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História Untouched Paradise - Capítulo 14


Escrita por: Believe8

Capítulo 15 - Capítulo 14


Demorou um pouco para Paulo voltar para a praia com o pai e o sogro, os três com os braços cheios de frutas. Encontraram todos dispostos em frente à casa, sobre tecidos, com peixes e água espalhados ao redor.

“Demoraram.” Observou Alicia, vendo que o garoto não estava bem. “Eles te machucaram, Paulo?”

“Não, Alicia, eu to bem.” Ele sentou ao lado dela, triste. “Eu só descobri que minha mãe morreu.”

“Como é?” Os olhos de Marcelina quase pularam para fora do rosto. “Por isso ela não veio?”

“É, querida.” Roberto estava em pé, imóvel. “Eu não queria que você soubesse de forma tão brusca, nem o seu irmão. Mas é uma verdade, e não há o que eu possa fazer sobre ela.”

“Pai, a minha mãe... Ela também...?” Questionou Mário, recebendo um aceno afirmativo.

“O papai também, não é?” Margarida encarou a mãe em sua cadeira, mas Hortência só conseguia encarar o colo.

“Tem muitas coisas que precisamos contar e explicar para vocês, meninos.” Rosana disse de forma bondosa. “Mas agora não é a hora ainda, tão bruscamente. Vocês ainda estão assustados, cheio de novidades para entender.”

Os jovens concordaram de leve, começando a comer em silêncio. Os pais suspiraram, se encarando, antes de começar a comer também, mas de forma hesitante. Para alguém desacostumado, a forma de vida e alimentação dos moradores da ilha era no mínimo nojenta.

“O que é aquilo?” Jorge arregalou os olhos, vendo que os soldados começavam a reaparecer com sacos sobre os ombros.

“Ossos.” O comandante se aproximou. “Renê e Helena marcaram as covas onde enterraram os mortos, e isso facilitou nosso trabalho. Estão revirando as imediações, vendo se encontram mais alguma ossada, mas creio que conseguimos encontrar todos os desaparecidos.”

“Aquilo são... Ossos?” Sussurrou Alicia, assustada. “O que aconteceu com o corpo deles?”

“Quando... Quando a gente morre, filha, o nosso corpo... É como uma fruta.” Eduardo ficou sem jeito para explicar. “Se ela cai do pé e ninguém a come, ela vai apodrecendo e sendo comida pela terra, até restar só a semente.”

“A terra nos come?” Se assustou Mário.

“Nós servimos de alimento para a terra, filho, para que ela tenha força e cresça, em árvores e frutos, e nos alimente. É um ciclo que nunca termina, entende?” Germano acariciou a cabeça do garoto. “Que nem naquele desenho que você gostava, o Rei Leão.”

“Eu não lembro.” Admitiu Mário, envergonhado.

“Não tem problema... Nós podemos assistir de novo, juntos.” O mais velho sorriu. “Eu, você, a Marcelina, o Junior...”

“Eu não consigo imaginar essa vida.” Confessou Mário, encarando a mulher e o filho. “Uma vida fora da ilha.”

“Mas ela existe, e espera por vocês.” Prometeu Roberto, se arrependendo da mentira.

A verdade é que não, não havia uma vida os esperando lá fora. Não havia mais casas felizes, quartos cheios de sonhos e lembranças, pessoas que os amavam. Suas famílias estavam desfeitas, seus amigos se tornaram desconhecidos, as únicas pessoas que ainda os esperavam e queriam bem estavam ali, naquela ilha, lhes prometendo um retorno triunfal.

“Eu posso perguntar uma coisa?” Pediu Jorge, após algum tempo de silêncio.

“Claro, querido, o que quiser.” Rosana sorriu para o filho.

“Havia outro barco, outras crianças... No nosso quarto, havia outras crianças, nossos amigos.”

Os dois grandes quartos ficavam lado a lado, e neles estavam todos os alunos da professora Helena, vigiados por ela e o marido. Ela ficava em um quarto com as meninas, ele em outro com os meninos.

