1. Spirit Fanfics >
  2. Verdade ou Desafio >
  3. Chosing the roads

História Verdade ou Desafio - Chosing the roads


Escrita por: lineya21

Notas do Autor


São quatro da manhã e eu estava vendo o especial sobre OUAT, já que amanhã (ou hoje, no caso, daqui umas 17 horas) tem premiere. Vai ter Captain Swan, vai ter Elsa de Arendelle, e vai ter eu surtando loucamente enquanto brigo com os links de streaming.
Então eu não vou lembrar bem o que eu tinha que dizer aqui nas notas. Mas enfim.
Eu sei que os últimos capítulos andam meio paradões, mas a Lynn tava na fase depressiva. A partir daqui, ela vai voltar a ser aquela louca desvairada dos primeiros capítulos, e é claro, ela tem bons motivos pra isso.
Tem rolado pensamentos sobre transformar a fic em um livro, já que ela se afastou bastante do jogo, mas são pensamentos, nada definido no momento. Tenho que terminar essa bagaça primeiro.

Capítulo 42 - Chosing the roads


Uma vez que a preparação da peça foi definida, tudo pareceu caminhar em relação ao evento para os pais, e estranhamente isso era um alívio. Todo mundo estava mais atarefado agora que sabíamos o que estávamos fazendo, e isso era ótimo para ocupar a mente com algo além do meu ex-namorado envolvido com a pessoa que eu mais odiava. A melhor parte era que, nos testes de elenco, a maioria dos alunos que iam participar realmente da peça não eram da nossa turma – Lady MacBeth era uma líder de torcida e o próprio MacBeth era um garoto que vivia tentando convencer a diretora a criar um grupo de teatro. Mesmo assim, não estávamos totalmente livres, ou pelo menos, eu e Lysandre não estávamos – Rosalya exigiu ficar responsável pelo figurino, e nós seriamos obviamente arrastados com ela, além de Alexy, que se ofereceu. Pelo menos, eu disse a mim mesma, a única preocupação que teríamos além daquela a respeito do evento eram os trabalhos, que já tínhamos apresentado aos colegas, e só precisávamos repetir o feito com nossos pais.

Alguns dias se passaram e eu meio que me acostumei com a situação – se pudesse dizer algo sobre Debrah era que, com tudo que ela me fez passar, eu agora sabia que era capaz de me adaptar a qualquer coisa. Podia passar dias sem nem olhar na direção de Castiel ou Debrah, ou fingir que havia uma parede onde eles estavam, mesmo que doesse horrivelmente por dentro. Nessas horas eu geralmente me jogava em cima de Lysandre, que parecia entender e me abraçava calmamente.

Um dia em que estávamos todos meio a toa na escola, depois do horário de aula, mas sem ter muito o que fazer, eu estava na minha carteira, rabiscando no caderno enquanto Rosalya falava pelos cotovelos sobre seus planos para o figurino. Ela tinha tentando convencer a diretora de permitir algumas modificações no figurino de época, mas não teve jeito. Então estávamos lá sentadas, com Violette e Iris, tentando organizar quantidades de tecido, necessidade de máquinas de costura, acessórios, orçamento, e tentando conter os delírios consumistas de Rosalya. Ou pelo menos elas estavam – eu continuava rabiscando no meu caderno, e só prestei atenção na conversa quando nem Iris nem Violette conseguiram explicar para Rosalya que não era razoável querer usar uma coroa de ouro de verdade nem nada do tipo.

Fiquei encarando meus rabiscos algum tempo. Parecia uma pequena pessoa presa em uma teia de aranha gigantesca. Percebi muito bem que a pessoinha parecia muito com Castiel e rasguei a folha para jogá-la fora, repetindo para mim mesma que, afinal, não era problema meu.

- Lynn?

Ergui a cabeça para Rosalya. Senti um pequeno choque, como se tivesse cochilado e esquecido onde estava. Violette e Iris não estavam lá, e eu nem tinha visto elas saírem.

