História Verdade ou desafio - Apenas garotos

 Estava um pouco tarde.

Kuroo deveria estar em sua casa com seu filme ou série e comida. Era para estar emaranhado em cobertas grossas e confortáveis, entrementes, tinha algo um pouco mais importante para fazer. Ergueu um pouco a câmera do celular para o garoto de cabelos lisos que desviara seus olhos; precisavam cumprir logo o desafio. Não necessariamente para continuar com a brincadeira ou para poderem dizer que participaram, havia algo um pouquinho além disso.

— Para de ficar apontando essa coisa pra mim.

Tetsurou sentira um sorriso suave adornar seus lábios. Correra seus dedos longos pelos cabelos negros e bem arrumados a procura de esconder o grande nervoso que lhe invadia.

— Vamos, a brincadeira não pode parar. — Aproximou-se do adolescente. Prendeu o rosto delicado entre seus dedos e o puxou vagarosamente. O peito de Kenma pareceu saltar. Estava apegado ao extremo a Kuroo. Haviam se conhecido num dia muito nada a ver e aos poucos a amizade entre eles foi ganhando uma força descomunal.

Tudo ia tão bem, ambos se aceitavam com facilidade. Não havia exigências nem mesmo cobranças.

Os lábios finos tocaram os de Tetsurou num genuíno intuito de corresponder ao toque. As bochechas de Kozume esfoguearam fortemente, afastou-se e engatinhou até que conseguiu encontrar a cabeceira onde se escorou, encolheu as pernas e escondeu grande parte de seu rosto entre os joelhos.

Kuroo exibiu um quê de graça persistente.

Algo em seu âmago revirava com força, mas não num sentido ruim. Era uma sensação boa, queimava ou ascendia, não existiam palavras corretas para especificar aquela coisa.

As madeixas negras pendiam com graça sobre os olhos baixos, o adolescente aproximou-se de Kenma com cuidado. Deixou o celular na frontal posto sobre um lugar específico para que conseguisse pegar os dois na gravação. Kuroo sentou-se e deu três batidinhas em sua perna.

Kenma, por sua vez, ainda conflituoso quanto a situação, se aninhou no corpo do amigo com as pernas roliças em cada lado do quadril alheio. As mãos espalmadas correram por seu dorso pequeno chegando até rente ao início das nádegas e tornou ao ponto de partida.

A respiração pesada de Kuroo desenhava seu rosto e uma súbita vontade de beijá-lo lhe acometera no instante em que seu campo de visão voltou-se apenas aos lábios entreabertos e convidativos. Sua mão pequena e fria procurou calor na nuca detentora de fios negros, aos quais foram apertados.

Como em um clichê, existia ali uma magia intensa do pré-beijo. Eles se olhavam, pareciam perguntar se podiam continuar e com a resposta do silêncio os olhos se fecharam. Num sutil movimento as bocas se uniram e aos poucos foram fechando em um beijo a procura de um encaixe confortável.

Os garotos puxavam os corpos através dos tecidos das blusas atrás de um contato maior do que aquilo que lhe era dado. Kuroo sentia uma extrema necessidade de ir um pouquinho mais a frente, entretanto, estava decidido e convencido de que deveria se comportar. Seus dedos adentraram sorrateiramente por baixo da camiseta de Kozume, este, que se desfez do beijo e deixou um pequeno estalo no ar.

Seus lábios desceram aos pouquinhos pelo rosto e maxilar do jogador até que, finalmente, pôde alcançar seu pescoço de pele naturalmente amorenada. O cheiro que desprendia de lá misto ao calor consistente deixava o Kenma inebriado. As palmas que percorriam seu corpo apenas alavancavam o estranho desejo que consumia ambos os corpos.

Os lábios pequenos e cheios fincaram na pele de Kuroo e como se estivesse tomando conta da situação, deixou uma marca no pescoço. Com pequenas sucções passeou por grande parte do espaço permitido, até que tornou finalmente aos lábios. Tetsurou pestanejou ligeiramente deslocado e até um tanto surpreso, logo, ocorrera de sentir a língua pequena serpentear até encontra a sua a fim de iniciar um ósculo.

