- Você terá seu irmão de volta, - disse Essex, olhando em seus olhos - terá sua vida de volta. Não é o que você queria?
- Sim. - responde Ester, fria. - Mas o que você pretende fazer? Um clone?
- Por que não? É o que você quer. Podemos formar uma equipe.
Ester, então, o olhou profundamente. Não queria acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Aquilo que ela mais queria, no mundo, estava sendo colocado à sua disposição, ali, fácil. Mas a que custo? Pensou. Era algo que não faria bem a mais ninguém, e a ideia do clone a assustava mais que qualquer coisa.
- Sinto muito, sr. Essex. - ela disse, calmamente - Não vou fazer isso.
- Garota, você não sabe o que está fazendo. - disse Essex, em tom de ameaça. - Você ainda tem tempo para decidir.
- Eu já me decidi, Sinistro. - ela respondeu, fria. - Onde estão minhas roupas? Quero voltar para casa. Meu amigo deve estar preocupado.
- Tudo bem! - disse Essex, calmamente. - Mas caso mude de ideia já sabe onda me encontrar.
- Não vou mudar de ideia. - Ester disse, convicta de sua decisão.
Vinte minutos depois Ester estava com suas roupas normais, caminhando pela mansão até o portão de entrada. Enquanto fazia seu caminho não viu nem sinal de Essex. Ao chegar ao portão um táxi já a esperava, e o taxista lhe disse que já tinham passado a ele o endereço. Quando chegou em casa Jem estava sentado no sofá, assistindo o noticiário que passava na tevê, e olhou-a com a expressão estranha enquanto ela caminhava até o quarto de hóspedes.
- Está tudo bem? - perguntou ele, com certa estranheza. - Onde você estava? Acordei e não te vi por aqui, fiquei preocupado.
- É uma história complicada. - disse ela, sem se virar para olhá-lo. - Vou tomar um banho e te explico tudo.
Ela, então, foi até o banheiro, tirou toda a roupa e deixou que a água quente levasse embora as lembranças daquela manhã confusa. Meia hora depois Ester resolveu sair do banho, vestiu uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca de alças finas, enrolou na cintura o casaco preto antigo de David, penteou e secou os cabelos prendendo eles em um coque bagunçado. Foi até a sala e viu que Jem a olhava com curiosidade. Ela sentou no braço do sofá ao lado dele e começou, antes mesmo que ele perguntasse qualquer coisa.
- Eu conheci um cara ontem no casamento, - ela começou, nervosa - que disse que poderia trazer o David de volta. Ele é meio assustador mas… ele disse que poderia me dar minha vida de volta. Tudo o que eu sempre quis. - ela disse, com a expressão séria, olhando para ele.
- Com que condição? - ele perguntou, também sério.
- Como você sabe que tem uma condição?
- Eu assisto filmes, Ester. - ele disse, como se fosse óbvio. - Sempre tem uma condição. Fala logo.
- Ele quer que eu abra mão dos meus poderes… - ela respirou fundo - Da minha mutação, para que possa usar em outras pessoas. Ele quer montar uma espécie de “exército indestrutível” para proteger as pessoas. Pelo menos é o que ele diz. O plano dele é que eu abra mão do fator X no meu DNA e ele me dá de volta o meu irmão em troca.
- Esse cara é maluco ou o quê? - pergunta Jem, fazendo uma careta.
- Ele é sim. E foi por isso que eu disse não.
- Você é incrível, sabia? - disse ele, sorrindo e Ester sorriu de volta. Então sua expressão ficou mais séria. - Ester, você, por acaso, lembra daquele empresário americano que, veio fazer um tratamento aqui em Londres porque estava com uns transtornos mentais? Um tal de Peter Loss?
- Sim, eu lembro. - disse ela, tensa. - Aconteceu alguma coisa?
- Saiu no noticiário que ele foi encontrado morto no quarto do hotel onde ele estava hospedado.
- Você acha que fui eu, né? - indagou Ester, com certa tristeza na voz, mas Jem a olhou e negou com a cabeça. - Não fui eu, tá? Dessa vez eu juro que não fiz isso. Acredita em mim, por favor!
- Eu acredito em você. - disse ele, puxando-a para sentar ao seu lado no sofá e a abraçando. - Mesmo que ele tivesse sido assassinado eu acreditaria em você.
- Espera. - disse ela, refletindo sobre suas últimas palavras. - Como ele morreu?
- Derrame cerebral, eu acho. Por que?
- Curiosidade, só isso. - disse, tentando do não pensar na possibilidade de ter sido coisa de Nathaniel Essex.
Enquanto Ester se perdia nos próprios pensamentos uma notícia na tevê chamava sua atenção. A CNN estava mostrando o cenário da fábrica petroquímica Geffen-Meyers, em Nova York, em chamas, onde mais uma das inacabáveis brigas entre os Vingadores e a Resistência acabara em tragédia, mas dessa vez isso tinha ido longe demais. As imagens mostravam um Thor frio e vazio tirando a vida do jovem Golias, sem sequer piscar. Aquilo assustou Ester, como se uma bola de demolição a atingisse no peito com toda a força.
- Isso é assustador! - sussurrou Jem, atônito.
- É sim. - concordou Ester, balançando a cabeça em frustração. - O que aconteceu com ele? Nem de longe esse cara é o Thor de verdade. Ele parece um morto-vivo, sem cérebro, sem remorso.
- Pois é, parece até que ele foi… sei lá… clonado. - disse ele, com o olhar fixo na tevê.
- É! - exclamou Ester, fazendo uma careta. - Acho que esse é o Clhor.
- Clhor? - indagou Jem, finalmente olhando para ela.
- É, sabe… tipo, clone, Thor… clone do Thor… Clhor… não? - ela continuou fazendo careta e Jem riu. Ela riu também. - Só quero descontrair e esquecer o que aconteceu.
- Faz bem. - disse ele, com um sorriso largo. - Então que tal a gente ver um filme e depois comer alguma coisa? - ele completou, arqueando uma sobrancelha.
- Marte Ataca? - disse ela, com um sorriso travesso.
- Você é quem manda. - ele respondeu, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo, colocou o filme na tevê e os dois passaram a maior parte do tempo discutindo o comportamento dos marcianos e comparando com a humanidade. Chegaram à conclusão de que não eram tão diferentes assim, a final.
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