Mas naquele momento, todo o grupinho estava amontoado em um único cômodo, chorando.

O barco tremia, balançava, gritava. As janelas estavam escancaradas, a água da chuva e das ondas invadia o interior e os encharcava.

“Eu to com medo, Paulo.” Chorou Marcelina, abraçada com o irmão.

“Nós vamos morrer.” Uma das meninas chorou, desesperada.

“Crianças!” Ouviram a voz de Helena ao longe. “Crianças, vocês estão aqui?”

“Aqui, professora.” Alicia berrou com toda a sua força.

A porta da cabine foi empurrada, revelando Helena e Renê, os dois ensopados e desesperados. Eles pareceram mais aliviados ao ver as crianças, mas um raio cortou o céu do lado de fora e provocou gritos.

“Precisamos ir, agora!” Mandou o homem, correndo e começando a puxá-los do chão. “Vem, Carmen, se acalma.”

Ele pegou a caçula do grupo no colo, vendo que ela soluçava. Helena pegou outra das meninas, Marcelina, e começaram a correr.

Os corredores que tão bem conheceram nos dias anteriores, agora eram estranhos, escuros e alagados. Renê e Helena tentavam manter o grupo unido, enquanto buscavam o caminho para fora dali.

“Por aqui.” Ouviram o grito e se viraram, encontrando o comandante do navio. Estavam sem farda, todo desgrenhado e exausto. “Já mandamos todos, faltam só vocês.”

A correria foi desenfreada. Um bote não era grande o bastante para todos, então ficariam em dois. O comandante começou a apanhar as crianças e jogar dentro de um, enquanto Helena e Renê faziam o mesmo em outro.

“Vamos logo.” Gritou a mulher, nervosa.

“SOCORRO!” Renê virou, vendo que Alicia estava caída no chão, com uma porta sobre sua perna. “SOCORRO!”

Ele pulou do bote, correndo e jogando a porta longe. Pegou a menina no colo, correndo de volta para o barco e se atirando sobre ele ao mesmo tempo em que as cordas arrebentavam, os atirando rumo ao mar e desconhecido.

Antes, teve um vislumbre rápido da outra embarcação. Viu o comandante de pé, e contou nove cabecinhas. Rezou em silêncio por elas, torcendo para se encontrarem em terra firme logo.

“Sim, havia mais nove crianças...” Concordou Alberto, após um longo silêncio. “Maria Joaquina, Valéria, Jaime, Adriano, Laura, Bianca, Davi, Kokimoto e Cirilo.”

“Eles entraram no outro barco, com o capitão do navio.” Alicia se arrepiou ao lembrar da porta que caiu em cima dela quando Valéria a puxava para o barco. “Eu ia para aquele barco, mas a porta caiu em mim e o papai me levou para o outro barco.”

“Vocês encontraram eles? A ilha para onde eles foram?” Perguntou Margarida.

Novamente, se caiu o silêncio. Os adultos se encaravam sem jeito, sem saber por onde começar. Por fim, Roberto suspirou, cruzando as mãos em frente ao rosto e começando a falar sem encarar os jovens.

“Nós vamos precisar que vocês sejam fortes, e entendam que isso foi uma grande tragédia. Tragédia é quando algo horrível acontece, em grande proporção.” Ele explicou a palavra desconhecida. “Havia 346 pessoas no navio. Agora, com vocês, subiu para 72 o número dos que sobreviveram.”

“O que isso quer dizer?” Perguntou Mário, em um fio de voz.

“Que 274 pessoas morreram, Mário.” Explicou Hortência, segurando a mão da filha. “Só aqui na ilha, vocês viram quantas.”

“Mas se nós sobrevivemos, mais podem ter sobrevivido.” Lembrou Paulo, esperançoso.

“As coisas não são tão simples, querido.” Rafaela sorriu para o genro. “Foram poucos os corpos não encontrados. Agora, com isso que vocês tem aqui, deve bater essa cota. O restante foi resgatado, alguns com vida e outros não. Mas a maioria, infelizmente, faleceu.”

