1. Spirit Fanfics >
  2. Vazio >
  3. Estranhos

História Vazio - Estranhos


Escrita por: ChisanaRumiko

Notas do Autor


Boas notícias para vocês: poupei os feels. Pensei em ser escrota, mas nem tenho forças pra isso :P
Mas, claro, tem sempre uma má notícia (que eu deixei nas notas finais)
Enfim, galera, tô me sentindo meio estuprada pela vida, então nem vou falar mto.
(Por sinal, peço perdão pelo capítulo anterior, acho que fui um pouco rude >///<)
Ah, e Super Lovers é mto lecau, recomendo pra quem conseguir identificar 15 anos naquele garoto nanico.

Boa leitura!

Capítulo 32 - Estranhos


Levi parou de andar no mesmo instante. Olhou para a porta com uma feição carrancuda; além de ter chamado o namorado de forma grosseira, ainda era uma voz masculina. Não demorou nem um segundo para que Eren corresse, sem se preocupar com a louça caindo na pia, e puxasse Levi para a cozinha. O movimento foi tão rápido que não deu tempo para que o mais velho reagisse, deixando-se levar.

— Ei...! — resmungou Levi quando chegaram no outro cômodo, mas foi silenciado pelas mãos apressadas de Eren cobrindo sua boca.

Shhhh, pelo amor de Deus! — sussurrou o garoto, em completo pânico. Levi imediatamente entrou em estado de alerta. — Vá para a dispensa e não faça nenhum barulho!

O que está acontecendo?! — perguntou Levi, bem baixinho, mas seu tom refletia o de Eren.

Eren — a voz voltou a gritar do lado de fora da casa —, abra a porta de uma vez!

O garoto olhou para o vão da porta da cozinha com desespero, depois para o namorado. Estava pensando seriamente dar um tapa no garoto para ver se ele voltava à realidade e explicava o que estava acontecendo.

— Então, Levi... — o mais novo deu um suspiro breve e continuou. — Se não quiser conhecer seu sogro na pior condição possível, eu sugiro que você entre logo na caralha da dispensa e finja que não existe, ok? — fez questão de enfatizar as palavras.

Levi piscou duas vezes até entender o que estava acontecendo. Aquele era o pai de Eren?! Mas ele não havia sumido? Ou se separado da mãe do garoto? Bem, não importava muito naquele momento; tudo que podia fazer era esconder-se o mais rápido possível — mesmo que não estivesse ali, já parecia que a coisa estava feia o suficiente para o mais novo.

Sem dizer mais nenhuma palavra, correu para uma portinha além da bancada da pia onde julgava ficar a dispensa. A porta era vazada seguindo o estilo de uma persiana horizontal, o que daria maior acesso à conversa dos dois. A dispensa em si não era muito apertada, então conseguiu sentar-se no chão de uma forma que não ficasse muito desconfortável. Assim que Levi fechou a porta, Eren garantiu que a presença do namorado não podia ser notada e correu para a porta.

Anda logo, garoto! — apressou Grisha.

— Já estou indo! — respondeu Eren, mal-humorado. A última pessoa que gostaria de ver naquele final de semana era o pai.

Destrancou a porta com a chave que ficava na porta mesmo e a abriu o suficiente para dar passagem para o pai. Grisha trajava o seu habitual sobretudo marrom escuro por cima da roupa social que usava para trabalhar, além de carregar uma bolsa tiracolo masculina escura. Claro que o pai não fez nenhuma cerimônia ao reencontrar-se com o filho; apenas passou por Eren e começou a vasculhar os cômodos.

— Eu estou bem aqui, pai — disse o garoto, com sarcasmo.

— Com quem estava conversando? — perguntou Grisha, indo direto ao ponto, mas ainda sem encarar o filho propriamente.

A pressão de Eren teve uma queda naquele momento. Podia sentir o suor frio descer a coluna, e teve que admitir que foi complicado manter-se calmo. Não acredito que ele realmente conseguiu ouvir a voz de Levi, disse o garoto mentalmente. Só se ele ficou parado na porta escutando nossa conversa antes de tocar a campainha... Não, espera, ele não fazia isso! Ou faria?!

— Não tem mais ninguém aqui, pai — disse Eren calmamente, controlando-se para não deixar nenhuma gota de seu desespero cair em sua voz.

Por alguns segundos, os passos de Grisha não puderam ser escutados pela casa. Eren estranhou e foi em busca do pai, encontrando-o na cozinha ao lado da pia com os pratos jogados. Grisha virou-se para olhá-lo com as sobrancelhas franzidas, mostrando sua descrença nas palavras do filho, que agora fraquejava só de pensar que o pai e o namorado estavam, tecnicamente, no mesmo cômodo.

