1. Spirit Fanfics >
  2. Vazio >
  3. Não estou pronto para dizer adeus

História Vazio - Não estou pronto para dizer adeus


Escrita por: ChisanaRumiko

Notas do Autor


Olá, pimpolhos, como estão? :3
Antes de mais nada, gostaria de dizer que eu amo muito vcs, principalmente depois de ver o apoio no último capítulo. Parece que é brincadeira, mas escrever uma fic e continuar vivendo normalmente não é pra todo mundo ;-;
De verdade, obrigada a todos que acompanham a fic, principalmente àqueles que acompanham a fic desde o início (SEUS LINDOS <3). Vcs me deram gás pra me esforçar um pouco mais e postar um capítulo mesmo :D (de verdade, eu pensei que eu ia acabar postando uma oneshot mesmo .-.)

Mas vamos lá, respondendo os comentários gerais:
Sim, Pixis é um filho da puta mal amado, eu criei ele pra ser assim *risada maquiavélica*. Vejo que vocês não deixaram o "doutor" escapar, né? Pensei que vocês nem iam prestar atenção xD E... Não, Levi não ia ser estuprado ._. E não adiantou pensamento positivo, galera, Levi sofreu bastante... Vai voltar até com um presente de Pixis *outra risada maquiavélica*. Alguém arrisca um palpite? -v- Para as que choraram... Mds, se acalmem, tanta coisa ainda tá pra acontecer... e Eren não tá nada bem, tadinho :T Mas isso é o que vcs vão ver agora!

Boa leitura!
Tentem não me odiar! ;D

Capítulo 40 - Não estou pronto para dizer adeus


Finalmente havia chegado a segunda-feira, e Eren estava terrível. Haviam verdadeiras manchas arroxeadas abaixo de seus olhos — que o moreno teimava em dizer que eram só olheiras —, além de estar com o rosto extremamente pálido e com uma expressão similar ao de um cadáver. Armin, Marco e Jean se limitaram a apenas dar-lhe apoio moral, pois sabiam pelo que o amigo estava passando, mas os outros membros do grupo —em especial Mikasa — o bombardearam de perguntas.

Mikasa, por sinal, forçou o colega que sentava na cadeira atrás de Eren a trocar de lugar com ela, só para manter-se mais perto do “quase irmão”. Não importava o que dissesse, a resposta de Eren sempre era um gemido ou apenas um suspiro. Quem o olhava de longe achava que ele estava entediado ou apenas desgostoso com a vida, mas Mikasa sabia muito bem como Eren funcionava. Notou que sua perna não parava de balançar, e que estava movimentando mais os dedos do que o normal. Além do mais, estava checando o celular de cinco em cinco minutos, mesmo durante a aula, o que realmente não era de seu feitio. Ele não estava desatento, estava ansioso. Ou melhor, estava preocupado.

Porém, o que poderia ser? Pelo que Carla contou durante o final de semana, Eren já estava ciente da separação dos pais, então não poderia ser isso. Também não poderia ser falta de Grisha, pois sabia que o Dr. Jäeger costumava levar muito tempo em suas viagens, e Eren também estava acostumado a isso. Será que ele estava ansioso para saber como o pai reagiria à separação? Ou com quem ficaria com a sua guarda? Bem, isso seria um bom motivo para preocupar-se, mas ainda assim não achava que era o suficiente para deixá-lo naquele estado.

O sinal indicando o término do terceiro horário já havia soado, e Eren sequer se movia. Mikasa estava começando a ficar angustiada, pensou em até mesmo dar-lhe um tapa no rosto para ver se acordava. A última vez que o vira nessa forma foi quando tinha oito anos... Ah, não era melhor não tocar nesse assunto. Eren não reagia bem àquela fase. E, para ser bem sincera, nem mesmo ela se sentia bem lembrando-se daquele momento horroroso na vida dos dois. Porém, foi por causa deste pequeno incidente na infância que os fizeram ser tão próximos, então podia dizer que era... grata?

— Eren — chamou Mikasa, mas o moreno não respondeu. Sequer se virou para olhá-la. — Eren, por favor, eu estou assustada...!

— Assustada com o que? — murmurou Eren, fechando a mão esquerda em punho. Mas ainda não a olhava nos olhos, estava focado demais no cenário tranquilo do outro lado da janela. — Diga, que motivo você tem para se assustar ou se preocupar com alguma coisa?

Eren, não... — gemeu Mikasa, cobrindo a boca com a mão. Como suspeitava, ele estava igualzinho a quando tinha oito anos. — Você é que está me deixando preocupada. Por que essa mudança de humor? O que aconteceu?

— Volte a viver como o bom gado que você é — resmungou Eren, chocando a amiga e também ao grupo que estava logo ao lado escutando tudo.

— Também não precisa de tudo isso, drama queen — provocou Jean, pois havia se irritado com a forma grosseira que havia tratado Mikasa. Ela estava apenas preocupada, tinha necessidade de tanta rudeza?

— E daí? — rosnou Eren, levantando-se da cadeira de súbito. Jean se assustou e recuou um passo; Eren estava com o semblante de um assassino. — O que você tem a ver com isso?

— Ei, ei, calma! — disse Armin, apressando-se para se colocar entre os dois amigos. — Eren nós entendemos que você está com a cabeça cheia, mas...

— “Mas” o caralho! — Eren empurrou Armin pelo ombro e o tirou de seu caminho em direção a porta. — Vocês falam como se entendessem alguma coisa — murmurou antes de finalmente sair da sala.

