Não era típico de Brian marcar uma reunião de última hora, ainda mais em plena terça-feira. A academia estava cada dia mais cheia de gente, atraída pela grande faixa pendurada do lado de fora, anunciando o torneio de Artes Marciais Mescladas marcado para o próximo final de semana. Tanto ele quanto Matt e Zacky achavam que não repercutiria daquela forma: pessoas se aglomerando na recepção para fazerem inscrição, clientes mais antigos adquirido ingressos para os amigos... estava tudo uma loucura.
Mas ele não tinha escolha, precisava falar com os sócios o mais rápido possível. Então naquela manhã, Brian convocou os dois para o escritório antes de começarem o expediente.
— Precisamos tomar uma decisão — ele afirmou assim que Matt passou pela porta e se ajeitou na poltrona. — Falei com Brooks por telefone ontem, o chamei para ver o Deathbat Fighting. Ele aceitou e pediu que nos reuníssemos no dia para conversar a respeito da proposta.
— Acha que ele quer desistir do contrato? — Zacky perguntou.
— Se não estivesse mais interessado no negócio, não aceitaria vir para o torneio. — Matt falou logo em seguida. — Ele disse que esperaria nossa resposta, então por que vir aqui só para nos dispensar?
Rugas de dúvida se formaram na testa de Brian.
— É, faz sentido, também não acredito que seja isso. Ele ainda quer nos patrocinar, mas pode ser que tenha novas exigências — ele explicou. — E não sabemos mais o que esperar, por isso eu voto em resolver agora se vamos ou não fazer parte da Wackerman’s Corp. Já sabem minha opinião a respeito disso.
— Por mim estamos dentro — disse Matt sem demora, apoiando um dos pés sobre o joelho.
Sentado mais distante, Zacky continuou quieto, pensativo. Abaixou um pouco a cabeça, não querendo encarar os colegas. No que ele ainda estava pensando? Era a chance da carreira deles. Brian não conseguia entender como podia ser uma escolha tão difícil para Baker, tendo em vista que sempre priorizou o trabalho acima de tudo. Na verdade, não era possível saber o que se passava em sua cabeça naquele momento, no entanto a decisão tinha que ser unânime ou não haveria contrato.
— Entendo você, Vengeance. — Brian disse a ele. — É normal ter medo de agarrar uma oportunidade tão grande e arriscada, mas é a única que temos agora e...
— Vamos fazer isso — Zachary o interrompeu com seriedade. — Vamos assinar com Brooks.
Por alguns segundos, houve um silêncio estranho. Matthew, que até então não tinha olhado para o sócio, se virou com certa surpresa em seu rosto:
— Está mesmo de acordo?
— Só me digam uma coisa: — Zacky desencostou do sofá para apoiar os cotovelos nas coxas grossas. — Vocês têm mesmo noção do que vamos fazer? Quero dizer, estamos prestes a vender uma porcentagem do nosso sonho, já pararam para pensar nisso?
— Um sonho que não irá para frente se não tomarmos a melhor decisão — rebateu Matt. — Se não fosse pelo Brooks, não teríamos avançado tanto nos últimos meses.
A pergunta de Zacky fazia sentido. Não seria apenas um investimento arriscado por parte do Sr. Wackerman, eles também teriam que tomar cuidado com o aconteceria dali para frente. Por outro lado, Matt tinha razão a respeito do grande avanço que tinham feito até ali. Aquele era um ponto delicado a se discutir, mas o professor já sabia que, de certa forma, todos pensavam o mesmo em relação ao que a Deathbath precisava.
— Minhas turmas de alunos aumentaram — Brian reforçou —, vocês estão dando aulas em escolas, divulgando bem a Deathbat pela cidade. Faremos um torneio de MMA no sábado, coisa que nunca cogitamos em outra situação... E isso é apenas um gosto do que Wackerman pode nos oferecer, se aceitarmos a oferta. Acreditem, vale a pena.
Zacky assentiu algumas vezes, ainda com a preocupação na expressão:
— Eu sei, é que vai ser difícil deixar outra pessoa cuidar do nosso negócio. Acho bom que as coisas tendem a melhorar, só não quero me arrepender disso depois.
— Nenhum de nós quer isso — disse Matt.
Eles deram uma pausa na conversa, de novo. Brian sabia que aquela não era uma boa etapa na vida Zacky. Era tempo de fazer boas escolhas, seguir com a vida, olhar para frente e mergulhar de cabeça em mudanças. Mas Vengeance as vezes teimava com suas decisões e isso seria perigoso. Não se tratava apenas de deixar a vida pessoal fora do trabalho, ele teria que usar sua maturidade para aceitar a nova fase profissional da Deathbat.
— Se forem mesmo aceitar — disse o professor —, terá que ser para valer. Foco total, em todos os setores, sem moleza. Brooks vendo sucesso no nosso trabalho, não vai pensar duas vezes antes de estender o braço para nos ajudar sempre que quisermos. Estão preparados para isso?
— Você está, Gates?
— Claro que estou. — Ele cruzou os braços, relaxando na cadeira atrás da mesa. — Mas vocês é quem são os donos deste lugar, não sou eu quem dá as cartas.
