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História Verdade ou Desafio - The tip of the iceberg


Escrita por: lineya21

Notas do Autor


Não esperava estar postando hoje, mas entrei no humor de "now or never" e resolvi que não ia dormir antes de terminar esse capítulo. Mas to com sono demais pra falar da minha vida hoje.

Capítulo 36 - The tip of the iceberg


Passar o fim de semana com Rosalya foi ótimo porque tirou minha mente de Debrah e Castiel por algum tempo – pelo menos depois da conversa que me fez correr para ficar sozinha, o que parecia ter feito Rosalya perceber que eu não queria falar no assunto. Por outro lado, voltar para a escola na segunda-feira teve um impacto muito maior.

Além da montanha de deveres que eu vinha lutando para terminar, tinha que ver como a diretora ia distribuir as apresentações, e a idéia de ter mais uma tarefa escolar com que me preocupar estava me enlouquecendo.

- Bom dia, Lynn! – Debrah gritou, pulando do nada do meu lado, me fazendo pular quase meio metro com o susto. Ela sorriu para mim, alegremente. – Como foi o fim de semana?

A encarei, o coração ainda acelerado do susto, me perguntando se estava tendo alucinações. Precisei de alguns segundos para formar uma frase coerente.

- O que você quer? – falei, sem olhar para ela, mas sem mudar a expressão.

Debrah abriu um sorriso calmo.

- Ah, nada, só estou de bom humor – ela disse, dando de ombros. Fiquei com pena de quem quer que ela estivesse sacaneando no momento. Seu sorriso esfriou um pouco – Mas agora que perguntou, vim aproveitar que vi você e te perguntar se você fez o que mandei.

Franzi as sobrancelhas, encarando Debrah. Ela não podia estar falando sério.

- Debrah, só passaram dois dias.  – falei, tentando soar razoável, mesmo sabendo que razão não funcionaria com ela – Como espera que eu arrume um namorado do nada durante o fim de semana?

A expressão de Debrah ficou fria.

- Lynn, às vezes eu esqueço o quanto você é lenta. Eu achava que éramos mais parecidas... enfim... – ela bufou e apertou os olhos, como se lidasse com uma criança teimosa, e então começou a falar devagar, como se eu tivesse mesmo dificuldade de compreensão – Acho que você não sabe, mas isso é o que as meninas crescidinhas fazem quando querem arrumar um namorado, elas saem no fim de semana e conseguem, não se enfiam na casa da amiguinha com os irmãos estranhos vendo seriado e cantando no quarto. Aliás, fiquei sabendo que você até que é boa. Espero que não tenha idéias a respeito.

Fiquei encarando Debrah por alguns segundos, séria, enquanto ela me olhava, sem expressão, esperando que eu desse sinal de ter entendido.

- Você colocou câmeras na casa dos meninos também? – falei finalmente.

Debrah me deu um sorriso meigo e ajeitou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Vi Iris passando e dando um sorriso para nós pelo canto do olho, e percebi que ela devia achar que estávamos ficando amigas.

- Quem precisa de câmeras quando se tem a Nina? – Debrah falou, desviando o olhar de mim para acenar para Violette, que passava. – Há séculos que ela hackeou a conta do Lysandre no Netflix pra acompanhar os seriados que ele assiste. E obviamente, passa um bom tempo embaixo da janela dele. –  Ela ficou um pouco pensativa, mas com a expressão ainda suave, de modo que quem passasse por ali acharia que estávamos falando da escola ou coisa do tipo - Isso me lembra que tenho que outra coisa com você, mas tenho que esperar... umas coisas, porque é mais fácil reunir vocês, meninas, mais tarde.  Mas não desvie do assunto – ela acrescentou, sorrindo abertamente. – Sobre a cantoria?

- Nada com que você precise se preocupar – falei secamente, mexendo no celular, apenas para não ter que olhar para ela. Rosalya geralmente tinha o dom de aparecer nessas horas, como se sentisse que eu precisava dela, mas ela não aparecia e aquela conversa estava longa demais. Debrah riu com gosto.

- Ah, querida, não me preocupo! Não, não. O que eu quero dizer – ela diminuiu a voz para um tom perigoso que só eu podia ouvir – É que eu preciso ter certeza que você não vai tentar aparecer no teste, por exemplo.