“Então os nossos amigos... Estão mortos?” Perguntou Marcelina, os olhos começando a verter lágrimas.

“O capitão conseguiu salvar todos eles durante a tempestade, mas... Bibi, Laura e Davi se machucaram durante o naufrágio, de forma séria. Eles não resistiram aos ferimentos. O Adriano tinha diabetes, e a Valéria anemia. E o Cirilo e o Kokimoto adoeceram durante os cinco dias que ficaram no mar, à deriva. Apenas a Maria Joaquina e o Jaime sobreviveram.” Contou Germano, tentando ser delicado.

O barco havia ficado à deriva por cinco dias, até ser resgatado. Durante a tempestade, muitas ondas carregaram destroços. Muitos dos que faleceram se feriram, tiveram graves hemorragias. No segundo dia, os sobreviventes precisaram se livrar do corpo de Bibi, Davi e Adriano, para não atrair aves ou peixes pelo odor.

Valéria veio a falecer um dia depois, e Laura sucumbiu a hemorragia pouco antes de serem resgatados. Cirilo e Kokimoto foram levados direto para a UTI, em estado grave, mas não duraram uma noite. O capitão se suicidou um mês depois, perseguido por fantasmas e pelo horror de um passado que não era sua culpa.

E Jaime e Maria Joaquina nunca mais foram os mesmos.

“Com licença...” O comandante tornou a se aproximar. “Tive notícias do Daniel.”

“Ele está bem, não é?” Chorou Alicia, nervosa.

“Está, está bem. Já identificaram a espécie da cobra e ele está sendo devidamente tratado quanto a isso.” Sorriu o homem, vendo o alívio. “Contudo, não houve o que fazer sobre a perna.”

“Como assim?” Se preocupou Rafaela.

“O torniquete foi correto e impediu a circulação do veneno, mas também do sangue. Infelizmente, a perna necrosou.” Explicou o homem. “Tiveram que amputar.”

“O que isso quer dizer?” Questionou Jorge.

“Amputar é cortar fora, filho.” Explicou Alberto, chateado. “Tiveram que cortar uma parte da perna do Daniel fora.”

“Mas... Como ele vai andar? Subir nas árvores? Fazer as coisas aqui na ilha?” Questionou Marcelina, vendo o olhar dos mais velhos. “Ah...”

“Meninos, nós entendemos o que vocês estão sentindo.” Disse Rosana novamente. “Mas... Agora as coisas mudaram, de várias formas. O Daniel está em uma situação nova e difícil, vocês têm dois bebês aqui, um no colo e outro na barriga.... E talvez logo tenham outros, porque vocês nem sabem como os fazem. Essa foi a vida de vocês até agora, e sei que foi maravilhosa. Vocês se saíram incrivelmente bem, venceram as estatísticas e viveram, não apenas sobreviveram. Mas agora, tudo mudou... E é hora de voltarem para casa e para a vida que vocês tinham antes.”

“Não vai ser fácil, isso nós sabemos. Mas vocês não estão mais sozinhos, e nunca vão estar. Nós somos seus pais, e aconteça o que acontecer, vamos cuidar, amar e apoiar vocês. E tudo vai ficar bem, eu prometo.” Roberto segurou o ombros dos filhos, que o encararam.

Marcelina encarou Mário, que havia enterrado o rosto em Junior, em silêncio. Paulo abraçou Alicia, que se aninhou em seu peito, enquanto Jorge e Margarida acariciavam a barriga dela em silêncio.

“Então, vocês estão prontos para recolher as coisas da ilha, enterrar a Esperança e voltar para casa?” Questionou Hortência, de forma gentil.

“Não...” Suspirou Paulo, encarando os amigos. “Mas nós nunca vamos estar, então é melhor irmos logo.”


Notas Finais


Tem tempo que eu não apareço aqui. E agora que apareci, já vim matando geral.
Eu to exausta, passei a semana doente, mas deixando um capítulo para vocês, Em breve espero estar de volta!
Beijos ;*


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