- Oi, desculpa – falei para minha amiga, balançando a cabeça para afastar a sensação de desligamento – viajei nos pensamentos aqui.

- Você tem feito muito isso ultimamente, Lynn – Rosalya disse, com cuidado, se sentando na cadeira onde Violette estava antes, para ficar mais perto. Eu tentei não me retrair, porque realmente não queria conversar – Eu achei... que agora que... agora que Debrah tem o que quer, você ia ficar melhor.

Comecei a gaguejar alguma coisa, dando de ombros, mas minha voz não saiu. Eu não sabia bem o que dizer.

- Quero dizer – Rosalya pressionou, em um tom distraído, que ela só usava quando estava pisando em ovos comigo – Pelo menos ela parou de te incomodar, não?

Eu ri para mim mesma de um jeito amargo. De fato, Debrah não estava me incomodando, mas eu sabia que não era por opção. No começo do seu “novo” namoro com Castiel ela aproveitava cada chance de falar comigo quando eu estava sozinha, me torturando sutilmente, me falando do seu relacionamento e do quanto estava feliz. Eu tinha certeza que se eu reagisse, dissesse para ela me deixar em paz, ela faria uma cena, ou se vingaria, então aprendi a simplesmente evitar ficar sozinha. Não ia mais ao banheiro na escola, não estudava mais na biblioteca, passava todo o tempo fora de casa colada em Rosalya ou Lysandre. Depois de perceber que eu nunca ficava sozinha, Debrah começou a me chamar nas redes sociais, mandar mensagens, ligar. Eu parei de atender, de verificar a caixa de entrada do celular, de acessar redes sociais, de abrir emails. Me encolhi em um canto confortável da existência, de um jeito que ela não pudesse me alcançar. Mesmo assim, sempre que nossos olhares se cruzavam, ela me lançava um meio sorriso e eu sabia que ela nem se importava tanto em me torturar. Só de me ver acuada e diminuída, ela já estava feliz.

Lysandre entrou na sala, me salvando de responder Rosalya. Sorri e estendi os braços para ele, e só quando ele veio me abraçar percebi que eu parecia uma criança pequena pedindo colo. Em vez de me importar, descansei a cabeça no ombro dele.

- Tudo bem por aqui? – Lysandre falou, me soltando um pouco e me dando um selinho. Quando assenti, ele sorriu de leve – Tendo sucesso em conter os delírios da Rosa?

Rosalya bufou enquanto eu ria.

- Whatever – ela resmungou, jogando o cabelo para trás e se levantando – A consumista aqui vai deixar vocês sozinhos.

- Rosa, espera – Lysandre disse rapidamente, erguendo a mão para ela – Tenho uma coisa pra contar, é melhor você ficar.

Me encolhi imediatamente, tendo a certeza de que era algum problema. O tom que ele usou, sugerindo que Rosalya ficasse, me fazia ter certeza que significava “é melhor você ficar para me ajudar”.

- O que houve? – falei, sentindo a boca seca. De repente minha mente pulou para Debrah. Será que ela tinha feito alguma coisa com algum dos nossos amigos? Com a minha família? Mas eu estava me comportando bem... oh, droga. Será que ela tinha descoberto? Comecei a hiperventilar.

- Não, calma – Lysandre falou imediatamente, notando minha expressão. Ele me conduziu até a cadeira em que eu estava antes e se sentou de frente para mim, lançando um olhar cauteloso para Rosalya que estava de pé ao nosso lado.

- Eu tive uma conversa com Castiel... – Lysandre começou.

Eu bufei e me recostei na cadeira, a tensão se esvaindo. Pensar em Castiel não me dava preocupação, me dava raiva. Ele era a única pessoa segura nessa história toda, porque Debrah o queria, de preferência em bom estado. E aquela escolha tinha sido dele. Era verdade que, dada a oportunidade, eu não me abri com ele. Era também verdade que eu mesma tinha dito a ele, contra toda a minha vontade, que ficasse com ela. Mas a escolha ainda tinha sido dele, de terminar comigo, de não confiar em mim, de seguir o conselho e voltar com ela.