Kuroo apertou-lhe a cintura e o puxou para mais perto, ciente de que seria necessário editar o vídeo quando fosse mandar.

@Tendou: E foi assim que Kuroo transou.

@Tooru: Que nem você e o Ushijima, até passaram a semana todinha sem entrar.

@Tendou: Tem que aproveitar né.

@Bokuto: Gente, parecia início de transa.

@Lev: Sasporra se pegaram legal, que nem o Ushiwaka e o Tendou.

@Ushijima: Exato (:

@Tooru: Sasporra nem nega.

@Bokuto: Sasporra são tudo sincera.

@Tendou: Sasporra tão tudo doida, parece até que tomam fenobarbital.

@Noya: Sasporra parece que tomava rivotril e fingia tá lombrado.

@Kei: Sasporra tão enchendo o saco com essa porra de sasporra.

@Tooru: Tsukki está revolts porque o Yams agora é meu novo mozão.

@Yamaguchi: Ué, e o que ele tem a ver com isso?

@Tooru: Que bruta você, moça.

@Suga: Caralho viado, tu tá mal criado. Para de andar com esse povo.

@Yamaguchi: OXE.

@Tooru: Vai Tsukki.

@Kei: Verdade ou desafio, Noya?

@Noya: Verdade. Não estou pra nudes hoje.

@Kei: Você já sentiu vontade de ficar com o Asahi?

@Noya: Ah, se fude. Quero desafio.

@Kei: ...

@Kei: Te desafio a falar se já teve vontade de ficar com o Asahi ‘-‘

@Bokuto: O

@Bokuto: L

@Bokuto: É

@Suga: Oh briocagem, fala logo.

@Noya: Quem nunca teve vontade de ficar com o Asahi ,não é mesmo.

@Tooru: Temos um interesse mútuo então. Comecem os desafios e-e

@Asahi: Ué.

[...]

@Tooru: Bateu uma saudade do Iwa-chan.

@Suga: :/ que sad. Fala com ele, mano.

@Tooru: Tipo, tu viu os print, viu que ele meio que arrumou confusão por nada, caramba. Foi só um beijo, o que tinha de mais?

@Suga: Tipo, ele pode ter ficado confuso e tal. Deve ser meio estranho beijar outro cara.

@Tooru: Quero saber se tudo num tem boca, dente, língua e saliva.

@Suga: Sim biscate, mas nem todo mundo pensa assim.

@Tooru: Quero que ele se foda.

@Suga: Não, você quer ele TE foda, é completamente diferente ._.

@Tooru: Tu tá do lado de quem, demônio?

@Suga: Estou do lado de que vocês vão se pegar sz.

@Tooru: Jamais ¬.¬

@Suga: Nunca diga dessa água não bebereis, porque vai que bebereis até a barriga explodir a nível atômico ‘u’

Tooru bufou. Não se considerava gay, apenas achava que tinha um laço forte que fora construído em anos, não apenas em meses. Existia entre eles algo um pouco mais avante que apenas coleguismo, parceria e variantes.

Saiu do banheiro para que pudesse vestir suas roupas e descer em busca de algo para saciar a fome.

Uma coisa que precisamos entender é: o universo é um filho da puta.

Não importa se você acha que ele está atrasado, ele sempre vai esperar a brecha exata para poder agir. É aqui que entra o tão ambíguo carma. O universo sempre irá agir conforme você anda tocando sua vida diante de dificuldades, por mais incrível e surreal que isso possa soar.

Oikawa talvez soubesse disso ou somente conhecia sua amizade muito bem.

Nem de longe aquele era o primeiro conflito existente entre eles e foi ao tocar da campainha que as peças, novamente, voltaram ao seu devido lugar. Ainda de toalha posta sobre seus ombros, fora atender a porta. Inicialmente, apenas uma fresta fora aberta. O suficiente para que a tentativa de fechá-la fosse impedida pelo pé calçado de Iwaizumi que forçou entrada.

