História Uzumaki Ahmya Shinden - Livro do Sol Nascente - Sol e Lua

Itachi e Ahmya encaravam um velho homem atrás de uma mesa. Ele usava manta e chapéu brancos, as roupas formais do cargo que ocupava. 

As duas crianças estavam em uma sala ampla onde funcionava o gabinete do Hokage.

Quando entraram ali, o Uchiha se ajoelhou em uma reverência. A Uzumaki apenas parou de pé, à frente daquela figura de autoridade.

O velho pareceu se divertir com a postura pouco formal da garota e fez um gesto displicente com a mão indicando que o outro também se levantasse.

Sarutobi Hiruzen tinha um chakra interessante. Ele era capaz de dominar os cinco elementos da natureza. Mas, pessoalmente, parecia uma figura bastante humilde.

Já os três às costas do Hokage exalavam arrogância, sobretudo o homem das bandagens. Aquele velho estava em posse de um sharingan, mas não era um Uchiha.

Este era o mesmo homem que esbarrou em Shusui ao se retirar da arena no dia anterior e saiu sem se desculpar. 

Ele apenas encarava as crianças, seu mau humor era evidente.

“Vocês foram os únicos candidatos aprovados como chunin esse ano.” Hiruzen fez uma pausa e acendeu um cachimbo.

O homem das bandagens  torceu o nariz. Mas Ahmya não acreditou que seu incômodo se devesse ao fato de um velho estar fumando na presença de duas crianças.

Após uma longa tragada e em um tom moderado, porém, honestamente entusiasmado, o Hokage continuou.

“Mesmo que as regras do exame permitam a aprovação de um candidato por nação, parece que os juízes não tiveram olhos para mais ninguém depois do duelo de vocês.”

O senhor que ainda estava sentado recolheu dois papéis que descansavam sobre a sua mesa e um colete empacotado.

Ele se levantou, dando a volta no móvel e ofereceu um dos papéis e o colete a Itachi.

“Uchiha Itachi, em nome do País do Fogo e de Konohagakure você é oficialmente um chunin. Suas habilidades shinobi foram reconhecidas por todos os presentes no evento”

O garoto recolheu o documento e o colete sem expressar qualquer emoção. Ele apenas inclinou levemente a cabeça em uma demonstração de respeito e gratidão.

Depois disso, o velho Sarutobi voltou-se para a criança menor. Ela tinha um dos braços suspenso até a altura do peito por uma tala.

A luta entre os dois havia acontecido no dia anterior.

O Hokage ofereceu o último documento a Ahmya.

“Uzumaki Ahmya, não podemos promovê-la a chunnin aqui, mas esta é uma carta de recomendação endereçada ao comando de Amegakure. Sua performance também extrapolou os critérios exigidos pelo título”

Assim como Itachi, a garota recolheu o documento esticando o braço sadio e assentiu com a cabeça ainda em silêncio.

Neste momento, ela percebeu o velho das bandagens a dirigir um olhar de desprezo, às costas do Hokage.

Passada a solenidade da entrega da promoção, Hiruzen sorriu cordialmente para as duas crianças. E se dirigiu à menor.

“A resistência e força de vontade dos Uzumaki são mesmo impressionantes. Soube que ainda há mais alguns de vocês no país da Chuva”

Apesar da cordialidade do anfitrião, Ahmya sentiu uma pontada de raiva percorrer o seu corpo, como se aquele comentário fosse uma forma de insulto.

‘Ele realmente acha que podemos ser todos amigos depois de Konoha ter feito da Chuva seu campo de batalha por três guerras consecutivas?!’

“Não, senhor. Os Uzumaki, assim como tantos outros clãs, foram eliminados do País da Chuva em consequência das guerras levadas pelas grandes nações à nossa região. Eu sou a última Uzumaki do meu país”

A garota não era dura ou desrespeitosa em suas palavras, mas não tinha intenção de deixar aquela sala sem expressar que a história não perdoaria os responsáveis pelas guerras.

O Hokage pareceu um pouco surpreso com a resposta e abaixou levemente a cabeça, como se indicasse que compreendia aquele protesto.

