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História Vermillus - Statis Finis - Parte 2


Escrita por: MissQueenBee

Notas do Autor


Oi, amores !

Desculpe a demora em postar esse capítulo. Foi realmente difícil escrever e incluir tudo o que eu queria pra fechar essa história. No fim das contas não consegui e por essa razão...esse não será o último capítulo. Ainda teremos mais um e ele sim será o final de Vermillus.
Eu devo postar durante a semana, antes de sexta-feira.

Boa leitura 😘

Capítulo 30 - Statis Finis - Parte 2


Fanfic / Fanfiction Vermillus - Statis Finis - Parte 2

A infância tinha som e esse era o da madeira sendo cortada e lascada no formato contundente de uma lança. 

Hoseok se lembrava com clareza do pai lhe ensinando a forma correta de preparar aquela arma. Ele sempre se destacava dos outros meninos, não por ser o filho do líder, mas porque sempre foi absurdamente notável e Nyah lhe dizia que isso ele puxou da mãe. Daeliu, por motivos óbvios se sentia ofendido, defendia-se dizendo que era tão inteligente quanto Hani e tudo virava uma grande brincadeira entre os três. 

Com a memória afetiva, o lican sorriu. Tinha saudades daqueles tempos. Dos dias de alegria e brincadeiras em que podia se reunir com o seu povo em uma das muitas festas da deusa. Lamentava por não poder mais abraçá-los e por ter visto muitos deles partirem sem se despedir, e tudo por conta da ganância de poder dos Vermillus e da subserviência dos humanos. 

— Ei! 

Hoseok voltou dos próprios pensamentos e olhou para a direção da voz que chamava. 

— Está fazendo errado. — Daeliu se aproximou, pegando a faca e o pedaço de madeira na mão. — Você precisa deixar a ponta afiada e todos os lados iguais. O que aconteceu? Esqueceu como se faz nesse pouco tempo longe do pai? 

— Eu só…

— Vai… agora faça você. 

O lican tinha a madeira em uma mão e a faca na outra. Apesar do nervosismo em ter o pai o observando de perto, continuava a lascar o material que tinha e agora o fazia melhor do que no princípio. 

— Precisamos dessas estacas bem firmes. Elas não podem quebrar dentro do peito deles. Isso daria chances de reação. 

Ao finalizar a estaca, Hoseok a jogou dentro de um cesto de palha cheio de outras estacas. O material será usado contra o clã, guardas e todos aqueles que tentassem impedir a invasão ao Domum. 

Hoseok olhou para a frente e viu Changkyun gesticulando muito com um grupo de licans que o cercava. Apontava para o chão, fazendo desenhos na terra molhada e os que o escutavam pareciam atentos a tudo o que falava. O próprio Chang, percebendo os olhos que o miravam, acabou por encarar o lican de volta, tendo uma estranha impressão de que já o viu antes. 

— O que ele está fazendo? — Hoseok perguntou ao pai. 

O homem virou a cabeça para onde Changkyun estava com seus liderados. 

— Ele nos contou que o Domum é cheio de passagens secretas. — disse, sem perceber o filho desviar o olhar. — Vamos acessar algumas dessas passagens para entrar no castelo. 

A informação não era nova para Hoseok, e ele mesmo poderia ajudar seus iguais com isso se nele ainda houvesse o mesmo espírito de vingança de outrora. Agora, as coisas eram diferentes e o que ele mais temia era que Hyungwon fosse afetado pelo plano assassino do pai. 

— Eu estava pensando… — começou a dizer, tomando um novo pedaço de madeira nas mãos. — Tenho razões para acreditar que se focarmos nossos esforços em Arando e no alto escalão do clã, teremos maior chance de sairmos vitoriosos dessa empreitada. 

— O que quer dizer?

— Pense comigo, pai. Não é mais fácil isolarmos o líder do clã e seus asseclas, nos unindo no único objetivo de aniquilá-lo do que nos dispensarmos pelo Domum, matando os filhos e mulheres dele? Se queremos vencer, precisamos ter um foco único. E esse foco é Arando. 

— Não haja como um romântico, meu filho. É óbvio que se matarmos apenas Arando e a cúpula do clã, os filhos se organizarão para se vingar de nós. 

— Os filhos sequer gostam dele. 

— Como pode ter tanta certeza? 

Hoseok silenciou. 

— Eu… eu… bom, veja Changkyun. — apontou para o rapaz ao longe. — Ele se juntou a nós.

— Não é a mesma coisa. Esse rapaz foi desprezado por Arando desde o princípio. 

— Ainda assim, acho que…

— Hoseok! Manteremos o plano. Eu não vou poupar nenhum deles e isto está decidido. Volte ao trabalho. 

Deixou o filho sozinho, se afastando aos poucos no mesmo instante em que dava novas coordenadas aos demais. 

Diante da palavra final do pai, Hoseok não via qualquer outra alternativa para salvar seu amor do que estava por vir, que não fosse avisá-lo sobre o ataque. Isso representaria uma grande traição para o pai, mas ele não impediria o grupo de atacar o Domum, apenas salvaria Hyungwon.  

Nos olhos, a tristeza estava estampada em forma de uma pequena poça de lágrimas. Ninguém o viu chorar e ele iria manter aqueles sentimentos salvaguardados, a fim de evitar perguntas das quais não teria como responder ao pai. 

*

— Catalina. 