— Vamos conversar, por favor — pediu assim que conseguira tocar os antebraços de Tooru, que, ainda atônito, tentava digerir que Hajime estava bem diante de seus olhos com a cara mais limpa do mundo. Oikawa não sabia se ficava bravo, comovido ou feliz. Seu coração batia num ritmo louco e uma sensação estonteante impedia sua mente de processar os fatos.

— Eu não quero conversar, Iwa-chan. — soltou-se.

Hajime batera seu pé puto da vida, na verdade, quase isso. Não podia se dar ao luxo de ficar irritado em meio a um pedido de desculpas.

— Qual é, tivemos brigas piores.

— Correção, tivemos brigas por motivos! Ah, cara, que merda! Quais são os amigos que brigam por conta da porra de um selinho? E se eu fosse gay? Hã? Você faria o que? Se afastaria de mim, é isso? E o papo de que a gente se aceita? — estapeou os ombros largos sem perceber que gritava e que alguns vizinhos saiam de suas casas a procura da briga.

Hajime tentava contê-lo, embora fosse inútil.

— Para! Caralho, Oikawa!

— Seu merda! Fala um monte de coisa nada a ver, me deixa com a maior raiva, empata meu sono, some, fica um cu comigo sem motivo, pede um tempo pra nossa amizade e ainda me manda parar?!

Hajime firmara as palmas nervosas em seus ombros. Sua alma gritava que ele estava sendo precipitado, entrementes, existiam medidas rígidas — e arriscadas — a serem tomadas, afinal, era sua amizade que estava em jogo.

Puxou Tooru, este, que tropeçara em seus próprios pés até que conseguiu amparar-se no tronco de Iwaizumi. Contudo, ao dar pequenas piscadelas, o calor em seus lábios fora tratado com estranheza. Não soube ao certo o que tinha acontecido até que movera sua visão ao homem que lhe beijava sem justificativa.

Sua bochecha tornou-se rósea em questão de segundos, uma ardência tomara conta de sua face, parecia estar próximo a um vulcão. Ainda segurado pelos ombros, fora afastado.

A confusão estava grifada em cada traço do garoto a sua frente.

— Desculpe — o murmúrio fora quase inaudível. Seu rosto desviou para o lado e a bochecha tocou o ombro num auto incentivo para continuar e mandar a vergonha para longe. — Eu gosto de você do jeito que é, ok? Se você fosse gay não seria um problema. Amigos, lembra?

— Eu lembrava, até que você não pensou duas vezes antes de me mandar pra escanteio, Iwa-chan — algumas gotículas de lágrimas se alojaram no canto dos olhos de Oikawa, mesmo que não quisesse chorar ou demonstrar fraqueza, seu coração doía e muito.

A culpa instaurou-se em todo o ser de Iwaizumi, que ainda assim, tentou manter-se firme.

— E eu me arrependo a cada segundo que passa.

— Pois demorou pra vir aqui, sabia?

— Eu liguei, liguei várias vezes. Mandei mensagens, mas você me bloqueou.

— Custava vir aqui?

— Às vezes sai mais fácil falar por trás de uma porcaria de tela de celular do que cara a cara — deu alguns passos para trás e coçou a nuca. — Estamos bem de novo?

Oikawa fincou suas sobrancelhas e enroscou seus braços diante do tronco, inclinou-se para o lado como quem parecia analisar a situação.

— Porque me beijou?

— Você não calaria a boca se eu pedisse e... — fez uma longa pausa para dar uma puxada de ar — E eu estava te devendo um — soltou o ar a medida que falava.

— Está me devendo brigadeiro também.

— Ainda bem que lembrei de trazer dinheiro, então — os dois trocaram sorrisos ternos, como se em silêncio estivessem se desculpando.

@Tooru adicionou @Hajime.