- Não nos falamos tem um tempo – Lysandre disse de modo firme, ignorando minha reação infantil – Mas hoje a diretora pediu ajuda da maioria dos garotos para alguns serviços pesados, por assim dizer, e tive que ficar perto. Ele veio falar comigo.

Ergui as sobrancelhas de leve e assenti, brincando a ponta das folhas do caderno ainda aberto sobre a mesa, apenas para indicar que estava ouvindo.

- Ele me perguntou, muito educadamente – Lysandre continuou em tom neutro – se eu havia reconsiderado a proposta do produtor musical de ter uma banda com ele. Eu disse que não, é claro, primeiramente porque eu mantenho minha posição de querer terminar os estudos em vez de querer me jogar em uma carreira volúvel como essa, e em segundo lugar, coisa que não disse a ele, seria insustentável que trabalhássemos juntos dessa forma. Quando perguntei o motivo da sua dúvida, ele me disse que houve uma certa pressão do produtor para que fosse tomada uma posição. E que ele havia conversado com Debrah e a convencido de que, caso eu não concordasse em entrar na banda, ela entraria. Então, eles parecem ter tomado uma decisão a respeito.

Fiquei encarando o chão sob os meus pés. Me concentrei nos laços de plástico das sapatilhas. Aquilo era meio brega para mim, não sabia por que tinha comprado, talvez na hora do consumismo achasse lindo. Minha mente me forçou a pensar no que Lysandre tinha dito, porque além das sapatilhas, não tinha outro lugar para escapar em meus pensamentos. Eu sabia que aquele momento chegaria eventualmente e disse a mim mesma que estava numa boa com isso, mas é claro que na prática era mais difícil. Eu sentia como se tivesse levado um chute no peito que tinha expulsado todo ar dos meus pulmões e me impedia de voltar a respirar. Mas apertei os lábios, engolindo em seco e me forçando a inspirar com força. Já tinha decidido que, quando o momento chegasse, eu não ia impor minha depressão súbita nas únicas duas pessoas que estavam do meu lado.

Fiquei de cabeça baixa, repetindo para mim mesma que era o melhor. Castiel estava bem, estava seguro, e ia ter a carreira que queria. Ele ia embora dali com ela, e ele tinha talento, então eu sabia que dificilmente o veria de novo, a não ser na mídia, quando fizesse sucesso. Mas Debrah ia com ele. E eu não ia ter que temer pela minha família e amigos, e ela ia estar ocupada demais com sua carreira e seu namorado para me atormentar de algum modo de longe. Era uma questão de custo-benefício bem fácil de entender.

- Ok – falei simplesmente, engolindo em seco. Percebi que Rosalya e Lysandre me olhavam com cuidado, como se esperassem uma explosão, um desmaio, um siricotico qualquer. Tentei sorrir, sem sucesso, então dei de ombros – Eu sabia que ia acabar acontecendo, quanto antes melhor.

Fiquei encarando minhas sapatilhas outra vez, sem conseguir dizer mais nada. Escutei Rosalya suspirar.

- Sabe,  a gente tem que ir prestar contas a diretora – ela disse em um tom forçadamente descontraído – ela vai ficar meio maluca se notar que a gente está aqui a toa.

Fomos na direção do ginásio, onde Lysandre tinha visto a diretora pela última vez, porque mesmo que não tivéssemos muito o que fazer, precisávamos mostrar que não estávamos fugindo das tarefas e pedir permissão para ir para casa. Deixei que Lysandre me conduzisse pela mão, meio que me arrastando, a dor da última notícia já quase amortecida. Quando chegamos lá, vi que tinha um pessoal montando cenários recém pintados, alunos em grupos recitando o texto, a peça começando a tomar forma. A diretora estava de um lado para o outro, gritando ordens, parecendo mais exasperada que de costume. Quando ela nos viu e veio rapidamente em nossa direção, nos encolhemos um pouco.

- E vocês três? – a mulher disse, quase gritando, chamando atenção de um bocado de gente – Achando que podem fugir dos deveres enquanto todos estão ocupados...