A bruxa que estava na janela se virou para a porta, vendo a mesma se abrir. De lá, surgiu a imagem da sogra, entrando aos poucos pelo quarto em seu vestido branco e leve. Hani parecia uma ninfa com o rosto bonito e jovem demais para a idade, ainda que a expressão trazida nele transparecesse uma evidente preocupação. 

Inteligente como era, foi fácil para Jinah deduzir os motivos daquele descontentamento. Coube a ela a missão de acompanhar a noiva do filho até o Santuário das Mães Vermelhas e isso a incomodava por razões óbvias. 

— Está pronta? — perguntou em voz doce. 

— Não. 

Hani abaixou a cabeça e se aproximou. 

— Eu sinto muito por isso. 

— O que aconteceu? — a bruxa perguntou, chamando a atenção de Hani que não entendia a pergunta. — O que aconteceu com a mulher forte que foi capaz de gerar um filho do maior inimigo de seu marido e ainda tentar fugir com ele?

A pergunta lhe atingiu em cheio. Os propósitos dela ainda eram um mistério para a mais velha, mas refletindo um pouco mais, ela começava a entender a razão daquilo. 

— Você deve me achar uma pessoa fraca, não é? 

Com passos lentos, a bruxa caminhou até a cama e se sentou na ponta dela, suspirando no fim. Acompanhou com os olhos a mulher mais velha que depois de um tempo a encarando em silêncio, andou um pouco mais e se sentou ao seu lado. 

— Eu ainda sou a mesma do passado. 

— E a Hani do passado permitiria que uma outra mulher fosse escravizada pelo filho?

— Você tem as respostas na ponta da tua língua. — Hani disse com um sorriso fraco. — A forma como fala, como se impõe, como se move e se comporta, é exatamente como as bruxas do povo da lua. 

Jinah virou o rosto para frente de imediato. Os olhos se arregalaram assustados e ela silenciou, tentando controlar a respiração. 

— Eu sei porque convivi com elas por muito tempo. Logo… sou capaz de reconhecer uma quando vejo. 

— Hani…

— Não se preocupe. Talvez, tenha sido melhor assim, não acha? Quer dizer, você tem nas mãos a chance de ajudar o seu povo. Se vingar por ele. Qual seriam as suas chances em outras circunstâncias?

— Eu não tenho todo esse poder. 

— Você tem o total controle sobre Hyunwoo. — Hani foi enfática. — Domina seu coração e mente. Tem o filho mais velho de seu inimigo nas mãos. Acha mesmo que não tem nenhum poder? 

O silêncio dizia a Hani que a bruxa ao menos considerava as coisas que ela dizia. 

— Como se chama? De verdade. 

— Jinah. 

— E o que veio fazer aqui, Jinah? 

— A princípio, tentar salvar Hoseok das mãos de Hyungwon, mas quando cheguei aqui, ele não estava mais. 

— E por que continuou? 

Novamente silêncio, e ele prosseguia em dar as respostas que Jinah não conseguia dizer em palavras. 

— Você se apaixonou por Hyunwoo. E quer saber, ele também se apaixonou por você. Eu sei porque conheço meu filho. 

— Isso já não importa. — ela disse.

— Certo. Então quer fugir? Se quiser, eu posso te ajudar a fugir. 

Os lábios da bruxa chegaram a se abrir com o intento da fala mas ela desistiu. 

— Você sente que deve ir, mas ao mesmo tempo, algo maior te prende a este lugar. 

Hani se levantou e andou devagar pelo quarto. 

As mãos de Jinah suavam e ela esfregava uma na outra com força. Parou de fazer aqueles movimentos repetidos quando a sogra parou diante dela. 

— Você me perguntou o que aconteceu com a mulher que desafiou Arando. Eu te respondo: Eu fui mãe.

Um soluço curto e a jovem levantou a cabeça devagar até a mais velha. Emocionada, tentava a qualquer custo esconder a vontade imensa de chorar que lhe invadia agora. Talvez fosse a situação de confronto, a gravidez ou a sensação de total desgraça em que se encontrava, mas ficava cada vez mais difícil se conter diante da poderosa mulher. 

— Eu queria fugir e viver com Daeliu, mas eu tinha meu filho. Eu tinha Hyunwoo. E quando se tem um filho, todo sentimento egoísta precisa ser posto de lado, pois tudo o que faz, invariavelmente vai afetar a criança. 

— Então… — a voz soava trêmula. — ser mãe nos torna mais fraca?

— Não. — Hani sorriu, se ajoelhando em frente a Jinah sentada na cama. — Nem mais forte e nem mais fraca, apenas forte de um jeito diferente. Você tem um motivo maior para querer sobreviver, algo além da sua própria vida. Você passa a considerar todos os pontos e é por isso que reflete mais antes de agir. Você entende bem do que estou falando, certo?

O coração da bruxa acelerou. 

— Hani...

— Conte a ele. Conte a Hyunwoo sobre esse filho. Eu te garanto que essa criança será o nosso maior trunfo contra Arando.

— Por que acha isso?

— Porque entre o pai e filho, por quem você acha que Hyunwoo lutaria? 

As duas se encararam em silêncio. 

Hani trazia um sorriso astuto e Jinah processava as palavras recém ouvidas. A bruxa, apesar de conhecer a devoção do amado pelo pai, sabia que todo aquele sentimento poderia ser facilmente redirecionado para a criança que estava por vir. Reconhecia a sabedoria de Hani e antes que confirmasse em seu coração o desejo de contar tudo a Hyunwoo, ouviu a sogra dizer: 

— Venha. Precisamos fazer alguns ajustes no seu vestido. 