— Repita isso — mandou o pai, inclinando a cabeça para o lado, e Eren sabia o porquê; estava procurando sua orelha.

Respirou fundo, como se estivesse entediado, enquanto na verdade era para manter-se controlado o suficiente para que a verdade não fosse evidenciada com o rubor — já que seus batimentos cardíacos estavam a mil.

— Não tem mais ninguém nessa casa — repetiu Eren pausadamente.

Grisha cerrou os olhos para o menino, que lhe devolveu um olhar irritadiço.

— Pensei ter escutado você falar com outra pessoa — o pai falava com sarcasmo, pois havia escutado uma segunda voz dentro da casa.

— Era só eu cantando na cozinha. — O garoto deu de ombros e encostou-se no arco da porta da cozinha, tentando disfarçar ao máximo o seu desespero. Tinha que tirá-lo de lá de alguma forma.

— Desde quando você canta? — perguntou o pai, puxando uma cadeira para se sentar quando a voz do filho o paralisou.

— Desde quando você presta atenção no que eu faço? — disse o menino, com desgosto, fazendo o pai arregalar os olhos.

Eren conseguiu, por fim, atrair a atenção do pai. Agora era só sair correndo e com certeza conseguiria tirar o pai de perto de Levi, mesmo que a preço de uma boa surra.

 

 

Levi se mordia de curiosidade para saber o que estava acontecendo. Mesmo estando no mesmo cômodo, era difícil escutar o que cada um falava.  Enquanto mantinha-se encolhido na dispensa, cogitou a ideia de sair de fininho e pular alguma janela, até lembrar-se de que estava apenas com a calça do pijama do namorado. Pelo visto, teria que aguentar ficar naquela posição por mais tempo.

Martirizou-se por agradecer pela baixa estatura naquele momento.

 

 

Carla espreguiçou-se com gosto. Fazia tempo desde a última vez que passou a madrugada inteira conversando com uma amiga, e desta vez tinha feito uma festa com Haruna, uma de suas melhores amigas, e Mikasa. As três ficaram acordadas até altas horas contando histórias e rindo muito. As partes mais engraçadas foram quando Haruna repreendia Carla por estar tomando o lugar dela como mãe de Mikasa.

Depois de ir ao banheiro fazer suas necessidades matinais, foi até a sala procurar pela amiga e pela “filha de consideração”. Ambas estavam na cozinha, já preparando o almoço devido a hora. Carla nem se deu ao trabalho de trocar o pijama; arrastou-se até uma das cadeiras e apoiou o braço em cima da mesa para dar suporte à cabeça em sua mão.

— Bom dia... — ronronou Carla com um sorriso satisfeito.

— Bom dia — respondeu Mikasa, sorrindo de volta.

Haruna parou de mexer na panela para dar uma olhadinha nada discreta para Carla.

— Bom dia, dorminhoca — comentou com uma voz sugestiva. — Teve bons sonhos com o Dr. Jäeger?

 — Deus que me livre, Haruna — resmungou Carla, pondo a mão na testa. Não se surpreendeu quando a amiga começou a rir. — Nesse exato momento, gostaria de estar tendo sonhos com um moreno lindo, ou um francês. — Carla fez uma pausa para pensar, pondo um dedo sobre o queixo. — É, um francês não seria nada mal... sempre tive um fraco por franceses, não sei por quê.

— Olha, mas vejam só...! — brincou Haruna, ainda rindo. — Quem diria que essa é a recatada Sra. Jäeger!

— Ai, não vejo a hora de perder esse sobrenome. — Carla revirou os olhos.

— Nossa, Carla — Haruna parou de rir e adotou um tom mais sério —, você já está nesse nível?

Carla deu um suspiro e retraiu-se na cadeira.

— Ah, Haruna... Já estou cansada de vê-lo sumindo por semanas por causa do trabalho, sem dar notícia nem nada... — Carla deu de ombros.

— Bem... — Haruna hesitou por um segundo, mas decidiu falar. — Eu e John passamos por uma situação parecida.

Mikasa olhou para a mãe com espanto, mas nada disse. Como não foi interrompida, Haruna continuou.

— Por causa das nossas viagens, o tempo que nós passamos juntos ia diminuindo gradualmente, até chegar ao ponto de me incomodar. — Haruna parecia levemente magoada enquanto falava, com os ombros retraídos e a cabeça baixa. — Nós tivemos uma série de discussões, e eu realmente cheguei a pensar que ele pediria divórcio...

— Por que eu nunca soube disso? — Mikasa não aguentou mais aquela história. Já via muito pouco os pais, e a ideia de vê-los com menos frequência ainda por causa da guarda compartilhada era assustadora.