— Eren! — chamou Mikasa, já pondo-se de pé para impedi-lo, mas acabou sendo bloqueada pelo braço de Armin. — Armin, saia da minha...

— Não, Mikasa — disse Armin enquanto a olhava sério. Até mesmo ela sabia que, quando Armin ficava daquela forma, era melhor escutá-lo. — Eu sei o que está acontecendo, e não, eu não vou contar — apressou-se em dizer antes que a amiga insistisse nisso. — Cabe a Eren te contar ou não. Enquanto isso, peço que deixe que eu converse com ele.

Mikasa não queria aceitar aquilo de maneira alguma. Que tipo de problema Eren tinha que ela não era capaz de resolver? Sempre foi desse jeito: Eren arrumava encrenca e Mikasa arrumava a encrenca. Não saber o que estava acontecendo só deixava tudo muito pior, era quase um tipo de tortura. Queria correr até Eren e abraçá-lo, dizer-lhe que estava tudo bem e que cuidaria de tudo. Que sempre cuidaria dele.

— Armin, eu vou vê-lo agora — disse Mikasa, mais como uma ameaça do que um aviso. — Saia da minha frente.

— Ah, vocês dois são realmente irmãos... — murmurou Jean, passando uma mão pela nuca. Mikasa o olhou primeiro com desdém, como sempre fazia, mas logo arregalou os olhos quando percebeu o quão sério Jean estava. — Desculpe, Mikasa, mas eu concordo com Armin. Acho melhor você ficar aqui.

Jean... — murmurou Mikasa, trincando os dentes. — Não fique achando que você pode me dizer como eu devo ou não agir com Eren. Você não conhece nem a ele e nem a mim.

— Concordo com você, eu não sou louco de querer entender aquele bastardo suicida — resmungou Jean, sem perder a seriedade. Era estranho ver Jean agindo tão frio. — Só que, dessa vez, você está errada. Você acabaria o irritando ainda mais, e isso não seria bom para nenhum dos dois.

Mikasa ia contestá-lo, mas repreendeu-se depois de olhar para a feição tanto de Jean e Armin quanto Marco. É, talvez fosse algo que aconteceu dentro do grupo dos garotos. Do grupo de amigos de Eren. E que ela, por sinal, não estava. Sabia que Eren, como um garoto, se sentia mais confortável com outros garotos, mas... Naquele caso, ele nem chegou a cogitar contar algo para ela. Doía pensar nas coisas daquela forma.

— Ei, Mikasa, você sabe o que... — Sasha parou de falar no momento em que percebeu que o clima entre os amigos não estava bom. — Desculpa... — murmurou baixinho e se virou para voltar ao seu lugar.

Mikasa soltou um grunhido feroz, fazendo com que os três garotos recuasse um passo. Num piscar de olhos, já tinha agarrado o braço de Sasha e a arrastado até a porta enquanto a amiga gritava de susto.

— Mikasa! — gritou Armin, preparando-se para correr atrás dela. Porém, antes que desse o primeiro passo, Mikasa parou na porta e se virou para encarar o trio de meninos com os olhos cheios de fúria.

— É melhor vocês darem um jeito em Eren — grunhiu em tom de ameaça —, ou eu espanco os três até não sobrar mais vísceras. Entenderam?

Dito isso, a morena saiu corredor afora arrastando Sasha, que tremia de medo. Marco suspirou aliviado e ofereceu um sorriso caloroso para Jean, que ficou sem entender.

— Que cara de bosta é essa? — perguntou Jean, sentindo algo em seu peito arder.

— Nada não — respondeu Marco, dando de ombros. — Só estou surpreso que você finalmente bateu de frente com Mikasa pela primeira vez.

— E daí? — murmurou Jean, desviando o olhar. De leve, podia-se notar certa vermelhidão em suas bochechas. — Eu sei que só iria piorar as coisas caso ela fosse ver Eren agora...

— Ah, então quer dizer que você repreendeu a garota que você diz gostar para o bem de um cara que você também diz não gostar? — provocou Marco, deixando-o ainda mais vermelho.

— Eu só...! — Jean não conseguia formular uma boa resposta. — É que ele realmente está mal, e...

Marco começou a rir, desconcentrando ainda mais Jean. Estranho, escutá-lo rir fazia o ardor em seu peito crescer...

— Ei, gente — chamou Connie, acompanhado de Reiner. — De verdade, o que aconteceu com Eren? Todos na classe estão preocupados, principalmente depois de ver vocês discutindo com Mikasa.

— Tem alguma coisa que possamos fazer? — perguntou Reiner, igualmente preocupado.

Armin virou-se para os dois amigos e seus olhos cruzaram com os de Reiner. Um calafrio desceu por sua coluna, fazendo-o recuar. Algo em Reiner ainda o deixava inquieto, e muito provavelmente Reiner havia percebido isso, pois aproximou-se do menor para colocar uma mão sutilmente em seu ombro.

— Armin, nós também estamos preocupados com Eren, também somos seus amigos — disse Reiner, naquele tom de voz de “irmão mais velho” que comovia a todos. — Por favor, eu sei que você sabe o que está acontecendo.

Armin olhou-o diretamente nos olhos, depois para a mão apoiada em seu ombro e então rolou os olhos para qualquer outro lugar enquanto dava fim ao toque de Reiner.

— Jean, Marco — Armin os chamou, ainda com seu tom de voz sério. Os dois logo adotaram a mesma postura. — Cuidado com a língua. Vou ver se consigo trazer Eren de volta.

— Não se preocupe — respondeu Jean, entendendo exatamente do que Armin estava falando.

