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História Válvula de Escape - Enquanto um coração se regenera... (Parte II)


Escrita por: ohmyparrilla

Notas do Autor


* CAPÍTULO SEM REVISÃO* (de novo)
Boa noite, lindezas da Jujuba!
Como prometido, eu não demorei com a atualização.
Bem, esse capítulo mexeu muito comigo e eu espero, do fundo do meu coração, que eu consiga transmitir a vocês toda a intensidade que pretendo com o que está escrito aqui.
Para quem não sabe, ontem eu postei uma OS baseada no capítulo "O Jantar" dessa ficzinha mesmo. Deixarei o link nas notas finais pra quem tiver interesse.
Muito obrigada pelos favs e pelos comentários, digo e repito que vocês enchem o meu coração de alegria. Eu amo escrever, e ver que as pessoas apreciam o que eu faço, é uma grande realização.
Boa leitura! Deixem-me saber o que acharam do capítulo.

Capítulo 23 - Enquanto um coração se regenera... (Parte II)


“ A vida está cheia de paradoxos como as rosas de espinhos.”

– PESSOA, Fernando In: Livro do Desassossego

Muito se conhece sobre a frase clichê que diz que a vida é uma caixinha de surpresas. Entretanto, o frequente emprego dessa oração, não diminui a veracidade que ela carrega em si. Infelizmente, para Regina Mills, as surpresas que acabaram de vir à tona não chegavam nem perto de serem positivas.

Inúmeras são as causas pelas quais as pessoas sofrem, se culpam ou resignam-se diante da vida. Em seu caso, a dor que tomara conta de seus ombros que já não mais parecia conseguir se sustentar, era a dor da verdade obtida.

Enquanto Regina permanecia em estado de choque, balançando-se em cima da cadeira, e chorando nos ombros de Emma, que ainda mantinha os braços em volta da amiga, em uma tentativa vã de acalmá-la. Zambrano permanecia sussurrando repetidas vezes para si mesma que aquilo não podia estar acontecendo.

Sua cabeça não mais conseguia formular pensamentos claros. A visão turva ocasionada pelas lágrimas era a perfeita tradução da confusão que tomava forma dentro de si. Ela havia visto sua mãe acabar com a vida do homem que ela amara. Ela podia dizer a si mesma que aquilo não podia ser real. Ela poderia criar desculpas para justificar as cenas que o pequeno objeto tecnológico acabara de transmitir. Ou ela podia simplesmente fazer-se de tola e recusar-se a acreditar que sua mãe era um verdadeiro monstro que daria de dez a zero em qualquer conto de terror que ouvira durante sua infância. No entanto, a vida adulta, a vida real, exigiria que ela se colocasse de pé e enfrentasse aquela torrente de decepções.

   Mas ali, no consultório de sua amiga, diante da dor dilacerante que rebentava em seu peito, ela não se sentia capaz de sustentar nem mesmo o peso de seu próprio corpo. Quem dirá o peso insuportável da verdade. E era por isso que tudo o que podia ser ouvido dentro daquele ambiente tão carregado era o som dos soluços decorrentes do choro incessante de Regina. A doutora imponente que se permitira dar outra chance à felicidade ganhando outra rasteira da vida. Que belo espetáculo era o mundo real.

Para Emma, ver a sua amiga naquele estado de profunda tristeza e aparente descrença não era fácil. Assim como a grande fração das pessoas que se deparavam com Zambrano diariamente, era difícil imaginá-la em situação semelhante, ainda que Swan tivesse acesso a um lado de Regina que poucos conheciam, já que a doutora tornara um objetivo de vida mascarar qualquer sentimento que se assemelhasse à fraqueza. Aliás, era esse tipo de lição que Cora Mills costumara pregar.

Após o que pareceram minutos incontáveis, Regina finalmente parara de sussurrar e de balançar o seu corpo em movimentos repetitivos, de modo que permitiu-se corresponder ao abraço de Emma, apertando-lhe fortemente contra si em busca de consolo. Emma sempre fora a única pessoa em todo o mundo com quem Regina era totalmente ela mesma. Com todas suas forças e fragilidades. Coragens e medos.

– Regina?– Emma perguntou receosa. O reflexo quase a fez soltar um “você está bem?”, mas bem... Ela sabia que não estava.