— Porque nós não queríamos que você entrasse nessa briga, filha — respondeu Haruna, com doçura. — Se poderíamos ou não conviver com essa rotina era uma escolha que só cabia a mim e ao seu pai. No final das contas, nós conseguimos nos acertar, e devo dizer que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito.

Mikasa relaxou mais na cadeira, enquanto Carla sentia-se mais agitada. A mulher podia sentir os olhos arderem e o coração encolher no peito.

— Acha que eu estou fazendo a escolha certa? — hesitou Carla, a voz fraca e vacilante.

— Não sei... — suspirou Haruna. — Você pode me contar detalhe por detalhe da sua relação com Grisha, mas como você se sente e a influência disso na sua decisão é por sua conta.

Carla olhou para a amiga com admiração. Haruna era uma mulher sensata e decidida, mesmo quanto se tratava de seu coração. Já Carla, lamentava algumas várias escolhas que havia feito na vida por causa de Grisha — que sempre fora seu ponto fraco. Passou a observar a filha de consideração e seu coração apertar-se ainda mais. Lembrou-se imediatamente do filho que havia a confortado inúmeras vezes, que escutou seus problemas e que a ajudou a manter a cabeça em ordem.

E então, sentiu tudo dentro de si desabar mais uma vez. As lágrimas escapavam sem controle de seus olhos, que fez questão de cobris com a palma das duas mãos.

O que eu estou fazendo...? — sussurrou Carla, pensando em voz alta. — Não acredito que coloquei Eren no meio dos meus problemas, que dependi do meu próprio filho... Eu sou uma porcaria como mãe!

— Carla! — exclamou Haruna, surpresa com a súbita reação da amiga.

Mikasa sabia exatamente do que ela estava falando — lembrava-se de Eren comentando algo do tipo no colégio —, então não pensou duas vezes antes de correr até Carla e abraçá-la com força.

— Você é a única que pensa assim — confortou-a Mikasa. — Garanto que eu não te vejo dessa forma... e Eren, muito menos.

Haruna sentiu uma pontada de ciúmes da amiga, mas sabia que não era o momento para nenhuma brincadeira sobre “quem era a mãe de Mikasa”. Ao invés disso, sentiu orgulho da filha, e da garota que ela se tornou.

Carla aceitou aquelas palavras em seu coração e retribuiu o abraço. Aos poucos, foi recuperando-se do lapso de desespero que acabara de ter — estava até um pouco envergonhada — e recompôs-se. Não era hora de fraquejar, mas sim de ser firme e tomar uma decisão para a sua vida.

— Queria saber o que Grisha pensaria se soubesse da separação... — murmurou baixinho.

 

 

— Tudo bem — murmurou Grisha, balançando a cabeça. Não estava nem um pouco interessado naquela conversa. — Você conseguiu perder o direito de ter opinião — cuspiu as palavras. — Você vem comigo.

Eren franziu o cenho e deu um passo para trás.

— Do que está falando? — grunhiu o garoto. — Para onde você vai me levar?

— Você não precisa saber agora — respondeu Grisha, ainda mais ríspido. — Ponha uma calça e venha comigo.

— Não — Eren recusou de imediato. Algo naquilo o deixava desconfortável, sem falar que o pai estava agindo mais estranho que o normal.

Grisha cerrou os dentes e tencionou a mandíbula; Eren já sabia o que aquilo significava.

O que foi que disse? — perguntou Grisha, elevando o tom de voz.

O pai não aprovava comportamentos “rebeldes” como aquele, e o ato de cerrar os dentes mostrava que, se o garoto não mudasse de ideia, coisas ruins aconteceriam. Porém, a lembrança de sua mãe chorando por causa do abandono do pai o deu força o suficiente para enfrentá-lo.

— Eu disse que não — respondeu firme, fazendo o pai arquear as sobrancelhas momentaneamente. — Eu não vou com você.

Grisha inalou o ar mais forte e mais rápido, como se estivesse se preparando para gritar. Eren também sabia o que aquilo significava.

 

Levi já estava tendo uma crise de ansiedade. As vozes do namorado e seu pai estavam começando a tornarem-se mais audíveis, porém ainda incompreensíveis. A única coisa que conseguiu captar da conversa foi o final, onde o clima não parecia estar muito bom ao analisar os tons de voz de cada um.

Tentou aproximar mais a orelha da porta para ver se conseguia entender melhor o que diziam, e esse foi seu erro fatal. Sem querer, seu cotovelo empurrou de leve um dos frascos de vidro onde Carla guardava os grãos, como arroz e feijão. Consequentemente, o frasco que se esbarrou acabou colidindo com os outros, fazendo um barulho maior do que o esperado.