— Boa sorte, Armin — disse Marco, levemente apreensivo. Afinal de contas, queria fazer alguma coisa de útil para Eren também para poder retribuir o favor, mas sabia que era um inútil naquele momento.

Com isso, Armin ganhou velocidade e logo chegou ao corredor, seguindo na mesma direção que Eren. Reiner o observou com certa confusão e também um leve desapontamento.

— Vocês não vão abrir o bico, não é? — perguntou Connie, já sabendo a resposta.

Marco suspirou em resposta, e nada mais precisou ser dito. Jean puxou uma cadeira qualquer e sentou-se bem espaçoso, quase deitando-se sobre ela.

— E então, rapazes — disse Jean, impondo uma voz forçadamente séria só para descontrair —, vamos falar sobre geopolítica.

 

 

— Eren? — chamou Armin, mas sua voz logo foi abafada por uma rajada de vento vigorosa. Tentou chamá-lo mais uma vez depois que a ventania se acalmou, aproveitando também para retirar alguns fios loiros revoltos que cobriam seu rosto. — Eren, você está aqui?

Não demorou muito para que identificasse a localização do amigo; bastou se virar para ver que Eren repousava na parte mais alta da cobertura do colégio, onde supostamente o acesso é proibido. Armin suspirou e, sem esperar por um convite, subiu por uma escada lateral metálica aderia à parede para alcançar o moreno.

Eren não aparentava estar nem calmo, nem irritado; estava apenas admirando as nuvens que passavam no céu com um semblante... vazio. Como ele estava deitado, Armin decidiu sentar-se no chão ao lado do melhor amigo, e foi então que notou em uma das mãos que usava como apoio para a cabeça o celular. Outro suspiro vindo do menor.

— A aula vai começar, vamos voltar — disse calmamente, esperando ao menos ouvir um deboche do amigo. Não houve resposta. — Vai me ignorar?

Eren continuou calado, imóvel. Até mesmo seu peito malmente se movia, realizando o esforço mínimo para respirar.

— Tem notícias dele? — perguntou diretamente, pois sabia que rodeios não funcionavam com Eren. Ele era devagar demais para entender indiretas ou coisas do tipo. Desviar do assunto também não era uma opção.

Porém, mesmo com isso, não houve resposta.

— As notícias foram tão ruins assim? — insistiu Armin, mas Eren continuava a não reagir. Decidiu provocá-lo, ser mais inquisitivo. — Ele não morreu, não é? Você não teria vindo para o colégio caso ele...

Levi não morreu — rosnou Eren, um som essencialmente animalesco. Armin tomou distância e esperou que ele se pronunciasse, pois provocá-lo ainda mais estava, agora, fora de questão. — Mas... também não sei o que aconteceu com ele. Hanji-san não entrou em contato.

— Hanji-san?

— Uma colega de trabalho dele — respondeu seco. — Disse que ia me informar caso ele fosse encontrado.

— Ah... — murmurou Armin, sem saber como proceder. — E ela... sabe que vocês...?

— Foi ela que fez com que eu me encontrasse com Levi no dia que ele me pediu em namoro.

— Hm, entendo...

E então, silêncio. A voz e a expressão de Eren estavam tão sem vida — com exceção do pequeno momento de surto de raiva — que deixava Armin sem um norte. Estava começando a entender o quão séria era a situação, pois o maldito Levi havia sumido. Da forma como Marco havia o exaltado na casa de Eren, imaginava que ele iria resolver aquela situação rapidamente e então voltaria com a maior pose de mafioso para cima de Eren, dizendo “Viu como eu sou foda?”, mas não era bem isso que estava acontecendo. O filho da mãe realmente havia sumido.

— Você não devia se preocupar tanto — disse Armin, arriscando tentar confortá-lo. Como ele não havia reagido de forma agressiva de novo, continuou: — Esses caras são profissionais, eles vão dar um jeito de trazê-lo de volta.

— Eles não têm notícias faz um dia. Um dia inteiro. — Eren respondia com a voz ainda distante, observando as nuvens que passavam rápido devido ao vento forte. — Sequer sabem onde ele está, pois ele não deixou nenhum recado, ou levou alguém com ele.

— Ele foi sozinho? — indagou Armin com os olhos arregalados. Por essa ele não esperava. Eren apenas assentiu com a cabeça em resposta. — Uau... isso não foi meio... arriscado?

— Ele tinha que fazer isso — disse Eren, agora com a voz tingida por um leve melancolismo. — Aparentemente, houve um acidente com a equipe dele e ele estava sendo responsabilizado. Sendo assim, teve que consertar tudo sozinho.

— Percebe que isso não faz sentido algum, não é? — disse Armin, a voz trêmula de nervosismo. — Não importa o quão bom ele era, uma agência não deixaria um homem resolver um caso tão perigoso sozinho...!

Eren passou mais um tempo calado, e então riu baixinho para aliviar a tensão enquanto levantava-se para sentar. Armin se afastou mais um pouco.

— Quem liga agora, Armin...? — murmurou Eren, sua voz preenchida por um sarcasmo venenoso. — Ele já foi para essa droga de missão, e está desaparecido em algum lugar...

Armin não respondia nada, apenas ficou a observar a pele do rosto do amigo tingir-se de carmesim, principalmente na região abaixo dos olhos. Mas ainda não havia nenhum sinal de lágrimas.

— Eu não consegui descansar a cabeça desde ontem. — Eren agarrou a camisa bem acima do lado esquerdo do peito. — Nem um segundo sequer. Não dormir nada.