A mais velha sorriu, estendendo a mão. Se Jinah a segurasse, isso significaria um sim para o casamento e se optasse por se afastar, o não seria a sua resposta. 

Jinah suspendeu o braço para frente e segurando na mão de Hani, apertou forte.

*

Os lençóis revirados lhe causavam um profundo incômodo. Antes o estado bagunçado da cama vazia trazia a Hyungwon a deliciosa lembrança da noite com Hoseok. O cheiro dele estava por toda parte e o vampiro fechava os olhos, se embolando no tecido vermelho, enquanto lembrava o corpo do lican. Suspirou ao constatar o quanto a presença dele lhe fazia falta e ao pensar na atitude que teve com o lican no dia anterior, se martirizava com a culpa de ter agido tão mal com ele quando ele havia lhe perdoado pelo feito em Servan e vinha cuidando e o incentivando a enfrentar seus medos.

Levantou-se decidido. Voltaria para a floresta antes que Hoseok fosse para a taberna no vilarejo dos humanos. O surpreenderia, chegando na cabana e se ele ainda lhe quisesse ouvir, aceitaria escutar a sua versão mais uma vez. Estava convencido de que amava o lican e em seu coração ele já havia o perdoado, mas restava saber agora se Hoseok gostaria de tê-lo de volta depois dele ter ignorado a declaração que lhe fez. 

O espelho refletia a imagem bela, única e altiva do vampiro. Abriu a camisa devagar e encarou a cicatriz mais uma vez. Carregaria aquela marca para sempre e ela seria a lembrança do dia em que conheceu o amor da sua vida assim como trazia em seu bojo o controverso fato de que ele tentou o matar. 

Pensar demais o torturava. Por isso, saiu da frente do espelho e foi para a banheira. Se deixou ficar lá por alguns momentos até enfim vestir suas roupas de montaria, sair do Domum e subir no cavalo que estava disponível. Agora não poderia mais voltar atrás, até poderia mas não queria e conforme o cavalo tomava maior distância do castelo, mais certo ele estava de que fazia a coisa certa. 

Ao olhar para trás viu o Domum se apequenar e um triste saudosismo lhe acometeu. Teve um lampejo da infância, das crises causadas pela doença que ninguém conhecia de onde vinha, dos amores, das brigas, pensou nos irmãos, na mãe, no pai e uma dor imensa lhe apertou o peito. Julgou estar entrando em uma nova crise mas não era, os sintomas não eram aqueles. Hyungwon sentia apenas saudades. Começou a chorar, respirando forte e descompassado, pois de forma repentina e insistente, tinha a impressão de que algo estava para mudar.

Sem saber das dores de seu amor, Hoseok largou a confecção das estacas, deixando o pai e os demais licans sem que eles percebessem sua ausência. 

A agonia com a passagem rápida das horas e a aproximação do momento fatídico o deixou ansioso. Correu pelo meio da floresta indo até o campo e lá ficou por um tempo respirando o ar puro do dia. A todo momento, a louca ideia de ir até o Domum e avisar Hyungwon sobre o ataque lhe surgia. Não fazia qualquer ideia de como seria recebido mas o desejo de protegê-lo lhe exigia mais coragem do que bom senso. 

Um pouco distante de onde estava, o cavalo relinchou. Hoseok se virou de pronto e aquilo foi quase como um sinal. Correu para o animal e montou nele, tomando as rédeas com segurança. De longe, via o Domum imponente apesar de saber que aquela fortaleza estava prestes a ruir. Tomou o atalho pela floresta e seguiu até o caminho ensinado por Hyungwon, o mesmo que o levaria até a passagem secreta onde no final dela, seu grande amor estaria, ainda que decepcionado, ao menos a salvo. 

Na floresta, Hyungwon cavalgava rápido em direção da conhecida cabana. Quando ela finalmente ficou à vista entre as árvores, o rapaz parou, desceu da montaria e fez o restante do caminho a pé. Notou uma movimentação atípica da distância em que estava mas se sentiu tão feliz em perceber que havia conseguido chegar antes que Hoseok fosse para taberna, que ignorou qualquer anormalidade. 

Quando parou atrás de uma das árvores e amarrou o cavalo a ela, percebeu pela visão periférica uma presença a alguns metros ao lado. Virou-se devagar e então lá estava a figura familiar que tanto amava. Sorriu, abaixando a cabeça ainda que o nervosismo com a possibilidade de rejeição o assombrasse. 

As costas largas e nuas, surgiram no instante em que ele se pôs de pé diante da tora de madeira que havia acabado de partir. O cabelo loiro, levemente mais claro do que o normal, estava colado a nuca devido ao suor e embora se movesse de um jeito atípico, Hyungwon deu pouca importância para isso. Aproximou-se lento de seu amor e lhe chamou:

— Hoseok.

A figura do lican parou onde estava. Ainda de costas, olhou para frente e com o machado jogado no ombro, foi se virando devagar. Conforme o rosto dele ia se revelando, Hyungwon que o via de perto o reconhecia cada vez menos. Os traços jovens de seu amado estavam mais fortes e pesados. Ele acreditava se tratar de uma visão mas aquele homem diante dele era real e não era Hoseok, parecia mais como uma versão mais velha dele e isso só poderia significar que estava diante de Daeliu, o pai de Hoseok, líder dos licans e essa constatação fez todo o seu corpo tremer pois sabia que estava em perigo. 

