua grosseria e sai voltando para a sala, caso a madame pedisse para que eu fizesse mais alguma coisa por ela. Fiquei parada em pé, perto da mesa de canto.

— Jungkook, essa é a família Minatozaki — Jisoo apontou para as pessoas sentadas — Aquela é a Shizuko e ele é o Hiroshi.

Jungkook reverenciou para os dois e logo a mulher apontou para a menina.

— O nome dela é Sana— a madame os apresentou, Sana sorriu e se reverenciou, mas Jungkook não demonstrou importância, apenas assentiu.

— Agora iremos conversar sobre negócios, certo? — Hiroshi falou referindo-se a madame.

— Claro — ela assentiu. Enquanto Shizuko e Hiroshi conversavam, a madame se aproximou de mim e mandou chegar mais perto de seu ouvido.

— Está dispensado por hoje — ela falou e fez sinal para eu ir para o quarto.

— Mas eu já... esquece — falei baixo, enquanto ela virava-se em direção ao escritório. Caminhei em direção ao meu quarto, que ficava no sótão da casa. Deitei-me na cama e esperei aquelas eternas horas passarem. Eu estava com muita fome e só poderia comer quando aquele pessoal sumisse da casa. Fazia minha própria comida e comia no meu quarto. Foi um pouco difícil cozinhar no início, mas acabei aprendendo involuntariamente.

Comecei a revirar na cama de um lado para o outro e parei para observar o teto. Depois de ter contado trezentos e setenta e sete carneirinhos, acabei adormecendo, sem jantar.

[...]

No dia seguinte quando acordei, esfreguei meus olhos e avistei o relógio. Eram seis da manhã e eu estava um pouco adiantada. Levantei-me lentamente e fui até o banheiro, encarando-me no espelho. Lavei meu rosto e logo depois escovei meus dentes. Assim que eu acabei, coloquei o uniforme e fui em direção à sala; até que Jisoo me puxa pelo braço.

— Gostou da escola? — ela me encarou séria e eu assenti. — Ótimo. Já comeu?

— Não... — respondi.

— Têm frutas na cozinha. — falou e saiu do cômodo. Dei meia volta, fui em direção à cozinha, peguei a maçã e coloquei-a na boca, saindo daquela casa.