— É normal, você está preocupado — respondeu Armin, com a voz complacente. Pensou em se aproximar para oferecer-lhe um abraço, mas recuou mais uma vez ao escutá-lo rir sinistramente.

— Você entendeu errado, Armin... — murmurou ainda rindo. — O sentimento não é esse. Quando eu penso que nunca mais vou ver Levi de novo... É agonizante. Eu não estou preocupado, nem um pouco. — Eren estava realmente assustador. Seu corpo inteiro tremia, assim como sua voz. À medida que falava, uma raiva crescente ia borbulhando por entre as palavras. — Eu estou é puto. Puto com essas merdas de bandidinhos que ousaram pôr um dedo nele, puto com a porra da agência incompetente que não consegue localizar o próprio agente, puto com essa desgraça de corpo de adolescente de bosta, que não pode fazer nada para salvá-lo... — Finalmente, acabou por gritar bem alto, até a garganta doer: — Que se foda esse mundo de merda!

— Eren, calma! — Armin tentou gritar por cima, mas claro que não conseguiu. Ninguém conseguiria. — Não grite, alguém pode subir e nos encontrar!

Foda-se, Armin, foda-se! — Eren gritou de novo, já de pé, seus punhos estavam cerrados em punhos. Tudo nele representava uma ameaça para Armin. — A porra do meu namorado sumiu! Sumiu! E eu não posso fazer absolutamente nada, porque sou um garotinho de merda inútil que não consegue resolver nada sem ter que ligar para a mamãe!

Armin rastejou para longe, tentando fugir do moreno. Foram poucas as vezes que vira Eren naquele estado, e em todas o moreno sempre acabou... muito sujo. Sim, Armin estava dominado pelo pânico, tanto que não conseguiu mover um músculo quando Eren avançou em sua direção. Apenas deixou que lágrimas silenciosas rolassem pelo seu rosto.

— Tudo que eu queria agora é só ser capaz de poder ir procurá-lo... — Eren variava entre grunhidos e gritos. Gesticulava cada vez mais, quase como em ameaças. — Mas, não! Eu tenho que ser aprisionado por essas merdas de regras que sempre me impedem de fazer o que eu quero! Sempre!

Fazia tanto tempo desde a última vez que ele havia perdido o controle daquele jeito... Eren estava indo tão bem. Estava quase se curando, recuperando o autocontrole, estava quase lá... Por que Levi tinha que aparecer e estragar tudo? Eren não podia perder a cabeça de novo, principalmente agora que Grisha não estava mais lá para medicá-lo. Ou melhor, não agora que não tinha mais ninguém no telhado, a não ser os dois...

Armin estava fodido.

— E-Eren... — gemia o loiro, tremendo até a última fibra do corpo. — E-Eren, por favor... n-não faça isso...

— Não fazer o quê? Acha que eu posso fazer alguma... — Eren fez uma pausa assim que viu o estado do melhor amigo encolhido em sua frente. — Armin, você está chorando?!

— Você está me assustando! — Armin conseguiu gritar de volta, com os olhos bem fechados e com o rosto coberto pelos braços, em posição de defesa. — Eren, por favor, para!

O moreno, agora puto e indignado, caminhou até o melhor amigo e se agachou em sua frente, puxando-o pela gola da camisa e deixando seus rostos a centímetros um do outro. Armin descobriu os olhos apenas para ver o que Eren faria, mas ainda estava tremendo de medo. Quem estava a sua frente não era seu melhor amigo; era alguém com o mesmo rosto, mas não com a mesma personalidade.

— Acha mesmo que eu faria algum mal ao meu melhor amigo? — murmurou Eren com os olhos cerrados.

— Só se acalma, por favor — pediu Armin, falando tão angustiado que quase atropelou uma palavra na outra.

Eren estalou a língua e o soltou, fazendo-o cair sentado no chão de novo. Pôs se se pé e passou a mão pelos cabelos, procurando amenizar o seu estado.

— Droga, Armin, eu não perdi o controle! — grunhiu Eren, o que não ajudou muito. Suas palavras não condiziam com seu tom de voz. — Por que caralho você está com medo de mim?!

— E-eu não sei, Eren — gaguejou Armin, tentando levantar-se para poder correr se necessário. Não estava muito crédulo do autocontrole do amigo naquele momento. — É que você...

— Eu, alguma vez, já te bati? — perguntou Eren, agora olhando-o diretamente nos olhos. Armin ficou paralisado, focado apenas em como Eren tinha o olhar perigosamente atraente. — Não, melhor... Eu, alguma vez, bati em alguém sem que essa pessoa merecesse?

— Não — respondeu de imediato, sem nem pensar direito. — M-mas, não é isso...

— Então é o quê? — insistiu o moreno, agora mais controlado. Armin, porém, não deixou de desconfiar. — Por que está com medo? Acha que merece  que eu te...?

— Não! — Armin levantou a voz, mas logo conteve-se. — Eren, eu só... não sei o que esperar de você quando está assim. Você não pode me culpar, sabe que você já fez coisas bem absurdas...

— Mas eu nunca machucaria um amigo — disse Eren, convicto.

Armin respirou fundo. Realmente, Eren parecia mais calmo agora que o assunto da conversa havia mudado. E o melhor; aparentava ter saído da bolha de depressão na qual estava enfiado. Foi uma estratégia arriscada provocá-lo num momento tão delicado, mas aparentemente valeu à pena.

— Só vamos voltar para a sala, tudo bem? — pediu Armin, olhando-o com condolência.

Eren hesitou por alguns segundos, mas acabou por concordar.