Suspirei e a encarei, séria. Queria perguntar se a paranóia na qual ela vivia era derivada de sacanear todo mundo o tempo todo, se ela achava que o resto das pessoas também era assim. Engoli a pergunta e falei calmamente.

- Não tenho a menor intenção de tentar te fazer sombra, Debrah. Não quero aparecer. Muito pelo contrário, ok?

Debrah sorriu satisfeita. Alguém colocou a mão no meu ombro ao mesmo tempo e eu pulei, achando por um segundo que os tentáculos de Debrah estavam se espalhando a minha volta.

Era Lysandre. Ele passou um braço ao redor da minha cintura, me surpreendendo, e acenou com a cabeça educadamente para Debrah antes de olhar para mim.

- Lynn, Rosalya está que nem louca te procurando. Se me dá licença – ele acrescentou, acenando mais uma vez para Debrah e me arrastando para longe. Eu me segurei para não suspirar de alívio.

- O que ela queria? – Lysandre perguntou discretamente quando estávamos fora do alcance da audição de Debrah. Tentei ignorar a intimidade da mão dele na minha cintura.

- Me atormentar, me perguntar se eu cumpri as ordens dela de arrumar um namorado, me contar que a Nina vigia sua vida há séculos, mas isso eu sabia. Cadê a Rosa?

Lysandre, para meu alívio, tirou a mão da minha cintura, mas apenas me encarou parecendo muito confuso, como se tentasse catalogar todas as informações que eu tinha dado.

- Rosa estava te procurando – ele falou finalmente, distraído, olhando em volta – mas achei melhor vir eu mesmo. Eu e ela estávamos conversando e chegamos a conclusão que...

A porta do grêmio ao nosso lado se abriu de repente e Lysandre deu um pulo, parando de falar. Melody apareceu, aos prantos. Notei de imediato que ela estava de volta ao seu antigo estilo, mais comportada e sem maquiagem. Ela soluçava tanto que piscou para nós por alguns segundos, como se não nos visse, ou reconhecesse. Senti um frio na espinha imediatamente.

- Melody, o que está acontecendo? – Lysandre perguntou, sério.

Melody estava se abraçando, nervosa. Ela olhou para mim e antes que ela conseguisse falar, comecei a entender o que estava acontecendo.

- Eu sei que foi ela – Melody disse com a voz fraca, me encarando – Nathaniel me contou ontem o que estava havendo. Eu tentei interceder, mas acho que não tem como.

- O que exatamente ela fez? – perguntei, sentindo uma pontada de pena da garota contra a vontade. Melody mordeu o lábio, engolindo o choro.

- Alguém fez uma ligação anônima na última sexta – ela falou, dando um sorriso triste – para o serviço social. Denunciaram os pais do Nathaniel por maus tratos.

Ergui as sobrancelhas, tentando juntar as peças que não faziam sentido. Então os dados começaram a se conectar: ela disse que precisava fazer uma ligação, estava com raiva de Ambre e incomodada com a situação que Nathaniel tinha começado ao me beijar.

- Tem sido uma loucura desde então – Melody continuou, parecendo um pouco atordoada – Visita do serviço social e avaliações psicológicas e agora Nathaniel e Ambre estão com os pais na sala da diretora. Não sei o que está acontecendo.

Suspirei. Se não odiasse Debrah com todo meu ser, teria de admitir que estava impressionada com quanto caos ela tinha conseguido causar com uma ligação.

- Será que é verdade? – Lysandre falou. Eu olhei para ele sem entender. Ele baixou a voz – Sobre os pais do Nathaniel.

Lancei um olhar de lado para Melody, que ainda chorava, atordoada, antes olhar para Lysandre e assentir em silêncio.

Rosalya atravessou a multidão no corredor, vindo direto até nós. Ela abriu a boca para falar, com aquele ar de âncora do plantão que ela tinha quando tinha uma bomba.

Mas não foi necessário. Antes que ela começasse a falar, o burburinho aumentou e a multidão se afastou para os lados para deixar alguém passar. Nathaniel e Ambre vinham, seguidos de um casal de aparência chique e expressões fechadas. Quando os olhos de Ambre passaram pela minha direção, ela me olhou com ódio e veio direto até mim, me dando um tapa no rosto.