Já o velho portador do sharingan estreitou o único olho à mostra em uma expressão de raiva e desaprovação.

Algo que não intimidou Ahmya. Ela o devolveu um olhar petulante e desafiador.

Itachi, reclinou parcialmente o rosto e mirou a colega com uma expressão de moderada surpresa.

Depois de um breve silêncio tenso e um pouco constrangedor, Hiruzen recuperou seu tom cordial.

“Estamos cientes dos erros e tragédias do passado” ele voltou a sorrir descontraído “e essa é uma importante razão para conservarmos a paz. Você não acha, Uzumaki Ahmya-chan?”

O Hokage ainda inclinou levemente o corpo, antes de indicar que os novos chunins poderiam sair “Parabéns aos dois”.
 

***

Itachi e Ahmya desceram as escadas e saíram à porta do prédio do Hokage juntos, mas não trocaram uma palavra.

Apenas quando estavam na área externa, caminhando para longe da propriedade, o Uchiha se pronunciou.

“Você não deveria expor suas opiniões na frente daquelas pessoas se as considera inimigas” ele não tinha qualquer emoção na voz, falava baixo e olhava para o percurso.

A kunoichi voltou seu rosto para o outro. Aquele comentário era inteligente e preciso. Mas, por uma questão de orgulho, a Uzumaki sentiu a necessidade de retrucar. “Olha aqui seu….”

“Itachi-kun!!” 

Ahmya foi interrompida por uma garota de cabelos castanhos e um sorriso no rosto que corria e acenava na direção dos outros dois.

“Parabéns pela promoção, Itachi-kun” a menina de cabelos escuros alcançou os outros dois demonstrando bastante entusiasmo. 

Ela também era uma Uchiha e parecia ter a mesma idade de Itachi. Mas não usava protetor de testa. Talvez não fosse shinobi ou ainda estivesse na academia.

Assim que percebeu a presença da Uzumaki a outra garota a cumprimentou. 

“Você é Uzumaki Ahmya, não é? Eu me chamo Uchiha Izumi” ela sorriu “dizem que você é quase tão forte quanto o Itachi-kun”

Naturalmente Ahmya se sentiu absolutamente ofendida com aquela comparação. 

‘Eu teria ganhado se a luta não tivesse sido interrompida’

Mas a Uzumaki apenas dirigiu à outra um olhar sem qualquer emoção.

Foi Izumi quem continuou a conversa “Vocês são amigos?” havia alguma timidez relutante  em sua voz.

Itachi, que até então mantinha a habitual reação inexpressiva, se apressou em responder.

“Nós fomos oponentes na última luta. Eu apenas estava acompanhando Uzumaki Ahmya de volta ao hospital” ele parecia moderadamente constrangido com a situação.

Ahmyai mirou o outro com um olhar severo e levemente surpreso. Ela não imaginava que depois de tudo Itachi ainda fosse tão indiferente a sua existência.

Mas a voz gentil de Izumi rompeu novamente a tensão daquele encontro. 

“Bom… se o exame já acabou, não precisamos ser inimigos. Por que não vamos a uma casa de chá comemorar a promoção de vocês dois?” ela sorriu entusiasmada “eu pago a conta”

Ahmya compreendeu a intenção daquela garota. Se fosse alguém de seu próprio país era provável que a Uzumaki gostaria de tê-la como amiga.

Mas este não era o caso e, a cada momento, ela estava mais interessada em deixar a Folha. 

Este lugar passava a sensação de que as sombras e luz conviviam naturalmente entre si e isso a incomodava. 

Mas não havia motivos para ser rude com Izumi, então ela sorriu sem afastar os lábios, como retribuição à gentileza da outra. “Eu preciso ir para casa”

Depois Ahmya se voltou para Itachi, que surpreendentemente tinha as bochechas coradas. A kunoichi endureceu novamente sua expressão “Bom chá para vocês”

O corpo da Uzumaki cintilou e ela desapareceu.
 

***

Ahmya já estava no portão principal da Folha, pronta para ir para casa.