— Só deixa eu pegar o meu celular — murmurou o moreno, procurando no chão onde estava o aparelho.

O corpo de Eren congelou. Se não estava enganado, aquilo que aparecia na tela era.... uma chamada? De Hanji? Mas não acreditava ser possível, estava delirando. Não escutara o celular tocar. Se bem que, durante as aulas, deixava o celular no silencioso...

— Eren? — chamou o loiro, estranhando a súbita falta de movimento do amigo.

Como um raio, Eren se abaixou e pegou o celular, atendendo um pouco atrapalhado a chamada antes que ela se encerrasse automaticamente.

— A-alô? Hanji-san? Acharam Levi?! — Eren perguntou tudo de uma vez, sem dar oportunidade para respostas.

Armin logo entendeu do que se tratava a chamada e suspirou. Quase havia melhorado o humor do amigo, e agora... Bem, agora só esperava que Levi estivesse são e salvo. Se Eren quase se descontrolou só por estar sumido, não queria nem saber o que aconteceria se ele estivesse morto. O que levou Armin a imaginar... O que aconteceria quando Levi terminasse com Eren?

Ah, Eren... Olá — disse Hanji, levemente constrangida. — Como você está?

— Acharam ele? — repetiu Eren, com impaciência.

Houve alguns segundos de hesitação por parte de Hanji.

Sinto muito, Eren — lamentou a mulher do outro lado do telefone. O coração de Eren já começara a bater mais rápido, palpitando de ansiedade. — Nenhum sinal dele.

— Mas já se passou um dia!

Eu... eu sinto muito.

Eren soltou o ar que estava prendendo. Tentou pensar positivo e repetia mentalmente que, ao menos, ele não está morto. Por enquanto.

— Por que me ligou então? — murmurou Eren, passando uma mão pelo rosto. Sua voz estava trêmula e falha, mas nem se importou em tentar controlá-la. — Só para saber se eu estava bem?

Na verdade, foi por isso mesmo. — Hanji pigarreou. — Veja bem, você não está acostumado com situações como essa...

— E como eu deveria estar...!

Você deveria estar, esse é o detalhe — corrigiu Hanji, a voz subitamente ganhando um tom mais severo. — Percebe que isso faz parte do nosso trabalho, não? Eu sei que, até agora, Levi conseguiu esconder muito bem esse tipo de coisa, mas... se planeja continuar com ele, deve entender que não voltar para casa... é sempre uma possibilidade.

Foi como se Eren tivesse recebido um banho de água fria naquele momento. Finalmente a atitude de Levi fazia sentido. Finalmente teve dimensão do porquê de Levi não querer um relacionamento sério, ou querer conversar sobre trabalho... Sentia-se um idiota. Não tardou para que se lembrasse também da noite que Levi o visitou em sua casa. Escutava em sua cabeça claramente, como se ele estivesse bem ao seu lado: “Qualquer oportunidade que eu tiver para ficar com você, quero aproveitar da melhor maneira possível... Como se fosse a última vez”.

 Durante todo esse tempo, Levi esteve o protegendo de todas as formas possíveis, enquanto ele só estava agindo como um moleque mimado. Algo muito próximo ao ódio — mas de si mesmo — começou a borbulhar em seu peito, como se o consumisse.

Eren, eu sei que você é um garoto bastante maduro, Levi não teria te escolhido como parceiro se não fosse — continuou Hanji, vendo que o silêncio do garoto era duradouro. — E é por isso mesmo que eu te peço um pouco mais de paciência, tudo vai dar certo. Confie em Levi. Ele não falhou nenhuma vez, e duvido que ele irá falhar agora.

Aquilo era demais para Eren. Hanji estava certa, era realmente um garoto bem maduro para a sua idade... Mas, ainda assim, não deixava de ter apenas dezesseis anos. Por mais que entendesse tudo que Hanji dizia, por mais que soubesse que tudo que ela dizia fazia sentido, não queria aceitar nada daquilo. Só queria o namorado de volta. Só queria pedir desculpas.

Acabou caindo de joelhos no chão, junto com a primeira lágrima que derramara de seus olhos.

— Que merda... — murmurou Eren, num lamento. — Por que ele tinha que ser policial...?

Oh, não, querido — Hanji apressou-se em dizer. — Nunca diga isso a Levi.

— O quê?

“Por que você tem que ser um policial?”, ou coisas do tipo. — Suspirou. — Não faz ideia de como isso o afeta.

— Mas eu realmente não queria que ele fosse um policial — resmungou Eren, dando-se liberdade para ser mimado só mais um pouco. — Até um floricultor seria melhor.

Você não faz ideia do que está dizendo.

— Realmente, eu não faço... — Eren sorriu forçado, o que fez um lamentável contraste com a voz chorosa e as lágrimas que agora encharcavam seu rosto. — A única coisa que sei é que eu o quero de volta...

Hanji suspirou do outro lado da linha. No final das contas, ela parecia estar tão triste e apreensiva quanto Eren, só fazia seu máximo para não o demonstrar.

Você gosta muito dele, não é? — Hanji forçou uma voz serena.

— Eu... eu diria que o amo — disse Eren tranquilamente, surpreendendo Hanji.

Você... já disse isso a ele alguma vez?

— Já disse que talvez estivesse me apaixonando por ele... — Eren lembrou-se da forma como ele o repreendera, e como achou que Levi não se sentia da mesma forma. Agora, já não via mais a situação assim. — Ele acabou me dando uma bronca, nem sei por quê.