Levi não se lembrava de um momento em que foi mais estúpido do que aquele.

 

 

Grisha estava prestes a dar um puta sermão no filho, daqueles que fazia o garoto correr para o quarto para que não o visse chorar — estava na hora de mostrar quem era a autoridade ali —, mas um barulho estranho vindo da dispensa tirou completamente sua atenção. Não é que aquela peste conseguia mentir? Afinal de contas, havia alguém na dispensa. Ou isso, ou estavam com praga de ratos de novo.

Enquanto isso, Eren praticamente enfartava. Que merda o namorado estava fazendo para fazer tanto barulho?! E o pior: precisava chamar a atenção de seu velho antes que a situação ficasse realmente séria... E isso significava deixar o pai realmente irritado.

— Que porcaria foi essa? — grunhiu Grisha, andando em direção à dispensa.

— Ah, agora você vai fugir do assunto?! — provocou o garoto, mas sua voz transparecia demais o caos que estava a sua cabeça, o que Grisha não deixou de notar. Continuou andando até a dispensa. — Ei, pai!

 

 

Fazia tempo desde que Levi não se sentia tão indefeso como naquele momento. Estudava todas as possibilidades para fugir dali sem ser pego pelo pai do garoto, mas nenhuma era, de fato, útil. A mais provável era procurar por um saco de papel, enfiar na cabeça e fugir dali sem que o pai de Eren pudesse segurá-lo, mesmo que tivesse que correr pela rua seminu e descalço.

Aquela foi a ideia mais estúpida que teve na vida.

Poderia também fingir que era um assaltante e simplesmente fazer uma encenação vagabunda e “fugir com medo da polícia”. Porém, quem acreditaria num ladrão na dispensa praticamente nu, se não fosse o pijama de seu filho? Não, essa também não era uma boa ideia.

Foi então que considerou abrir só uma fresta e jogar alguma coisa no outro lado da cozinha. Isto talvez desviasse a atenção o suficiente para que desse tempo de conseguir aplicar um golpe relativamente forte e desacordar o homem.

Outra ideia absurda — mas que ainda era uma melhor opção do que sair correndo por aí com um saco de papel na cabeça.

 

 

— Pai, dá para prestar atenção em mim?! — gritou Eren, deixando ambíguo se era desespero ou irritação na sua voz.

— Cala a boca, Eren! — grunhiu Grisha, fazendo uma pausa para olhar para trás e fuzilar o filho com os olhos.

— Não, eu não vou calar a boca! — Eren respondeu, esgotando o estoque de paciência de Grisha.

— Agora você conseguiu, Eren! — rosnou Grisha, dando meia volta e marchando até Eren, que sentiu suas vísceras se revirarem.

O pai aproximou-se dele como um tigre pestes a atacar, com o corpo levemente curvado para frente e os braços fazendo movimentos bruscos. Deu um passo para trás, vacilante, e pensou em correr dali o mais rápido possível. Porém, não pensou rápido o suficiente; Grisha já estava a poucos centímetros de distância, e agarrou o braço de Eren com força, como se quisesse parar a circulação do garoto no local.

— Você trate de calar a sua boca, garoto! — Grisha praticamente gritava no ouvido de Eren, que se retraiu. — Está achando que você é quem para falar assim comigo?!

Eren nada disse, apenas permaneceu encolhido perante a imagem imponente do pai.

— É você o chefe da casa?! É você que trabalha para sustentar a família?! É você que paga seu colégio?! — continuou Grisha, apertando e sacudindo o braço de Eren à medida que falava. Enquanto isso, o filho permanecia calado, em parte por medo do pai, em parte para não se constranger mais ainda na “frente” do namorado. — É você quem cuida de si mesmo e da sua mãe?!

Naquele momento, o gatilho para a ira de Eren havia sido puxado. Grisha podia jogar na cara o que quisesse, só não que se importava com ele ou com sua mãe. Não, isso deixou de ser verdade há alguns anos, foi só Eren que tardou a perceber por amar e respeitar muito o pai.

Porém, os tempos mudaram.

Pare de falar merda — rosnou Eren, puxando o braço da mão do pai com força. — Você liga tanto para a gente quanto para o mijo que você dá descarga!

Grisha ficou estático. Nunca vira seu filho rebelar-se daquela forma, nem mesmo na pior época de Eren, quando ele havia sido suspenso pela terceira vez no primeiro ano por uma série de problemas que estava tendo. E aquele momento de confusão foi o que Eren precisava para continuar atirando o que pensava no pai.