- É tudo culpa sua!

Mordi os lábios e a encarei, sem saber o que dizer. Imaginava que, de certa forma, era minha culpa que aquilo tudo viesse a tona, e conseguia entender o que ela estava sentindo. Vi Rosalya ficar furiosa e inspirar fundo para dizer algo, mas antes que ela pudesse falar, o pai dos garotos agarrou o braço de Ambre e a puxou.

- Chega de escândalo, Ambre – ele falou em um tom perigoso, e eu vi a expressão de raiva da garota sumir em um passe de mágica. O rosto dela ficou neutro.

A fúria de Rosalya ao ter visto Ambre me estapear mudou de direção. Eu compreendi de imediato, porque aquela era Rosalya, porque por mais que condenasse Ambre por me odiar, Rosalya não era do tipo que permitia injustiças.

- Ou você vai fazer o que? – ela falou, encarando o pai de Ambre, as sobrancelhas unidas – você vai bater nela como faz com Nathaniel?

O corredor ficou imediatamente em silêncio.  Eu não sabia o que fazer, mas sabia que Rosalya tinha que ficar na dela. Ela achava que estava defendendo uma posição, mas eu tinha certeza que estava arrumando mais problemas para Ambre e Nathaniel.

- Isso não é da sua conta, garotinha – o pai de Nathaniel falou, medindo Rosalya de cima a baixo com expressão de desgosto – Se preocupe mais com o tamanho da sua saia e o porque de os seus pais deixarem você sair assim na rua.

Eu e Rosalya erguemos as sobrancelhas ao mesmo tempo. Lysandre pareceu mais irritado do que eu já tinha visto em muito tempo.

- Concordo que ela não deva se meter em assuntos de família – Lysandre disse em um tom frio – mas do mesmo modo, o tamanho da saia da minha cunhada não é nem de longe problema seu.

O pai de Nathaniel olhou para Lysandre com uma expressão de quem tinha encontrado um inseto no Box do chuveiro. Ele deu um meio sorriso forçado.

- Estou feliz que vou tirar meus filhos desse... ninho. Vamos.

Os garotos saíram escoltados pelos pais, com expressões neutras, como robôs. Vi o pai de Nathaniel colocar a mão no ombro dele como uma garra. A mandíbula do garoto se contraiu.

Rosalya se virou para nós, soltando o ar que parecia prender desde que o pai de Nathaniel falou de suas roupas.

- Os pais deles vão tira-los daqui. Aparentemente acham que a culpa das acusações são da escola, que algum professor pode ter feito isso – Rosalya deu de ombros – Fiquei escutando atrás da porta, não agüentei.

Melody parou de chorar. Ela estava em choque.

- Tirar... Nathaniel da escola? – ela gaguejou. Rosalya, com uma expressão de pena, assentiu. Melody ficou encarando a parede oposta como se não pudesse acreditar.

- Mas... – Lysandre tinha as sobrancelhas unidas – Eles estão errados. O que isso tem a ver... Quero dizer, se eles agrediram o filho, como estão tomando decisões por eles?

- Eles tem dinheiro, tem influência – Rosalya disse, dando de ombros – Gente como eles não paga pelo que faz. Pelo que eu entendi, está bem óbvio que as acusações de maus tratos são verdadeiras, mas eles tem uma penca de advogados prontos a declarar que é tudo mentira e processar a escola por difamação.

Suspirei. Me perguntei o que impedia Ambre agora de colocar a boca no mundo, mas com certeza Debrah ia ter pensado naquilo, já.

A diretora apareceu no corredor logo em seguida, parecendo preocupada e afobada, mandando todo mundo entrar para as aulas. Eu suspirei. O dia nem tinha começado e já estava prometendo.

Nossa turma se reuniu com uma algazarra enorme, todos os alunos discutindo o que estava acontecendo. Me enfiei em um canto perto da janela, com Rosalya sentada atrás de mim, e tentei me desligar de tudo. Levou algum tempo para que os alunos se acalmassem. Finalmente, Faraize entrou na sala, seguido da diretora, e eu voltei a prestar atenção no momento em que todos se calaram.