Eu imaginei que fosse acontecer algo do tipo — respondeu Hanji, rindo suavemente. — Escute, Eren, eu vou te contar algumas coisas sobre ele...

— Eren, precisamos ir para a aula — chamou Armin, querendo tirá-lo daquela conversa o quanto antes.

Eren se virou e fuzilou o amigo com os olhos.

Ah, desculpa, estou atrapalhando alguma coisa? — perguntou Hanji. — Posso ligar numa outra hora.

— Não, não se preocupe — disse Eren, enxugando as lágrimas, que paravam de cair aos poucos. — Não estou ocupado, pode falar.

Hm, tudo bem então...

Armin revirou os olhos e desceu a escadinha do telhado. Já imaginava que o amigo não fosse querer desligar tão cedo. Porém, o que mais o preocupava não era aquela simples conversa, mas a situação como um todo.

A primeira coisa que confirmou era que Eren, de fato, amava Levi, o que não era normal. Tudo bem, podia ser realmente revigorante descobrir que você gosta de homens e transar com um pela primeira vez, mas.... Não, era mais do que só isso. Eren estava realmente apaixonado em tão pouco tempo? Não, tinha que ser isso. Se não fosse, por que outro motivo iria chegar àquele estado de descontrole com o desaparecimento de Levi?

Eren repetia que o amava, mas talvez nem ele percebesse o quão mais profundo era aquele sentimento.

 

 

— Mi-Mikasa...? — murmurou Sasha, ainda assustada com a súbita reação da amiga de arrastá-la para fora da sala. — Posso saber por que está me arrastando pelo colégio...?

Mikasa só então percebeu que estava puxando a amiga pelo braço até agora. Acabou por soltá-la e recostou-se na parede do pátio principal — as duas terminaram lá. Mikasa arfava um pouco, mas não pelo esforço físico. Por algum motivo estranho, ela estava cansada...

— Mi, você está bem? — perguntou Sasha, aproximando-se cuidadosamente. Sabia que, quando a amiga estava de cabeça quente, o melhor era sempre tratá-la como um animal selvagem. — Quer ir na enfermaria?

— Eu estou bem — disse Mikasa, mas sem muita segurança na voz. Havia apenas teimosia mesmo. — Só... preciso pensar um pouco.

— Pensar?

— Isso.

— Mas em quê?

Alguns segundos de silêncio e Sasha havia desistido de seguir por aquele caminho. Encolheu-se num canto próximo à amiga e tentou pensar em algo que melhorasse o astral das duas, mas nada lhe vinha à cabeça. Não era de seu feitio fazer coisas desse tipo, ela não sabia como “pensar nos sentimentos dos outros”. Sempre fizera o que seus instintos lhe diziam para fazer.

— Você deveria desgrudar um pouco de Eren — acabou dizendo sem querer, sem nem pensar no que isso poderia causar. Como o esperado, Mikasa a olhou com ferocidade, o que a fez se retrair mais ainda em seu canto. — N-não é isso! Desculpa! Eu disse errado!

Mikasa reconsiderou discutir com Sasha; recuou e suspirou.

— Você está certa — acabou dizendo.

— Eu estou? — respondeu Sasha, surpresa.

— Deve estar. — Mikasa deu de ombros. — Não é a única que acha isso.

Sasha a olhou com estranheza. Desde quando Mikasa leva em consideração a opinião de outras pessoas que não fosse Eren? De fato, ela estava estranha. Talvez precisasse ir para um psiquiatra de uma vez.

— Sabe por que todos acham que você deveria desgrudar dele?

Mikasa olhou para Sasha com surpresa. Não esperava uma pergunta tão profunda de uma pessoa que é, geralmente, tão simplista.

— Por quê? — perguntou Mikasa.

— Ah... não sei ao certo, também queria saber — respondeu enquanto dava de ombros.

— Arg, Sasha... — praguejou Mikasa, revirando os olhos. — Está agora que nem Connie, apenas copiando a opinião dos outros?

— N-não, eu...

— Deveria esperar isso de alguém que vive de aparências.

Sasha arregalou os olhos e se afastou um passo.

— Isso foi cruel. — Foi apenas o que disse, e foi o suficiente para fazer Mikasa perceber seu erro.

— Desculpa — murmurou baixinho. — Estou apenas... confusa.

— Eu sei, dá para perceber. — Sasha voltou a aproximar-se. — Sabe, eu não tenho uma resposta lógica para a sua pergunta, mas também não quer dizer que é infundada.

— Que pergunta?

— A do porquê você precisa sossegar um pouco com Eren.

— Ah... — Mikasa suspirou. — E então, qual seria a explicação sem lógica desta vez?

— Sempre que eu te vejo agindo assim, como se fosse responsável por tudo que Eren faz, eu tenho a impressão que nenhum dos dois está bem com isso.

— Eu nunca cuidei dele de má vontade...! — Mikasa começou a se justificar, mas foi interrompida.

— Eu nunca disse isso — Sasha a repreendeu. — O que eu estou querendo dizer é que eu tenho a sensação de que você se põe muito além de seu limite cuidando de outra pessoa. Na verdade, parece até que você abre mão de suas próprias necessidades só para poder estar lá para cuidar dele.

Mikasa desviou a vista para o chão, sentindo-se culpada. Sasha havia acertado bem na ferida.

— Para uma explicação sem lógica, até que fez muito sentido — brincou Mikasa, mas sem sorrir verdadeiramente.

— Eu te disse, meus instintos não falham — vangloriou-se Sasha. — Mas... posso te perguntar uma coisa?

— O quê?