— Acha que só dar dinheiro é o suficiente para ser considerado pai?! Ou melhor, você se considera um pai?! — gritava o garoto ao mesmo tempo que singelas três lágrimas de puro ódio desciam. — Teve uma época que eu me orgulhava em dizer que eu era seu filho — confessou, sentindo uma pontada forte no peito ao dizer tudo aquilo. — Agora, eu me pergunto se você consegue ser alguma coisa além do cara que aparece de vez em quando para pagar as contas...!

Eren foi interrompido por Grisha, que não suportava mais escutar nem uma palavra do filho. Puxou o braço direito desde lá de baixo até em cima, fazendo com que a palma da mão acertasse em cheio o rosto de Eren, que só não caiu no chão porque, antes, colidiu com a parede da cozinha.

 

 

Que aquela conversa estava tomando um rumo muito ruim, Levi sabia. Porém, não esperava escutar tudo aquilo do namorado. Afinal de contas, por que Eren nunca comentou nada daquilo com ele?! Para não dizer a verdade, houve uma única vez que ele comentou alguma coisa — quando foi cozinhar o macarrão estranho em sua casa —, mas apenas citou que a mãe pensava em pedir divórcio. Não sabia que ele tinha uma relação tão ruim com o pai.

Porém, não era referência para o assunto, já que ele mesmo escondia muita coisa de Eren — praticamente a sua vida inteira. Estava começando a considerar ser mais franco com o garoto quando um som peculiar o chamou a atenção.

Não precisava fazer parte da máfia para reconhecer o som de um tapa bem dado, o que foi o caso. Sentiu os pelos da nuca se eriçarem. Podia ser o pai, a mãe ou quem for; ninguém encostava um dedo no seu garoto — a não ser ele mesmo, e olhe lá.

Você... bateu em mim...? — Levi pôde ouvir o garoto falar com incredulidade. Aquela voz que tanto gostava agora soava como a própria angústia falando, o que o tirou do sério.

Agradeça por ter sido só um — rosnou o homem, fazendo Levi cerrar os dentes. — Eu deveria estar te enchendo de cintada para te mostrar o teu lugar.

E eu deveria estar esfolando a sua cara no ralador — Levi rosnou baixinho, porém, sem amenizar na raiva em cada palavra.

 

 

Eren estava completamente perplexo. Seu pai não costumava utiliza violência para discipliná-lo — essa, na verdade, era a sua mãe —, afirmando sempre que o diálogo era a melhor forma de se resolver as coisas. Aparentemente, não era mais assim.

Sabia que também tinha pegado pesado no que dissera a ele, mas... Um tapa no rosto? Não, aquilo foi inesperado demais. O máximo que o pai fizera fora dar uns beliscões em seu braço quando começava a levantar a voz, mas nunca um tapa. Permaneceu apoiado na parede, levemente retraído, mas ainda mais cheio de ódio.

Grisha o olhou com desprezo enquanto esfregava uma mão na outra.

— Você é um garoto muito ingrato, sabia? — Grisha mudou completamente seu tom de voz, adotando uma postura mais arrogante. — Não faz ideia das coisas que eu já fiz por você e pela sua mãe.

— É, deve ser por isso mesmo que ela quer pedir divórcio — Eren cuspiu as palavras, não conseguindo mais conter-se.

A expressão que Grisha fez foi indecifrável. Deu para notar que ele hesitou em dar um passo para trás, como se aquelas palavras fossem um murro em seu peito. Porém, aquele estado não durou muito tempo; ele logo voltou a blindar-se e fingir que era inatingível.

— Aquela mulher estúpida acha que é quem sem mim?

Mais uma vez, Grisha fez a veia temporal de Eren saltar.

— Sinceramente, eu não aguento escutar mais nenhuma porcaria vinda de você — rosnou Eren, erguendo-se propriamente contra o pai.

Grisha não disse nada, apenas continuou observando-o com desprezo. Eren tomou vantagem do silêncio.

— Faça um favor tanto a mim quanto à sua ex-mulher e suma daqui — mandou o garoto, apontando para a porta.

Esperava uma reação explosiva de Grisha, mas ele agora mantinha-se em seu estado de completo desgosto.

— De quem você acha que é essa casa? — perguntou Grisha, simplesmente.

— Como se você passasse algum tempo aqui — bufou Eren. — Essa casa é nossa, suma daqui.

Grisha deu um sorriso ácido para o garoto, que teve vontade de cuspir no vão existente entre os dois.

— Essa casa está no meu nome, garoto estúpido. Se eu quiser, ponho os dois na rua e você estará fodido.

Suma daqui! — gritou Eren, mais uma vez.

— Vai se arrepender de ter feito essa escolha, Eren — avisou Grisha, num tom de voz de arrepiar.