– Eu não consigo acreditar, Emms.– A voz de Regina era quase inaudível, como se ela temesse proferir em voz alta o que estava se passando. Na verdade, era exatamente isso o que estava acontecendo.

– Calma, Rê. Eu sei que é muito para digerir.– Emma disse, enquanto passava a mão pelas costas de Mills em um gesto de consolo.– Mas ainda falta uma pequena coisa.– Swan disse de uma vez.

Emma amava Regina como se fossem irmãs e por isso era adepta da filosofia de que é melhor arrancar o band-aid de uma vez quando a ferida é profunda. Além disso, ela não poderia simplesmente ignorar a existência da carta de Daniel.

Afastando-se um pouco de Emma e levantando o rosto para fitar a amiga alguns palmos mais alta do que ela, que estava sentava, após uma longa fungada para afastar o choro, Regina reuniu a pequena porção de coragem que ainda conseguia encontrar dentro de si e perguntou:

– O que mais preciso descobrir?– Ela falou, temendo pelo que a esperava.

Caminhando em direção à sua mesa, Emma buscou pelo pequeno envelope que estava ali. Fez seu caminho de volta para perto de Regina, dessa vez ajoelhando-se para encará-la mais de perto e de modo mais delicado. Sabia que Killian deveria ter ido falar com Robin, uma vez que o homem ainda não batera na porta à procura de Mills. Por isso decidira que aquele era o melhor momento. Aquilo era algo que Regina precisava fazer sem receios.

– Aqui.– Emma estendeu o envelope.– Daniel deixou uma carta para você.– Regina engoliu em seco após a frase proferida pela loira, deixando novamente que lágrimas percorressem todo o seu rosto, entretanto, dessa vez o choro não exteriorizava o desespero.

 – Ele havia deixado com Graham minutos antes de entrar para sala de cirurgia, já que o desgraçado era o enfermeiro que fez seu acompanhamento.– Emma continuou, vendo Regina examinar o envelope minuciosamente antes de abri-lo.– Eu não sei o que está escrito aí. Por incrível que pareça, o lacre não parece ter sido rompido.

– Pode me dar um copo d’água antes que eu comece a ler?– Regina pediu com a voz embargada, ela estava claramente nervosa e extremamente fragilizada. O que será que o homem que amara teria deixado escrito para ela?

Ao abrir o envelope, Regina respirou fundo, olhando para Emma, que assentiu com a cabeça de modo a encorajá-la a continuar.

Com as mãos trêmulas, Zambrano levantou o papel da altura de seus olhos e viu a familiar caligrafia de Daniel saltar do papel e adentrar a realidade.

Minha amada, Regina

 

Chegou o dia pelo qual temos tanto esperado. O dia em que terei a chance de receber um novo coração e talvez conquistar um estilo de vida que nos tire um pouco de dentro desse hospital. Mesmo que eu ache muito difícil conseguir te tirar daqui, já que você parece amar mais esse lugar do que sua própria casa. Eu desconfio que seja por causa de mim, mas seria muita pretensão achar que um homem como eu é a causa das noites de insônia de uma mulher esplêndida como você ( eu sei que sou, estou apenas sendo humilde e engraçado).

Naquele momento, um sorriso fraco se formava nos lábios de Regina. Ela conseguia imaginar o tom brincalhão de Daniel dizendo aquelas palavras.

Sei que estou nas mãos da melhor cardiologista desse estado. E também a mais bela de todas. E por isso, e agora falo sério, quero que saiba que você sempre fez e está fazendo agora o melhor por mim. Eu entendo como esse momento é importante para você, para mim e para nossa vida a dois que tem sido cheia de altos e baixos devido à fragilidade de minha saúde e também pelo amor que minha sogrinha parece sentir por mim toda vez que tenta me enxotar da sua vida.

Regina engoliu em seco, sabia que no momento que escrevera a carta aquilo era uma das piadas de Daniel, mas na atual circunstância, ela odiara sua mãe ainda mais ao recordar de tais atitudes.

Ela prosseguiu com a leitura.

Regina, Gina, dona do meu coração debilitado e dona do meu futuro coração transplantado... Você tem sido a luz que ilumina os meus dias. Os bons, e sobretudo, os ruins.

É por isso que eu quero te pedir para que, se alguma coisa não sair como o planejado, você não se culpe. Quero que esteja ciente que você foi maravilhosa para mim de todas as maneiras que alguém poderia ser. Permanecendo ao meu lado quando eu não tinha mais ninguém e me dando forças (e medicações haha) quando eu acreditava que não conseguiria mais suportar.