— Seu voto vale, Gates, sabe disso — comentou Matt. — E se diz que seremos o melhor investimento de Brooks Wackerman, eu acredito nisso.
Brian olhou para os amigos, primeiro para Sanders e depois para Zacky mais atrás, sentindo o respeito estampado na expressão de ambos. Aqueles dois eram como uma família que ele jamais teve. Não via a hora de vê-los assinarem o contrato e deixarem todo o resto no passado, mesmo sabendo que Vengeance no fundo jamais perdoaria Shadows por ter ficado com Laura.
— Então é isso? — Disse após dispensar os pensamentos. — Estamos dentro?
— Com certeza. — Matt respondeu.
— Vocês estão certos. Não podemos perder um bom patrocínio por nada — Zacky falou se levantando, indo na direção da porta. — Falamos com ele antes do torneio começar. Agora vamos abrir, já passou do horário.
E então Zacky saiu calmamente. Os que ficaram no escritório se entreolharam, satisfeitos pelo resultado da conversa não ter sido diferente. Para o alívio deles, não era apenas na Deathbat que as mudanças estavam acontecendo.
***
Laura mal conteve o suspiro de alívio quando ela e Leana deixaram a lanchonete na segunda à noite. Ainda era começo de semana, e o cansaço já a dominava, fazendo com que desejasse ir para casa, tomar um banho relaxante e se jogar na cama. Sabia que boa parte de sua tensão se devia à conversa com Matt no final de semana, e foi por esse motivo que combinou com a amiga de sair para uma noite de garotas naquele dia.
As duas foram ao bar de costume e, depois de já terem suas cervejas em mãos, tiveram a oportunidade de colocar as conversas em dia, uma vez que nos últimos tempos só se viam no expediente.
— E aí, qual era a novidade que você queria me contar? — Perguntou Leana.
— Encontrei um apartamento.
— Sério? Eu disse que a Rose era boa, sempre consegue encontrar exatamente o que você procura.
— É... — Concordou Laura, apesar de já não ter certeza de que aquela era mesmo uma boa notícia.
— Você não parece muito feliz.
— Eu estou feliz. É só que... — ela suspirou, bebendo um longo gole da cerveja gelada antes de prosseguir. — Tive uma discussão com Matt ontem. Ele não parece muito satisfeito com a ideia de eu me mudar.
— Era de se esperar, não? Você está saindo da casa dele, se não conversarem direito sobre isso, pode parecer que estão dando um passo para trás no relacionamento.
— Mas nunca demos esse passo, Lea! Matt nunca me pediu para morar com ele, entende? As coisas aconteceram tão rápido que nenhum de nós teve a chance de pensar direito. Quem sabe se ele realmente iria querer isso se não tivéssemos começado assim?
— Posso ser sincera?
— Você sempre é — Laura resmungou.
— Acho que está complicando demais as coisas. Alguma vez Matt demonstrou que não queria exatamente o que vocês têm agora?
— Não... Eu não sei. Talvez você tenha razão. — Ela balançou a cabeça para os lados. — Mas sinto que preciso disso. Minha vida está bagunçada, e eu só quero que tudo volte ao normal.
— Eu entendo, Laura. Quero o melhor para você. Sabe disso, não é?
— Eu sei.
— Então pense bem no que estou dizendo, ok? Por mais que sinta que precisa de espaço, talvez só esteja assustada porque, querendo ou não, é um grande passo. E eu sei que nunca se sentiu segura dessa forma com Zachary, mas Matt é diferente. Ele quer estar com você, e quer te ajudar... aliás, já está fazendo isso.
Laura enfim sorriu.
— Eu vou pensar. Obrigada.
— Mas e aí, o que me diz sobre o torneio da Deathbat?
— Ah, Matt está tão animado! Ele e os outros têm trabalhado tanto, é bom ver que as coisas estão dando certo, finalmente.
— Jimmy me convidou para ir — Leana contou com um sorriso nos lábios.
— E vocês, hein? Estão bem, pelo que vejo.
— Estamos. Ele é incrível, Laura. Nunca conheci uma pessoa assim, tão cheia de vida.
— Isso quer dizer o que estou pensando? — Laura arqueou a sobrancelha.
— Sua pervertida — Leana riu, parecendo envergonhada, para surpresa da outra. — Bom, também. Mas ele é uma pessoa animada, sabe? Nos vemos com muita frequência, sempre vamos a lugares diferentes.
— Fico feliz por você, de verdade.
— Obrigada.
— Podemos ir juntas, então? Já que James vai lutar, e Matt vai estar ocupado demais com a organização.
— É claro!
— Quem diria, minha amiga, que estaríamos desse jeito? Namorando dois atletas? O mundo realmente dá voltas.
Laura riu e Leana acompanhou. Diante da do que ouviu, foi inevitável começarem uma conversa sobre as lembranças dos velhos tempos, o que tornou a noite mais leve e agitada. Laura não podia discordar da amiga, suas vidas haviam mudado muito. Talvez ela também tivesse razão quanto a seu relacionamento com Matt, as coisas estavam acontecendo muito rápido, mas cabia a eles dizer se isso era algo bom ou ruim.
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