- Opa, calma aí – Rosalya gritou, sua voz se sobrepondo a da diretora e fazendo a mulher se calar – Quando as aulas acabaram você tinha dito que não tinha muito o que fazer hoje...

- Agora tem – a diretora respondeu, raivosa – Lysandre, vá terminar de ajudar a montar aqueles cenários – ela disse, apontando vagamente em uma direção – Lynn, ajude Castiel com aquelas caixas de materiais esportivos que tem que ser levadas para o porão, e você – ela apontou um dedo para Rosalya de modo ameaçador – vamos conversar a sós porque quero saber se você não extrapolou o orçamento que te dei.

Fiquei parada por meio segundo onde estava. Lysandre tinha ido na direção indicada antes que a diretora terminasse de falar e Rosalya me lançou um olhar de alerta, mas a mulher a pegou pelo braço e a levou para longe. Eu suspirei , reunindo coragem. Eu sabia que ia ter que falar com Castiel em algum momento, então podia ser aquele mesmo. Não ia ser por muito tempo.

Fui até onde Castiel estava, e o flagrei sentado em uma cadeira vintage que certamente era parte do cenário, os pés apoiados em uma caixa cheia de tralhas que provavelmente era o que a diretora tinha dito para ele levar para o porão. Ele estava rindo com Debrah, que estava sentada no chão, aparentemente desenrolando luzinhas de natal que provavelmente seriam usadas em alguma decoração. Eles se viraram para mim quando me aproximei, e Castiel ficou imediatamente sério, enquanto Debrah apenas abaixou a cabeça.

- Hum – comecei, sem jeito, olhando de um para o outro – a diretora mandou e ajudar você com as coisas pro porão, Castiel, então... – dei de ombros, sem vontade de arrumar briga.

Castiel ergueu as sobrancelhas.

- Eu disse a ela que precisava de ajuda, mas de alguém com músculos – ele disse despreocupadamente. Percebi Debrah reprimir um sorriso. Dei de ombros.

- Não faço as regras, só as cumpro – falei sem humor – Mas se quiser que outra pessoa ajude, vai ter de ir atrás dela porque ela foi ter um particular com Rosalya.

Fiz menção de dar as costas aos dois e me afastar, mas Castiel pulou de pé.

- Não, esquece – ele falou, bufando – Vai você, mesmo. Senão vou ficar aqui até não sei que horas, até ela resolver designar outra pessoa. Acha que dá conta de levar alguma coisa? Quero dizer – ele se virou para Debrah, que apenas olhava de modo inocente – Você se importa?

Debrah ergueu as sobrancelhas, parecendo quase chocada que ele perguntasse aquilo.

- Por que me importaria? – ela disse. Castiel deu de ombros.

- Sei lá, você pode não gostar de ter seu namorado indo com outras garotas para o porão – ele disse com um meio sorriso. Debrah riu.

Eu senti um soco no estômago. Ele disse aquilo de um jeito tão superficial, tão leviano, que poderia ter sido dito sobre qualquer outra garota que ele não conhecesse, que tivesse visto nos corredores a toa e apenas isso. Era quase inacreditável que alguns dias antes ele tivesse dito que ainda me amava, que tivesse me segurado contra ele e me pedido para ficar. Engoli em seco, tentando espantar aquele pensamento. Dava para acreditar, sim, porque o tom dele não deixava dúvida. Ele seguiu em frente, como pedi que fizesse.

- Numa boa – Debrah disse, sorrindo abertamente, de um modo que parecia quase sincero – Lynn tem um namorado e eu sei que ela não é do tipo que trai.

Assenti automaticamente, porque era a verdade. Do momento em que comecei a namorar com Lysandre, não pretendia violar aquela confiança, mesmo que nosso namoro fosse um acordo entre duas pessoas superficialmente atraídas uma pela outra, ainda havia um compromisso. E Debrah parecia estar bem consciente disto, porque a falta de preocupação em seu rosto, eu tinha certeza, não era fingida.