Sabemos do risco da operação e eu nunca duvidei de suas capacidades, mas quero que mantenha em mente que nem tudo está sob nosso controle e que imprevistos acontecem, está bem? Conheço a sua mania de achar que sempre pode consertar as coisas, e meu coração se engloba nesse conjunto de coisas, mas situações médicas por vezes são imprevisíveis. E por mais que eu esteja ciente que não preciso te explicar tudo isso, eu também sei que se algo der errado você vai encontrar mil e uma maneiras diferentes de atribuir a culpa a si mesma. Não faça isso, por favor.

Sei que se chegar a ler essa carta é porque algo não saiu como planejado, pois foi essa a minha condição para que ela chegasse até você. Por isso deixo por escrito para que possa memorizar essas palavras e guardá-las em seu coração.

Regina Zambrano Mills, você me deu um infinito em meus dias aparentemente enumerados. Você, incrível como é, não apenas como médica, mas como mulher, como ser humano, depositou todas as suas fichas em um homem debilitado e de classe social inferior a sua sem se importar com nada disso, mostrando que quando se ama alguém, não há obstáculo que nos impeça de tentar. Você é a perfeita tradução do que é o amor. Eu te amo por isso e por inúmeras coisas mais. Eu sou feliz todos os dias em que acordo e sei que tenho a mulher mais incrível, mais talentosa, mais bonita e mais sexy de toda Miami ao meu lado. Você fez com que minha vida valesse à pena, mesmo que ela não possa ser longa ou inteiramente saudável, você fez dela a mais feliz. E é por isso que eu te peço, seja feliz!

Seja tão feliz quanto você me permitiu ser durante todos os dias desde que te conheci. Permita-se. Não deixe que ninguém te impeça de ser a mulher maravilhosa que você é. Ou que te digam que você é menos do que a infinidade de qualidades ( e a teimosia) que carrega em si.

Encontre alguém e dê o seu amor, porque você nasceu para amar e fazer com que as pessoas se sintam amadas. Você demonstra isso em cada paciente que tem a honra de ser tratado por você. Eu, felizmente, tive a honra de ser tratado de uma maneira que nenhuma outra pessoa teve o privilégio ( eu realmente espero que não, dona Regina). E por isso te peço, dê esse privilégio a alguém se essa carta chegar a suas mãos. Não quero que viva à sombra de mim quando eu não estiver mais aqui.

Eu te amo Regina Zambrano Mills. E se eu tivesse morrido no dia em que te conheci, ainda assim eu seria o homem mais feliz.

Com amor e um uma quantidade enorme de sex appeal,

Daniel Hardman

 

Assim que terminou a leitura da carta, Regina estava outra vez debulhando-se em lágrimas. Ela sequer conseguia recordar-se qual fora a última vez que chorara tanto em um único dia, por tantos motivos diferentes e antes que a noite chegasse.

Certamente não estava sendo a data mais memorável de seu calendário, mas aquela carta, de alguma forma, consolara sua alma e aquecera seu coração. Mesmo que doesse acessar caminhos antigos e percorrer estradas familiares, era reconfortante finalmente se livrar da culpa e possuir a convicção de que Daniela havia de fato sido feliz. Verdadeiramente feliz.

Por mais que livrar-se da culpa significasse ter tomado conhecimento do ser humano desprezível e sem escrúpulos que Cora Mills representava para o mundo. Era libertador finalmente compreender todas as incógnitas que o insucesso da cirurgia de Daniel criara em sua mente, fazendo-a por vezes questionar suas habilidades profissionais por não entender como algo tão minuciosamente planejado havia dado tão terrivelmente errado.

Ter o ombro de Emma para chorar também tornava tudo aquilo um pouco menos insuportável. Mas claro, não impedia que doesse. E doía. Doía muito.

Era confuso estar munida de tantas informações, apesar de dolorosas, tão importantes e capazes de destruir a vida de Cora Mills em uma fração de segundos.

Entretanto, ainda que em um momento de dor, Regina sabia que deveria agir com cautela. Ela não queria colocar a vida de outra pessoa em risco pelo simples fato de estar perto dela. E devido a isso, a dor se unia ao medo. Tornando a tomada de decisões ainda mais difícil.