O verdadeiro Hoseok chegava naquele momento ao quarto de Hyungwon, se utilizando da passagem secreta. Ao ver que o lugar estava totalmente vazio, sentiu uma vontade imensa de gritar. Não poderia sair dali sem ser abordado por um guarda e sem saber como o vampiro o receberia, não poderia contar que ele o ajudaria. Viu os lençóis da cama revirados e pensou nos momentos que passaram juntos. As mãos tocaram a superfície do tecido e o cheiro de Hyungwon estava ali. Desesperançado, cogitou a possibilidade de ficar no quarto esperando ele voltar e mesmo que não aprovasse a invasão, tentaria se explicar mais uma vez e contaria sobre o ataque que estava por vir. 

De qualquer forma, sem saber em que momento isso aconteceria, tudo isso poderia ser arriscado demais e não surtir o efeito esperado. De repente, uma espécie de epifania lhe acometeu, talvez Hyungwon não estivesse no Domum, talvez, assim como ele também tivesse ido a sua procura e por isso havia saído do quarto, deixando tudo revirado do jeito como acordou. 

Levantou-se de forma repentina da cama e correu para a passagem secreta, pois se suas suspeitas estivessem certas, seu amado vampiro encontraria o grupo de licans em sua cabana e isso seria trágico para ambos.

O perigo que Hyungwon corria, embora afligisse o lican, era algo concretizado e no mesmo instante em que ele corria para a floresta, o vampiro se encontrava amarrado dentro da cabana, encarando Daeliu enquanto ele o olhava de volta em silêncio. 

— Então era verdade. — a voz do vampiro soou fraca. — Havia mesmo um grupo de licans a caminho de Akai. 

O homem permaneceu calado. 

— Vocês… mataram o meu irmão?

Daeliu respirou fundo e balançou a cabeça devagar. 

— Seu pai matou. — respondeu. — Ou melhor, tentou matar, mas isso não vem ao caso. — disse, vendo Hyungwon franzir o cenho. — O que você quer com o meu filho?

A pergunta veio em um tom ameaçador e o vampiro não sabia ao certo como responder aquilo, mas antes que formulasse qualquer ideia na cabeça, a imagem que surgiu atrás de Daeliu era ainda mais assustadora do que o próprio lican inimigo. 

Changkyun, o irmão mais novo e até onde ele sabia, morto, apareceu no ambiente tal qual uma assombração. Hyungwon se moveu assustado, preso a tora de madeira em que Daeliu havia o colocado. As correntes que o prendiam fizeram um barulho assustador e ele mal conseguia formular uma palavra. 

— O que está fazendo aqui? — Daeliu perguntou. 

— Eu soube que capturaram meu irmão na floresta. Eu vim falar com ele. 

— Ele é nosso prisioneiro e você não vai falar com ele. 

— Se eu não falar agora com meu irmão, não temos mais acordo. 

A cabana voltou a ficar silenciosa e o ultimato de Changkyun causou o efeito necessário. Daeliu não receberia ordens de um Ettore, mas precisava daquele vampiro para que seus planos funcionassem, com isso, deixou o local aos poucos, sem tirar os olhos de Hyungwon. 

— Se deixá-lo fugir... você vai morrer de verdade dessa vez, garoto. — advertiu. 

Sozinhos no lugar, Changkyun ainda podia ver o irmão mais velho o encarar emocionado e assustado. 

— O que isso significa? 

— Eu sei... você deve estar assustado porque obviamente, eu não estou morto.

— Como isso é possível? — Hyungwon se mostrava cada vez mais confuso. 

— O papai armou pra mim. Ele me enviou para aquela missão com o único intuito de me matar. Os guardas me atacaram no meio da floresta e os licans me encontraram. Quando souberam quem eu era, propuseram um acordo onde eu os ajudaria a entrar no Domum para matarem o papai.

— Matar a todos nós, Changkyun.

— Não! Eu já havia pensando em ir com eles e assim que chegássemos às passagens secretas, eu iria me separar do grupo e tiraria vocês de lá. 

— Isso é loucura. 

— Eu sei, mas é a minha melhor chance de vingança e eu estou ansioso por ela, Hyungwon. 

O mais velho balançou a cabeça ainda descrente. Esticou a mão até onde as correntes lhe permitiram e Changkyun se aproximou dele permitindo que Hyungwon tocasse o seu rosto. 

— Inacreditável. — sussurrou. — Kihyun vai ficar tão feliz. Ele sofreu tanto com a notícia da sua morte. 

— Você sabe sobre nós?

— Ele nos contou. Estava tão desolado que confessou tudo.

— Eu espero que ele me perdoe por não ter voltado tão rápido, mas tudo que estou fazendo, eu faço por ele. Eu quero viver esse amor em paz e longe do Domum, mas só terei isso quando nosso pai estiver morto. 

— Eu acho que te entendo. 

— Entende?

O vampiro mais velho suspirou. 

— Também tenho um amor proibido. 

— Hoseok. 

— Como sabe?

— Eu tive a impressão de que o conhecia quando o vi aqui, mas não conseguia lembrar de onde. Depois que soube que você estava preso na cabana porque veio atrás do filho de Daeliu, eu me lembrei que ele era o seu servo de quarto. 

— E onde ele está, Chang? — a pergunta saiu sussurrada. 

— Eu não sei. Saiu sem dizer nada a ninguém. 

— Ele… ele está participando de tudo isso?

— Bom, ele se mostrou surpreso quando viu o pai, não me pareceu que tivesse conhecimento do plano. — disse, vendo o irmão revelar no rosto um certo alívio. — Mas... confesso que o vi ajudando os outros a fazer estacas. 