- Tudo bem então – Castiel falou, despreocupado. Ele se inclinou para Debrah e a beijou de leve nos lábios. Então se virou para mim – Ok, vamos tentar fazer uma viagem só, Lynn. Segura aí.

Estendi os braços para o que quer que ele fosse me entregar, me sentindo um pouco tonta. A naturalidade da cena, o modo como ele a beijou, o modo como falava comigo como uma caloura desconhecida, eu sentia que minha cabeça estava rodando. Repetir para mim mesma que era aquilo que eu queria, que era o melhor para todo mundo, não estava adiantando. Porque aquilo doía. Eu achava que podia lidar com ele me ignorando, me tratando mal, mas aquilo era ainda pior que lidar com a raiva ou a mágoa dele – ele me tratar como se eu não fosse ninguém era pior do que se me tratasse como alguém que detestava.

Castiel pegou algumas caixas que estavam espalhadas e as empilhou em meus braços. Estavam cheias de coisas que usávamos na educação física, redes dobradas e raquetes de tênis de mesa sem par. Ele obviamente estava me dando as coisas mais leves, mas ainda assim, não era tanta coisa que ele não pudesse levar em duas viagens. Mas eu ainda estava um pouco tonta e achei melhor não dizer nada.

Saímos do ginásio, carregados, e a sensação de mal estar começou a diminuir. Eu podia me adaptar àquilo. Consegui reunir as palavras perdidas na minha mente.

- Por que você precisa de ajuda? – falei, tentando usar o mesmo tom indiferente que ele usava comigo – Você consegue tranquilamente levar isso tudo sozinho em duas viagens.

Castiel fez uma expressão engraçada, como uma criança travessa.

- Hum, sim – ele disse tranquilamente – mas é que a diretora também pediu que a gente colocasse as coisas lá de modo organizado, e eu estive jogando tudo por lá...

- E você quer que alguém arrume por você  - falei assentindo. Castiel riu, mas eu não consegui rir de volta, apenas continuei andando, sem encará-lo.

Estávamos no meio do corredor quando lancei um olhar de relance para ele e notei que sua mão estava rabiscada mais uma vez. NEOQEAV. Me perguntei se Debrah fazia aquilo todos os dias na esperança de que eu interagisse com ele e quisesse morrer mais uma vez.

- O que foi? – ele disse, e percebi que ele tinha notado meu olhar. Dei de ombros, tentando inventar uma desculpa, sem conseguir.

- Esse rabisco na sua mão – falei em uma voz fraca.

Ele apertou os lábios e ficou sério.

- Lynn, se isso for complicado pra  você...

- Pelo amor de Deus – falei imediatamente, interrompendo-o, porque se ele começasse a sentir pena de mim eu ia morrer – foi só uma observação.

Ficamos naquele silêncio desconfortável por alguns segundos. Meus braços estavam ficando cansados, mas eu não ia pedir para descansar. Quanto menos aquilo durasse, melhor.

- Eu nem sabia que ela sabia o que significava – ele disse de repente. Percebi que ele tinha voltado a falar da inscrição. Suspirei.

- Ela viu escrito na minha mão, eu suponho. Quando você escreveu – eu disse, mantendo a voz neutra apesar da lembrança – Imagino que tenha procurado o significado no Google depois e por isso tenha feito o mesmo com você.

Castiel deu uma risada sarcástica.

- Quer dizer – ele falou, e senti o tom de briga na voz – Que ela só fez isso pra te incomodar? Achei que você tinha superado o ciúme.

Parei no meio do caminho, olhando feio para ele, tentando conter o impulso de jogar as caixas que segurava em cima dele e dar meia volta.

- Eu só fiz um comentário baseado no que você disse. Eu realmente acho que foi assim que ela conheceu a expressão. Isso se chama “jogar conversa fora”. Nem tudo é sobre você.

Castiel suspirou, balançando a cabeça.

- Não foi isso que... – ele começou, mas eu o interrompi, voltando a andar.

- Esquece – falei – Não éramos amigos antes, não temos que ser amigos agora.

