Sakura foi trabalhar distraída. Não conseguia parar de pensar naqueles dois e na encrenca em que se metera.
“Será que o Itachi tem razão? Eu realmente senti alguma coisa pelo Obito?” Fechou os olhos se lembrando do último encontro com o mascarado. “Ele ia me beijar... eu acho. E eu... queria. Oh, vida!”
— O que te aflige, menina?
— Nem eu sei explicar, dona Chiyo.
— Ora, tente.
— A senhora já se sentiu atraída por duas pessoas ao mesmo tempo?
— Ah, a juventude... — Sorriu nostálgica. — Eu já amei e fui amada. O coração é terra de ninguém, não há como prever ou entender certos sentimentos.
— E o que eu faço? Eu... não posso escolher.
— Não seja tão fatalista. Conheça-os. Viva cada momento.
— Não acho que seja tão simples.
— Nunca é... Mas você é jovem. Curta sua vida.
— A senhora é bem... moderninha.
— Eu já fui jovem, não vou fingir que era uma santa. — Deu uma risadinha. — Aproveite, Sakura.
— E se todos sairmos dessa... machucados?
— Não há como saber. Porém, acho que o pior dos arrependimentos sempre será a dúvida. Não saber o que teria sido... Vá por mim, eu já vivi bastante, sei do que estou falando.
— Se arrepende de alguma coisa?
— Me arrependo de não ter aceitado fugir com um rapaz. Sempre fico imaginando como teria sido. Ele era um desses artistas itinerantes. Viajaríamos o país. Mas eu tive medo. Escolhi ficar aqui mesmo. Talvez eu me arrependesse se tivesse ido, mas eu queria muito saber... como teria sido. Ah, menina, essa vida é muito confusa. Nossas escolhas, nossos desejos. Faça o que sentir vontade, mas... nunca se arrependa.
— Parece difícil não se arrepender — comentou amargurada.
— Acho que o segredo é não pensar muito. Ou no fim, apenas aceitar as escolhas que fez. Viva sua vida, menina. Ame, seja amada.
— Não sei. Não sei o que eu quero. Queria fugir, isso sim.
— Por acaso, um desses rapazes... é o Senju?
Ela arregalou os olhos. Era óbvio que seria perceptível, já que ela o via todos os dias. Quem mais poderia ser?
— É.
— O herdeiro da máscara não pode... se relacionar. Sinto muito, minha querida.
— Eu sei. Mas... sinto que temos... algo.
— Tenha cuidado. Não conte a mais ninguém sobre isso. O clã Senju é bem rigoroso.
— Estou muito ferrada, não é?
— Bom, você está vivendo uma paixão proibida. Não vou negar que estou com uma certa inveja. — Fungou uma risada.
— Não fique. A coisa toda é uma loucura.
— E o outro rapaz? É o turista?
— Ele mesmo. — Suspirou.
— Curta a emoção, Sakura. Aproveita a sua juventude.
— Ah, Chiyo... isso é tão complicado.
— Que nada! Se joga. Mas, por enquanto, atenda o casal que acabou de entrar. Vou assar uma fornada de biscoitos amanteigados.
— Tudo bem.
No mesmo horário de sempre, Sakura foi se encontrar com Obito.
Dessa vez, ele tirou a máscara antes mesmo de ela pedir.
— E então, o que tem para mim?
— Acho que não vai gostar.
— Conta.
— Ele é, pelo que parece, invencível.
— Como assim? Todos têm alguma fraqueza.
— Acontece que, contra aqueles olhos, você nunca vai conseguir fazer nada.
— Explique-se melhor.
— Ele não precisa olhar para o alvo. Ele pode hipnotizar sem ser visto. Ele meio que... entra na mente da vítima. Alguma coisa assim.
— Deve haver alguma brecha.
— Temo que não. Tentarei descobrir — comentou com a voz levemente embargada.
— Está triste?
— Eu... perguntei se ele temia você. Ele nem sequer está preocupado de você nos seguir até o lugar onde ele se esconde.
— Você vai lá?
— Neste domingo. Mas, você me ouviu? Ele não está com medo de ser seguido. Não se importa se você entrar na casa dele.
— Covil.
— Tanto faz. Ele pode te hipnotizar, Obito. Ele poderia fazer você... se matar.
— Então está preocupada comigo?
— Estou. Poxa, estou preocupada com os dois. Acho que eu falhei. Devia me matar logo. Antes que eu traia você... ou ele. Eu estou... dividida —disse sem encará-lo.