Ambos passaram alguns bons segundos — que mais pareceram horas — se encarando, numa troca mútua de desprezo. Eren não sabia mais o que pensar do homem parado à sua frente, que um dia ousou chamar de pai.

— Eu sugiro que você vá embora — murmurou Eren, ácido. — Minha mãe me ensinou a não falar com estranhos.

Grisha vacilou por um segundo e deixou-se afetar pela provocação de Eren. Puxou o garoto pela gola da camisa regata, deixando seu rosto a poucos centímetros do dele. Não se surpreendeu ao ver o filho apertando o pulso que o segurava, mostrando que estava disposto a reagir caso tentasse alguma coisa.

Não faz ideia do que está fazendo, garoto — rosnou baixo. — Você só está sendo mantido vivo por minha causa.

Eren não se preocupou em tentar entender o que o pai falava. Apenas manteve o olhar vago e desinteressado, como se dissesse “apenas vá”. Grisha sentiu-se enojado ao olhar para o filho; não tinha mais vontade de fazer alguma coisa por aquele moleque mal-agradecido. Soltou a gola do garoto dando um pequeno empurrão na base do pescoço. Eren pigarreou, mas não mudou de postura; apenas deu um olhar frio para o pai, para a porta, e depois para o pai de novo.

— Acho que você sabe onde fica a saída — resmungou o garoto.

Grisha não perdeu seu tempo; à passos largos, chegou até a porta principal e abandonou a residência, batendo a porta com força. Aquele som era o que Eren precisava para finalmente abandonar a máscara de frieza e deixar que toda a sua decepção, ira e frustração saísse.

Que droga!

 

 

Levi não tinha certeza se deveria sair. Tinha quase certeza de que o barulho que escutara era o de uma porta batendo com força, e o rugido do namorado também o convencia de que o homem havia ido embora. Arriscou abrir uma fresta e dar uma espiada. Aparentemente, não havia ninguém na cozinha, e a casa estava em completo silêncio. Finalmente, saiu da dispensa com pressa e avançou a passos largos em direção à porta para procurar por Eren.

Porém, assim que ganhou espaço na cozinha, percebeu que Eren estava lá mesmo, só que ajoelhado e encurvado no chão. Seu corpo tremia um pouco, e sua respiração era irregular. Aquela situação era tremendamente desconfortável; o que diabos deveria dizer a ele?

— Levi — chamou o garoto, a voz levemente entorpecida. O mais velho não respondeu nada, apenas assistiu o garoto erguer-se e permanecer de costas para si. — Acho que você percebeu que eu não estou num clima muito bom — Não era difícil perceber que Eren tentava controlar-se ao máximo para manter-se de pé. — Você pode pegar as suas coisas e ir, já que eu vou estar um porre.

— Claro que não, Eren... — começou Levi, pensando em aproximar-se para confortá-lo, mas o garoto foi mais rápido.

— Eu disse que não estou num clima muito bom — grunhiu Eren, com os punhos cerrados.

Levi hesitou e deu um passo para trás. Para ser muito sincero, temia só piorar o humor do garoto — já que era profissional em tirá-lo do sério —, mas não queria deixá-lo sozinho.

O silêncio do namorado só fez Eren ficar ainda mais irritado. Queria mandar o mundo à merda, queria dizer “foda-se” para tudo e todos. A única coisa que conseguia pensar era que acabara de perder uma pessoa que amava e respeitava muito, mesmo com os constantes deslizes recentemente. Não era fácil aceitar que o pai aceitou a condição de “divórcio” tão rápido — o que significava que ele já estava pensando nisso há um tempo.

A cabeça de Eren estava tão confusa que, sinceramente, só queria não existir naquele momento. Somado ao caos estava o intenso constrangimento por ter tido toda aquela cena com Grisha enquanto o namorado escutava. Arrastou-se até a parede da cozinha e encostou-se nela, deixando o corpo deslizar lentamente para baixo. Ao atingir o chão, encolheu-se na posição fetal, escondendo o rosto sobre os joelhos retraídos, e então abraçou as pernas.

Levi não suportava olhar para o seu garoto daquela forma. Queria ajudar, queria fazer alguma coisa, mas... O que diria para Eren? Não crescera em uma família, muito menos sabia o que era ter um pai. Suas palavras de consolo — se é que tinha alguma — não seriam nada além de vazias.

Mas, ainda assim, valia à pena tentar.

Foi de mansinho até o garoto e agachou-se em sua frente, sem ser notado. Podia escutar soluços reprimidos vindos do namorado, cada um deles aumentando gradativamente a angústia no peito de Levi.

— Eren... — chamou o mais velho, acariciando o antebraço do namorado, que recuou ao toque.

Me deixa em paz, Levi — murmurou em resposta.