Aquilo não era bem verdade, antes de tudo, sempre fomos amigos. Mas eu preferia fingir que ele nunca tinha importado para mim, assim como ele estava fazendo.

Não conversamos mais até chegarmos ao porão. Eu deixei escapar um palavrão. Realmente, Castiel e quem quer que estivesse trabalhando naquilo tinham apenas jogado tudo de qualquer jeito lá. Pela quantidade de materiais esportivos, não íamos ter educação física por algum tempo.

Me forcei a falar com Castiel para que ele me ajudasse a organizar a bagunça, e ele o fez excepcionalmente sem reclamações. Passamos quase vinte minutos sérios, apenas falando o necessário, até que finalmente percebi que não tinha mais o que organizar. Estava ofegante.

- Me dê um segundo – falei, encostando na parede, contendo a vontade de sentar e não levantar mais. Talvez evitar a educação física não fosse uma idéia tão boa assim, estava ficando sedentária.

- Lynn?

Ergui a cabeça, levando um susto. Nem tinha percebido Castiel se aproximar. Olhei para ele, indagando, por um segundo, e então percebi que tinha cometido um erro. Ele estava perto demais, e eu conhecia aquele olhar.

- Castiel... – comecei a dizer, arrependida de ter me deixado ficar sozinha com ele.

Castiel não me deixou falar. Ele me prendeu contra a parede, o rosto perto demais do meu.

- Preciso confessar uma coisa – ele falou, e eu senti o calor da sua respiração contra minha pele – O tipo de... atração que nós temos, eu não consigo sentir por mais ninguém.

Eu sentia alguma coisa dentro de mim acordando, as terminações nervosas do meu corpo dando sinais de vida, mas sentia também a raiva de Castiel aumentando.

- Engraçado – falei, conseguindo conter o tremor da minha voz – dois minutos atrás parecia que eu era uma completa desconhecida pra você.

Castiel balançou a cabeça. Ele parecia um pouco confuso.

- Eu... não sei. Você mesma disse, estou fazendo o que tenho que fazer. Eu nem devia... estar tão perto de você, mas...

- Então se afaste – falei, minha voz ficando mais firme. Lembrei a mim mesma que meia hora antes os lábios dele estavam nos de Debrah – Você ainda sente atração por mim, mas espera a gente ficar sozinho pra dizer isso, sabe por que? Porque você sabe o quanto está errado.

- Lynn, mas se nós apenas... – Castiel pressionou o corpo dele contra o meu, e eu senti vontade de chorar. Eu entendia, claro, o que ele estava sentindo, porque aquilo não podia acontecer, mas era difícil resistir. E de repente, aquilo me deu mais raiva ainda de Castiel. Como ele podia fazer aquilo comigo? Me machucar mais uma vez? Mesmo sabendo o quanto estava errado, ele estava disposto a trair Debrah e Lysandre por desejo, sem considerar o quanto eu odiaria cometer uma traição daquelas.

- Castiel – falei calmamente, percebendo que minha voz estava subitamente fria – Vou dizer só uma vez. Se afaste de mim agora. Ou eu vou ter que te dar uma joelhada. E não quero fazer isso.

Castiel se afastou um pouco, surpreso com meu tom.

- Eu tenho um namorado – falei, aproveitando seu silêncio – e você também está comprometido. Eu não sou esse tipo de garota. E me ofende que você pense que eu sou. Mas como sempre, você não me conhece. Agora, se afaste.

Ele se afastou mais um pouco, muito devagar, me olhando de um jeito estranho. Perdi a paciência e o empurrei. Castiel parecia ultrajado.

- Volte logo lá pra cima, sua namorada está esperando – falei, cruzando os braços.

Castiel tinha uma expressão entre ofendido e indignado. Quando continuei na mesma posição, séria, ele ergueu as mãos em rendição, com um sorriso amargo.

- Como queira – ele disse, me dando as costas.