- Bem, hum... – Faraize pigarreou, os olhos de um lado para o outro, tão nervoso quanto sempre ficava perto da diretora – Apesar do que... acabou de acontecer, temos que seguir com nossa programação. Então, nossa querida diretora já definiu os grupos e os temas, e como parte do nosso primeiro horário foi ocupado com questões, hum, familiares, vamos usar o resto do tempo para nos organizarmos.

Suspirei e me virei, estendendo a mão para Rosalya. Ela apertou minha mão, mostrando apoio. Aquilo não ia ser bom.

- Fiquem avisados – a diretora falou, áspera, parecendo mais estressada do que eu já a vira antes – Não quero ouvir reclamações. Os grupos e temas estão definidos e dessa vez não vou aceitar sugestões ou qualquer tipo de desordem. Até porque é possível que... bem. É possível que dois dos seus colegas não estejam disponíveis em breve, então tivemos que reorganizar os grupos de última hora.

Faraize pegou uma lista dentro de uma pasta e começou a ler. Eu baixei a cabeça, respirando fundo, percebendo que a turma toda compartilhava o sentimento. O professor começou a ler as matérias e quem ia trabalhar com elas. Meu nome não aparecia, até o final da lista, e eu estava começando a enlouquecer, mas pelo menos Debrah ficou em um grupo com Kim, Iris e Violette, então pelo menos eu não teria que lidar com ela, então deixei a mente relaxar até ouvir meu nome.

- Por fim – Faraize falou, e eu levei um susto ao perceber que ele estava no fim da lista. Quando ele tinha chamado os outros? Será que tinha dito meu nome e eu não tinha percebido? – O grupo que vai ficar com história, são os alunos que restaram, Lynn, Rosalya, Castiel e Lysandre.

Pisquei, prendendo a respiração, esperando acordar do que certamente era um pesadelo. Me virei para Rosalya, querendo perguntar se ela ouviu o mesmo que eu, e a vi com as mãos cobrindo a boca, a expressão preocupada. Mas não surpresa. E só então caiu a ficha que a sala toda tinha feito a matemática antes de mim, porque eu não estava atenta. Me forcei a olhar para Debrah. Ela encarava o quadro negro com a expressão neutra, mas eu via uma de suas mãos fechada em garra no colo. Não consegui olhar na direção de Castiel.

- Espero que esse grupo faça um bom trabalho, já que é minha matéria! – Faraize disse, completamente alheio à tensão na sala. A diretora olhou feio para ele e a sombra de um sorriso morreu no rosto dele.

- Bom, é isso – ela falou, seca, olhando para a turma sem interesse – se organizem por hoje, e se encontrem fora do horário de aula para preparar as apresentações. Pra garantir que não haja problemas, vocês vão apresentar para os colegas alguns dias antes de apresentarem para os pais. Agora é com vocês. Com licença.

- Espere!

Não pude evitar de gritar e me levantar. Me ocorreu que se eu não fizesse nada, Debrah ia acabar comigo. Precisava que ela visse que ao menos tentei.

A diretora me encarou. Engoli em seco.

- Quero mudar de equipe. – falei com a voz trêmula. A diretora bufou.

- Lynn, eu já disse que...

-  Mas isso não é justo – falei rapidamente, interrompendo-a, tentando ganhar tempo - Quero dizer, se a gente puder decidir, vamos conseguir trabalhar melhor e...

- Lynn, a resposta é não.

- Você não pode me colocar no mesmo grupo do meu ex-namorado!

Senti meu rosto esquentar, mas mantive a expressão séria. A diretora me encarou enquanto eu tentava ignorar o silêncio da turma.

- Lynn, eu entendo que nessa idade essas coisas parecem muito importantes. – Ela respirou fundo, e o tom neutro deu lugar a uma frieza contida – Mas a vida vai te colocar em situações muito mais desagradáveis e eu sugiro que você vá se acostumando.  Voce vai fazer esse trabalho, com o grupo designado, do modo designado, e dê-se por contente que sua amiga estará com você. E se você se recusar, vai reprovar. Simples assim. Lide com isso.

Congelei. Ouvi Rosalya se levantar do meu lado.