— Por que você quer tanto proteger Eren? Ou melhor, você quer protegê-lo de quê?

Mikasa deu um breve sorriso de canto.

— Dele mesmo.

— Ah, está falando das brigas que ele arruma?

— Também, mas não é só isso. — Depois de hesitar, concluiu sucintamente: — Eren precisa ter alguém mais forte do que ele ao seu lado.

— Hm... tá. — Sasha cerrou as sobrancelhas. — Isso ficou meio estranho. Por que alguém mais forte que ele?

— Para pará-lo.

Sasha suspirou.

— Você não está ajudando muito — lamentou a menor. — Está parecendo aquelas coisas clichês de desenho animado.

— Não esperava que você fosse entender, de qualquer forma. — Mikasa deu de ombros. — Só eu entendo Eren e sou forte o suficiente para pará-lo.

— Tem certeza? — Sasha arqueou uma sobrancelha. — Com certeza existem outras pessoas por aí que conseguem derrubá-lo. Annie, por exemplo, conseguiria com facilidade.

— Depende — rosnou Mikasa. — Se Eren estivesse sério, Annie perderia.

— Como assim “sério”?!

— Ah, Sasha... — Mikasa massageou as têmporas. — Não importa, Annie também não é uma opção. Ela não o conhece o suficiente para entendê-lo.

— Uau, Mi... — Pôs uma mecha rebelde atrás da orelha. — Você leva isso de proteger Eren bem a sério, não é?

— Mas é claro. Ele é um irmão para mim.

Sasha mordeu o dedo, tentando segurar a língua para não perguntar nada. Porém, a curiosidade falou mais alto.

— Tem certeza de que não queria que vocês fossem... algo a mais?

O quê? — indignou-se Mikasa. — Não, claro que não! Que nojo, Sasha.

— Hm-hum, sei... — Sasha sorriu sorrateiramente. — Vai me dizer que você nunca se imaginou com aquele moreno dos olhos verdes dos sonhos?

— S-Sasha! — Fazer Mikasa corar era uma das múltiplas habilidades de Sasha, que o fez com êxito. — N-não me diga que v-você vê Eren assim...!

— Ah, amiga, quem a gente está querendo enganar? — Sasha revirou os olhos, mas sempre com um sorriso no rosto. — O seu querido “irmão” é um pedaço de mal caminho difícil de ignorar. Não vou dizer que ele é exatamente meu tipo, mas... Uau.

— Eu perdi todo o resto de respeito que tinha a você — murmurou a mais alta, cobrindo o rosto com as mãos. — E não, eu não vejo Eren dessa forma.

— Só o fato de você ter ficado tão vermelha já te entrega por completo, Mi. — Sasha tentou conter um riso. — Desculpa, mas é a verdade.

Idiota... — murmurou Mikasa, dando-lhe um tapa de leve do braço.

— Ai! — reclamou a menor, massageando o local atingido. — Por que fez isso?!

— A aula já vai começar — disse, sem cerimônia... e depois completou: — Obrigada.

Sasha primeiro olhou espantada para a amiga, que já havia tomado seu rumo em direção à sala. Finalmente, sentia que Mikasa estava, aos poucos, abaixando suas defesas. Com um sorriso bobo nos lábios, pôs-se a correr até chegar perto o suficiente para pular nas costas da amiga, quase derrubando as duas.

 

 

Eren acabou faltando as duas aulas que seguiram, só aparecendo novamente no horário do almoço. Novamente, estava com aquela aparência de morto-vivo, só que agora havia ao menos um singelo sorriso no canto de seus lábios. Havia conversado com Hanji por um bom tempo, e teve que admitir que ela era uma pessoa muito boa de se conversar. Também porque ela era realmente próxima do seu baixinho ranzinza, então falar sobre Levi era algo extremamente fácil para ela. Eren sentiu como se estivesse descobrindo mais sobre o namorado, o que o acalmou um pouco.

Chegou em casa com um cansaço sem tamanho, mesmo que não tenha feito nenhum tipo de esforço absurdo no treino de baseball depois da aula. Notou que o carro da mãe estava na garagem, o que significava que não teria que cozinhar a janta. Bem, já era uma coisa boa. Abriu a porta de casa já chamando pela mãe, esperando que a aura tranquila e radiante da mãe o desse alguma energia. Porém, algo no tapete da casa chamou sua atenção, o suficiente para que olhasse para baixo para checar no que havia pisado.

Era um embrulho, basicamente uma carta com alguns vários papéis junto. Como não tinha remetente, abriu para ver do que se tratava. De imediato, reconheceu a letra a qual estava tão acostumado: Grisha. No envelope, havia uma série de documentos que Eren não se deu ao trabalho de ler, pois estava mais focado na carta escrita à mão. Uma carta bem vagabunda, por sinal.

“Aí está todo o documento da separação, basta assinar e entregar ao cartório. Acredito que não terá problemas com a separação de bens, já que deixei tudo com vocês. Essa será a minha pensão a você, Carla, espero que concorde. Além disso, Eren já tem praticamente 17 anos, o que me leva a apenas um ano de pensão. Adiantei todo o dinheiro para vocês, está tudo na sua conta bancária, Carla, é só olhar. Finalmente, nos separamos. Não me procure nunca mais. Mas você, Eren, caso queira repensar a sua escolha, será sempre bem-vindo. Eu te deixei a chave do baú da família, você sabe o que fazer com ela.”