Esperei alguns minutos depois que ele saiu, respirando fundo. Não conseguia chorar. E então percebi que não queria chorar, porque a raiva tinha tomado o lugar da tristeza. Raiva por ele agir com indiferença na frente da namorada e tentar me enrolar quando estávamos sozinhos, ignorando que eu jamais trairia meu namorado. Pelo menos não sentia mais tristeza. Não havia lugar para mais nada além da raiva.

Quando cheguei de volta ao ginásio a confusão permanecia, mas o humor parecia eufórico e animado desta vez. Fui me sentar na arquibancada e olhei em volta, tentando achar Rosalya ou Lysandre para que me explicassem o que estava havendo.

- Fantástico, não é, querida?

Debrah se sentou ao meu lado, sorrindo de orelha a orelha, mas sem parecer ameaçadora. Ela estava genuinamente feliz, o que era estranho considerando que eu tinha passado vinte minutos sozinha com o namorado dela.

- O que é fantástico? – falei, sem humor – O que está havendo?

- A nossa querida diretora disse que, milagrosamente, vão sobrar fundos em vez de faltar – Debrah respondeu – então ela vai permitir que tenhamos um baile informal antes do evento, para recompensar nossos esforços. Não é ótimo?

Ergui as sobrancelhas. Era uma coisa estúpida para alguém como ela, mas talvez a alegria fosse pela chance de desfilar com o namorado uma vez mais antes de ir embora.

- Tanto faz – falei, dando de ombros – Talvez.

Fiquei pensando na possibilidade de aproveitar a ocasião do baile para colocar meus seriados em dia, mas não sabia se Lysandre ia querer ir, e seria injusto não ir se ele me pedisse.

- Sabe, esqueci de dizer – Debrah falou tranquilamente, me arrancando dos meus devaneios – Gostei da blusa. Um belo toque. Ou foi inconsciente?

Olhei para minha blusa, suspirando. Era uma blusa preta com detalhes em babados e rendas  delicadas, que não chamavam a atenção, mas eram diferentes das roupas que eu usava em geral.

- Proposital – falei. Era obvio que Debrah ia perceber um detalhe como aquele. Era algo que eu não esperava que ninguém além dela notasse – Presumi que como namorada do Lys seria natural adotar um look mais clássico.

- Mensagem subliminar aos passantes – Debrah disse, assentindo – de que vocês são uma dupla de verdade. Mas quem mais você precisa convencer, Lynn?

Olhei para ela, franzindo a testa. Seu sorriso estava bem mais frio.

- O que está querendo dizer? – falei sem emoção. Não estava mais com medo dela. Não conseguia sentir nada.

- Quero dizer, esse seu esforço, o detalhe da roupa, o modo como você está sempre apoiada no seu namorado como se não pudesse ficar de pé sozinha – ela disse, desenrolando um pedaço de renda que estava em um ângulo estranho na minha blusa – Esse seu esforço em mostrar comprometimento me parece coisa de quem tem algo a esconder.

Revirei os olhos para ela, afastando meu único segredo para o fundo da mente, porque, de fato, aquilo não importava, não quando Castiel parecia achar que eu era algum tipo de boneca inflável que ele tirava da prateleira quando dava vontade.

- Debrah, me dá um tempo, ok? – falei calmamente – Você tem tudo o que você quer nesse momento. Eu já sei que Castiel vai embora com você, e ele obviamente está indiferente a mim. Pode me deixar em paz agora?

Debrah apertou os olhos, um meio sorriso no rosto, e me encarou como se eu fosse uma espécie nova de animal que ela tivesse descoberto.

- Mas olhe só, ela tem garras! – ela falou, o sorriso se abrindo mais. Algo naquele sorriso me gelou a espinha. Então ela se sentou mais próxima, passando um braço ao meu redor, e reconheci a posição que ela tomava quando queria me ameaçar, de modo que ninguém desconfiasse – Sabe qual eu acho que é seu problema, Lynn? Você está confiante demais.

Me esforcei em não fazer cara feia, porque quem visse de longe ia achar que eu estava sendo antipática com um doce de pessoa.