— Apaixonou-se pelo vampiro — murmurou com desgosto.
— Não foi só por ele. — Ergueu seus olhos para fitá-lo. — Se vai me matar...
Foi interrompida por um beijo desesperado. Nenhum dos dois entendia direito, mas se sentiam atraídos.
Sakura se deixou levar, perdendo-se naqueles lábios sedentos de desejo.
Obito a puxou contra si, apertando-a, deixando-se sentir o que nunca pôde, indo contra todas as regras impostas a ele.
Separaram-se por falta de ar. Se olharam em silêncio, confusos.
— O que estamos fazendo? — ela perguntou por fim.
— Não faço ideia. Você... bagunçou minha cabeça. Merda.
— Baguncei? — O olhou indignada.
— Isso... Eu nunca poderia. Eu não devia desejar nada... nem ninguém. — Bufou irritado. — Eu vivo pela minha missão e apenas por ela. Preciso destruir o último vampiro.
— Nada o faria desistir?
— E o que você espera? Que eu deixe Itachi em paz, fuja de Konoha e viva uma vidinha feliz?
— Poderíamos tentar.
— O quê?
— Eu... poderia ir com você.
— Escolheria a mim?
— Olha... eu não tenho certeza. Mas... é uma opção.
— Não, Sakura. Não é. Você não faz ideia de algumas coisas. Coisas que eu jamais poderei revelar. Sinto muito, mas... vivo pelo meu dever.
— Então me mate. Não deixarei você matá-lo! E nem ele a você! Me mate!
— Olha o que está dizendo...
— Eu não escolhi me sentir assim. Aconteceu. Vocês surgiram na minha vida e agora estou aqui... no meio de um fogo cruzado, apaixonada por dois inimigos.
— Está mesmo... apaixonada por mim?
— Já disse que sim. Pelos dois, droga. Isso é tão absurdo!
— É. Um tremendo absurdo.
— Se não vai me matar... o que vai fazer?
— Eu não sei. Não posso reportar nada disso ao clã. Eles me matariam. Depois, iriam atrás de você. Sem falar... o vampiro. A atual líder dos Senjus, Tsunade-sama, daria a alma para ver o fim dessa raça de monstros.
— O que você pensa disso tudo, Obito? Sobre os vampiros.
— Eles... são cruéis, isso é fato. Mas, humanos também são.
— O que... eu devo fazer?
— Pense na humanidade. Desista do vampiro, desista de mim. Esqueça tudo isso e, quando eu terminar minha missão, seja livre, vá curtir sua vida longe daqui.
— Eu queria isso. Antes. Eu sonhava em ir para Tóquio. Odiava Konoha.
— E mudou de ideia tão facilmente?
— Eu não sei se notou, mas meu mundo virou de pernas para o ar. Eu conheci um vampiro, um caçador de vampiros, e descobri que existem coisas que eu sempre duvidei.
— E isso te faz querer ficar?
— Sim. Por mais louco que possa ser, estou viciada nessa aventura.
— Uma aventura mortal.
— É. E para completar, acabei me interessando por dois idiotas, cheios de problemas e que querem acabar um com o outro. O pior é que não dá para voltar atrás. Aliás, não quero voltar atrás. Eu devo ser louca.
— Como chegamos a isso? — Suspirou.
— Não sei. Não sei mesmo.
— Durante toda minha vida, eu nunca me permiti sentir nada. Nenhum sentimento sequer. Fui criado assim. Não sei o que mudou, mas você... me atrai. Me surpreende que seja recíproco. — Deu um meio sorriso.
— Por quê? Seria difícil não se atrair. Vejo que, no fundo, você é bondoso e divertido. Sua maldita missão é que te força esconder seu verdadeiro eu. Consigo ver isso. Quando você se permite brincar, fazer piadas e me irritar... — Deu uma risada. — Você é encantador, Obito. Quanto a mim, não sei o que tenho de tão especial.
— Você atraiu um vampiro amargurado e seu caçador obstinado. Acredite, você é especial. Não sei explicar. É algo que só se pode sentir — disse, aproximando seus rostos.
Beijaram-se com mais calma. Pareciam procurar ajuda um no outro, consolo.
— Eu estou bem ferrado — resmungou. — Eu preciso... acabar com o vampiro. Mesmo que você me odeie por isso.
— Você não vai conseguir. Obito, desista.