— Eu sou um completo idiota. Sempre evitei abrir meu coração, mostrar fragilidade e na primeira vez que faço isso eu acabo sendo enganado e traído. 

— Hyungwon, não pense dessa forma. Você veio para conversar com ele, não foi? 

O mais velho fez que sim com a cabeça. 

— Então faça isso. Não tire conclusões precipitadas, pois pode não ser nada disso do que está pensando. Eu falo do que vi, mas ele pode falar do que sente. 

— Ele disse que me ama. — falou chorando.

— E é o que sente?

Mais uma vez, o vampiro confirmou em silêncio. 

— Você também o ama?

— Amo. Mais que tudo. 

— Então ele precisa saber. Não deixe que suspeitas e mal entendidos estraguem tudo. Eu digo isso por experiência própria. Um grande mal entendido fez eu me separar de Kihyun no dia em que saí em missão e se eu tivesse morrido naquele dia, como papai pretendia, tudo estaria perdido. Entende o que quero dizer?

— Sim. Eu entendo. 

Hyungwon tentou estender a mão para tocar o irmão mas a corrente o impedia de fazer movimentos mais bruscos. 

— Eu queria poder te tirar daí.

— Está tudo bem. — limpou as lágrimas com a parte de fora da mão. — Estou cercado pelos meus inimigos, preso na cabana em que fui feliz por tantos momentos. Apenas garanta que vai salvar nossos irmãos, Changkyun. 

— Eu vou salvar você também. 

— Prometa.

— Eu prometo. 

Hyungwon sorriu em meio ao choro. O rosto sempre tão bonito trazia um semblante pesado e triste. Os cabelos longos e negros grudavam no rosto lavado pelas lágrimas e embora nunca tivesse feito isso com ele, Changkyun se aproximou e o abraçou. Os dois choraram juntos compartilhando um sentimento difícil de entender e muito mais de expressar. Contudo, permaneceram juntos, buscando força em meio a situação mais complicada que aqueles herdeiros vampiros já haviam passado. 

*

— É chegada a hora. 

A bruxa mais velha se pronunciou, olhando o tempo. 

O céu assumiu um tom acinzentado e as nuvens pesadas denunciavam a tempestade que estava por vir. Ao abaixar a cabeça, a idosa olhou para Yulee e em seguida fez um pequeno sinal. Com isso, a bruxa mais nova, entendendo a mensagem, suspirou pesarosa e seguiu para uma das cabanas. 

Quando Yulee entrou, Catalina se levantou depressa da cadeira onde estava sentada. O olhar assustado partia o coração da bruxa que precisou reunir um pouco de coragem para dizer o que deveria. 

— Está pronta, Princesa?

— Eu não sou Princesa. — respondeu com a voz falha. — Sim, estou pronta. 

— Certo. 

As duas se calaram.

Um silêncio incômodo invadiu o lugar. Elas sabiam o que isso significava. O momento que mais temiam chegava e nenhuma das duas estava pronta para isso. 

— Lá fora tem dois cavalos. Um para você e outro para o seu cocheiro. — quebrou o silêncio. — Volte para casa com cuidado. Se algo acontecer no caminho, não hesite em usar a faca que te dei e se por acaso precisar se defender sem ela, ponha em prática os golpes que te ensinei. 

Catalina ouvia tudo com os olhos se enchendo de lágrimas. Ao perceber a comoção da outra, Yulee se colocou de costas e continuou a falar. 

— Agora que vai voltar pra casa, não deixe que sua família continue decidindo o seu destino. — olhava para o chão. — Se imponha mais, não aceite ser vendida por eles outra vez. Não aceite que eles te obriguem a casar com um homem a quem não ama. 

— Eu não vou me casar com ninguém. 

Yulee levantou a cabeça e olhou para a janela, permanecendo de costas para Catalina e evitando o seu olhar triste. Ainda assim, foi impossível ignorar o disparo repentino do coração quando os braços finos e delicados da outra lhe envolveram a cintura. 

— Eu não aceito me casar com ninguém que não seja você. 

A cabeça da jovem estava apoiada nas costas de Yulee. A declaração inesperada fez com que fechasse os olhos e chorasse em silêncio. Virou-se devagar, tendo a imagem triste de Catalina diante de si. Com as mãos segurando o rosto dela, lhe beijou a testa, em seguida o nariz e chorando junto com ela, enfim lhe beijou os lábios. 

Esperava por aquele momento com ansiedade e desejava ele com todas as forças. O beijo de Catalina era ainda melhor do que Yulee imaginou e depois de provar dele, a abraçou forte enquanto chorava. 

Quando o acampamento das bruxas já estava totalmente desmontado, um grupo delas iniciava a caminhada pela estrada de terra rumo a floresta onde encontraria com os licans. Yulee segurava na mão de Catalina agora montada no cavalo e a separação inevitável se aproximava. 

— Me deixe ir com vocês. 

— Não. É perigoso demais. — Yulee respondeu, vendo a outra abaixar a cabeça. — Quando isso acabar, eu prometo que irei até a sua cidade para te ver. 

Catalina levantou a cabeça com um sorriso esperançoso, apertando a mão da bruxa com força.

— Me prometa. 

— Eu prometo, Princesa. 

Catalina apertou os olhos, percebendo a provocação e sorriu para a bruxa. 

O cavalo soltou um relincho no mesmo instante em que as bruxas chamaram Yulee. Com isso, as duas se despediram, mas até que Catalina sumisse das vistas, a bruxa apaixonada ainda ficou admirando a jovem que vez ou outra olhava para trás, tomada pela saudade. 