— Não seja idiota — apesar do conteúdo, Levi pronunciou cada palavra com o máximo de ternura que conseguia, mas mesmo assim não foi o suficiente.

Só vá embora — pediu o garoto, encolhendo-se mais em sua posição fetal.

Levi arfou e desistiu do método “gentil”. Só tinha uma forma que sabia que funcionava com Eren — mesmo que essa também fosse falha — e estava completamente disposto a usar: força bruta.

— Ei, o que está fazendo?! — reclamou Eren quando sentiu Levi forçando passagem com a mão pela região logo abaixo da articulação do joelho e pelas suas costas.

Com um pouco de esforço, Levi conseguiu erguê-lo do chão e aninhá-lo em seus braços, mesmo que a contragosto do garoto.

— Estou dando um jeito num certo pirralho birrento — disse o mais velho, dando um pequeno pulinho para que Eren se ajeitasse melhor em seus braços.

— Eu mandei você ir embora! — grunhiu Eren, debatendo-se. — Me põe no chão!

— Você não me dá ordens — disse Levi, jogando Eren para cima mais uma vez para assustá-lo um pouco e fazê-lo parar de se debater. — Para sua infelicidade, eu sempre fui um garoto consideravelmente rebelde.

— O que você está fazendo?! — repetiu Eren ao perceber que Levi o carregava para fora da cozinha.

Levi não respondeu mais nada, apenas seguiu carregando o garoto, que também se calou. Chegando na sala, Levi foi até o sofá para quatro pessoas e deixou — jogou — o garoto sentado em uma das extremidades, enquanto tomou seu lugar um pouco mais afastado.

Eren olhou emburrado para o namorado e cruzou os braços, perguntando-se por que havia tanto espaço entre eles. Levi apenas o observava com muita atenção.

— Agora que me trouxe até aqui — resmungava o garoto —, o que vai fazer.

Levi deu um singelo sorriso ousado para o namorado e inclinou-se para frente, alcançando o braço do garoto. Num movimento rápido, puxou-o para si e deitou-se apoiando a cabeça no braço do sofá na extremidade oposta a Eren, que foi forçado a cair sobre o tronco do namorado.

Antes que pudesse reagir e fugir dali antes que seu coração fraquejasse na frente de Levi, seu corpo foi envolvido por dois braços fortes, prendendo-o junto ao mais velho. Sentiu o calor que emanava do corpo abaixo do seu aquecer sua pele de uma forma tão aconchegante, fazendo seu coração ceder ainda mais.

Não queria nada daquilo. Já tinha deixado Levi ver demais das suas fraquezas, não queria ter que desabar em sua frente também. Queria que o namorado fosse embora para que pudesse chorar e gritar de raiva o quanto quisesse, mas simplesmente não achava forças para fugir daquele aperto reconfortante. Podia sentir a região abaixo dos olhos e a ponta do nariz esquentarem.

— Por que está fazendo isso? — murmurou Eren enquanto apoiava uma mão sobre o tórax de Levi para tentar empurrá-lo, ainda relutante em aceitar o carinho. — Por que simplesmente não vai embora e me deixa em paz?

— Porque eu sou seu namorado — disse Levi, como se aquela fosse a resposta mais óbvia. E, de fato, era. — Quer dizer que não vou aparecer só para beijar e transar com você, mas também que eu vou estar aqui sempre que precisar de mim.

Aos poucos, Eren deixou de tentar afastar-se. Sentia os braços fraquejarem enquanto seu coração se despedaçava.

Eu preciso ficar só — sussurrou Eren, com a voz trêmula. — Eu estou com tanta raiva agora que seria capaz de matar uma pessoa.

Levi sentiu a respiração falhar momentaneamente.

— Não sabe do que está falando, Eren — avisou Levi, com a voz serena.

— Só me deixa aliviar um pouco a raiva — pediu o garoto, ignorando a fala de Levi.

— Alivia comigo — pediu Levi, dando de ombros. — Pode xingá-lo o quanto quiser, eu vou ficar até feliz.

Eren franziu o cenho.

— Por quê?

— Porque aquele bastardo te deu um tapa — resmungou Levi, apertando Eren mais forte em seus braços. — A vontade que eu tive foi de descer o cacete naquele merdinha.

Eren deu um casto sorriso amarelo, divertindo-se com a visão de Levi e Grisha brigando.

— Acho que é normal pais darem tapas nos filhos quando eles são desobedientes — confessou Eren.

Levi abafou uma risada.

— Não quando o filho é o meu namorado — resmungou o mais velho, fazendo o garoto rir de leve também.

Como Eren não apresentava mais resistência, o abraço de Levi não era tão apertado, dando folga suficiente para que o garoto conseguisse erguer o corpo e olhar Levi cara a cara.