Eren fez uma careta de desgosto para o papel em sua mão e tornou a chamar Carla, agora gritando mais alto. Carla veio resmungando, mas não demorou muito para que percebesse, pela feição do filho, que se tratava de algo sério. Pegou a carta já esperando algo catastrófico — e, de fato, era. Eren não esperou para ver a reação de Carla; anunciou que estava subindo para o quarto e se trancou lá por um bom tempo, sem sequer ter comido nada. Mas não estava com fome, não mais. Já estava cheio o suficiente com todos os problemas, não queria ter que se preocupar com os pais agora também. Sabia que era egoísmo de sua parte, mas... era coisa demais para se lidar.

No meio da noite, porém, a solidão lhe bateu com força. Subitamente, estar deitado naquela cama fria não lhe era mais confortável, principalmente porque não trocara a roupa de cama do final de semana. Ainda havia o cheiro de Levi ali, e o cheiro do sexo que fizeram. Doía só estar deitado ali, como se houvessem tachinhas em seu lençol. Num súbito acesso de raiva, arrancou o cobertor, a roupa de cama, os travesseiros, o. Mesmo deitando no colchão puro, ainda podia sentir de leve a fragrância suave do namorado — ou será que era alucinação?

Chorou muito, afundando em solidão. Pegou o celular, esperando encontrar algum recado, mas não havia nada. Num surto, começou a dizer que estava tudo bem, que era tudo uma grande mentira. Levi estava bem. Quando percebeu, já estava com o contato de Levi aberto em sua tela, e lhe enviava uma, duas, dez mensagens. Contava como estava preocupado, como sentia medo de não o ver novamente. Contou sobre suas conversas com Hanji, e sobre as coisas que havia descoberto sobre ele. Chorou ainda mais. Se o que sentia depois dos términos era um irritante vazio, o que sentia naquele momento era um agonizante corrosão. Sentia como se os segundos que passavam sem ter notícia de Levi fossem gotas de ácido pingando em seu peito.

Não aguentando mais aquele estado desesperador, foi de mansinho para o quarto da mãe. Esperava que ela estivesse tão mal quanto ele. Esperava ter que dar justificativas. Esperava uma série de reclamações por tê-la abandonado mais cedo. Porém, nada disso aconteceu. Carla estava dormindo tranquila em sua cama, acordou com os soluções de Eren. Sem dizer uma única palavra, abriu os braços e aninhou o filho em seu colo, acariciando o topo de sua cabeça. E, depois de tantos anos, Carla teve o gosto de pôr seu filho para dormir de novo.

E continuou dessa forma até o outro dia.

 

 

Nenhuma resposta de Levi.

Hanji pediu que não desanimasse, que continuaria dando tudo certo. Mesmo sem vontade nenhuma, Eren foi para o colégio e ficou a sonhar acordado durante as aulas. Vanns-sensei o chamou na sua sala para mais uma “limpeza”, e Eren o fez sem pestanejar. Até mesmo Vanns percebeu o estado deplorável de Eren, e achou aquilo curioso. Até onde sabia, estava tudo bem na vida do garoto, e o time de baseball não estava sendo ameaçado. Os amigos também pareciam estar todos normais. Vanns ficou a imaginar o que poderia deixá-lo naquele estado tão... vulnerável. Anotou mentalmente fazer alguma pesquisa discreta sobre a situação de Jäeger durante a próxima reunião com os professores.

À noite, mandou mais mensagens para Levi, chorou até não poder mais, e foi dormir com a mãe.

 

 

Mais outro dia, nenhuma notícia.

Eren estava começando a não querer mais ir para a escola — ou melhor, a não querer sair de casa. Carla se perguntava se aquilo tudo era por causa da separação, já que agora era oficial. Decidiu não pressionar muito o filho, pelo menos naquela semana. Somando isso à pouca vontade de Eren de sair de seu quarto, o resultado foi um belo de um atraso, tanto neste dia quanto no próximo. Nem mesmo Annie quis reclamar com ele quando viu que o moreno não estava fazendo esforço algum nos treinos. Muito pelo contrário, se mostrou extremamente preocupada — para desgosto de Bertolt. Porém, Eren não dizia uma palavra... literalmente.

No final da semana, já havia aceitado que Levi estava morto. Nem mesmo Hanji conseguia juntar coragem para ligar para Eren e motivá-lo. Também acreditava na morte do melhor amigo. Eren sequer saiu do quarto o dia inteiro. Também não tocou na comida, a única coisa que fazia era bebericar de qualquer que fosse o líquido que sua mãe trouxesse junto com as refeições até seu quarto. Carla já estava cogitando ligar para um psicólogo ir até a casa deles para tratar de Eren, pois temia que o filho tivesse afundado em uma depressão severa. Afinal de contas, o que mais poderia ser? Não queria sair do quarto, não queria comer, não queria falar, não queria mais tomar banho... Ou, ao menos, era isso que pensava, já que sempre que o via, estava com o mesmo moletom verde-musgo.

A única coisa que lhe era estranha era que... não tinha lembrança nenhuma de ter comprado um moletom como aquele.


Notas Finais


Desculpa ter dado uma corrida no resto da semana, isso não faz muito meu estilo >.<
Mas, como eu disse, tô precisando correr um pouco mais no ritmo da história. Ficou muito ruim? (Caso sim, já peço desculpas de antemão >///<)
E é isso, acho que vocês já têm uma boa noção de como Eren é meio... bipolar. Mikasa realmente tem uma caralhada de motivos para se preocupar com ele, e pra ser muito grata também.
Enfim, é isso aí. Cruzem os dedos para que nenhum dos membros de Levi tenha necrosado ;D

~Beijos de luz~


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...