*

Os céus resmungavam, ecoando o som da trovoada. Abaixo dele, uma procissão de licans caminhava em direção ao Domum. 

Na frente do grupo, Daeliu e Changkyun caminhavam e pouco olhavam para os lados, focando no trajeto a frente onde no fim se via o castelo. Vez ou outra o vampiro olhava para trás, atento a Hyungwon, que continuava preso pelos braços e era puxado por um dos lican. 

— Daeliu! — um deles gritou para o líder, apontando para o lado direito. 

O líder da alcatéia virou o rosto, seguindo com os olhos o ponto exato onde seu subordinado apontava. Viu um homem montado no cavalo vindo muito rápido na direção do grupo e conforme se aproximava, percebeu o rosto desconhecido tomar forma. Era Hoseok e o lican se mostrava desesperado. 

Hyungwon olhava para ele e não sabia dizer se a presença o confortava ou se lhe deixava ainda mais tenso. 

Ver o vampiro sendo puxado pelas correntes que o amarravam, confirmava o que ele suspeitava: Hyungwon foi a sua procura. Isso lhe deixava feliz e ao mesmo tempo triste, pois era ele a causa pela qual seu amor estava agora naquela situação de perigo. Teve ímpetos de cavalgar até ele e libertá-lo dali, mas vendo o vampiro negar de leve com a cabeça, conteve seu cavalo e diante da recusa, foi até o pai. 

— Sigam em frente! — Daeliu gritou para o grupo. — Desça do cavalo, Hoseok. 

O tom de voz grosseiro fez com que o lican obedecesse prontamente. A todo o momento, o rapaz olhava para onde Hyungwon estava, incomodado com a cena que via. 

— Onde estava? 

— Pai… eu…

— Por que esse Vermillus veio a sua procura? — perguntava se afastando dos demais. 

— Pai, quando o senhor desapareceu, eu fui lhe procurar em Servan. Obviamente, o senhor não estava lá, mas eu imaginei que talvez tivessem te vendido como escravo. Foi neste lugar que acabei sendo sequestrado por… por ele. — olhou para Hyungwon que se aproximava com um grupo. 

— Você foi levado ao Domum? 

— Sim.

— Ele te fez de servo. 

Hoseok consentiu. 

— Desde então… — suspirou. — Esse maldito Vermillus têm me perseguido, mesmo depois de eu conseguir fugir do castelo. — se esforçava para parecer convincente. — Eu não sei como ele descobriu onde eu estava. 

— Malditos! Não há nada de bom que venha de Arando. — praguejava. — Queria eu mesmo matá-lo mas meu acordo com Changkyun me impediu. Como ele ousa transformar o futuro líder dos licans em servo? 

— Não seria justo que o senhor se vingasse por mim. Eu fui a parte ofendida, logo, eu mesmo devo fazer justiça. 

— Que seja. 

— Me permita que eu cuide dele nesse trajeto até o Domum, garantindo que ele não fuja para que ao final de tudo isso, eu tenha a minha vingança. 

— De acordo. 

— Vou levá-lo em meu cavalo, pois considero mais seguro. 

— De forma alguma, faça com que ande, como todos os outros. 

— Pai, esse Vermillus em especial possui uma grande velocidade. É o mesmo que tentei matar outrora, já conheço suas artimanhas e não vou errar de novo. Montado no cavalo ele teria dificuldades para tentar fugir. 

O mais velho se pôs pensativo e os argumentos do filho tinham sentido. 

— Faça como quiser. 

O jovem tentou conter o sorriso e saiu da presença do pai, caminhando entre os licans até enfim ver seu amor no meio deles. 

— Deixe ele comigo. — disse com firmeza ao lican que conduzia Hyungwon. 

O rapaz olhou para Daeliu e este acenou com a cabeça, autorizando a entrega do vampiro nas mãos do filho. 

Hyungwon por sua vez, assistia a tudo em silêncio e viu o exato momento em que as correntes passaram da mão de um para o outro.

 Quando esta se encontrou em poder de Hoseok, ele pôs os olhos sobre o vampiro e a situação lhe remetia ao dia em que era ele o refém de Hyungwon, mas diferente do momento em questão, ele jamais faria com o vampiro o mesmo que ele fez na ocasião. Isso estava impresso em seus olhos apaixonados e mesmo que ele nada dissesse, ficava tão evidente para Hyungwon essa declaração silenciosa, visto que ele sentia igual.

Mais uma vez ele subia no cavalo e ao se acomodar na montaria, estendeu a mão para que Hyungwon subisse. Puxou o vampiro para cima com as mãos unidas pelas correntes e o pôs sentado na frente dele. O cheiro que vinha da nuca fria o inebriava. Estava com tanta sede, tanta fome do sangue dele que a situação o torturava mais do que imaginava. Precisava exercitar o autocontrole e seguir com o plano que tinha em mente e assim o fez. 

— Segure firme as rédeas. — sussurrou ao ouvido do vampiro.

— O que vai fazer? — perguntou sem olhar. 

Após um curto silêncio, Hoseok disse: 

— Perder a minha vida, para salvar a sua. 

O cavalo relinchou alto e se pôs nas patas traseiras. Com o brado do animal, o grupo de licans mais a frente, olhou para trás, vendo Hoseok fazer a volta e disparar com o cavalo no sentido contrário. O susto generalizado causou uma pequena comoção no grupo que alertava Daeliu sobre a insurgência do filho que por razões ainda incompreendidas, acabava de fugir com o prisioneiro. 