— E o que acontece? Eu deixo vocês dois ficarem juntos e serem felizes para sempre?
— Eu não vou me tornar uma vampira.
— Ele quer isso.
— Eu sei. Mas é uma decisão que cabe a mim. Não vejo porque querer isso. Não quero me tornar uma assassina.
— Eu preciso pensar nisso tudo. — Suspirou. — Vamos manter as coisas como estão. Você pode...
— Continuar com essa rotina. Estar com ele à noite e com você de dia. Acho que posso fazer isso, enquanto tento achar um meio de ajudar aos dois. Gostaria de libertá-los de seus fardos.
— Não sonhe tão alto.
— Vou tornar isso realidade.
— Vamos. Já ficamos tempo demais aqui.
— Não vou desistir. — Fitou-o nos olhos. — É uma promessa.
Obito deu um sorriso triste e despediu-se da garota.
Sakura voltou à confeitaria, determinada a descobrir um meio de ajudá-los. Buscaria todas as informações possíveis sobre o clã Senju e o clã de vampiros.
Mais tarde, Itachi a encontrou.
— Parece... aflita. O que houve?
— Muita coisa aconteceu — murmurou chateada.
— Pode me contar, se quiser.
— Não é algo muito fácil de dizer... para você. — Fitou-o insegura.
— Sakura?
— Vo-você tinha razão. — Desviou o olhar constrangida. — Eu... Obito e eu nos beijamos — confessou baixinho.
— O quê? — Parou de andar e a encarou.
— Eu sinto muito. Mas, foi... recíproco.
— Eu sabia. — Suspirou irritado. — Vou matar aquele desgraçado.
— O quê?! Não!
— Castrá-lo, então. — O brilho assassino nos olhos negros a fez recuar alguns passos. Itachi percebeu. Fechou os olhos e bufou derrotado. — Desculpe, não tenha medo de mim. Por favor.
— Não faça nada com ele. Eu imploro.
— Por você. — Puxou-a para si, abraçando-a. Acariciou seu rosto, olhando em seus olhos verdes suplicantes. — Já disse que eu pertenço a você. Farei tudo que quiser, Sakura.
— Itachi, eu juro que vou ajudar vocês dois. Ambos estão presos num destino que não mereciam. Vou libertá-los. Eu prometo.
— Espero que consiga... Tentarei te ajudar. Se esse é seu desejo.
— Vamos conseguir. Nós três.
— Então... eu terei que dividir você?
— Não quero falar sobre isso. Me sinto... uma vadia.
— Não é. Você se importa... Há sentimento. Não é apenas carnal.
— Não escolhi isso, mas... vocês dois... entraram na minha vida e acabei me apegando a ambos. Quero protegê-los. Eu quero isso.
— Ele sabe... que eu sei?
— Não exatamente, mas imagino que ele deva estar pensando sobre isso. Eu deixei bem claro como me sinto em relação a você. E, bem, ele não me matou. — Riu.
— Bom, não confio nesse Senju, mas... estou com você.
— Obrigada, Itachi.
— Diga-me... — sussurrou, mordiscando o lóbulo da orelha dela. — Quem beija melhor?
— Itachi! Que coisa. Não tem... hum... — Perdeu o que ia dizer ao ser beijada sensualmente no pescoço. Daquele jeito que a deixava entregue, à mercê do vampiro.
— O que dizia? — Ele deu um sorriso de lado, encarando-a.
— É uma comparação injusta. Ele nunca... esteve com ninguém.
— Então está dizendo que sou mais experiente, portanto... melhor.
— Não seja um convencido arrogante.
— Tomarei isso como um sim. Espero que ele esteja vendo essa cena e se roendo de ciúmes.
— Que maldade... — Meneou a cabeça negativamente. — Vamos logo para minha casa, seu cretino.
— Sou competitivo, desculpe — debochou.
— Francamente. — Revirou os olhos.
— Não que eu me preocupe muito. Tenho certeza que te farei pensar em mim, até quando estiver com ele.
— Ah, é? E como pretende fazer isso?
O sorriso sacana em resposta foi o suficiente. Sakura enrubesceu e sentiu o corpo estremecer.
“Nesse ritmo eu vou acabar me entregando de vez... aqui mesmo na rua!”, pensou afoita.
Seria difícil resistir por mais tempo, mas, se fariam algo mais, que fosse à sós, de preferência no refúgio secreto do vampiro.
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