Devido ao sentimento nada familiar para Mills de não saber o que fazer, ela apenas queria ir para casa. Tomar um remédio e dormir pelo resto do dia. Talvez o amanhã trouxesse a ela a clareza que estava longe de possuir naquele momento. Ela precisava digerir todas as informações que acabara de tomar conhecimento e decidir o que faria com elas. Não era apenas sua vida que estava em jogo.

Por isso, Regina decidiu ir embora, não queria ver ninguém, não agora. Apenas precisava que alguém estivesse em seu lugar para certificar-se de que Lucy acordaria amparada por uma face conhecida e que tudo estaria bem. Ela sabia que poderia contar com que a jovem Roosevelt acordasse com os conhecidos olhos azuis tomando conta dela. Por isso pediu para Emma falar com Robin.

Seus olhos inchados e sua face vermelha gritavam que ela havia chorado e Regina não se sentia pronta para falar sobre isso ainda.

Apesar de seus protestos para que fosse para casa sozinha, afirmando que era perfeitamente capaz de dirigir, Emma insistiu em levá-la em casa, não permitindo que a amiga dirigisse naquele estado e assegurando-lhe que falaria com Locksley quando retornasse.

Emma a deixou na porta, conhecia Regina o suficiente para saber que ela precisa de um momento sozinha. Então permitiu que ela entrasse em sua casa, mais uma vez frisando que ela estaria ali quando Mills precisasse.

 Ao adentrar a sua casa, a vastidão da sala parecia ainda maior em um momento no qual Regina se sentia tão pequena e impotente. Tanto havia acontecido debaixo dos seus olhos e ela jamais imaginara a dimensão de tantos problemas. Sua relação com Cora sempre fora algo que a abalara profundamente, mas Regina jamais sonharia que a mãe era capaz de coisas tão baixas, amorais e desumanas. Ela desejava que seu pai estivesse ali, para abraçá-la e dizer que tudo ficaria bem, mas infelizmente essa era mais uma das coisas que Regina não podia obter.

Em sua mente, a imagem de sua mãe sabotando a medicação de Daniel se repetia incessantemente. À medida que as palavras de Daniel ecoavam em seus ouvidos, como se ela pudesse ouvi-lo pronunciar cada palavra escrita naquela carta.

“Permita-se. Não deixe que ninguém te impeça de ser a mulher maravilhosa que você é.”, um gosto agridoce se formava em sua boca. Como se manter a mulher forte que Daniela havia conhecido naquele momento? “Encontre alguém e dê o seu amor, porque você nasceu para amar e fazer com que as pessoas se sintam amadas”, como permitir que pessoas adentrassem sua vida e fizessem morada em seu coração ao ser tomada pelo medo que a falta de escrúpulos de sua mãe a fizera criar?

Haviam muitas questões e poucas respostas. Muitos menos e parcas convicções. Regina se sentia fraca física e psicologicamente. E naquele momento não conseguia pensar com clareza.

Entrando em seu quarto, tirou os sapatos, abriu a gaveta e pegou o frasco de remédio que a ajudava a dormir em dias difíceis. Tomou dois, já que aquele dia não era apenas um dia difícil, tratava-se de algo dolorosamente complicado. Sem se dar o trabalho de mudar a roupa, Regina apenas permitiu que seu corpo encontrasse a maciez da cama. Encolhida em meio aos lençóis, ela permitiu que as lágrimas incontidas tomassem seu caminho, até ser embalada pelo extremo cansaço psicológico e adormecer para um sono repleto de inquietude.

*

 – Onde está, Regina?– Emma ouviu a voz de Locksley atrás de si assim que retornou ao Memorial Hospital West.– Killian me contou o que aconteceu.– O tom de voz de Robin denotava sua preocupação.

– Em casa. Ela precisa ficar um pouco sozinha.– Emma respondeu, frisando a parte final, muito embora soubesse que Locksley era um homem compreensível, sentia uma grande necessidade de proteger a amiga.

  – Ela pediu para que você cuidasse de Lucy quando ela acordar. Como estão os Roosevelt?– Emma continuou.

  – Mais tranquilos após a cirurgia. Acabei de falar com eles.– Locksley respondeu, mas logo voltou sua atenção para o tópico Regina.– Como ela está?– Antes que Emma respondesse, ele completou.– Sei que não está bem, mas apenas me diga o que posso fazer e eu farei.