 -Então – minha amiga disse, naquele tom que eu reconhecia como problema – onde você comprou seu diploma de educadora eles nunca te disseram como fingir que sabe lidar com os sentimentos alheios? Ou sua falta de empatia e esse desejo de humilhar quem precisa de ajuda são sintomas da idade?

A diretora tirou os olhos frios de mim e os fixou em Rosalya.

- Detenção após a aula, mocinha.

Assim que a diretora saiu, a algazarra recomeçou, com os alunos indo se juntar em grupos, outros saindo descaradamente para o corredor. Para minha sorte, minha ceninha não tinha impressionado tanto que eles ignorassem que tinham o resto do período livre. Rosalya e Lysandre vieram direto na minha direção, mas eu ergui uma mão para eles e saí da sala, me desviando de todos.

Fiquei no banheiro feminino, respirando fundo, apoiada na pia. Eu sabia o que vinha a seguir, mas precisava me acalmar e não perder o controle.

Logo escutei os passos de Debrah, as batidas pesadas do salto de suas botas entrando no banheiro. Suspirei.

- Isso que eu mandei você não chamar a atenção – ela disse em uma voz contida.

Olhei para ela, cautelosa. Seus olhos quase me queimavam viva.

- Eu tinha que tentar alguma coisa. Qualquer coisa.

Debrah deu um passo em minha direção com a mão erguida. Tentei dar um passo para trás, mas ela me alcançou. Em vez de me dar um tapa, ela passou a mão pelos meus cabelos e puxou com força. Eu abafei um grito.

- Lynn, a sua sorte – ela falou, com o tom completamente ameaçador, despido  de qualquer fingimento – é que eu sei que esse não é o melhor momento pra te dar uma surra mais educativa como costumo fazer com gente burra como a Ambre. Mas você pode ter certeza que nós vamos acertar as contas depois.

Ela me soltou, andando de um lado para o outro, pensativa, quando não consegui me segurar.

- Por que você se importa tanto?

Debrah me encarou com as sobrancelhas erguidas, surpresa que eu a tivesse questionado. Aproveitei sua surpresa para me explicar.

- Castiel terminou comigo, como você queria. Ele nem olha pra mim, nem fala comigo. O que mais você quer que eu faça? Você já tem tudo que eu podia dar.

- Lynn, não seja estúpida – Debrah disse com desgosto, como se estivesse decepcionada com minha pergunta – O término de vocês foi muito... traumatizante. E Castiel... – ela suspirou – Bom, Castiel é um garotinho mimado que se agarra a qualquer birra. Ele só vai se lembrar que me ama se desencanar de você.

- Ele já desencanou – falei em um murmúrio, mais para mim mesma.

O rosto de Debrah ficou vermelho, e ela pareceu se encher de ódio.

- ELE É MEU! – ela gritou, me fazendo pular – E você só atrapalhou nossas vidas! Ele teria voltado pra mim muito antes se você não tivesse me atrapalhado. Ah, eu sei – ela fez aquela expressão de desdém outra vez quando viu meus olhos marejados – Você o ama. Lynn, acorde. Amor é uma questão de... negociação. Troca de interesses. Você pode se virar muito bem se só fizer o que eu mandei.

- Vou fazer – falei automaticamente, para que ela parasse de falar. Ela deu um sorriso doentio.

- Claro que vai. – Ela aproximou o rosto do meu e falou de tão perto que senti sua respiração – Porque Castiel. Me. Pertence. – ela se afastou um pouco, analisando meu rosto assustado, parecendo mais calma. – Claro que tenho muitos, muitos outros planos. Quero mudar minha vida, ter tudo que eu mereço, e Castiel é só uma parte disso. Mas o resto não é da sua conta, queridinha.

Ela voltou a andar de um lado para o outro, suspirando.

- Agora, essa questão do trabalho... vamos mudar de tática. – ela me encarou, prática, como um treinador passando o plano de jogo – Você vai falar com ele numa boa. Não muito amigável, claro, mas cordial, como você seria com qualquer aluno desconhecido. Você vai dizer que superou e o que aconteceu agora foi um lapso. Que você só queria desafiar a diretora por razões pessoais e apelou para a coisa do namoro porque achou que podia manipula-la. Mas nada contra ele, está tudo bem.