Depois de deixar a propriedade do Hokage, ela voltou ao hospital da Folha para pegar seus pertences com a intenção de partir.

Lá a kunoichi foi surpreendida por uma enfermeira que alegou que a garota só receberia alta para deixar a cidade depois de uma semana, quando seus ferimentos estivessem recuperados o suficiente para uma longa viagem.

É claro que a Uzumaki não obedeceu. Para o desgosto da paciente, a enfermeira ainda ficou em seu encalço por mais de uma hora. 

Assim que a mulher saiu para o seu horário de almoço, a kunoichi pulou pela janela e deixou o hospital.

Ela estava cansada e com saudades de casa. 

Estar perto de Shisui era muito bom. Mas os irmãos não podiam ser eles mesmos nos encontros secretos em Konoha e aquilo a incomodava.

Era melhor retornar para seu país e aguardar pelas visitas mensais do irmão. 

Ahmya atravessaria metade do país do Fogo e retornaria para casa sozinha. Mas ela não estava preocupada com isso.

Os dois times da Chuva foram embora logo após o anúncio da promoção da mais jovem. 

Makoto foi um dos candidatos que desistiu da luta contra Itachi antes mesmo de começar e Koji foi eliminado na primeira rodada. 

Nenhum dos colegas parecia estar muito contente com a performance da mais nova e, por isso, a deixaram para trás.

Sozinha no portão, com o braço esquerdo ainda suspenso sobre o peito por uma porção de ataduras, Ahmya sentiu o chakra de Shisui. Uma vibração agradável atravessou seu corpo.

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Shisui estava a pouco mais de dois quilômetros de distância, seguindo pela estrada. 

Os irmãos quase sempre usavam a liberação de chakra para se comunicar. Foi o mais velho quem ensinou código morse à Ahmya.

A menina seguiu a direção sentindo-se satisfeita. Mas a presença de um outro chakra no lugar para onde ela se dirigia interrompeu essa sensação. 

Só então ela se atentou às palavras compartilhadas pela mensagem do irmão.

‘Ele não deveria estar tomando chá naquele encontro bobo?’

Ahmya parou na frente dos outros dois.

“Sinto muito por não ter ido te visitar no hospital” como sempre a voz de Shisui era doce e chegava à irmã estabelecendo-se como compreensão.

Itachi com sua rotineira expressão indecifrável estava em silêncio ao lado do mais velho.

“Itachi-san já sabe de tudo. Quero que você pense nele como uma amigo” Shisui olhava com afeto para a irmã.

Itachi pareceu atipicamente gentil “Me desculpe pela outra hora. Eu não queria que a notícia de que você tem qualquer ligação com os Uchiha se espalhasse” ele sorriu discretamente “É uma pena que você tenha que ir. Seria bom ter mais pessoas como você no clã”

Ahmya arregalou os olhos. Até aquele momento ela o via como um rival. E considerava que ela a desprezava.

‘Mas ele é até bonito se olhar de perto…’

As bochechas da menina coraram como se seus pensamentos pudessem ser ouvidos.

Com a reação involuntária da irmã, Shisui começou a gargalhar. Deixando as duas crianças com os rostos corados.

“Foi uma boa luta.” Ahmya sorriu com sinceridade “Obrigada, Itachi-kun”

“Vamos!” 

Com a ordem de Shisui, os três corpos cintilaram e apareceram saltando sobre os galhos das árvores na direção oeste.

Os dois Uchiha acompanharam Ahmya até a fronteira com o País da Chuva. 

Mesmo que a kunoichi considerasse a escolta absolutamente desnecessária, ela aceitou sem qualquer protesto.

Durante o caminho os três trocaram algumas palavras sobre como compartilhavam o mesmo sonho e a expectativa de um mundo no qual Folha e Chuva pudessem cooperar como nações irmãs. 

Deste modo, algum dia eles poderiam voltar a se reunir como amigos. Aqueles dois ofertavam à Uzumaki laços que ela não encontrava em seu próprio país.

Um pouco antes de alcançarem a fronteira, o grupo se dividiu e Ahmya partiu.