— Deixe que ele vá. — o pai disse, erguendo uma das mãos. — Nada vai me impedir de cumprir essa missão. 

Daeliu sentia a decepção lhe doer na alma. Desde o princípio, sonhava com aquele dia e em seus sonhos, o filho estaria ao seu lado nessa empreitada. Com a traição evidente e a vergonha a que era exposto diante dos demais, cabia a ele disfarçar as próprias dores por uma causa muito maior e se naquele momento perdia o filho, ganhava outros. Em razão disso, olhou para o grupo que o acompanhava e disse: 

— Vamos continuar. 

Changkyun viu o lican mais velho se virar de volta para o trajeto e uma lágrima escorreu pela bochecha. Aquele homem realmente amava o filho, diferente de Arando que matava os seus. Ainda que sentisse uma certa compaixão pelo lican, estava mais aliviado em saber que o irmão mais velho estava seguro com seu amor em algum lugar. 

*

Distante de todos, Hoseok parou o cavalo no mesmo campo onde tantas vezes, o casal se encontrou. Desceu do cavalo com rapidez e ajudou Hyungwon a fazer o mesmo. 

Com as mãos atadas, o vampiro caiu no chão e por cima do lican que o amparando, encarou aqueles olhos surpresos e cheios de amor. Antes que tomasse qualquer iniciativa, Hoseok viu o vampiro se aproximar e o beijar com intensidade. 

— Me desculpe… — disse assim que se afastou do lican. — Me perdoe pelas coisas que lhe disse ontem. 

— Está tudo bem. Esqueça esse dia. — falou e beijou o vampiro. 

— Hoseok… o que fez? O que será de você sem o seu pai e o povo da lua? 

— Eu vou ficar bem. Não se preocupe com isso. Importa que você esteja seguro. 

— Ninguém nunca sacrificou tanto por mim. — pôs as mãos no rosto dele. — Eu te amo… muito. 

Foi inevitável para o lican não sorrir diante da declaração. Era talvez o momento mais improvável para isso, mas ele não se importava. Abraçou o amado deitado sobre a relva fria como estava acostumado. 

— Me deixe te soltar. 

— Essas correntes são muito fortes. Não vai conseguir sozinho. 

Hoseok respirou fundo e jogando a cabeça para trás começou a sentir um calor no corpo. Aquele era um sentimento conhecido, natural a ele todas as vezes em que estava prestes a se transformar. Se tentasse quebrar as correntes em sua forma humana seria impossível obter sucesso, mas transformado em lobo tudo era possível. 

O olhos ficaram vermelhos de repente, no corpo crescia a pelagem acinzentada, no rosto as formas de um canídeo se misturava ao rosto humano e nas mãos, garras substituíam as mãos. Tudo isso acontecia em cima de Hyungwon que pela primeira vez, assistia o exato momento da transformação de seu amado. 

Ele não era humano, mas também não era um lobo por completo, controlava o seu poder com tamanha astúcia que conseguiu parar quando achou que tinha forças suficientes para quebrar aquela corrente e assim o fez. Com as próprias mãos, partiu a corrente de Hyungwon em duas, soltando as mãos dele. 

Tão logo o rapaz se viu livre daquilo, abraçou seu salvador ainda na forma antropomórfica em que estava. Quando se afastou dele, Hoseok já era como um humano outra vez. 

— Agora eu preciso que fique aqui. 

— Como? Por quê? Aonde você vai? 

— Ao Domum. 

— Hoseok, por favor… — segurou o lican pelas roupas. — ...não mate os meus irmãos. 

— Eu não vou fazer isso. 

— Por favor…

— Confie em mim. 

Hoseok deu um beijo na testa do vampiro e se levantou. 

— Volte pra mim. 

— Me espere. 

Foi a última coisa que disse. Nem mesmo ele tinha certeza se voltaria como prometia, mas naquele momento importava apenas fazer Hyungwon acreditar. 

*

Àquela hora, as bruxas já haviam se encontrado com os licans e todo o grupo estava dentro de uma espécie de ponto de encontro na passagem secreta. 

Changkyun deu conta de explicar que cada túnel que era visto levava para um lugar específico do Domum. 

Daeliu separou o grupo e em seu plano, dois licans junto a duas bruxas, iriam por um daqueles túneis com a missão de render as mulheres e matar os homens. Deixar as mulheres vivas era parte do acordo feito com as bruxas e a ideia era exilá-las. 

Seguiram com o plano e contrário ao que Changkyun pretendia, não conseguiu se separar do grupo para avisar aos irmãos do ataque. Em lugar disso, Daeliu o levou com ele e seu dever era que o conduzisse direto ao local onde Arando estava. Por lógica, o poderoso vampiro estaria no salão principal dando algum tipo de ordem para seus lacaios e por esta razão, os dois tomaram aquele caminho. 

*

A porta do salão principal foi aberta de forma repentina. Arando que dava ordem a um dos guardas, olhou para a direção dela assustado. Quando se deu conta que se tratava de Kihyun, o rosto relaxou, embora ainda não entendesse os motivos da atitude insubordinada. 

Kihyun parecia levemente alterado. Os olhos estavam vermelhos e inchados como se tivesse passado a noite chorando. Aquela probabilidade não era impossível, mas não era algo que Arando daria qualquer importância, por isso, ao ver o estado do filho, o ignorou e voltou a dar atenção ao lacaio. 