Emma deu um meio sorriso a Robin, sua preocupação tão evidente era algo que a fazia simpatizar um pouco mais com o namorado da amiga. Ela estava convicta de que ele poderia ajudá-la naquele momento apenas com sua força de vontade e persistência quando o assunto era Regina.

 – Devastada, Locksley, acho que hoje o melhor é deixá-la descansar. Foi muito para ela digerir, sabe?– Robin assentiu, apertando os lábios ao imaginar Regina em uma situação tão fragilizada. Ele gostaria de poder ajudar, mas entendia que aquele não era o melhor momento para bater em sua porta.

– Eu compreendo. Mas estarei lá quando ela precisar.– Sua palavras foram sinceras, Emma acreditava no que Robin dizia.– Agora farei o que ela pediu, estarei ao lado de Lucy quando ela acordar.

Quando Robin fez mesura em se afastar, Emma o chamou:

– Robin!– Ele virou para trás, fitando-a novamente.

– Seja persistente.– Foi tudo o que Swan disse, antes de encaminhar-se para a ala da neurologia. Dando ao loiro ainda mais coisas no que pensar.

*

Quando entrei no quarto de Lucy e me deparei com a jovem ainda dormindo tranquilamente, permiti-me sentar por um instante. Estava preocupado com Regina. No dia em que ela me confidenciou sua história com Daniel eu pude ver o quanto aquilo ainda a afetava. Ao saber de tudo o que ela havia tomado conhecimento na última hora, minha vontade era ir atrás de sua maldita mãe e confrontá-la, mas sabia que aquele não era o meu papel.

Passei as mãos pelo rosto, tentando aliviar a tensão que tomava conta de mim devido a falta de conhecimento sobre o real estado de Regina perante aquela situação. Fui tirado do meu momentos de conflito interior pelo som de meu celular vibrando no bolso do jaleco.

Desbloqueei a tela apenas para me deparar com algo que tornaria as coisas já difíceis, ainda mais complicadas.

Ali estava uma pirraça de minha queria ex-cunhada Zelena em forma de sms:

“ Já que não me convida para participar dos seus jantares em família. Presumo que eu não faça parte dela. Sendo assim, sinta-se livre para arrumar outra pessoa que leve Roland para visitar a mãe.

Um abraço, cunhadinho. :*”

Servi-me da água que estava no jarro depositado em cima da mesa de cabeceira, procurando manter a calma ao perceber que Zelena estava usando o meu filho para mostrar que seu ego estava ofendido.

Aquilo era tudo o que eu não precisava naquela circunstância.

*

Quando meus olhos se abriram para irem de encontro à claridade que parecia queimar minhas retinas, desejei desesperadamente que tudo tivesse sido um pesadelo. Mas, ao virar para o lado, e encontrar o envelope envelhecido da carta de Daniel em cima da cama, eu sabia que aquela era a injusta e dolorosa realidade que eu precisaria enfrentar. Parece que nem todos os problemas desaparecem ao amanhecer.

Era oficial, minha mãe, com a ajuda de Graham, o enfermeiro e meu affair no último ano, haviam sido os responsáveis pela morte de Daniel. Eu me sentia suja ao encarar a verdade de que eu havia dormido, mais de uma vez, com o cúmplice de toda aquela sujeira. Gostaria de poder entrar no chuveiro e permitir que a água levasse para o ralo todo o sentimento de desgosto e enjoo que tomava conta de mim, entretanto, aquela era apenas mais uma impossibilidade que a vida real me trazia.

 Engoli a seco, minha cabeça doía de tanto que eu havia chorado desde a noite anterior. Naquele momento eu me sentia incapaz de derramar outra lágrima que fosse, minhas emoções conflituosas faziam de mim uma pessoa tão confusa a ponto de não saber o que sentir primeira, se raiva, decepção ou tristeza. Na verdade, a mistura de todas essas opções me fazia querer permanecer naquela cama até que tudo fosse resolvido. Ou que Craig Ferguson aparecesse e anunciasse que aquilo não passada de uma pegadinha de completo mal gosto. Só que meus desejos de Alice não se concretizariam.

 Eu temia por tanta coisa. Começava a me questionar até que ponto minha mãe havia sido culpada até mesmo pela piora de meu pai, quando ela negou várias vezes que ele precisava de acompanhamento médico.