- Não, Debrah, eu sei muito bem que você pode tentar matar meus entes queridos e tudo o mais. Você já deixou bem claro.

Mas Debrah continuava com um sorriso deslumbrado, balançando a cabeça.

- Não – ela falou finalmente – É Castiel. É isso. Você ainda se sente segura, porque tem certeza que Castiel está seguro. Que eu não vou fazer nada para machucá-lo.

Engoli em seco, voltando a ficar apavorada. Meus cinco sentidos entraram em alerta.

- Mas você não vai. Quero dizer, você precisa dele. Mais que isso, você disse que o ama.

Debrah deu de ombros e desviou o olhar, parecendo triste por um momento.

- Também amava Daisy, mas eu faço o que tem de ser feito. Fique avisada.

Quis perguntar quem era Daisy, mas Debrah levantou e saiu sem dar maiores explicações. Fiquei sentada mais um tempo, até perceber que Rosalya estava no meio de uma pequena multidão, provavelmente organizando horários para tirada de medidas e coisas do gênero. Quis procurar Lysandre, mas logo mudei de idéia. Falar com Debrah era emocionalmente exaustivo e eu sabia que não era boa companhia.

No dia seguinte cheguei na escola me sentindo melhor que de costume. Depois de ir para casa, tomar um banho e ficar assistindo TV com a minha mãe, sentia que havia trocado as baterias. Fui para meu armário, enquanto Lysandre e Rosalya iam para os deles, porque ficávamos longe uns dos outros.

Quando abri o armário, notei que tinha alguma coisa em cima do meu livro de biologia. Às vezes Rosalya e eu trocávamos bilhetes assim, colocando pelas fendas da porta no armário uma da outra, então peguei o papel retangular sem me preocupar.

Era uma foto. Parecia um pouco antiga, gasta, do tipo que fica em porta-retratos por um longo tempo. Debrah estava na foto, parecendo um pouco mais nova,  sentada na grama com um grande labrador. Virei a foto e vi a mensagem atrás.

“Essa era Daisy. Era minha melhor amiga. Mas ela acabou prestes a ter filhotes com aquele monstro que o Castiel adora. Eu fiz o que tinha que fazer. A enterrei bem nesse lugar da foto. Eu amo Castiel, Lynn, mas faço o que for preciso.”

Me encostei no armário, o estômago revirando. Me perguntei por um momento o que exatamente ela tinha feito com a cachorra, mas me forcei a afastar o pensamento, sentindo que ia vomitar se tivesse uma imagem mental.

- Lynn? O que houve?

Me virei. Rosalya e Lysandre se aproximaram, me olhando preocupados.

- Lynn, você está branca como papel – Lysandre disse, cauteloso – O que houve? Você estava bem ainda a pouco.

Engoli em seco, respirando fundo. Aquele misto de tristeza e raiva voltou. Como Castiel não via aquilo? Me perguntei se ele sequer se importaria se soubesse, afinal, se a morte de um cão seria mais importante que uma carreira, e não conseguia ter certeza, porque as coisas haviam mudado tanto...

- Ah, droga – ouvi Rosalya murmurar.

Ergui a cabeça e olhei na direção que ela encarava. Tinha certeza de que nada, nada podia fazer eu me sentir pior, com mais medo, mais tristeza, mais raiva do que aquela mensagem, mas estava tão redondamente enganada, que disse a mim mesma que devia ter imaginado, porque os golpes na minha vida vinham sempre em sucessão. Castiel e Debrah vinham pelo corredor, conversando e sorrindo, como sempre, mas dessa vez, brilhando contra o tecido da blusa, Debrah tinha um pingente de guitarra prateado com pedras lilás no pescoço.


Notas Finais


Acho que faltam menos de vinte capítulos agora. Já faz um ano que tô escrevendo essa fanfic! Queria fazer um textinho piegas pra agradecer todo mundo MAS vou deixar pro ultimo capítulo porque sou chorona.
Tenho a impressão que esse ultimo paragrafo do capítulo ficou estranhão mas o sono não me permite revisar. Releio depois.
Beijo pra vcs


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...