— Saia! — Kihyun gritou para o guarda. — Eu quero falar com o meu pai ou com essa criatura que diz ser meu pai. 

O guarda se pôs confuso e olhou para o mestre na intenção de saber se deveria acatar aquela ordem. 

— Me deixe falar com esse cruel assassino. Esse ser ambicioso que é capaz de matar o próprio filho. — andou um pouco trôpego até o pai. — Mas o que se pode esperar do homem que foi capaz de arquitetar a morte dos irmãos para que não tivesse qualquer tipo de concorrência ao poder. 

Arando olhou para o guarda com quem conversava e fez um sinal rápido para que se retirasse. 

— O que você está fazendo, Kihyun? 

— Apenas tentando entender de uma vez por todas a razão de você ser assim. 

— Não deveria estar aqui. Deveria estar na sua aula de harpa, ocupando a sua mente com o que realmente importa. 

— Você destruiu a vida dele e está destruindo a minha. — falou perto o suficiente para que Arando sentisse o cheiro do vinho. 

— Está bêbado. 

— Não… eu estou louco. — disse começando a chorar. — Eu penso em Changkyun a todo momento e agora parece que sou capaz de vê-lo pela janela do quarto dele. Eu estou ficando louco e a culpa a sua. — empurrou Arando. 

— Eu vou chamar a sua mãe para que cuide de você. Não vou lidar com a sua bebedeira ou loucura, seja lá o que estiver acontecendo com você nesse momento. 

— É assim que você lida com os seus filhos, não é? Se livrando deles. 

— Kihyun, saia da minha frente ou eu…

— Você não fará nada com ele. 

A voz era conhecida, mas Arando não podia acreditar que a ouvia. 

Kihyun que estava de frente para o pai, viu com clareza a figura que surgia atrás dele. Era como estar um sonho. O sonho que ele nutriu desde o fatídico dia. Ele via Changkyun caminhando até eles e não sabia se era resultado da bebida ou se realmente isso estava acontecendo. 

Arando se virou devagar e quando constatou de quem se tratava sentiu todo o corpo tremer. 

— Surpreso? 

Changkyun ironizava com um sorriso debochado. Via atrás do pai, o seu grande amor tremer igual. Não esperava encontrá-lo ali, mas não deixaria suas emoções afetarem o plano. 

— Você não conseguiu. — ele disse. — Eu não morri. Mas você... você pai, vai morrer. 

— Isso não pode ser verdade. 

Changkyun caminhou mais rápido e sem que o mais velho esperasse, o braço do jovem se levantou em punho, acertando em cheio o rosto do vampiro que cambaleou algumas vezes e caiu para trás. 

— Isso foi real o suficiente para você?

Kihyun andou de leve para trás, vendo o pai caído no chão. Em seguida, olhou assustado para Chang parado diante dele. 

— Kihyun…

— Chang... Changkyun é você? É realmente você? 

— Sim, meu amor. — respondeu agitado, o abraçando. — Eu estou vivo. Sinto muito por te fazer esperar todo esse tempo. 

— Changky…

Kihyun foi incapaz de completar o nome. Caiu desmaiado nos braços daquele que era a causa da perda de seus sentidos.

Quando Daeliu entrou em seguida, a pedido de Changkyun que pretendia surpreender o pai primeiro, seu aliado não estava mais no lugar. Encontrou apenas o vampiro maior desmaiado pelo soco recebido e mesmo se sentindo traído pela segunda vez, deu pouca importância para o sumiço de Chang. Quem ele realmente queria estava ali, vulnerável, exatamente como ele esperava. 

Em todos os lugares do Domum se ouviam gritos desesperados e isso indicava que alguns dos licans já haviam chegado ao seu local de destino. 

Changkyun carregava Kihyun no colo apressado e com os solavancos da fuga, o segundo acabou despertando.

— Changkyun… — disse ainda sem acreditar. — Eu estou morto? 

— Não. Eu estou vivo. Mas te explicarei tudo depois. Agora precisamos fugir. — dizia, colocando Kihyun no chão. — O Domum está sendo atacado pelos licans, precisamos avisar aos outros e fugir. Vem comigo. 

O mais novo pegou Kihyun pela mão e correu com ele. 

No Santuário das Mães Vermelhas, as bruxas acabavam de chegar. As servas e senhoras saíram da tenda assustadas com a movimentação atípica do lugar. 

— Todas vocês, juntem-se no centro do santuário. Nós vamos libertá-las do crápula que as aprisionou neste lugar com o único intuito de procriar. — Yulee gritou. 

As mulheres nada diziam, apenas olhavam espantadas para a bruxas tentando entender o que acontecia. 

— Quem são vocês e o que estão dizendo? — Hyuna perguntava com desdém.

— São bruxas. — Hani surgiu serena. 

— Hani, não é? — Yulee perguntou, recebendo uma afirmativa. 

— Você virá comigo. Todas as outras sigam ela. — apontou para uma segunda bruxa. 

— O que está acontecendo? — Hani perguntou.

— O que acha que está acontecendo? 

— Daeliu… fez isso?

Yulee balançou a cabeça afirmando.

— Se ele está aqui, então… onde está o meu filho Hyunwoo? 

A bruxa não respondeu e o silêncio dela foi o suficiente para encher de pavor o coração daquela forte mãe. 


 


Notas Finais


Já deu pra ver que o próximo vai ser tiro, porrada e bomba kkk

Tomara que a espera por esse capítulo tenha valido a pena pra vocês.

Até o próximo e enfim...último capítulo, amores. ❤️🌷


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