Meu desejo era bater de frente com ela e dizer que eu sabia de tudo, que a odiava e que jamais a perdoaria, mas ela encontraria um jeito de contornar a situação e me pintar como a maluca da história que estava criando teorias sem sentido. Era isso o que ela sempre fizera. E eu havia permitido como um verdadeiro fantoche. Quando permiti que ela tomasse todo o domínio do hospital quando Daniel morreu e eu me sentia incapaz de administrar toda aquela responsabilidade.

Eu tomaria tudo de volta e Cora jamais pisaria naquele lugar outra vez, mas eu o faria com cautela e eficácia. Toda essa dor que sinto e rebenta em meu peito servirão para que eu jamais deixe que minha mãe volte a arruinar a vida de alguém.

Podia sentir um alívio com o fato de que ela não estava mais exercendo a profissão, pois assim sabia que nenhum paciente estaria em risco quando eu colocasse meu plano em prática. Mas tampouco gostaria que as pessoas próximas a mim, as pessoas que amo, as pessoas que estou começando a amar... Sejam feridas por ela, e isso me fazia temer e querer chorar outra vez pelo desespero que não me deixava de lado.

Faltava um mês para o congresso de médicos em Nova Iorque, e seria ali que eu desmascararia minha mãe. Mesmo que precisasse esconder que sabia a verdade. Cora Mills não dava ponto sem nó, eu não podia chegar derrubando minhas frustrações e tristeza adquirida com a verdade em cima daquela mulher, ela daria um jeito de me subjugar.

As pessoas precisavam saber quem era aquela mulher, e nesse momento, não haveria laço sanguíneo que me impediria de desmascarar o monstro que minha mãe se tornara pela sua busca incessante pelo poder e pelo controle de minha vida. Sua falta de humanidade se tornaria pública e eu a retiraria de uma vez por todas da minha vida e da vida de meu pai, deixando-a sem nada que pudesse destruir usando o poder de um sobrenome como arma para aquilo. Eu sempre achei o ódio uma palavra muito forte, e talvez fosse um grande erro classificar o que estava sentido pela minha mãe naquele momento como tal, mas nesse instante, eu não consigo encontrar outra palavra que defina esse sentimento.

Entrei no banheiro e permiti-me tomar um banho demorado para aliviar o cansaço físico, sabendo que o psicológico permaneceria ali por muito tempo.

Enrolei-me na toalha e sai do box, parando no caminho até o closet para pegar meu celular jogado em cima da cama. A tela explodia em notificações, mas uma em especial capturou minha atenção e atenuou o medo e insegurança que fizeram morada de mim.

 

“Regina, estou preocupado com você. Quero te ver e poder te abraçar, amor. Sei que as coisas se complicaram, mas estou aqui, está bem? Mande notícias

Ps: Diga-me que posso te ver.”

 

Respirei fundo, sentando-me na cama ainda de toalha ao sentir o peso que aquela mensagem tive sob minhas emoções. Meu coração se aquecia com sua preocupação e cuidado, mas ao mesmo tempo o temor de que algo pudesse a acontecer com ele pela proximidade que tínhamos, tomava conta de mim.

E agora? O que seria de mim e Robin Locksley?

Desbloqueei a tela e abri a mensagem, escrevendo e apagando a resposta algumas vezes. Por fim, apenas digitei:

“Estou viva, Locksley. Diga à Lucy que mais tarde estarei aí.”

Sei que não havia respondido suas perguntas e nem dado a ele o que acabara de me pedir. Mais naquele momento, eu não era a Regina Mills coberta de certeza. Eu era apenas a Regina com várias perguntas e pouquíssimas respostas.

Quando consegui forças para me levantar e começar a me vestir, ouvi o barulho da campainha tocar. Ao olhar pela janela, vi os fios loiros de Robin reluzirem pelo contato com o sol. As mãos nos bolsos e o pé batendo no chão revelavam sua impaciência ao aguardar uma resposta que viesse de dentro.

É, aparentemente a noite sem notícias e a completa manhã perdida pelo sono proporcionado pelo remédio milagroso, tornaram as últimas 14 horas sem resposta demais para o impaciente Locksley.

Ele estava ali, na minha porta. Esperando que eu abrisse.

E eu estava no meu quarto, sem saber o que fazer.

Eu consegui ouvir a voz de Emma em minha cabeça dizendo: “Desculpa, eu não pude evitar.”


Notas Finais




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