Só então Levi percebeu que, do lado esquerdo do rosto de Eren, um círculo vermelho havia se formado. Estendeu a mão e, carinhosamente, afagou o local atingido pelo tapa. Suspirou profundamente e olhou para o machucado parcialmente coberto pela sua mão, incomodado.

— Você está sempre se machucando, não é? — comentou Levi com pesar. Sentia-se incompetente por sempre ver o namorado molestado e não fazer absolutamente nada.

Enquanto isso, Eren sentia-se uma merda por sempre preocupar Levi, sendo mais um estorvo do que um porto-seguro para o namorado. Maldita diferença de idade, resmungou Eren consigo mesmo. Seu semblante refletia o de Levi, porém com os olhos fechados — não queria olhar para aquele par de olhos preocupados.

Gentilmente, pôs sua mão por cima da de Levi e levou-a até seus lábios. Deu um casto beijo na palma e, nas costas, acariciou com os dedos. Levi desfrutou do carinho, mas logo retirou a mão e tornou a colocá-la na bochecha de Eren, forçando-o a olhá-lo diretamente nos olhos.

Bastou alguns segundos e, só com o olhar, Eren foi capaz de compreender cada palavra de conforto não dita pelo namorado. Sentiu os braços fraquejarem mais uma vez, enquanto Levi o puxava lentamente para perto de si. Com muita delicadeza, beijou os lábios do garoto para selar a conversa muda. Eren não se contentou com um beijo superficial; queria sentir a língua de Levi acaricias a sua, sentir seu gosto invadir a sua boca.

E foi exatamente o que o namorado fez.

O beijo seguia intenso, assim como aquele momento. Levi em momento algum deixou a mão do rosto do garoto; manteve-se acariciando a bochecha esquentada com carinho, em contraste ao beijo possessivo.  Já Eren, não retribuía como sempre fazia, apenas deixava o namorado tomar o controle de tudo.

Não demorou muito para que Levi sentisse algo úmido chegar até o seu polegar. Fez que ia afastar-se, mas Eren não deixou; finalmente avançou para manter seus lábios juntos. Mais um pouco, e outra gota desceu dos olhos do garoto, que fingia não estar acontecendo nada. Levi usou o polegar para enxugar o rastro molhado deixado na bochecha de Eren, o que foi inútil; logo, mais lágrimas desciam, até que algumas caíssem no rosto de Levi.

Aquilo não podia mais ser ignorado. Levi forçou Eren a tomar distância para que pudesse ver como estava. Deu um longo suspiro quando viu as órbitas e o nariz do garoto extremamente avermelhados, o rosto distorcido numa expressão de dor enquanto um rio de lágrimas se formava abaixo dos olhos fechados. Incrível como, mesmo naquele estado, Levi o achava lindo — mas de uma forma que partia seu coração.

Mais uma vez, puxou a cabeça do garoto para baixo, só que agora foi para repousá-la sobre seu colo. Subiu uma mão até o topo do couro cabeludo para oferecer-lhe um cafuné de leve, enquanto a outra mão o afagava nas costas e o mantinha bem junto a si. O corpo de Eren tremia, mas não fazia nenhum som.

— Não precisa se segurar — disse Levi, com a voz morna. — Ponha tudo para fora de uma vez.

Com aquilo, Eren passou a soluçar compulsivamente, enquanto as lágrimas que já escorriam pelo seu ombro apenas aumentaram de volume. O garoto chorava da forma mais pura e primitiva possível, deixando que todos os sentimentos ruins extravasassem. Levi o apertou com mais força, confortando-o.

Eu não... queria... — Eren tentava dizer entre soluços. — Não quero... que meus... pais... se separem... — confessou, um desejo tão profundo que nem mesmo ele tinha pleno conhecimento.

Levi soltou um breve suspiro — não de preocupação, mas sim de alívio. Finalmente, seu garoto havia aberto seu coração.


Notas Finais


Eeee... É isso! O/
Um prêmio joinha para os que se lembraram de Grisha (embora eu quisesse surpreender vcs ¬¬), vcs adivinham tudo mesmo, hein? kkkkk

Bem, não vou tomar muito do tempo de vcs. Na vdd, eu n tô exatamente no momento "queria estar existindo", então não liguem se eu der uma sumida nesse próximo fds. Sei que parece sacanagem e tals, mas é eu não vejo meus amigos ou minha família há uns 3 meses, e tô me sentindo meio bosta. Vou pra sp pra ver dois dos meus amigos do colégio e peço a compreensão de vcs caso eu demore de postar.
That's all, folks O/
Obs: Felizes por eu n ter destruído os feels de vcs? ;3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...