- Ok – murmurei. Engoli em seco, então falei: - E esse trabalho...

- Você vai fazer normalmente – ela disse, calma – vocês quatro vão se reunir e fazer o trabalho, apresentar, tudo como colegas de classe comuns fazem. Mas fique avisada – ela apontou um dedo para mim, o tom ficando subitamente amedrontador – Não se esqueça que você vai estar vigiada. Vou botar a Nina na cola de vocês. Aliás, nem vou precisar, porque com o esquisito do Lysandre por perto, ela vai sem ninguém mandar. Então não ouse fazer nenhuma gracinha pra cima do Castiel entendeu? Senão... você sabe o que acontece.

- Sei – falei, sem humor, me olhando no espelho. De repente mal me reconhecia. Quem era aquela garota morta-viva me encarando do outro lado? – Você termina de ferrar a minha vida e a de todo mundo que eu amo.

- Isso – ela disse, sorrindo para si mesma no espelho. Por um segundo visualizei a madrasta da Branca de Neve no seu lugar – Talvez eu até faça uma lista e vá riscando um nome por vez. Talvez comece com aquele monstro que o Castiel chama de cachorro. – ela ficou pensativa – Preciso dar um jeito de me livrar dele antes que a gente volte a namorar.

Apertei as unhas nas palmas das mãos, respirando fundo, para me impedir de pular em Debrah e rasgar sua garganta com os dentes. Repeti para mim mesma, como um mantra: “Sou melhor do que ela, não vou me rebaixar, sou melhor que ela.”

- Estou liberada? – eu disse apenas.  Ela sorriu meigamente para mim, assentindo.

Assim que entrei na sala, Castiel veio na minha direção.

- Lynn, escute...

- Não – falei, erguendo a mão. Para minha surpresa, consegui dar um sorriso sem graça. – Olha, já passou da hora de sair desse drama. A diretora tem razão. Pra ser sincera – dei de ombros, como se estivesse envergonhada – estava até pensando em te dizer isso, mas fiquei com raiva do modo como ela não soube lidar com a coisa do Nathaniel e tentei confrontá-la de algum jeito. Claro que isso voltou contra mim.

Parte de mim queria me bater. Eu agia como o papagaio de Debrah. Mas outra parte, bem mais dominante, estava orgulhosa de mim. Se eu era como ela, que fosse para meu próprio bem. Havia uma estranha satisfação em ser capaz de manipular as pessoas para que fizessem o que eu queria daquele modo.

- Entao... está tudo perdoado, somos amigos agora? – ele falou, erguendo as sobrancelhas. Não acreditava em mim. Mas eu esperava por isso.

- Não é pra tanto – falei, séria. A expressão dele passou de incrédula a chocada com o meu tom – O que acontece é que eu realmente quero sobreviver ao ensino médio, Castiel. Me formar, fazer faculdade, sair desse buraco de cidade, fazer alguma coisa da minha vida. E honestamente cansei de ser idiota e deixar namorico de escola interferir nisso.

Esperei que ele retrucasse, me desacreditasse, mas ele continuou sério. Havia algo além do choque... tristeza. Muito bem escondida, porque ele não queria que eu visse. Era o que eu pretendia, disse a mim mesma.

Rosalya veio até nós com Lysandre, ambos sérios.

- Lynn – ela começou – se você quiser, nós vamos falar com a diretora e...

- Não, sério – falei em um tom tão descontraído que por um segundo até Rosalya pareceu comprar minha súbita recuperação – Vamos só... terminar com isso logo. Já sou bem grandinha, posso lidar com uma apresentação chata de ensino médio – acrescentei, sorrindo de leve, e pegando meu livro de história antes de me sentar e começar a estudar.


Notas Finais


Eu imagino que a Lynn pareça meio banana, agora que vive com medo da Debdebdebs, mas sei lá, acho que é a reação mais normal do mundo na situação dela.
Quero agradecer imensamente ao carinho, os comentários, as mensagens. Eu não sou boa em expressar o quanto fico feliz, mas vocês não tem IDEIA do bem que me fazem.
Mais uma vez, se houver interesse nos livros: mandem MP.
E por fim: alguém aí vai na Bienal do Livro de São Paulo?


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